Alessandro Cambalhota: «Para Fernando Santos eu não levava nada a sério»

11-04-2020
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8 dez 2017, 13:59

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Alessandro Cambalhota: «Para Fernando Santos eu não levava nada a sério»

DESTINO: 90s. Craque no Santos, internacional brasileiro, um extremo que não brilhou nas Antas por culpa de Capucho. A amizade perigosa com Rubens Júnior, o golo ao Boavista e, claro, as acrobacias.

Pedro Jorge da Cunha
Editor

@pedrojscunha

DESTINO: 90s. Craque no Santos, internacional brasileiro, um extremo que não brilhou nas Antas por culpa de Capucho. A amizade perigosa com Rubens Júnior, o golo ao Boavista e, claro, as acrobacias.

Pedro Jorge da Cunha
Editor

@pedrojscunha

* com João Tiago Figueiredoartigo atualizado: hora original 23h45, 7-12-2017 DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.ALESSANDRO CAMBALHOTA: FC Porto (1999/2000 a agosto de 2001)No verão de 1999, o FC Porto é dono e senhor do futebol português. As celebrações do penta reconduzem Fernando Santos no comando da equipa e as mudanças no plantel são cirúrgicas.O regresso de Domingos Paciência, resgatado ao Sporting em plena A1, é a grande notícia do defeso, mas há um reforço a criar enorme expetativa. Chega do Santos e é internacional A pelo Brasil: Alessandro Cambalhota, um extremo de muita velocidade e ainda mais técnica.Alessandro aterra no Porto na companhia de Argel e Rubens Júnior. Curiosamente, nenhum deles conseguiria criar raízes no clube e afeição ao exigente tribunal das Antas.35 jogos e um golo depois, Alessandro regressa ao Brasil, ainda com quatro anos de contrato por cumprir. O Maisfutebol reencontra-o em 2017, com a noção do falhanço de azul e branco, mas sempre de «coração cheio» ao falar de Portugal.«Ainda se lembram de mim? Deixei muito a desejar no Porto, agradeço a lembrança», atende Alessandro, o ‘Cambalhota’, nado e criado na Bahia, rotulado de craque pelos feitos na Vila Belmiro (117 jogos, 34 golos).Bem casado com dona Ana Paula e pai dos meninos Alessandro Jr. e Ana Bela, Alessandro vive no interior de São Paulo e divide o tempo pela família, o seu Novorizontino e duas empresas. Um velho dragão.

Alessandro contra Petit num FC Porto-Gil Vicente (arquivo pessoal)

