Pinto da Costa: "Tenho sempre pouco dinheiro no banco"

03-10-2020
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Chama o elevador para o relvado, entra e não resiste: "Este é o elevador Santana Lopes. Porque uma vez ficámos todos fechados aqui dentro e ele ficou aflito, a pedir-me para arrombar as portas". Pinto da Costa não consegue resistir a uma piada e aceitou conceder uma entrevista ao Expresso depois de dez anos em silêncio. "As zangas não duram sempre", explica o presidente do FC Porto. E respondeu a tudo. Ainda tem algum processo pendente nos tribunais? Está tudo resolvido. As acusações do 'Apito Dourado' foram todas arquivadas. E cada uma três vezes. Primeiro, foram investigadas e mandadas arquivar. Depois, foram julgadas e de novo arquivadas. E o procurador-geral da República, numa decisão inédita, determinou que tudo o que fosse ilibado no 'Apito Dourado' teria recurso do MP. Sentiu-se perseguido? Se a ordem também tivesse sido dada para os casos Freeport, Casa Pia ou Face Oculta, não me sentia discriminado. Não digo que seja perseguição. Mas que é estranho, é.

Hermínio Loureiro contou que o senhor lhe disse algo impublicável quando soube da redução do castigo a Hulk. O que foi? O que eu lhe disse de impublicável, embora não perceba porque é impublicável, foi: "Daqui fala o presidente do Futebol Clube do Porto. Perante a decisão do Conselho de Justiça, e se ainda tiver um bocado de vergonha, o senhor deve demitir-se. E hoje." Não houve vernáculo? Nenhum. Porque não é meu costume e porque sei que o meu telefone está a ser escutado. E o diálogo terminou? Terminou. Ele disse: "Vou tomar nota". E eu, "faça favor". E desligámos. Desafio-o a ele e à polícia que gravou as conversas para dizerem se o ofendi. Depois Valentim Loureiro e o senhor Tiago Craveiro telefonaram-me a dizer que o Hermínio Loureiro teria estado toda a tarde a tentar telefonar a Ricardo Costa para lhe dizer que se demitisse. E que se Ricardo Costa não se demitisse, se demitiria ele. E depois o Hermínio Loureiro veio dizer que não foi assim. Em que versão acredita? É a palavra de dois contra um. E como sou a favor das maiorias, acredito nelas. "Garanto que não houve fruta nenhuma" Sabe que as suas escutas do 'Apito Dourado' ainda estão no Youtube? Estão? Não frequento essas tecnologias. Ninguém lhas mostrou? Não me falaram disso, não vi e não estou interessado. O que eu gostava que pusessem na Net era a minha conversa com o doutor Hermínio Loureiro. Acha que as pessoas acreditam que a conversa da fruta não tinha nada a ver com subornos a árbitros? Se me dissessem que um clube que ganhou o campeonato com não sei quantos de avanço, um título europeu e tinha uma equipa fabulosa, subornou um árbitro para um jogo em casa com o último, eu dizia que era maluco. A conversa codificada com António Araújo sobre fruta de dormir é no mínimo suspeita. Não foi suspeita, foi estúpida. Eu nem sabia do que ele estava a falar. E já sabe? Deduzo. E o que garanto é que não houve fruta nenhuma. Sabe o que é ridículo? No dia desse jogo fui cear a um restaurante com outra pessoa e porque fui avisado sei que a PJ, que me andava a seguir para ver se fazia dieta, foi lá pedir a conta e, como era de 60 euros, é lógico que não estava a pagar jantar a árbitros e juízes de linha. Para mim o 'Apito Dourado' vai continuar. Como assim? Ainda hei-de falar e escrever sobre o 'Apito Dourado' e o 'Apito Final da Liga'. Coisas que se não tivesse testemunhas ninguém acreditava. Por exemplo? Eu ir ao tribunal de Gondomar e ouvir: Jogo Porto-Nacional que o Porto ganhou 1-0. No intervalo o senhor Antero Henrique liga-lhe para perguntar se uma determinada pessoa pode ir para o camarote. E eu respondo: ó Antero, já me viu este gajo que não marca um penálti destes? E como eu disse isto, como protestei, é porque tinha combinado com o árbitro que ele ia marcar o penálti. Contra isto como é que se argumenta? Como eu respondi: não queria um, queria dez. Se houvesse dez, queria que marcassem dez. "Não há nenhum árbitro que saiba dizer onde é que eu moro"

Não é imprudente receber em casa um árbitro na véspera de um jogo arbitrado por ele? O árbitro não foi tratar de nada de futebol, mas de um problema relacionado com o pai. E, quando combinei com árbitro, ele ainda não tinha sido nomeado. E não desmarquei porque como o Porto já era campeão e o jogo não interessava para nada, não vi problema. O Araújo tinha-me dito que era coisa grave, pessoal e pediu a minha interferência. E como é que podia ser útil para resolver um problema do pai do Augusto Duarte? Podia. É um assunto pessoal e não o vou revelar. É amigo do pai ou do Augusto Duarte? Não. Conhecia o pai, o Azevedo Duarte, que também foi árbitro, e o que me pediram foi para interferir junto de uma pessoa de quem sou muito amigo e que tinha influência junto dele. Ouvi o que se passava, falei com quem tinha de falar e acabou. Já tinha recebido algum árbitro em casa? Nunca. Se o tivesse feito já os jornais tinham dito que eu recebi vinte. E depois desse? Também não. Não há nenhum árbitro que saiba dizer onde é que eu moro. E nunca jantou ou almoçou com nenhum? Nunca. A polícia andou atrás de mim e sabe. "Quando acabar o mandato vejo-me a descansar, escrever e passear"

Não o incomodava se o presidente do Benfica ou recebesse árbitros em casa? Se fosse para um assunto destes não tinha problema nenhum. Quer mais uma história fantástica? Um juiz de um tribunal de família, e não um juiz de linha, era acusado não sei de quê e eu fui convocado para prestar declarações. O que é que se tinha passado? Esse juiz pediu ao advogado Lourenço Pinto, que conhecia dos tribunais, para comprar dois bilhetes para o jogo com o Manchester. O Lourenço Pinto ligou-me, eu mandei-lhe os bilhetes, ele pagou-me e o juiz estava implicado no 'Apito Dourado' porque pediu ao Lourenço Pinto para comprar dois bilhetes. Isto não é perseguição? Então o que é? Foi por acaso que não estava em casa no dia das buscas da PJ? Totalmente por acaso. Há muitos anos que vou a Espanha no dia 1 de Dezembro para ir fazer compras ao Corte Inglés. Já tinha quarto marcado no Parador em Tuy há muito tempo. E fui à RTP por causa do lançamento do meu livro, adiei a ida por um dia, telefonei para lá a dizer que ia um dia depois. Mas estas escutas, e eu na altura estava sob escuta, não aparecem. E fui de carro, não fui escondido. E andei a passear no Corte Inglés, não me escondi. Quando é que soube que a sua casa estava a ser alvo de buscas? No próprio dia. Telefonei ao Adelino Caldeira e ao advogado e pedi-lhes para saber quando é que me queriam ouvir e onde. Ficou combinado para o dia seguinte e voltei no meu carro tranquilamente. E no dia e à hora combinada apresentei-me. E quando já estava dentro do tribunal vieram dar-me um papel a dizer que estava detido para ir a tribunal. Eu disse que já estava no tribunal e ainda deu para rir um bocado. Vê-se a fazer alguma coisa fora do futebol? Quando acabar o mandato vejo-me a descansar, escrever e passear. Escrever sobre o 'Apito Dourado'? Muitas histórias, mas histórias verdadeiras. Vou escrever um livro sobre o 'Apito Dourado' e todas as cenas de tribunal, como esta ser detido dentro do tribunal para ir a tribunal. "Qualquer dia dizem que comprei a Torre dos Clérigos"

