abro Paginas Encontro Espelhos: viajamos para dentro um do outro

12-03-2020
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abraço o teu rosto transparente com as duas mãos quetenho, coração ferida. és de água e dos olhos escorres-mecomo eu. de olhos abertos, marítimos de luz.
oiço a dor no fundo dos teus gestos. um sereno rioquenteviajamos para dentro um do outro, para onde nãoqueremos ser nus, e mergulhamos no tempo cortado.abraço o teu rosto quando tinhas oitos anos e muitosInvernos crucificados no segredo, as paisagens rasgadas, afonte da vida gelada, e viajamos dentro das nossas mãos.penetramos o silêncio um do outro. nus, magoados demorte, na solidão primeira.
o teu rosto, disforme de sombras, e eu misturando omeu rosto nele,fazendo o meu rosto no teu rosto, sulco a sulco. corre aágua vermelha nos olhos abertos, marítimos de luz.
deixa-me porque sou eu a morrer
e as mãos tocam o silêncio gritante a ferida-tudo, asolidão do corte.recebe o meu corpo, quero apenas a tua morte inteira
beijo os teus desertos de sangue um a um, a imagem dapedra feita vida jorrando, vermelha, tu és o meu espaço e omeu tempo.
eu sou a ferida e tu és o deserto
estou de olhos abertos pelo sono dos dias fora, pelasmanhãs dentro, pelo golpe vivo.
crucificados um no outro, rebentando fontes por ondemorríamos.

Pedro Sena-Lino

daqui

abraço o teu rosto transparente com as duas mãos quetenho, coração ferida. és de água e dos olhos escorres-mecomo eu. de olhos abertos, marítimos de luz.
oiço a dor no fundo dos teus gestos. um sereno rioquenteviajamos para dentro um do outro, para onde nãoqueremos ser nus, e mergulhamos no tempo cortado.abraço o teu rosto quando tinhas oitos anos e muitosInvernos crucificados no segredo, as paisagens rasgadas, afonte da vida gelada, e viajamos dentro das nossas mãos.penetramos o silêncio um do outro. nus, magoados demorte, na solidão primeira.
o teu rosto, disforme de sombras, e eu misturando omeu rosto nele,fazendo o meu rosto no teu rosto, sulco a sulco. corre aágua vermelha nos olhos abertos, marítimos de luz.
deixa-me porque sou eu a morrer
e as mãos tocam o silêncio gritante a ferida-tudo, asolidão do corte.recebe o meu corpo, quero apenas a tua morte inteira
beijo os teus desertos de sangue um a um, a imagem dapedra feita vida jorrando, vermelha, tu és o meu espaço e omeu tempo.
eu sou a ferida e tu és o deserto
estou de olhos abertos pelo sono dos dias fora, pelasmanhãs dentro, pelo golpe vivo.
crucificados um no outro, rebentando fontes por ondemorríamos.

Pedro Sena-Lino

daqui

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