Maisfutebol – Olá Alessandro. Aos 44 anos, ainda tem pernas para jogar futebol? Alessandro Cambalhota – Não, mas joguei até aos 40 (risos). Despedi-me no Grémio Novorizontino, o meu primeiro clube. Atualmente faço parte da direção e vivo aqui em Novo Horizonte, no Estado de São Paulo. Tento ajudar a instituição, aconselho e procuro patrocinadores.MF – Vive exclusivamente para a família e o Novorizontino? AC – Quem me dera! Não, não dá. Ganhei algum dinheiro no futebol, estou bem na vida, mas trabalho muito. Tenho uma empresa na área da agro-pecuária e outra na produção de borracha para pneus. Esta é uma região de muita agricultura, muito gado. Criei centenas de postos de trabalho.MF – Saiu do FC Porto em 2001. Desligou-se por completo de Portugal? AC – Não, impossível. O meu filho Alessandro Jr. nasceu aí, na zona da Boavista, onde eu vivia. É portuguesinho (risos). Tenho urgentemente de voltar e mostrar-lhe a cidade onde ele nasceu. O Alessandrinho está a estudar e a jogar futebol nos Estados Unidos. Vamos ver se tem o jeito do pai.MF – Em 1999 trocou o Santos pelo FC Porto. Lembra-se do processo da transferência? AC – Claro. O senhor Adelino Caldeira viu-me a jogar no Brasil, onde eu era um dos melhores jogadores do Santos. Tinha jogado pela seleção do Brasil pouco antes [primeira e única internacionalização, pela mão de Vanderlei Luxemburgo] e era um atleta de enorme cotação. Tinha vários clubes da Europa interessados e o FC Porto convenceu-me.MF – O Alessandro criou grande expetativas nas Antas. Mas acabou por falhar. AC – Sem dúvida. Falo disso sem mágoa. Joguei algumas vezes a titular [9 no campeonato, mais 3 nas outras provas], mas a verdade é que o Capucho não me dava hipóteses. Eu explico: quando o senhor Caldeira me contratou, disse-me que o Porto ia vender o Capucho e que procurava um atleta como eu para o lado direito do ataque. O problema é que o Capucho ficou e eu fui quase sempre suplente dele.MF – Quando abandonou o FC Porto criticou as opções do treinador, o Fernando Santos. AC – Eu era jovem e vaidoso. Sabe como é… tinha jogado na seleção, era uma figura do Santos e pensei que tinha de ser igual em Portugal. Mas aprendi muito. Não tive sucesso no primeiro ano, saí por empréstimo (Fluminense e Cruzeiro) e ainda voltei para mais um curto período no FC Porto, com o treinador Octávio Machado. Mas não deu certo. Eu assinei por cinco anos, o que revela bem a esperança do Porto em mim. Os treinadores tiveram outras opções, o plantel era fortíssimo. Mesmo o José Mourinho não mostrou interesse em mim, já em 2002.

Alessandro entre Rui Barros e Rubens na pré-época (arquivo pessoal)

ALESSANDRO NO FC PORTO - CAMPEONATO. 1999/00. FC Porto, 21 jogos/1 golo (2º lugar) . 2001/02. FC Porto, não utilizado (só jogou na Champions)TÍTULOS: 1 Taça de Portugal (99/00) e duas Supertaças (1999 e 2001)MF – A passagem pelo FC Porto é de má memória para o Alessandro? AC – Não, de jeito nenhum. Houve um lado positivo. A grandeza do clube, a cidade belíssima, a comida incrível, os adeptos quentes, o bom ambiente no vestiário. Depois, no lado desportivo, é verdade que eu deixei muito a desejar.MF – Culpa do Alessandro ou do Capucho? AC – Ah, ah, boa pergunta. Ele era um jogador da seleção de Portugal, um craque, fazia assistências incríveis para o Mário Jardel. Era muito competitivo. Eu era diferente e era novo no clube. Faltou-me continuidade, regularidade.MF – O Fernando Santos nunca lhe deu uma explicação para essa condição de suplente? AC – Não, nunca. Eu saí de uma cultura alegre, descontraída, e encontrei um treinador muito fechado. Distante. Para o Fernando Santos eu não levava nada a sério, mas isso é mentira. Sempre treinei bem. Se calhar paguei por ser próximo de outros jogadores mais problemáticos.MF – Refere-se a quem? AC – Todos sabem que o Rubens Júnior não era santo nenhum (risos). Jovem, solteiro, famoso… Eu já era casado, tive um filho e nunca participei nas festas dele, mas as pessoas do Porto pensavam que eu também andava lá. É que eu cheguei do Brasil com o Rubens e o Argel. Ficámos próximos, principalmente com o Rubens. Mas tínhamos um estilo de vida completamente diferente.MF – Era o seu melhor amigo no plantel? AC – Sim, era ele. Tantas conversas tive com ele, a dar conselhos… e ele não parava. Eu sempre me dediquei muito, até fora do clube treinava para estar bem fisicamente. E nunca fui de saídas à noite. Também me dava muito bem com o Esquerdinha, uma simpatia.MF – Deco e Jardel eram os melhores da equipa? AC – O Deco era. O mais importante. Quando ele não jogava, a equipa sentia. O Jardel era uma personagem incrível. Parecia que brigava com a bola, mas a verdade é que ela entrava na baliza.