Sente-se responsável pelo facto de a sua vida privada se ter tornado pública? Não. Se as pessoas entendem que a minha vida privada é importante o que é que hei de fazer? Não vou deixar de ter vida privada. Não ligo. Quando vejo fotografias da casa de um amigo e outra que está a venda e dizem que vivo lá e que comprei a casa por um milhão, eu só tenho de me rir. E depois o mesmo jornal diz que comprei um apartamento de 400 mil euros para dar à minha namorada, como eles a tratam. O que é que hei de fazer? Qualquer dia dizem que comprei a Torre dos Clérigos e estou lá em cima a fazer o pino. Ainda é casado? Sou. No papel, sou casado. Para que é que renovou os votos do casamento para aparecer logo a seguir com uma nova namorada? Não foi a seguir. Quando uma pessoa se casa é na perspetiva de que resulte. Mas em mais de 50% dos casos não resulta. No seu caso mais de metade das relações não resultaram. Metade dos casamentos acaba em divórcio e da outra metade que não acaba, muitos são de fachada e vive-se com outras pessoas. Eu assumo as minhas atitudes.

Que têm um preço: Carolina Salgado só escreveu o livro que levou à reabertura dos processos porque acabou a relação consigo. Não foi porque acabámos. É preciso ver quem escreveu aquilo: a Leonor Pinhão e uma pseudoescritora. O livro é de Carolina Salgado. E não acha interessante que seja a Leonor Pinhão a escrever o guião do filme "Corrupção" quando nem a conhecia? Pode ser. Mas resulta de uma ação de alguém que se relacionou consigo. Não acha que deu o flanco? A reabertura do processo lembra-me um amigo que tinha uns ataques e foi internado no Conde Ferreira, o hospital dos doentes mentais. Os colegas chamavam-lhe maluco e ele respondia: maluco, eu? Estive lá e tive alta. Vocês, se entrarem, não sei se saem. Felizmente que o processo foi reaberto porque fui julgado três vezes e não fui condenado. Não sei se aconteceria o mesmo com muito figurão que anda para aí. Leu o livro e viu o filme? Não li o livro nem vi o filme. Não teve curiosidade? Nenhuma. Tive de ouvir alguns trechos no julgamento e bastou-me. E bastou-me ver o guião do filme, que por acaso tenho, para saber o que lá ia. "Tenho uma cópia do guião do filme escrito pela Leonor Pinhão" Tem o guião do filme? Tenho uma cópia do guião escrito pela Leonor Pinhão, mas escusam de me assaltar porque está num cofre seguro. No dia em que o livro foi publicado o Porto jogava com uns turcos e ao meu lado ficou o dito doutor Hermínio Loureiro, que me disse: isto do 'Apito Dourado' já não dá nada, mas eles lá em baixo estão muito esperançados em reabrir o processo com o livro que a sua antiga namorada está a escrever. Ele agora também já não se deve lembrar, mas eu lembro-me. Ficou satisfeito por Carolina Salgado ter sido condenada por abuso de confiança e ter de devolver 30 mil que tirou de uma conta sua? Não. Para mim a vida começa quando nascemos e acaba quando morremos. E no meio há episódios bons, maus e outros de risco. É-me completamente indiferente se é condenada, absolvida ou se faz isto ou aquilo. Quero lá saber. Acabou. Mas investiu bastante na relação. Levou-a na visita ao Papa. Se vivo com uma pessoa e vou a Roma, a Braga ou ao Pedro dos Leitões, não o vou levar a si. Já sabe quem é o Rui Rio? Não. Ainda não me foi apresentado e não conheço nenhuma obra dele. Entre Rui Moreira e Luís Filipe Menezes quem escolheria para presidente da Câmara do Porto? O Rui Moreira seria um fantástico presidente da Câmara do Porto e se calhar nunca vai ser porque não está colado a nenhum partido. Está a ser empurrado pelo Rui Rio. É? Então ainda vai parar ao mar. Está zangado com o Luís Filipe Menezes? De maneira nenhuma. Só o via em eventos desportivos. Ele vinha ao camarote do Porto e deixou de vir. O senhor também deixou de ir ao São João em Gaia. Deixei de ir para preservar a minha vida privada. "Separei-me mas continuo a dar-me com a minha ex-mulher"

Mas vai ao teatro com a sua namorada. Fui uma vez e tinha cinquenta fotógrafos à minha espera. Deixei de ir. Os seus amigos perguntaram-lhe porque é que tinha uma relação com uma rapariga de vinte e poucos anos? Não. Alguns devem ter ficado com inveja. A diferença de idades não é um problema para vocês? Para mim não e para ela também não. Já é avô? Já. Tenho dois netos da parte do meu filho. A relação com o seu filho melhorou? É fria. Vê os seus netos? Claro. Qual é o problema? Dou-me com a minha ex-mulher e vejo-os. Já os trouxe ao estádio? Não porque o mais velho tem 11 anos, a rapariga quatro e só podem vir para a tribuna quando tiverem 16 anos. Não vou abrir exceções. Eu separei-me mas continuo a dar-me com a minha ex-mulher. Há muita gente que não se separa para não dar barraca, mas temos o direito de ser felizes e quando não há amor é melhor assim. Ela ficou doente e eu acompanhei-a, sabia de tudo. Não lhe quero mal, só lhe quero bem. É capaz de dizer o mesmo de Carolina Salgado? Não posso sequer aceitar a comparação. Tenho tanto respeito pela mãe do meu filho que não posso responder. "Já sofri tanto pelo Benfica como pelo Porto, na final da Taça UEFA" A sua filha Joana tirou o curso de gestão desportivo. Era capaz de a empregar aqui no Porto? Se ela tiver capacidade, porque não? Porque seria sempre a filha do Pinto da Costa. E isso vai ser sempre, com muito orgulho meu e dela. No Benfica é que não. O Benfica é uma grande instituição e já sofri tanto pelo Benfica como pelo Porto, na final da Taça UEFA que perdeu contra o Anderlecht. E agora é capaz de torcer pelo Benfica numa prova europeia? Não, é-me indiferente. Com o Sporting também? Não. Torço pelo Sporting. Nós temos dois clubes: o nosso, que não muda, e o clube onde estão os nossos amigos. Como é que gosta que o tratem: Jorge Nuno, Pinto da Costa ou presidente? Por Jorge Nuno poucos me tratam. As minhas irmãs tratam-me por Nuno. Os meus irmãos tratavam, e o que ainda é vivo trata-me por Jorge. E a sua namorada? Por Nuno. Em casa fui sempre o Nuno e quando fui para o colégio passei a ser o Jorge porque era o meu primeiro nome. E os meus irmãos, como toda a gente me chamava Jorge, também aderiram. Admite que algum jogador o trate pelo nome? Não, não faz sentido. Só se já fôssemos amigos. Tive um funcionário, o Luís César, que me tratava por tu, coisa que não acontece com os outros dirigentes, porque já éramos amigos. Um dia deixou de me tratar por tu e eu obriguei-o a voltar atrás. Agora um jogador tratar-me pelo nome próprio... nunca aconteceu e creio que nunca acontecerá. "Tenho uma relação distante com os Superdragões"

