BE. Conquista de vez o pódio numa noite agridoce

23-03-2020
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Caso o PS não aceitasse, o Bloco tinha um plano B, que não sendo o desejado também era exequível: “Realizar negociações ano a ano para cada orçamento”

"Procurar uma solução de estabilidade que assuma a continuidade da reposição de direitos e rendimentos ao longo da legislatura, e isso deve estar refletido no programa de Governo que vier apresentar”, afirmou a coordenadora do BE, quando o relógio andava perto das dez e meia da noite.

Catarina Martins falou aos apoiantes do Bloco e ao país quando ainda havia grandes margens de incerteza sobre a configuração do Parlamento, e deixou dois cenários a António Costa. O primeiro, o que o Bloco preferia, era um acordo como o destes quatro anos (embora sem ter referido isso expressamente).

Na altura em que Catarina Martins colocou as cartas na mesa, havia duas certezas para o Bloco: o partido consolidava a sua posição de terceira força política nacional (cavando um fosso para o CDS e deixando a CDU a uma margem significativa); e podia cantar vitória pelo facto de o PS não ter conseguido a maioria absoluta.

Os festejos da "derrota da direita"

Mas as incógnitas daquela hora, no apuramento dos resultados e sobre o desenho final do hemiciclo, deixavam o Bloco sem outros motivos para grandes satisfações. Na noite eleitoral deste domingo, realizada no Teatro Thalia, em Lisboa, o entusiasmo era bem menor do que o vivido há quatro anos.

De resto, alguns dos primeiros momentos mais efusivos de 2019 não foram para celebrar vitórias do partido, mas sim para assinalar uma “derrota histórica da direita”.

É verdade que, em 2015, também o facto de PSD e CDS terem ganho sem maioria absoluta foi resultado muito celebrado. Mas então percebia-se: a direita estava no poder. O seu afastamento seria o cimento que juntou os partidos de esquerda naquela altura e que os manteria depois juntos. Agora não há esse cimento.

Um resultado de prós e contras

Contas feitas, o Bloco mantém a sua representação parlamentar em 19 deputados (segundo eleito em Braga e em Aveiro, para compensar a perda da Madeira e de um mandato no Porto). Nos restantes distritos, tudo na mesma.

A aposta em Viseu (onde se jogou a cartada da eleição de um deputado no interior), apesar de ganhos marginais, não trouxe o retorno desejado.

Em 2015, o BE teve cerca de 550 mil votos, agora ficou-se pelos 492 mil (uma quebra na votaçao superior a 10% em votos expressos).

E quanto à sua votação global, o partido caiu abaixo de uma linha simbólica, a dos dez por cento. Quando ainda falta apurar os resultados da emigração, o BE passou de 10,22%, em 2015, para 9,67%.

E em outra ideia muito cara a Catarina Martins ao longo desta campanha, como o fora igualmente em vários momentos da legislatura cessante - o de uma “nova relação de forças à esquerda” -, o Bloco teve novo resultado amargo. Há quatro anos, por cada voto no BE o PS teve pouco mais de três (3,2). Agora chegou quase a quatro (3,8).

Alargando o campo à esquerda do PS (o somatório dos votos na CDU e no BE foi combinação que os bloquistas sempre acarinharam e defenderam como uma espécie de contrapeso na balança da geringonça), por cada voto conseguido há quatro anos por Bloco e CDU o PS não chegava a ter dois (1,75). Neste domingo passou bem acima disso, chegando aos 2,22.

Longos minutos de espera

Desde a intervenção de Catarina Martins e até que António Costa usou da palavra, quando já passava da meia noite, os minutos foram longos na sede do Bloco. Por um lado, os resultados oficiais só caíam a conta-gotas. E o Bloco ia preenchendo genericamente os requisitos mínimos a que se propôs.

Por outro lado, entre dirigentes atuais e figuras históricas do partido, as ideias que mais se ouviam era: “Agora é com ele; a bola está do lado deles”. “Ele” é Costa e “eles” são o PS, naturalmente.

Este estado de espírito não foi o único da noite. Vários ambientes psicológicos foram-se sucedendo.

Depois das 19h00, quando apenas circulavam números, que estavam a ser trabalhados, de uma empresa de sondagens (e que davam ao Bloco uma votação por volta dos 9%), o clima era de alguma apreensão.

Depois das previsões emitidas às oito da noite pelos três canais de televisão, os sorrisos ficaram rasgados e foram acompanhados de palmas em vários momentos. Um deles quando são mostradas projeções de deputados eleitos que dariam ao Bloco um grupo parlamentar a rondar as duas dezenas e meia de deputados.

