Lipcsei: «Melhor do que o nosso, só o FC Porto de 2004»

14-12-2019
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Destino 90s

24 nov 2016, 10:25

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Lipcsei: «Melhor do que o nosso, só o FC Porto de 2004»

«Destino 90s»: só perdeu um jogo ao serviço do FC Porto, o último que fez. Peter Lipcsei, «portista desde pequenino», como faz questão de dizer, mostrou qualidade numa equipa com muitas soluções, mas foi traído por uma lesão

João Tiago Figueiredo
Jornalista

@JTFigueiredo

«Destino 90s»: só perdeu um jogo ao serviço do FC Porto, o último que fez. Peter Lipcsei, «portista desde pequenino», como faz questão de dizer, mostrou qualidade numa equipa com muitas soluções, mas foi traído por uma lesão

João Tiago Figueiredo
Jornalista

@JTFigueiredo

DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.PETER LIPCSEI: FC Porto (1995/96) e Sp. Espinho (1996/97)«Hello Lipcsei! I’m from Portugal, how ar…». A frase é logo interrompida. «Portugal? É melhor em português então. O meu inglês ainda é pior…».Um bem disposto Peter Lipcsei atende o telefone ao Maisfutebol e ainda num português perfeitamente compreensível, pese um ou outro percalço, desata a lembrar os tempos que passou em Portugal. Não foi um período muito longo (ano e meio), mas foi marcante, percebe-se logo.«Gostei muito do tempo do Porto, não só pelo clube mas pela cidade e pelo país. Adoro Portugal, adoro os portugueses que me trataram sempre bem. Fui muito feliz aí», confessa.Aos 44 anos, Lipcsei continua ligado ao futebol. É treinador da equipa de juniores do Ferencvaros, clube que lhe está marcado no sangue: «Estou na história do clube. 648 jogos! Ninguém fez mais.»Deixou de jogar em 2010, com 38, numa carreira longuíssima. Os dois filhos também tentam seguir-lhe as pisadas. O mais novo nasceu no Porto, aliás, em 1996. É até treinado pelo pai, na equipa de juniores. «Para ele não é fácil porque tem de lidar com o que as pessoas dizem por ser meu filho, mas só joga se estiver bem», garante.

Com o filho mais velho, na festa do título no FC Porto

Mas vamos ao FC Porto, então. É para recuar até 1995 que pegamos no telefone e convidamos Lipcsei para a viagem. O médio fez uma temporada bastante interessante na equipa de Bobby Robson, que conquistaria o campeonato nesse ano.Lembra que havia muita concorrência para o meio campo e, por isso, nunca foi um titular indiscutível. Mas os números estão longe de envergonhar.Os números de Lipcsei em Portugal:1995/96 – FC Porto (28 jogos/6 golos)1996/97 – Sp. Espinho (5 jogos)
«O meu futebol cresceu muito em Portugal. O primeiro mês foi difícil. Os treinos eram muito fortes, o Robson não perdoava. Sempre me dizia que eu tinha muita habilidade e que tinha de dar 150 por cento nos treinos. É isso que eu digo hoje aos meus jogadores. Se derem 150 por cento depois nos jogos é mais fácil», conta.
Bobby Robson é, entende-se, um personagem que ficou marcado na história de Lipcsei: «Sabia tudo de futebol!».«Era uma grande ajuda para nós, sobretudo para os estrangeiros. Eu e o Mielcarski tínhamos mais dificuldades. Gostava muito dele e ele também gostava muito de nós», acrescenta.Um golo de Lipcsei ao Benfica (11m30) numa vitória por 3-0«O FC Porto não dava hipóteses»A temporada de 1995/96 foi muito boa para o FC Porto de Bobby Robson. Aliás, o treinador acabou até por sair para o Barcelona, no final, conquistado o bicampeonato. Lipcsei foi uma espécie de amuleto: em 28 jogos, divididos por todas as competições, apenas perdeu um! O último que fez, precisamente, na Luz, contra o Benfica, já com o título no bolso.
«A nossa equipa era muito boa. Domingos, Baía, Jorge Costa, Secretário…Ganhámos o campeonato. O FC Porto não dava hipóteses. Só a equipa de 2004, que foi campeã europeia, era melhor do que a nossa. Aloísio, Rui Barros, Edmilson, Rui Jorge…Muitos, muitos bons jogadores», insiste.
O melhor amigo era Jorge Costa. «Foi uma grande ajuda para mim e para a minha família. Tive um filho em Portugal, a minha esposa não falava português, nem inglês e o Jorge Costa ajudou-nos muito», conta. E, aproveitando o momento, tenta matar saudades: «Ainda está em África? Gostava de voltar a falar com ele, arranje-me lá o contacto…»