Qual é a relação exata que tem com os Superdragões? Chegou a ser escoltado por eles no tribunal. Não, isso não. Na fotografia dá essa impressão, mas nem vi que lá estavam. Tenho uma relação distante com eles. Têm acesso ao seu gabinete? Não. Nunca entraram aqui. O Madureira tem o seu telemóvel? Não, mas se ligar para a secretária eu atendo. Mas nunca o fez. Tenho por eles uma grande admiração. Porquê? Porque nas alturas más toda a gente festeja. Nos momentos maus, eles estão sempre nos campos todos a apoiar a equipa. Não lhe faz confusão as cenas de violência e as esperas aos jogadores? Acontece a todos e em toda a parte. E noutros sítios com mais violência. O treinador do AEK levou na tromba a sério porque perdeu um jogo particular. Conhece o Bruno Pidá condenado a 23 anos de prisão por homicídio? Não, mas sei que é um indefetível portista. Estava ao seu lado no tribunal de Gondomar. Sim, mas não foi mandado por mim. Ele que diga por quem foi. Não o conheço e lamento muito a situação que está a passar porque sei que é muito boa pessoa e um portista doente. Tenho pena que esteja envolvido num processo chato. Se é culpado só Deus é que sabe. Ele e Deus. E outra coisa: vejo a próxima época com muita preocupação. No final da Supertaça ficaram cinco cartões vermelhos por mostrar aos jogadores do Benfica. E o jogo foi arbitrado por um árbitro internacional que só vê agressões nos túneis. Isto assusta-me. Temo que vá haver impunidade total com aquele tipo de jogo. "Eticamente, esta Liga parte errada"

Já está a fazer pressão. Não, não. Fiquei horrorizado quando vi o calcanhar do Sapunaru dois dias depois do jogo. E o Beluschi levou um pontapé na cabeça, o César Peixoto só não partiu a perna ao Varela por acaso. E há outra coisa: a Liga Zon parte com um problema ético grave. Liga Sagres. Zon. Eu não bebo álcool. Porquê? Não gosto, só bebo água. Nunca bebi álcool. Um bom jantar para mim é acompanhado com San Pellegrino ou Vitalis. Eticamente, esta liga parte errada. Porquê? Porque o patrocinador da Liga é o mesmo de um dos concorrentes. Refere-se ao Benfica? Sim. Não acho correto, mas a Liga acha. Mas qual é o problema? As empresas patrocinam o clube para que ganhem, para aparecerem. Acha correto que o patrocinador da Liga seja o patrocinador de um dos concorrentes? Quando eu fui presidente da Liga a Revigrés ia patrocinar a Liga e não aceitámos porque já era patrocinador do FC Porto. E toda a gente achou normal a situação. Porque é que não se queixa à Liga? Para quê? Não aceitaram o contrato? Já tem uma desculpa se o FC Porto perder o campeonato. Não é desculpa porque o FC Porto não vai perder. Mas é preocupante que o interessado em que o Benfica ganhe seja o patrocinador da Liga. Não me venham dizer que isso é correto. "Vítor Pereira tentou convencer Lucílio Baptista a retirar-se"