Alessandro e o homem que «brigava com a bola» (arquivo pessoal)

MF – Em 35 jogos pelo FC Porto só marcou um golo. Mas foi importante. AC – Sim, ganhámos 1-0 nas Antas ao Boavista. Marquei de cabeça, veja só. A bola entrou por pouco, mas entrou (risos). Lembro-me que a malta do Boavista protestou imenso. A verdade é que devia ter marcado muitos mais. Um golo só, minha nossa.O golo de Alessandro ao Boavista (6m50s):

MF – Explique-nos lá a origem da alcunha ‘Cambalhota’. AC – Eu nasci na Bahia e fiz capoeira desde sempre. Cambalhotas, piruetas, acrobacias, para mim tudo era natural desde pequeno. Quando cheguei ao futebol comecei a festejar assim os golos. Nunca me aleijei a fazer isso. No Porto lembro-me que marquei ao Celta de Vigo num amistoso e celebrei assim, com um salto acrobático.O canto direto de Alessandro ao Celta - e a cambalhota (13s):MF – Qual foi a melhor exibição do Alessandro no FC Porto? AC – Gostei muito dessa minha entrada contra o Boavista. Mas a melhor foi contra o Olympiakos, na Grécia [ndr. 3 de novembro de 1999, derrota 1-0]. Foi das poucas vezes em que atuei os 90 minutos completos. Ah, gostei também muito de jogar a final da taça contra o Sporting. Mas, lá está, foram poucos minutos [15 na final e 1 na finalíssima]. Por outro lado, mesmo saindo do banco de suplentes, tive o privilégio de jogar em Barcelona [derrota 4-2] e em Madrid [derrota 3-1]. No Camp Nou entrei e estávamos a perder 3-1. O Mário Jardel ainda fez 3-2 e o Barça tremeu. Fizemos uma grande partida.MF – Falta falar do balneário do FC Porto. Quem era o líder? AC – O Jorge Costa, sem dúvida. Alguns, os mais novos, até medo tinham dele. E o Paulinho Santos também dava uns berros de vez em quando (risos). O Aloísio era totalmente diferente. Era muito respeitado, mas raramente falava.MF – Para quem não se lembra do Alessandro, que tipo de jogador era? AC – Agora você me apanhou…Bem, acho que tinha uma excelente técnica e de vez em quando exagerava (risos). Mas era um bom atleta, sério, veloz. Acho que as pessoas do Porto raramente viram o meu melhor. Por favor, envie um abração ao senhor Adelino Caldeira e ao senhor Reinaldo Teles. E ao Antero. Como? Está no PSG? Bem, esse aí deu-se bem, não é?OUTROS DESTINOS: 1. Adbel Ghany, as memórias do Faraó de Aveiro2. Careca, meio Eusébio meio Pelé3. Kiki, o rapaz das tranças que o FC Porto raptou4. Abazaj, o albanês que não aceita jantares5. Eskilsson, o rei leão de 88 é um ás no poker6. Baltazar, o «pichichi» desviado do Atl. Madrid7. Emerson, nem ele acreditava que jogava aquilo tudo8. Mapuata, o Renault 9 e «o maior escândalo de 1987»9. Cacioli, o Lombardo que adbicou da carreira para casar por amor10. Lula, da desconhecida Famalicão às portas da seleção portuguesa11. Samuel, a eterna esperança do Benfica12. Lars Eriksson, o guarda-redes que sabe que não deu alegrias13. Wando, um incompreendido14. Doriva, as memórias do pontapé canhão das Antas15. Elói, fotos em Faro e jantares em casa de Pinto da Costa16. Dinis, o Sandokan de Aveiro17. Pedro Barny, do Boavistão e das camisolas esquisitas18. Pingo, o pedido de ajuda de um campeão do FC Porto19. Taira, da persistência no Restelo à glória em