A César o que é de César

Jorge Costa, o diretor de campanha, falaria pouco depois e colocou pontos nos is. A leitura dos resultados não poderia ser mais explícita: “O PS ganhou as eleições, claramente, e formará Governo”, disse. Quanto ao papel que o Bloco poderia representar no futuro saído destas eleições foi cauteloso: “Vamos aguardar com calma a contagem e o papel [que caberá] a cada força política”.

Catarina manteve o tom e alertou mesmo os apoiantes e militantes que a receberam com palmas e cânticos. A coordenadora do BE disso logo á cabeça que havia “coisas claras” que “é preciso afirmar”. E uma deve ter alegrado pouco a plateia: “Não é absolutamente claro se o PS terá maioria absoluta”. A nuvem pairava ainda, de certa forma, na sala.

Os minutos seguintes, sendo de espera pela declaração de Costa, passaram melhor, porque entre os deputados que ia elegendo (com especial acolhimento para os segundos mandatos em Braga e Aveiro), a configuração do Parlamento ia deixando o PS longe da maioria absoluta (mesmo na combinação de socialistas com o PAN, que para alguns dirigentes bloquistas seria mais ou menos a mesma coisa de uma maioria absoluta apenas do PS”.

Então, falou Costa: “Vamos procurar junto dos nossos parceiros parlamentares renovar a solução política que os portugueses disseram querer que tenha continuidade”.

A declaração teve o condão de desanuviar alguns rostos bloquistas, que já assistiam ao discurso do líder do PS junto aos jornalistas ou que entretanto entraram na sala. “Foi de encontro ao primeiro cenário de que a Catarina falou”, ainda disse alguém.

Muitos poucos minutos passaram e dá-se uma pequena agitação entre os apoiantes bloquistas que viam a televisão, sentados no chão. Era Catarina Martins que chegava à sala, sorridente, para para saudar os apoiantes. Foram poucos os minutos desta nova celebração.

Nos ecrãs ainda decorre a noite eleitoral do PS, e António Costa responde a perguntas de jornalistas, quando Catarina deixa o Teatro Thalia. No Bloco agora espera-se que o telefone toque.

(Texto revisto e alterado às 12h55, com rectificação do número de deputados do Bloco, nomeadamente a referência à perda de um deputado no Porto)

Caso o PS não aceitasse, o Bloco tinha um plano B, que não sendo o desejado também era exequível: “Realizar negociações ano a ano para cada orçamento”

"Procurar uma solução de estabilidade que assuma a continuidade da reposição de direitos e rendimentos ao longo da legislatura, e isso deve estar refletido no programa de Governo que vier apresentar”, afirmou a coordenadora do BE, quando o relógio andava perto das dez e meia da noite.

Catarina Martins falou aos apoiantes do Bloco e ao país quando ainda havia grandes margens de incerteza sobre a configuração do Parlamento, e deixou dois cenários a António Costa. O primeiro, o que o Bloco preferia, era um acordo como o destes quatro anos (embora sem ter referido isso expressamente).

Na altura em que Catarina Martins colocou as cartas na mesa, havia duas certezas para o Bloco: o partido consolidava a sua posição de terceira força política nacional (cavando um fosso para o CDS e deixando a CDU a uma margem significativa); e podia cantar vitória pelo facto de o PS não ter conseguido a maioria absoluta.

Os festejos da "derrota da direita"

Mas as incógnitas daquela hora, no apuramento dos resultados e sobre o desenho final do hemiciclo, deixavam o Bloco sem outros motivos para grandes satisfações. Na noite eleitoral deste domingo, realizada no Teatro Thalia, em Lisboa, o entusiasmo era bem menor do que o vivido há quatro anos.

De resto, alguns dos primeiros momentos mais efusivos de 2019 não foram para celebrar vitórias do partido, mas sim para assinalar uma “derrota histórica da direita”.

É verdade que, em 2015, também o facto de PSD e CDS terem ganho sem maioria absoluta foi resultado muito celebrado. Mas então percebia-se: a direita estava no poder. O seu afastamento seria o cimento que juntou os partidos de esquerda naquela altura e que os manteria depois juntos. Agora não há esse cimento.

Um resultado de prós e contras

Contas feitas, o Bloco mantém a sua representação parlamentar em 19 deputados (segundo eleito em Braga e em Aveiro, para compensar a perda da Madeira e de um mandato no Porto). Nos restantes distritos, tudo na mesma.

A aposta em Viseu (onde se jogou a cartada da eleição de um deputado no interior), apesar de ganhos marginais, não trouxe o retorno desejado.