Mas na prática o que é que pode acontecer? A Liga depende do patrocínio e acha que o patrocinado vai prejudicar outro patrocinado? Há dois anos o Sporting perdeu a Taça da Liga com uma arbitragem vergonhosa do senhor Lucílio Baptista. Sei por um dirigente que o Vítor Pereira (presidente da comissão de arbitragem) tentou convencer o Lucílio Baptista a retirar-se. E ele recusou-se. Explique-me como é que um árbitro que não tem condições é nomeado para o Benfica-Porto. Sabe explicar porque é aconteceu? Com a vitória na Supertaça, a equipa de futebol deu-lhe o 50º título como presidente. Teve algum sabor especial? Eu nem sabia que era o 50.º. Li isso nos jornais. Em termos de títulos no futebol, o FC Porto está um atrás do Benfica (67-66). Este ano vai ultrapassar o Benfica? Esses números não me dizem nada. A mim preocupa-me é que o FC Porto ganhe e ganhe bem, como no passado sábado. Traçou algum objetivo para o novo treinador? Os objetivos são iguais para todos os treinadores do FC Porto: formar boas equipas, bons jogadores e vencer títulos. Li há tempos uma coisa interessante: "Villas Boas é uma aposta pessoal do presidente portista"! E os outros não foram? No FC Porto, as decisões são colegiais. Mas a escolha mais importante é a do treinador. E essa responsabilidade há 28 anos que é minha. "Aposta mais arriscada foi a do Artur Jorge" Quem lhe sugeriu o nome de Villas Boas? Ninguém. Eu conheço o André desde criança. Quando o Bobby Robson veio para o FC Porto era vizinho dele e falou-me dele como um miúdo com uma visão muito interessante do futebol. E eu fiquei admirado como é que um jovem de 14 anos tinha aqueles conceitos de futebol. Sempre tive a perceção que ele havia de ser alguém no futebol. Depois o Mourinho pegou nele e ele "doutorou-se". Vi-o nascer e crescer no futebol. "É uma aposta arriscada? A mais arriscada foi a do Artur Jorge. Em 1984, quando ele veio, estava a sair do Belenenses e do Portimonense, que tinham descido de divisão. Quando eu falei no nome dele à direção, toda a gente ficou assustada. A escolha de Villas Boas foi consensual? Foi consensual, na direção e na administração. Porque eu expliquei o que queria nele: era a viragem de página, mudança de ciclo, o que não se faz com pessoas iguais às que estão. Tem de ser com pessoas diferentes na idade, no discurso e na ambição. Melhores? Diferentes. A escolha do Jesualdo também foi uma escolha contestada. Mesmo quando ganhava nunca conseguia ter os sócios com ele. Porquê? Não sei, talvez por ser uma pessoa reservada. Mas esteve 4 anos e venceu três títulos. Mas a verdade é que já não estava a ser capaz de empolgar os sócios e a equipa. Assim, entendemos que tinha chegado ao final do seu ciclo. O que ele também achou. Saiu com total cordialidade. A primeira mensagem de parabéns que eu recebi, mal terminou o jogo da Supertaça, foi dele. Villas Boas foi a primeira escolha? Foi. Não convidei mais ninguém. Nem Domingos ou Jorge Costa? Não. São bons treinadores e não tenha dúvidas de que no futuro irão treinar o FC Porto. Porque não este ano? Entendi que no caso do Jorge Costa era cedo. O Domingos tem contrato com o Braga e uma grande cláusula de rescisão. Entendi que não era enfraquecendo os clubes amigos que deveríamos fazer a escolha. "Possibilidades de Jesus treinar o FC Porto são muito poucas" O Jorge Jesus não foi opção? Não. Tem contrato com o Benfica. Gostaria de o ver no FC Porto? Sou amigo dele há muitos anos. Registo com satisfação que apesar de estar num clube com o qual não temos relações, o Jorge Jesus me cumprimenta com cordialidade. Como aconteceu no passado sábado, no final da Supertaça. Admite que possa vir a treinar o Porto? Admito. Mas não estou a ver porque o Jesus tem 56 anos e quando o Jesualdo saiu decidimos voltar a página e procurar um treinador de 32 anos. Era voltar com a página atrás ir agora buscar um treinador com uma idade próxima à do Jesualdo. O Jesus é um grande treinador e a vitória do Benfica no ano passado deve-se muito a ele, não é só mérito do Ricardo Costa do Conselho de Disciplina da Liga e é evidente que o Benfica não o vai deixar sair. A prova é que só porque constou que o papão lá de cima vinha cá abaixo, quadruplicaram-lhe o ordenado. Como é que sabe? Sei. Se não quadruplicaram, faltou pouquinho. E sei que a meta seguinte para o Jesus é tentar o estrangeiro. E com este percurso, o FC Porto não vai ser o clube para ir buscar a reforma. As possibilidades de ele vir a treinar o FC Porto são muito poucas. Mas tem capacidade. Porque é que nunca pensou nele? Ainda admiti quando ele foi para Braga, mas optámos pelo Jesualdo. Tivemos oito dias para decidir quando o Adriaanse saiu a uma semana do campeonato começar. Com o Villas Boas foi buscar um novo José Mourinho? Não. Mourinho, há o Zé e mais nenhum. Mas ninguém nasce ensinado. Mas Villas Boas tem alguns tiques de José Mourinho. Eu acho que, mesmo que não se queira, uma pessoa adquire os hábitos das pessoas com quem trabalha. Mas nunca lhe vi intenção de imitar o José Mourinho. "José Mourinho não é arrogante" Aconse

lhou-se com o Mourinho para a contratação do Villas Boas? Não. Mas sei o que pensam um do outro. Qual é a sua relação com Mourinho? Boa. Há dois Mourinhos - o que treinava o FC Porto e era considerado mal-educado, e o que saiu do FC Porto e que era admirado como um génio. Esse segundo José Mourinho, no dia a seguir a ser campeão europeu pelo Inter de Milão, mandou-me uma mensagem a agradecer a oportunidade que lhe dei no FC Porto para ele ter chegado onde chegou. E isto não é de um homem arrogante e que só pensa nele. Continua a admirá-lo? Eu agora até tenho um dilema. Em Espanha o meu clube é o Barcelona, que é uma espécie de FC Porto de Espanha, mas também queria que o Real Madrid ganhasse por causa do José Mourinho. A contratação do João Moutinho foi ideia do treinador ou foi ideia sua? Foi uma ideia do acaso. Em Junho deste ano, o empresário do João Moutinho falou-nos e disse que tinha um documento em que o Sporting dava autorização para vender o jogador por dez milhões de euros, sem limitações para Portugal. Quis ver o documento e quando me assegurei de que assim era perguntei ao Villas Boas se o jogador lhe interessava. Quando ele me disse que sim, marquei reunião com o Sporting, depois de o seu presidente me ter dito que concordava com o negócio. A seguir, tivemos também o cuidado de mandar uma mensagem ao João Moutinho a perguntar se ele estava interessado em vir para o FC Porto. A resposta dele foi: "Já". Como é que lê então as declarações do presidente do Sporting a dizerem que o João Moutinho tinha feito pressão para sair? Se fez pressão para sair, não foi para vir para o FC Porto. Porque quando o João Moutinho soube que poderia vir para o FC Porto, já o Sporting tinha reuniões marcadas connosco para esse negócio. Mas o Sporting estava disposto a deixá-lo sair por dez milhões, pelo que li no documento que referi. "Convidei Carlos Queiroz para ser coordenador de todo o futebol" Tem mais simpatia por Carlos Queiroz do que tinha por Scolari? O que eu penso de um e de outro é indiferente. Em relação à simpatia: quando Scolari chegou a Portugal uma das primeiras pessoas com quem contactou foi comigo. Veio dizer-me: "Presidente, ponha-me esse menino português". O menino era o Deco. Depois veio ver jogos ao Porto. E tivemos sempre uma relação cordial, até ao momento em que ele mudou de posição, começou a dizer que o Porto ficava a 300 quilómetros e inexplicavelmente deixou de convocar o Vítor Baía, e houve um afastamento. Ao Carlos Queiroz reconheço competência há muito tempo. Ainda antes de ele ser campeão do mundo de sub-21, já eu o tinha convidado para vir para o FC Porto, para ser coordenador de todo o futebol. Gostou de ver a seleção na África do Sul? Gostei de a ver no jogo contra a Coreia, porque ganhou. Quando empata, gosto pouco. Quando perde, não gosto nada. Sendo objetivo, foi uma participação positiva. Tivemos o azar de ter de jogar contra o Brasil e de encontrar a Espanha, contra quem fizemos o mesmo resultado da Holanda na final, que foi recebida com aplausos no regresso. Não jogámos bem contra a Espanha, mas ninguém consegue jogar bem contra esta Espanha. Porque é que é testemunha de Queiroz neste caso do controlo de doping? Porque ele me pediu. Se o afastarem dão uma enorme facada na credibilidade do futebol português, que, após Saltillo, poderá ter o caso mais triste da história da seleção. A acontecer, poderá ser também uma machadada na candidatura à organização do campeonato mundial. Este episódio terá repercussões internacionais. Uma das testemunhas é o Alex Ferguson, o suficiente para chamar todas as atenções e vai encher de ridículo o futebol português. Tolerava que um treinador do FC Porto tivesse a atitude imputada a Carlos Queiroz? Em primeiro lugar, quando um treinador se excede no vocabulário, eu critico. Não admito que ninguém no FC Porto ofenda alguém. Mas compreendo que, por vezes, uma pessoa se possa exceder. E não iria contra um treinador pelo facto de ele querer resguardar a sua equipa. "Não escolherei ninguém para sucessor"