Um onze do FC Porto com Lipcsei em 1995/96

«Na rua pediam-me para ganhar ao Benfica»O FC Porto ia somando vitórias e Lipcsei, nem sempre titular, ganhava algum crédito com alguns golos importantes. O que marcou ao Benfica, por exemplo, ficou-lhe na memória. «Acho que foi o meu melhor jogo. Ganhámos 3-0 e marquei o terceiro. Que ambiente! Parecido só o Ferencvaros-Ujpest», defende.Mas houve mais: «Contra o Estrela da Amadora: ganhamos 6-0 e fiz dois golos. E ainda com o Boavista, marquei de cabeça o 1-1 no último minuto.»O golo ao Boavista que valeu um ponto saboroso:De qualquer forma, nada se compara ao Clássico com o rival encarnado. «Quando jogávamos com o Benfica, nessa semana, ia na rua e pediam-me para ganhar. Com o Sporting nem tanto. O Benfica era mesmo o maior rival», refere.«É verdade e o Pinto da Costa? (risos) Aos anos que não falo com ele! Como está ele? Há uns tempos estive com o João Pinto, ele veio cá a Budapeste e também há mês e meio com o Rui Jorge, por causa de um jogo sub-21», conta.Não é à toa que Lipcsei pergunta por Pinto da Costa. Há um grande respeito. E nota-se logo. «O senhor Pinto da Costa foi sempre compreensivo comigo, mesmo quando veio a lesão», revela.A lesão…O momento que tudo mudou e que ditou o fim no FC Porto. «Foi por isso que saí», conta o húngaro. E detalha: «Fui operado e depois o Robson saiu para o Barcelona e o segundo ano já foi difícil por causa disso tudo. Lesionado, com treinador novo…Era muito difícil voltar. Fui para o Espinho, então, depois para o Ferencvaros. Ainda tinha mais um ano de contrato e o Pinto da Costa disse-me que tinham de ver como estava o meu joelho para saber se voltava. Acabei por sair, fui para a Áustria, para o Salzburgo, dois anos e meio. Depois Ferencvaros até acabar.»

Lipcsei com Pinto da Costa na apresentação como jogador do FC Porto

«O Espinho? Foram só dois meses. Era perto, a poucos quilómetros do Porto, queria jogar e foi a solução. Era uma equipa mais pequena e a minha forma não era a melhor por causa da lesão. Mas como queria muito jogar e no FC Porto não tinha espaço, só treinava, só treinava…Pedi ao presidente e ele arranjou-me o Espinho.»«Em Portugal dizem-me: ‘Lipcsei já sabes: portista desde pequenino’»A conversa chega à atualidade. Quisemos saber o que conhece Peter Lipcsei do FC Porto de hoje. «Não conheço tão bem», assume. Mas acrescenta: «Costumo ver os jogos, claro. Quero sempre saber como está o FC Porto.»«Vi o jogo ontem [terça-feira] com o Copenhaga, por exemplo. Podia ter sido melhor, podiam ter ganho. Eu sou sempre do FC Porto…Para o próximo jogo vamos ganhar e conseguir o apuramento», acredita.
«Quando vou a Portugal as pessoas dizem-me: Lipcsei já sabes, portista desde pequenino! Eu digo isso aos meus jogadores também. Está no meu coração para sempre. Lipcsei é portista desde pequenino…», atira, entre risos.
Para fim de conversa, puxamos pelo Lipcsei treinador. Há talentos na Hungria para Portugal explorar? Gostava de ver algum jogador seu no FC Porto, por exemplo? «Difícil, difícil…»«É muito diferente do meu tempo, os jogadores de agora só pensam em dinheiro. Os húngaros só querem dinheiro, não querem é trabalhar para ele», acusa.Depois acrescenta: «Havia um que era bom, que eu treinei e foi agora para o Bolonha. Adam Nagy, conhece?» O médio brilhou no Euro 2016 e foi associado ao Benfica. «Eu lembro-me», diz Lipcsei. E vai mais longe: «Acho que tinha sido melhor para ele, mas os empresários é que decidem…»