Salamanca20. Latapy, os penáltis com a Sampdória e as desculpas a Jokanovic21. Marco Aurélio, memórias de quando Sousa Cintra se ria do FC Porto22. Jorge Soares e um célebre golo de Jardel23. Ivica Kralj e uma questão oftalmológica24. N'Kama, o bombista zairense25. Karoglan, em Portugal por causa da guerra26. Ronaldo e o Benfica dos vinte reforços por época27. Tuck, um coração entre dois emblemas28. Tueba, ia para o Sporting, jogou no Benfica e está muito gordo29. Krpan, o croata que não fazia amigos no FC Porto30. Walter Paz, zero minutos no FC Porto31. Radi, dos duelos com Maradona à pacatez de Chaves32. Nelson Bertollazzi eliminou a Fiorentina e arrasou o dragão33. Mangonga matou o Benfica sem saber como34. Dino Furacão tirou um título ao Benfica e foi insultado por um taxista35. António Carlos, o único a pôr Paulinho Santos no lugar36. Valckx e o 3-6 que o «matou»37. Ademir Alcântara: e a paz entre Benfica e FC Porto acabou38. Chiquinho Conde, impedido de jogar no Benfica por Samora Machel39. Bambo, das seleções jovens a designer de moda em Leeds40. Iliev, sonhos na Luz desfeitos por Manuel José41. Panduru, num Benfica onde era impossível jogar bem42. Missé Missé, transformado em egoísta no Sporting43. Edmilson: Amunike e Dani taparam-lhe entrada num grande44. Jamir: «Gostava de ter dado mais ao Benfica»45. Donizete continua um «benfiquista da porra»46. Leandro Machado: «Se fosse mais profissional...»47. Bobó, a última aposta de Pedroto48. Rufai, o Príncipe que não quis ser Rei49. Mandla Zwane, a pérola de Bobby Robson50. Vítor Paneira e os trintões que quiseram ser como ele51. Jorge Andrade, o FC Porto foi a maior deceção da carreira52. Amunike e uma faca apontada a Sousa Cintra53. Caio Júnior, ás em Guimarães54. Luisinho: «Quem sabe jogar não precisa bater»55. Marcelo: «Autuori preferiu Pringle, mas não ficou a ganhar» 56. Zé Carlos, o homem que Artur Jorge dizia ter «bunda grande»57. Douglas: «Sousa Cintra entrou no balneário a pedir para eu jogar» 58. Ricky, nem Eusébio lhe valeu a titularidade no Benfica59. Geraldão: «No FC Porto era obrigatório odiar Benfica e Sporting»60. Paulo Nunes: «No Benfica não recebia e ainda queriam multar-me»61. King e o sonho que morreu na marginal de Carcavelos62. Lipcsei, num FC Porto que só teve rival em 200463. Alex, lenda do Marítimo: «Até Baggio me pediu a camisola»64. Amaral: «Abaixo de Deus, o Benfica!»65. Paulo Pereira e o polémico processo de naturalização no Benfica66. Silas e o 'chapéu' ao Ajax: «Ate esgotámos o stock de marisco»67. Magnusson: 87 golos no Benfica e nem um ao FC Porto68. Zahovic e um coração dividido entre FC Porto e Benfica69. Edmilson: «Nos 5-0, até os adeptos do Benfica bateram palmas» 70. Scott Minto: «Benfica era um gigante a dormir num manicómio» 71. Paulinho Cascavel e o Moët & Chandon de Guimarães72. Paulinho César: «Falhei de baliza aberta no Bessa e morri no Porto»73. Pesaresi: «Eu e o Porfírio eramos os bons malucos do Benfica»74. Butorovic, feliz quando o FC Porto ganha75. Paredão, que em Inglaterra esteve para ser The Wall76. Lemajic: «Nos 6-3 ainda defendi mais quatro ou cinco» 78. Esquerdinha: «Estava a mudar de roupa e entraram aos gritos: Penta!»