Chama o elevador para o relvado, entra e não resiste: "Este é o elevador Santana Lopes. Porque uma vez ficámos todos fechados aqui dentro e ele ficou aflito, a pedir-me para arrombar as portas". Pinto da Costa não consegue resistir a uma piada e aceitou conceder uma entrevista ao Expresso depois de dez anos em silêncio. "As zangas não duram sempre", explica o presidente do FC Porto. E respondeu a tudo. Ainda tem algum processo pendente nos tribunais? Está tudo resolvido. As acusações do 'Apito Dourado' foram todas arquivadas. E cada uma três vezes. Primeiro, foram investigadas e mandadas arquivar. Depois, foram julgadas e de novo arquivadas. E o procurador-geral da República, numa decisão inédita, determinou que tudo o que fosse ilibado no 'Apito Dourado' teria recurso do MP. Sentiu-se perseguido? Se a ordem também tivesse sido dada para os casos Freeport, Casa Pia ou Face Oculta, não me sentia discriminado. Não digo que seja perseguição. Mas que é estranho, é.

Hermínio Loureiro contou que o senhor lhe disse algo impublicável quando soube da redução do castigo a Hulk. O que foi? O que eu lhe disse de impublicável, embora não perceba porque é impublicável, foi: "Daqui fala o presidente do Futebol Clube do Porto. Perante a decisão do Conselho de Justiça, e se ainda tiver um bocado de vergonha, o senhor deve demitir-se. E hoje." Não houve vernáculo? Nenhum. Porque não é meu costume e porque sei que o meu telefone está a ser escutado. E o diálogo terminou? Terminou. Ele disse: "Vou tomar nota". E eu, "faça favor". E desligámos. Desafio-o a ele e à polícia que gravou as conversas para dizerem se o ofendi. Depois Valentim Loureiro e o senhor Tiago Craveiro telefonaram-me a dizer que o Hermínio Loureiro teria estado toda a tarde a tentar telefonar a Ricardo Costa para lhe dizer que se demitisse. E que se Ricardo Costa não se demitisse, se demitiria ele. E depois o Hermínio Loureiro veio dizer que não foi assim. Em que versão acredita? É a palavra de dois contra um. E como sou a favor das maiorias, acredito nelas. "Garanto que não houve fruta nenhuma" Sabe que as suas escutas do 'Apito Dourado' ainda estão no Youtube? Estão? Não frequento essas tecnologias. Ninguém lhas mostrou? Não me falaram disso, não vi e não estou interessado. O que eu gostava que pusessem na Net era a minha conversa com o doutor Hermínio Loureiro. Acha que as pessoas acreditam que a conversa da fruta não tinha nada a ver com subornos a árbitros? Se me dissessem que um clube que ganhou o campeonato com não sei quantos de avanço, um título europeu e tinha uma equipa fabulosa, subornou um árbitro para um jogo em casa com o último, eu dizia que era maluco. A conversa codificada com António Araújo sobre fruta de dormir é no mínimo suspeita. Não foi suspeita, foi estúpida. Eu nem sabia do que ele estava a falar. E já sabe? Deduzo. E o que garanto é que não houve fruta nenhuma. Sabe o que é ridículo? No dia desse jogo fui cear a um restaurante com outra pessoa e porque fui avisado sei que a PJ, que me andava a seguir para ver se fazia dieta, foi lá pedir a conta e, como era de 60 euros, é lógico que não estava a pagar jantar a árbitros e juízes de linha. Para mim o 'Apito Dourado' vai continuar. Como assim? Ainda hei-de falar e escrever sobre o 'Apito Dourado' e o 'Apito Final da Liga'. Coisas que se não tivesse testemunhas ninguém acreditava. Por exemplo? Eu ir ao tribunal de Gondomar e ouvir: Jogo Porto-Nacional que o Porto ganhou 1-0. No intervalo o senhor Antero Henrique liga-lhe para perguntar se uma determinada pessoa pode ir para o camarote. E eu respondo: ó Antero, já me viu este gajo que não marca um penálti destes? E como eu disse isto, como protestei, é porque tinha combinado com o árbitro que ele ia marcar o penálti. Contra isto como é que se argumenta? Como eu respondi: não queria um, queria dez. Se houvesse dez, queria que marcassem dez. "Não há nenhum árbitro que saiba dizer onde é que eu moro"

Não é imprudente receber em casa um árbitro na véspera de um jogo arbitrado por ele? O árbitro não foi tratar de nada de futebol, mas de um problema relacionado com o pai. E, quando combinei com árbitro, ele ainda não tinha sido nomeado. E não desmarquei porque como o Porto já era campeão e o jogo não interessava para nada, não vi problema. O Araújo tinha-me dito que era coisa grave, pessoal e pediu a minha interferência. E como é que podia ser útil para resolver um problema do pai do Augusto Duarte? Podia. É um assunto pessoal e não o vou revelar. É amigo do pai ou do Augusto Duarte? Não. Conhecia o pai, o Azevedo Duarte, que também foi árbitro, e o que me pediram foi para interferir junto de uma pessoa de quem sou muito amigo e que tinha influência junto dele. Ouvi o que se passava, falei com quem tinha de falar e acabou. Já tinha recebido algum árbitro em casa? Nunca. Se o tivesse feito já os jornais tinham dito que eu recebi vinte. E depois desse? Também não. Não há nenhum árbitro que saiba dizer onde é que eu moro. E nunca jantou ou almoçou com nenhum? Nunca. A polícia andou atrás de mim e sabe. "Quando acabar o mandato vejo-me a descansar, escrever e passear"

Não o incomodava se o presidente do Benfica ou recebesse árbitros em casa? Se fosse para um assunto destes não tinha problema nenhum. Quer mais uma história fantástica? Um juiz de um tribunal de família, e não um juiz de linha, era acusado não sei de quê e eu fui convocado para prestar declarações. O que é que se tinha passado? Esse juiz pediu ao advogado Lourenço Pinto, que conhecia dos tribunais, para comprar dois bilhetes para o jogo com o Manchester. O Lourenço Pinto ligou-me, eu mandei-lhe os bilhetes, ele pagou-me e o juiz estava implicado no 'Apito Dourado' porque pediu ao Lourenço Pinto para comprar dois bilhetes. Isto não é perseguição? Então o que é? Foi por acaso que não estava em casa no dia das buscas da PJ? Totalmente por acaso. Há muitos anos que vou a Espanha no dia 1 de Dezembro para ir fazer compras ao Corte Inglés. Já tinha quarto marcado no Parador em Tuy há muito tempo. E fui à RTP por causa do lançamento do meu livro, adiei a ida por um dia, telefonei para lá a dizer que ia um dia depois. Mas estas escutas, e eu na altura estava sob escuta, não aparecem. E fui de carro, não fui escondido. E andei a passear no Corte Inglés, não me escondi. Quando é que soube que a sua casa estava a ser alvo de buscas? No próprio dia. Telefonei ao Adelino Caldeira e ao advogado e pedi-lhes para saber quando é que me queriam ouvir e onde. Ficou combinado para o dia seguinte e voltei no meu carro tranquilamente. E no dia e à hora combinada apresentei-me. E quando já estava dentro do tribunal vieram dar-me um papel a dizer que estava detido para ir a tribunal. Eu disse que já estava no tribunal e ainda deu para rir um bocado. Vê-se a fazer alguma coisa fora do futebol? Quando acabar o mandato vejo-me a descansar, escrever e passear. Escrever sobre o 'Apito Dourado'? Muitas histórias, mas histórias verdadeiras. Vou escrever um livro sobre o 'Apito Dourado' e todas as cenas de tribunal, como esta ser detido dentro do tribunal para ir a tribunal. "Qualquer dia dizem que comprei a Torre dos Clérigos"

