Dar graças pela propaganda ao défice

01-09-2020
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Dar graças pela propaganda ao défice

On Março 27, 2017 Por CGPem Diversos

Eu compreendo que alguns amigos do PSD e do CDS se queixem de que fizeram o esforço quase todo de descida do défice desde os píncaros de 2010 e que sejam agora os do PS a proclamar o défice mais baixo em democracia. Eu compreendo que digam que foram feitos cortes dificilmente sustentáveis, como os cortes em reparação e manutenção de infraestruturas. Compreendo, para quem viveu a era Sócrates (que também reclamou para si, o menor défice em democracia), que suspeite de artimanhas contabilísticas que só descobriremos daqui a uns anos. Compreendo também aqueles que mencionam a injustiça de que durante anos houve queixas sobre o declínio da qualidade dos serviços públicos, quando a única coisa que estava a cair eram os salários da FP, e que em 2016, quando aconteceu o maior declínio dos últimos anos graças às 35 horas e aos cortes de custos intermédios, já ninguém se queixe. Compreendo tudo isso. Mas parece-me que estão a esquecer o ponto essencial: nós temos um governo de socialistas, apoiado por comunistas e bloquistas, que apregoa aos sete ventos que um baixo défice público é sinal de sucesso governativo. É claro que a importância dada pelo PS ao défice é resultado do facto de a população portuguesa também estar hoje mais atenta do que estava há uns anos. Mas este enfoque do PS nos números do défice apenas vem reforçar essa percepção. Quanto mais propaganda o PS fizer ao défice de 2016, maior será a percepção da importância do défice público, mais este passará a ser um indicador de sucesso governativo ao qual nem partidos de “direita” nem de esquerda poderão escapar. Tome o exemplo deste post do deputado socialista Porfírio Silva (um dos ideólogos da esquerda Costista):

Há 2 ou 3 anos era impensável ver um deputado do PS dizer estas coisas evidentes. O défice de 2016 trouxe a esquerda mais à esquerda para o clube dos que acham que um défice baixo é sinal de sucesso. Tudo isto ficará gravado para a história. Em quarenta anos de democracia, esta deve ser a primeira vez que há um consenso em relação aos méritos de ter contas públicas equilibradas. E isto é um enorme avanço para o qual a propaganda socialista está a contribuir bastante. Quando o ciclo político mudar e vierem socialistas queixar-se do excessivo enfoque no défice público, bastará lembrar-lhes das centenas de cartazes como este que cobriram o território nacional, por muito enganadora que a mensagem seja.

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On Março 27, 2017 Por CGPem Diversos

Eu compreendo que alguns amigos do PSD e do CDS se queixem de que fizeram o esforço quase todo de descida do défice desde os píncaros de 2010 e que sejam agora os do PS a proclamar o défice mais baixo em democracia. Eu compreendo que digam que foram feitos cortes dificilmente sustentáveis, como os cortes em reparação e manutenção de infraestruturas. Compreendo, para quem viveu a era Sócrates (que também reclamou para si, o menor défice em democracia), que suspeite de artimanhas contabilísticas que só descobriremos daqui a uns anos. Compreendo também aqueles que mencionam a injustiça de que durante anos houve queixas sobre o declínio da qualidade dos serviços públicos, quando a única coisa que estava a cair eram os salários da FP, e que em 2016, quando aconteceu o maior declínio dos últimos anos graças às 35 horas e aos cortes de custos intermédios, já ninguém se queixe. Compreendo tudo isso. Mas parece-me que estão a esquecer o ponto essencial: nós temos um governo de socialistas, apoiado por comunistas e bloquistas, que apregoa aos sete ventos que um baixo défice público é sinal de sucesso governativo. É claro que a importância dada pelo PS ao défice é resultado do facto de a população portuguesa também estar hoje mais atenta do que estava há uns anos. Mas este enfoque do PS nos números do défice apenas vem reforçar essa percepção. Quanto mais propaganda o PS fizer ao défice de 2016, maior será a percepção da importância do défice público, mais este passará a ser um indicador de sucesso governativo ao qual nem partidos de “direita” nem de esquerda poderão escapar. Tome o exemplo deste post do deputado socialista Porfírio Silva (um dos ideólogos da esquerda Costista):

Há 2 ou 3 anos era impensável ver um deputado do PS dizer estas coisas evidentes. O défice de 2016 trouxe a esquerda mais à esquerda para o clube dos que acham que um défice baixo é sinal de sucesso. Tudo isto ficará gravado para a história. Em quarenta anos de democracia, esta deve ser a primeira vez que há um consenso em relação aos méritos de ter contas públicas equilibradas. E isto é um enorme avanço para o qual a propaganda socialista está a contribuir bastante. Quando o ciclo político mudar e vierem socialistas queixar-se do excessivo enfoque no défice público, bastará lembrar-lhes das centenas de cartazes como este que cobriram o território nacional, por muito enganadora que a mensagem seja.

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