Em 2015, o BE teve cerca de 550 mil votos, agora ficou-se pelos 492 mil (uma quebra na votaçao superior a 10% em votos expressos).

E quanto à sua votação global, o partido caiu abaixo de uma linha simbólica, a dos dez por cento. Quando ainda falta apurar os resultados da emigração, o BE passou de 10,22%, em 2015, para 9,67%.

E em outra ideia muito cara a Catarina Martins ao longo desta campanha, como o fora igualmente em vários momentos da legislatura cessante - o de uma “nova relação de forças à esquerda” -, o Bloco teve novo resultado amargo. Há quatro anos, por cada voto no BE o PS teve pouco mais de três (3,2). Agora chegou quase a quatro (3,8).

Alargando o campo à esquerda do PS (o somatório dos votos na CDU e no BE foi combinação que os bloquistas sempre acarinharam e defenderam como uma espécie de contrapeso na balança da geringonça), por cada voto conseguido há quatro anos por Bloco e CDU o PS não chegava a ter dois (1,75). Neste domingo passou bem acima disso, chegando aos 2,22.

Longos minutos de espera

Desde a intervenção de Catarina Martins e até que António Costa usou da palavra, quando já passava da meia noite, os minutos foram longos na sede do Bloco. Por um lado, os resultados oficiais só caíam a conta-gotas. E o Bloco ia preenchendo genericamente os requisitos mínimos a que se propôs.

Por outro lado, entre dirigentes atuais e figuras históricas do partido, as ideias que mais se ouviam era: “Agora é com ele; a bola está do lado deles”. “Ele” é Costa e “eles” são o PS, naturalmente.

Este estado de espírito não foi o único da noite. Vários ambientes psicológicos foram-se sucedendo.

Depois das 19h00, quando apenas circulavam números, que estavam a ser trabalhados, de uma empresa de sondagens (e que davam ao Bloco uma votação por volta dos 9%), o clima era de alguma apreensão.

Depois das previsões emitidas às oito da noite pelos três canais de televisão, os sorrisos ficaram rasgados e foram acompanhados de palmas em vários momentos. Um deles quando são mostradas projeções de deputados eleitos que dariam ao Bloco um grupo parlamentar a rondar as duas dezenas e meia de deputados.

A César o que é de César

Jorge Costa, o diretor de campanha, falaria pouco depois e colocou pontos nos is. A leitura dos resultados não poderia ser mais explícita: “O PS ganhou as eleições, claramente, e formará Governo”, disse. Quanto ao papel que o Bloco poderia representar no futuro saído destas eleições foi cauteloso: “Vamos aguardar com calma a contagem e o papel [que caberá] a cada força política”.

Catarina manteve o tom e alertou mesmo os apoiantes e militantes que a receberam com palmas e cânticos. A coordenadora do BE disso logo á cabeça que havia “coisas claras” que “é preciso afirmar”. E uma deve ter alegrado pouco a plateia: “Não é absolutamente claro se o PS terá maioria absoluta”. A nuvem pairava ainda, de certa forma, na sala.

Os minutos seguintes, sendo de espera pela declaração de Costa, passaram melhor, porque entre os deputados que ia elegendo (com especial acolhimento para os segundos mandatos em Braga e Aveiro), a configuração do Parlamento ia deixando o PS longe da maioria absoluta (mesmo na combinação de socialistas com o PAN, que para alguns dirigentes bloquistas seria mais ou menos a mesma coisa de uma maioria absoluta apenas do PS”.

Então, falou Costa: “Vamos procurar junto dos nossos parceiros parlamentares renovar a solução política que os portugueses disseram querer que tenha continuidade”.

A declaração teve o condão de desanuviar alguns rostos bloquistas, que já assistiam ao discurso do líder do PS junto aos jornalistas ou que entretanto entraram na sala. “Foi de encontro ao primeiro cenário de que a Catarina falou”, ainda disse alguém.

Muitos poucos minutos passaram e dá-se uma pequena agitação entre os apoiantes bloquistas que viam a televisão, sentados no chão. Era Catarina Martins que chegava à sala, sorridente, para para saudar os apoiantes. Foram poucos os minutos desta nova celebração.

Nos ecrãs ainda decorre a noite eleitoral do PS, e António Costa responde a perguntas de jornalistas, quando Catarina deixa o Teatro Thalia. No Bloco agora espera-se que o telefone toque.

(Texto revisto e alterado às 12h55, com rectificação do número de deputados do Bloco, nomeadamente a referência à perda de um deputado no Porto)

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