Sente-se responsável pelo facto de a sua vida privada se ter tornado pública? Não. Se as pessoas entendem que a minha vida privada é importante o que é que hei de fazer? Não vou deixar de ter vida privada. Não ligo. Quando vejo fotografias da casa de um amigo e outra que está a venda e dizem que vivo lá e que comprei a casa por um milhão, eu só tenho de me rir. E depois o mesmo jornal diz que comprei um apartamento de 400 mil euros para dar à minha namorada, como eles a tratam. O que é que hei de fazer? Qualquer dia dizem que comprei a Torre dos Clérigos e estou lá em cima a fazer o pino. Ainda é casado? Sou. No papel, sou casado. Para que é que renovou os votos do casamento para aparecer logo a seguir com uma nova namorada? Não foi a seguir. Quando uma pessoa se casa é na perspetiva de que resulte. Mas em mais de 50% dos casos não resulta. No seu caso mais de metade das relações não resultaram. Metade dos casamentos acaba em divórcio e da outra metade que não acaba, muitos são de fachada e vive-se com outras pessoas. Eu assumo as minhas atitudes.

Que têm um preço: Carolina Salgado só escreveu o livro que levou à reabertura dos processos porque acabou a relação consigo. Não foi porque acabámos. É preciso ver quem escreveu aquilo: a Leonor Pinhão e uma pseudoescritora. O livro é de Carolina Salgado. E não acha interessante que seja a Leonor Pinhão a escrever o guião do filme "Corrupção" quando nem a conhecia? Pode ser. Mas resulta de uma ação de alguém que se relacionou consigo. Não acha que deu o flanco? A reabertura do processo lembra-me um amigo que tinha uns ataques e foi internado no Conde Ferreira, o hospital dos doentes mentais. Os colegas chamavam-lhe maluco e ele respondia: maluco, eu? Estive lá e tive alta. Vocês, se entrarem, não sei se saem. Felizmente que o processo foi reaberto porque fui julgado três vezes e não fui condenado. Não sei se aconteceria o mesmo com muito figurão que anda para aí. Leu o livro e viu o filme? Não li o livro nem vi o filme. Não teve curiosidade? Nenhuma. Tive de ouvir alguns trechos no julgamento e bastou-me. E bastou-me ver o guião do filme, que por acaso tenho, para saber o que lá ia. "Tenho uma cópia do guião do filme escrito pela Leonor Pinhão" Tem o guião do filme? Tenho uma cópia do guião escrito pela Leonor Pinhão, mas escusam de me assaltar porque está num cofre seguro. No dia em que o livro foi publicado o Porto jogava com uns turcos e ao meu lado ficou o dito doutor Hermínio Loureiro, que me disse: isto do 'Apito Dourado' já não dá nada, mas eles lá em baixo estão muito esperançados em reabrir o processo com o livro que a sua antiga namorada está a escrever. Ele agora também já não se deve lembrar, mas eu lembro-me. Ficou satisfeito por Carolina Salgado ter sido condenada por abuso de confiança e ter de devolver 30 mil que tirou de uma conta sua? Não. Para mim a vida começa quando nascemos e acaba quando morremos. E no meio há episódios bons, maus e outros de risco. É-me completamente indiferente se é condenada, absolvida ou se faz isto ou aquilo. Quero lá saber. Acabou. Mas investiu bastante na relação. Levou-a na visita ao Papa. Se vivo com uma pessoa e vou a Roma, a Braga ou ao Pedro dos Leitões, não o vou levar a si. Já sabe quem é o Rui Rio? Não. Ainda não me foi apresentado e não conheço nenhuma obra dele. Entre Rui Moreira e Luís Filipe Menezes quem escolheria para presidente da Câmara do Porto? O Rui Moreira seria um fantástico presidente da Câmara do Porto e se calhar nunca vai ser porque não está colado a nenhum partido. Está a ser empurrado pelo Rui Rio. É? Então ainda vai parar ao mar. Está zangado com o Luís Filipe Menezes? De maneira nenhuma. Só o via em eventos desportivos. Ele vinha ao camarote do Porto e deixou de vir. O senhor também deixou de ir ao São João em Gaia. Deixei de ir para preservar a minha vida privada. "Separei-me mas continuo a dar-me com a minha ex-mulher"

Mas vai ao teatro com a sua namorada. Fui uma vez e tinha cinquenta fotógrafos à minha espera. Deixei de ir. Os seus amigos perguntaram-lhe porque é que tinha uma relação com uma rapariga de vinte e poucos anos? Não. Alguns devem ter ficado com inveja. A diferença de idades não é um problema para vocês? Para mim não e para ela também não. Já é avô? Já. Tenho dois netos da parte do meu filho. A relação com o seu filho melhorou? É fria. Vê os seus netos? Claro. Qual é o problema? Dou-me com a minha ex-mulher e vejo-os. Já os trouxe ao estádio? Não porque o mais velho tem 11 anos, a rapariga quatro e só podem vir para a tribuna quando tiverem 16 anos. Não vou abrir exceções. Eu separei-me mas continuo a dar-me com a minha ex-mulher. Há muita gente que não se separa para não dar barraca, mas temos o direito de ser felizes e quando não há amor é melhor assim. Ela ficou doente e eu acompanhei-a, sabia de tudo. Não lhe quero mal, só lhe quero bem. É capaz de dizer o mesmo de Carolina Salgado? Não posso sequer aceitar a comparação. Tenho tanto respeito pela mãe do meu filho que não posso responder. "Já sofri tanto pelo Benfica como pelo Porto, na final da Taça UEFA" A sua filha Joana tirou o curso de gestão desportivo. Era capaz de a empregar aqui no Porto? Se ela tiver capacidade, porque não? Porque seria sempre a filha do Pinto da Costa. E isso vai ser sempre, com muito orgulho meu e dela. No Benfica é que não. O Benfica é uma grande instituição e já sofri tanto pelo Benfica como pelo Porto, na final da Taça UEFA que perdeu contra o Anderlecht. E agora é capaz de torcer pelo Benfica numa prova europeia? Não, é-me indiferente. Com o Sporting também? Não. Torço pelo Sporting. Nós temos dois clubes: o nosso, que não muda, e o clube onde estão os nossos amigos. Como é que gosta que o tratem: Jorge Nuno, Pinto da Costa ou presidente? Por Jorge Nuno poucos me tratam. As minhas irmãs tratam-me por Nuno. Os meus irmãos tratavam, e o que ainda é vivo trata-me por Jorge. E a sua namorada? Por Nuno. Em casa fui sempre o Nuno e quando fui para o colégio passei a ser o Jorge porque era o meu primeiro nome. E os meus irmãos, como toda a gente me chamava Jorge, também aderiram. Admite que algum jogador o trate pelo nome? Não, não faz sentido. Só se já fôssemos amigos. Tive um funcionário, o Luís César, que me tratava por tu, coisa que não acontece com os outros dirigentes, porque já éramos amigos. Um dia deixou de me tratar por tu e eu obriguei-o a voltar atrás. Agora um jogador tratar-me pelo nome próprio... nunca aconteceu e creio que nunca acontecerá. "Tenho uma relação distante com os Superdragões"