Peter Lipcsei no Ferencvaros

Por falar no Euro, ainda houve tempo para recordar a epopeia portuguesa, tema inserido pelo próprio magiar: «Fica já a saber que só não torci por Portugal num jogo: contra a Hungria, claro.»
«Quando a Hungria não tem nada a ver com a história sou sempre por Portugal. Tenho de ser sincero, antes do Euro achava que Portugal não ia ganhar, mas com o passar dos jogos comecei a acreditar. E na final aqui diziam que ganhava a França e eu dizia que ganhava Portugal. Mesmo com o Ronaldo a sair cedo, sabia que ia ser difícil, mas acreditava», garante.
Mais dois golos de Lipcsei numa goleada ao Estrela de…Fernando Santos:OUTROS DESTINOS: 1. Adbel Ghany, as memórias do Faraó de Aveiro2. Careca, meio Eusébio meio Pelé3. Kiki, o rapaz das tranças que o FC Porto raptou4. Abazaj, o albanês que não aceita jantares5. Eskilsson, o rei leão de 88 é um ás no poker6. Baltazar, o «pichichi» desviado do Atl. Madrid7. Emerson, nem ele acreditava que jogava aquilo tudo8. Mapuata, o Renault 9 e «o maior escândalo de 1987»9. Cacioli, o Lombardo que adbicou da carreira para casar por amor10. Lula, da desconhecida Famalicão às portas da seleção portuguesa11. Samuel, a eterna esperança do Benfica12. Lars Eriksson, o guarda-redes que sabe que não deu alegrias13. Wando, um incompreendido14. Doriva, as memórias do pontapé canhão das Antas15. Elói, fotos em Faro e jantares em casa de Pinto da Costa16. Dinis, o Sandokan de Aveiro17. Pedro Barny, do Boavistão e das camisolas esquisitas18. Pingo, as saudades de um campeão do FC Porto19. Taira, da persistência no Restelo à glória em Salamanca20. Latapy, os penáltis com a Sampdória e as desculpas a Jokanovic21. Marco Aurélio, memórias de quando Sousa Cintra se ria do FC Porto22. Jorge Soares e um célebre golo de Jardel23. Ivica Kralj e uma questão oftalmológica24. N'Kama, o bombista zairense25. Karoglan, em Portugal por causa da guerra26. Ronaldo e o Benfica dos vinte reforços por época27. Tuck, um coração entre dois emblemas28. Tueba, ia para o Sporting, jogou no Benfica e está muito gordo29. Krpan, o croata que não fazia amigos no FC Porto30. Walter Paz, zero minutos no FC Porto31. Radi, dos duelos com Maradona à pacatez de Chaves32. Nelson Bertollazzi eliminou a Fiorentina e arrasou o dragão33. Mangonga matou o Benfica sem saber como34. Dino Furacão tirou um título ao Benfica e foi insultado por um taxista35. António Carlos, o único a pôr Paulinho Santos no lugar36. Valckx e do 3-6 que o «matou»37. Ademir Alcântara: e a paz entre Benfica e FC Porto acabou38. Chiquinho Conde, impedido de jogar no Benfica por Samora Machel39. Bambo, das seleções jovens a designer de moda em Leeds40. Iliev, sonhos na Luz desfeitos por Manuel José41. Panduru, num Benfica onde era impossível jogar bem42. Missé Missé, transformado em egoísta no Sporting43. Edmilson: Amunike e Dani taparam-lhe entrada num grande44. Jamir: «Gostava de ter dado mais ao Benfica»45. Donizete continua um «benfiquista da porra»46. Leandro Machado: «Se fosse mais profissional...»47. Bobó, a última aposta de Pedroto48. Rufai, o Príncipe que não quis ser Rei49. Mandla Zwane, a pérola de Bobby Robson50. Vítor Paneira e os trintões que quiseram ser como ele51. Jorge Andrade, o FC Porto foi a maior deceção da carreira52. Amunike e uma faca apontada a Sousa Cintra53. Caio Júnior, ás em Guimarães54. Luisinho: «Quem sabe jogar não precisa bater»55. Marcelo: «Autuori preferiu Pringle, mas não ficou a ganhar» 56. Zé Carlos, o homem que Artur Jorge dizia ter «bunda grande»57. Douglas: «Sousa Cintra entrou no balneário a pedir para eu jogar» 58. Ricky, nem Eusébio lhe valeu a titularidade no Benfica59. Geraldão: «No FC Porto era obrigatório odiar Benfica e Sporting»60. Paulo Nunes: «No Benfica não recebia e ainda queriam multar-me»61. King e o sonho que morreu na marginal de Carcavelos

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«Quando vou a Portugal as pessoas dizem-me: Lipcsei já sabes, portista desde pequenino! Eu digo isso aos meus jogadores também. Está no meu coração para sempre. Lipcsei é portista desde pequenino…», atira, entre risos.
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