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Maisfutebol – Olá Alessandro. Aos 44 anos, ainda tem pernas para jogar futebol? Alessandro Cambalhota – Não, mas joguei até aos 40 (risos). Despedi-me no Grémio Novorizontino, o meu primeiro clube. Atualmente faço parte da direção e vivo aqui em Novo Horizonte, no Estado de São Paulo. Tento ajudar a instituição, aconselho e procuro patrocinadores.MF – Vive exclusivamente para a família e o Novorizontino? AC – Quem me dera! Não, não dá. Ganhei algum dinheiro no futebol, estou bem na vida, mas trabalho muito. Tenho uma empresa na área da agro-pecuária e outra na produção de borracha para pneus. Esta é uma região de muita agricultura, muito gado. Criei centenas de postos de trabalho.MF – Saiu do FC Porto em 2001. Desligou-se por completo de Portugal? AC – Não, impossível. O meu filho Alessandro Jr. nasceu aí, na zona da Boavista, onde eu vivia. É portuguesinho (risos). Tenho urgentemente de voltar e mostrar-lhe a cidade onde ele nasceu. O Alessandrinho está a estudar e a jogar futebol nos Estados Unidos. Vamos ver se tem o jeito do pai.MF – Em 1999 trocou o Santos pelo FC Porto. Lembra-se do processo da transferência? AC – Claro. O senhor Adelino Caldeira viu-me a jogar no Brasil, onde eu era um dos melhores jogadores do Santos. Tinha jogado pela seleção do Brasil pouco antes [primeira e única internacionalização, pela mão de Vanderlei Luxemburgo] e era um atleta de enorme cotação. Tinha vários clubes da Europa interessados e o FC Porto convenceu-me.MF – O Alessandro criou grande expetativas nas Antas. Mas acabou por falhar. AC – Sem dúvida. Falo disso sem mágoa. Joguei algumas vezes a titular [9 no campeonato, mais 3 nas outras provas], mas a verdade é que o Capucho não me dava hipóteses. Eu explico: quando o senhor Caldeira me contratou, disse-me que o Porto ia vender o Capucho e que procurava um atleta como eu para o lado direito do ataque. O problema é que o Capucho ficou e eu fui quase sempre suplente dele.MF – Quando abandonou o FC Porto criticou as opções do treinador, o Fernando Santos. AC – Eu era jovem e vaidoso. Sabe como é… tinha jogado na seleção, era uma figura do Santos e pensei que tinha de ser igual em Portugal. Mas aprendi muito. Não tive sucesso no primeiro ano, saí por empréstimo (Fluminense e Cruzeiro) e ainda voltei para mais um curto período no FC Porto, com o treinador Octávio Machado. Mas não deu certo. Eu assinei por cinco anos, o que revela bem a esperança do Porto em mim. Os treinadores tiveram outras opções, o plantel era fortíssimo. Mesmo o José Mourinho não mostrou interesse em mim, já em 2002.