Qual é a relação exata que tem com os Superdragões? Chegou a ser escoltado por eles no tribunal. Não, isso não. Na fotografia dá essa impressão, mas nem vi que lá estavam. Tenho uma relação distante com eles. Têm acesso ao seu gabinete? Não. Nunca entraram aqui. O Madureira tem o seu telemóvel? Não, mas se ligar para a secretária eu atendo. Mas nunca o fez. Tenho por eles uma grande admiração. Porquê? Porque nas alturas más toda a gente festeja. Nos momentos maus, eles estão sempre nos campos todos a apoiar a equipa. Não lhe faz confusão as cenas de violência e as esperas aos jogadores? Acontece a todos e em toda a parte. E noutros sítios com mais violência. O treinador do AEK levou na tromba a sério porque perdeu um jogo particular. Conhece o Bruno Pidá condenado a 23 anos de prisão por homicídio? Não, mas sei que é um indefetível portista. Estava ao seu lado no tribunal de Gondomar. Sim, mas não foi mandado por mim. Ele que diga por quem foi. Não o conheço e lamento muito a situação que está a passar porque sei que é muito boa pessoa e um portista doente. Tenho pena que esteja envolvido num processo chato. Se é culpado só Deus é que sabe. Ele e Deus. E outra coisa: vejo a próxima época com muita preocupação. No final da Supertaça ficaram cinco cartões vermelhos por mostrar aos jogadores do Benfica. E o jogo foi arbitrado por um árbitro internacional que só vê agressões nos túneis. Isto assusta-me. Temo que vá haver impunidade total com aquele tipo de jogo. "Eticamente, esta Liga parte errada"

Já está a fazer pressão. Não, não. Fiquei horrorizado quando vi o calcanhar do Sapunaru dois dias depois do jogo. E o Beluschi levou um pontapé na cabeça, o César Peixoto só não partiu a perna ao Varela por acaso. E há outra coisa: a Liga Zon parte com um problema ético grave. Liga Sagres. Zon. Eu não bebo álcool. Porquê? Não gosto, só bebo água. Nunca bebi álcool. Um bom jantar para mim é acompanhado com San Pellegrino ou Vitalis. Eticamente, esta liga parte errada. Porquê? Porque o patrocinador da Liga é o mesmo de um dos concorrentes. Refere-se ao Benfica? Sim. Não acho correto, mas a Liga acha. Mas qual é o problema? As empresas patrocinam o clube para que ganhem, para aparecerem. Acha correto que o patrocinador da Liga seja o patrocinador de um dos concorrentes? Quando eu fui presidente da Liga a Revigrés ia patrocinar a Liga e não aceitámos porque já era patrocinador do FC Porto. E toda a gente achou normal a situação. Porque é que não se queixa à Liga? Para quê? Não aceitaram o contrato? Já tem uma desculpa se o FC Porto perder o campeonato. Não é desculpa porque o FC Porto não vai perder. Mas é preocupante que o interessado em que o Benfica ganhe seja o patrocinador da Liga. Não me venham dizer que isso é correto. "Vítor Pereira tentou convencer Lucílio Baptista a retirar-se"

Mas na prática o que é que pode acontecer? A Liga depende do patrocínio e acha que o patrocinado vai prejudicar outro patrocinado? Há dois anos o Sporting perdeu a Taça da Liga com uma arbitragem vergonhosa do senhor Lucílio Baptista. Sei por um dirigente que o Vítor Pereira (presidente da comissão de arbitragem) tentou convencer o Lucílio Baptista a retirar-se. E ele recusou-se. Explique-me como é que um árbitro que não tem condições é nomeado para o Benfica-Porto. Sabe explicar porque é aconteceu? Com a vitória na Supertaça, a equipa de futebol deu-lhe o 50º título como presidente. Teve algum sabor especial? Eu nem sabia que era o 50.º. Li isso nos jornais. Em termos de títulos no futebol, o FC Porto está um atrás do Benfica (67-66). Este ano vai ultrapassar o Benfica? Esses números não me dizem nada. A mim preocupa-me é que o FC Porto ganhe e ganhe bem, como no passado sábado. Traçou algum objetivo para o novo treinador? Os objetivos são iguais para todos os treinadores do FC Porto: formar boas equipas, bons jogadores e vencer títulos. Li há tempos uma coisa interessante: "Villas Boas é uma aposta pessoal do presidente portista"! E os outros não foram? No FC Porto, as decisões são colegiais. Mas a escolha mais importante é a do treinador. E essa responsabilidade há 28 anos que é minha. "Aposta mais arriscada foi a do Artur Jorge" Quem lhe sugeriu o nome de Villas Boas? Ninguém. Eu conheço o André desde criança. Quando o Bobby Robson veio para o FC Porto era vizinho dele e falou-me dele como um miúdo com uma visão muito interessante do futebol. E eu fiquei admirado como é que um jovem de 14 anos tinha aqueles conceitos de futebol. Sempre tive a perceção que ele havia de ser alguém no futebol. Depois o Mourinho pegou nele e ele "doutorou-se". Vi-o nascer e crescer no futebol. "É uma aposta arriscada? A mais arriscada foi a do Artur Jorge. Em 1984, quando ele veio, estava a sair do Belenenses e do Portimonense, que tinham descido de divisão. Quando eu falei no nome dele à direção, toda a gente ficou assustada. A escolha de Villas Boas foi consensual? Foi consensual, na direção e na administração. Porque eu expliquei o que queria nele: era a viragem de página, mudança de ciclo, o que não se faz com pessoas iguais às que estão. Tem de ser com pessoas diferentes na idade, no discurso e na ambição. Melhores? Diferentes. A escolha do Jesualdo também foi uma escolha contestada. Mesmo quando ganhava nunca conseguia ter os sócios com ele. Porquê? Não sei, talvez por ser uma pessoa reservada. Mas esteve 4 anos e venceu três títulos. Mas a verdade é que já não estava a ser capaz de empolgar os sócios e a equipa. Assim, entendemos que tinha chegado ao final do seu ciclo. O que ele também achou. Saiu com total cordialidade. A primeira mensagem de parabéns que eu recebi, mal terminou o jogo da Supertaça, foi dele. Villas Boas foi a primeira escolha? Foi. Não convidei mais ninguém. Nem Domingos ou Jorge Costa? Não. São bons treinadores e não tenha dúvidas de que no futuro irão treinar o FC Porto. Porque não este ano? Entendi que no caso do Jorge Costa era cedo. O Domingos tem contrato com o Braga e uma grande cláusula de rescisão. Entendi que não era enfraquecendo os clubes amigos que deveríamos fazer a escolha. "Possibilidades de Jesus treinar o FC Porto são muito poucas" O Jorge Jesus não foi opção? Não. Tem contrato com o Benfica. Gostaria de o ver no FC Porto? Sou amigo dele há muitos anos. Registo com satisfação que apesar de estar num clube com o qual não temos relações, o Jorge Jesus me cumprimenta com cordialidade. Como aconteceu no passado sábado, no final da Supertaça. Admite que possa vir a treinar o Porto? Admito. Mas não estou a ver porque o Jesus tem 56 anos e quando o Jesualdo saiu decidimos voltar a página e procurar um treinador de 32 anos. Era voltar com a página atrás ir agora buscar um treinador com uma idade próxima à do Jesualdo. O Jesus é um grande treinador e a vitória do Benfica no ano passado deve-se muito a ele, não é só mérito do Ricardo Costa do Conselho de Disciplina da Liga e é evidente que o Benfica não o vai deixar sair. A prova é que só porque constou que o papão lá de cima vinha cá abaixo, quadruplicaram-lhe o ordenado. Como é que sabe? Sei. Se não quadruplicaram, faltou pouquinho. E sei que a meta seguinte para o Jesus é tentar o estrangeiro. E com este percurso, o FC Porto não vai ser o clube para ir buscar a reforma. As possibilidades de ele vir a treinar o FC Porto são muito poucas. Mas tem capacidade. Porque é que nunca pensou nele? Ainda admiti quando ele foi para Braga, mas optámos pelo Jesualdo. Tivemos oito dias para decidir quando o Adriaanse saiu a uma semana do campeonato começar. Com o Villas Boas foi buscar um novo José Mourinho? Não. Mourinho, há o Zé e mais nenhum. Mas ninguém nasce ensinado. Mas Villas Boas tem alguns tiques de José Mourinho. Eu acho que, mesmo que não se queira, uma pessoa adquire os hábitos das pessoas com quem trabalha. Mas nunca lhe vi intenção de imitar o José Mourinho. "José Mourinho não é arrogante" Aconse

lhou-se com o Mourinho para a contratação do Villas Boas? Não. Mas sei o que pensam um do outro. Qual é a sua relação com Mourinho? Boa. Há dois Mourinhos - o que treinava o FC Porto e era considerado mal-educado, e o que saiu do FC Porto e que era admirado como um génio. Esse segundo José Mourinho, no dia a seguir a ser campeão europeu pelo Inter de Milão, mandou-me uma mensagem a agradecer a oportunidade que lhe dei no FC Porto para ele ter chegado onde chegou. E isto não é de um homem arrogante e que só pensa nele. Continua a admirá-lo? Eu agora até tenho um dilema. Em Espanha o meu clube é o Barcelona, que é uma espécie de FC Porto de Espanha, mas também queria que o Real Madrid ganhasse por causa do José Mourinho. A contratação do João Moutinho foi ideia do treinador ou foi ideia sua? Foi uma ideia do acaso. Em Junho deste ano, o empresário do João Moutinho falou-nos e disse que tinha um documento em que o Sporting dava autorização para vender o jogador por dez milhões de euros, sem limitações para Portugal. Quis ver o documento e quando me assegurei de que assim era perguntei ao Villas Boas se o jogador lhe interessava. Quando ele me disse que sim, marquei reunião com o Sporting, depois de o seu presidente me ter dito que concordava com o negócio. A seguir, tivemos também o cuidado de mandar uma mensagem ao João Moutinho a perguntar se ele estava interessado em vir para o FC Porto. A resposta dele foi: "Já". Como é que lê então as declarações do presidente do Sporting a dizerem que o João Moutinho tinha feito pressão para sair? Se fez pressão para sair, não foi para vir para o FC Porto. Porque quando o João Moutinho soube que poderia vir para o FC Porto, já o Sporting tinha reuniões marcadas connosco para esse negócio. Mas o Sporting estava disposto a deixá-lo sair por dez milhões, pelo que li no documento que referi. "Convidei Carlos Queiroz para ser coordenador de todo o futebol" Tem mais simpatia por Carlos Queiroz do que tinha por Scolari? O que eu penso de um e de outro é indiferente. Em relação à simpatia: quando Scolari chegou a Portugal uma das primeiras pessoas com quem contactou foi comigo. Veio dizer-me: "Presidente, ponha-me esse menino português". O menino era o Deco. Depois veio ver jogos ao Porto. E tivemos sempre uma relação cordial, até ao momento em que ele mudou de posição, começou a dizer que o Porto ficava a 300 quilómetros e inexplicavelmente deixou de convocar o Vítor Baía, e houve um afastamento. Ao Carlos Queiroz reconheço competência há muito tempo. Ainda antes de ele ser campeão do mundo de sub-21, já eu o tinha convidado para vir para o FC Porto, para ser coordenador de todo o futebol. Gostou de ver a seleção na África do Sul? Gostei de a ver no jogo contra a Coreia, porque ganhou. Quando empata, gosto pouco. Quando perde, não gosto nada. Sendo objetivo, foi uma participação positiva. Tivemos o azar de ter de jogar contra o Brasil e de encontrar a Espanha, contra quem fizemos o mesmo resultado da Holanda na final, que foi recebida com aplausos no regresso. Não jogámos bem contra a Espanha, mas ninguém consegue jogar bem contra esta Espanha. Porque é que é testemunha de Queiroz neste caso do controlo de doping? Porque ele me pediu. Se o afastarem dão uma enorme facada na credibilidade do futebol português, que, após Saltillo, poderá ter o caso mais triste da história da seleção. A acontecer, poderá ser também uma machadada na candidatura à organização do campeonato mundial. Este episódio terá repercussões internacionais. Uma das testemunhas é o Alex Ferguson, o suficiente para chamar todas as atenções e vai encher de ridículo o futebol português. Tolerava que um treinador do FC Porto tivesse a atitude imputada a Carlos Queiroz? Em primeiro lugar, quando um treinador se excede no vocabulário, eu critico. Não admito que ninguém no FC Porto ofenda alguém. Mas compreendo que, por vezes, uma pessoa se possa exceder. E não iria contra um treinador pelo facto de ele querer resguardar a sua equipa. "Não escolherei ninguém para sucessor"

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