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ALESSANDRO NO FC PORTO - CAMPEONATO. 1999/00. FC Porto, 21 jogos/1 golo (2º lugar) . 2001/02. FC Porto, não utilizado (só jogou na Champions)TÍTULOS: 1 Taça de Portugal (99/00) e duas Supertaças (1999 e 2001)MF – A passagem pelo FC Porto é de má memória para o Alessandro? AC – Não, de jeito nenhum. Houve um lado positivo. A grandeza do clube, a cidade belíssima, a comida incrível, os adeptos quentes, o bom ambiente no vestiário. Depois, no lado desportivo, é verdade que eu deixei muito a desejar.MF – Culpa do Alessandro ou do Capucho? AC – Ah, ah, boa pergunta. Ele era um jogador da seleção de Portugal, um craque, fazia assistências incríveis para o Mário Jardel. Era muito competitivo. Eu era diferente e era novo no clube. Faltou-me continuidade, regularidade.MF – O Fernando Santos nunca lhe deu uma explicação para essa condição de suplente? AC – Não, nunca. Eu saí de uma cultura alegre, descontraída, e encontrei um treinador muito fechado. Distante. Para o Fernando Santos eu não levava nada a sério, mas isso é mentira. Sempre treinei bem. Se calhar paguei por ser próximo de outros jogadores mais problemáticos.MF – Refere-se a quem? AC – Todos sabem que o Rubens Júnior não era santo nenhum (risos). Jovem, solteiro, famoso… Eu já era casado, tive um filho e nunca participei nas festas dele, mas as pessoas do Porto pensavam que eu também andava lá. É que eu cheguei do Brasil com o Rubens e o Argel. Ficámos próximos, principalmente com o Rubens. Mas tínhamos um estilo de vida completamente diferente.MF – Era o seu melhor amigo no plantel? AC – Sim, era ele. Tantas conversas tive com ele, a dar conselhos… e ele não parava. Eu sempre me dediquei muito, até fora do clube treinava para estar bem fisicamente. E nunca fui de saídas à noite. Também me dava muito bem com o Esquerdinha, uma simpatia.MF – Deco e Jardel eram os melhores da equipa? AC – O Deco era. O mais importante. Quando ele não jogava, a equipa sentia. O Jardel era uma personagem incrível. Parecia que brigava com a bola, mas a verdade é que ela entrava na baliza.

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MF – Em 35 jogos pelo FC Porto só marcou um golo. Mas foi importante. AC – Sim, ganhámos 1-0 nas Antas ao Boavista. Marquei de cabeça, veja só. A bola entrou por pouco, mas entrou (risos). Lembro-me que a malta do Boavista protestou imenso. A verdade é que devia ter marcado muitos mais. Um golo só, minha nossa.O golo de Alessandro ao Boavista (6m50s):

MF – Explique-nos lá a origem da alcunha ‘Cambalhota’. AC – Eu nasci na Bahia e fiz capoeira desde sempre. Cambalhotas, piruetas, acrobacias, para mim tudo era natural desde pequeno. Quando cheguei ao futebol comecei a festejar assim os golos. Nunca me aleijei a fazer isso. No Porto lembro-me que marquei ao Celta de Vigo num amistoso e celebrei assim, com um salto acrobático.O canto direto de Alessandro ao Celta - e a cambalhota (13s):MF – Qual foi a melhor exibição do Alessandro no FC Porto? AC – Gostei muito dessa minha entrada contra o Boavista. Mas a melhor foi contra o Olympiakos, na Grécia [ndr. 3 de novembro de 1999, derrota 1-0]. Foi das poucas vezes em que atuei os 90 minutos completos. Ah, gostei também muito de jogar a final da taça contra o Sporting. Mas, lá está, foram poucos minutos [15 na final e 1 na finalíssima]. Por outro lado, mesmo saindo do banco de suplentes, tive o privilégio de jogar em Barcelona [derrota 4-2] e em Madrid [derrota 3-1]. No Camp Nou entrei e estávamos a perder 3-1. O Mário Jardel ainda fez 3-2 e o Barça tremeu. Fizemos uma grande partida.MF – Falta falar do balneário do FC Porto. Quem era o líder? AC – O Jorge Costa, sem dúvida. Alguns, os mais novos, até medo tinham dele. E o Paulinho Santos também dava uns berros de vez em quando (risos). O Aloísio era totalmente diferente. Era muito respeitado, mas raramente falava.MF – Para quem não se lembra do Alessandro, que tipo de jogador era? AC – Agora você me apanhou…Bem, acho que tinha uma excelente técnica e de vez em quando exagerava (risos). Mas era um bom atleta, sério, veloz. Acho que as pessoas do Porto raramente viram o meu melhor. Por favor, envie um abração ao senhor Adelino Caldeira e ao senhor Reinaldo Teles. E ao Antero. Como? Está no PSG? 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