Deputado rebelde do PS: “Não terei atitudes revanchistas”

12-12-2019
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Já decidiu quando irá entregar o cartão de militante?

Primeiro tenho de ter uma conversa com Carlos César, o que acontecerá em princípio no início da próxima semana. Acho que devo essa satisfação ao presidente do Grupo parlamentar do PS, mas antes vou decidir se avanço ou não com uma candidatura independente à Câmara de Barcelos. Mas é quase seguro que o farei até meados de fevereiro.

O que falta para tomar a decisão final?

Preciso descansar uns dias, que estou desgostoso, até perplexo com a forma como o PS, o meu partido há 30 anos, decidiu avocar o processo autárquico à revelia da vontade dos barcelenses. Para já o que fiz hoje, de forma irreversível, foi renunciar à liderança da Concelhia e de membro da Comissão Política Nacional, local e da Federação Distrital. As cartas de renúncia já vão a caminho.

É deputado eleito por Braga e já admitiu que passará a independente.

É uma questão que também irei debater com Carlos César caso me venha a desvincular do partido. Mas mesmo que passe ao estatuto de independente, por princípio, não renegarei os meus deveres e direitos de deputado eleito pelo PS, quer na votação dos orçamentos, moções de confiança ou censura. Ao contrário de alguns colegas, sempre respeitei a orientação de voto da minha bancada. Desvincular-me não é nem será uma decisão fácil, porque sou um socialista convicto...

No caso de passar a ter o estatuto de deputado independente, as contas da 'geringonça' podem ficar dependentes do seu voto, quando o PCP se abstiver. Tem noção que pode ficar como fiel da balança no parlamentar?

Nunca pensei em aritméticas parlamentares, nem penso nisso. O meu problema com o partido é de princípios, de regras, de pessoas, não de números e contas. Eu sou fiel às regras do PS, não estou interessado em jogos de poder e atropelos. Para mim a Assembleia da República, a casa da democracia, é soberana. Não terei atitudes revanchistas, mesmo que considere que o meu partido e António Costa não prestaram um bom serviço no caso de Barcelos.

Mas não acatou a moção estratégica do PS do último congresso de apoiar a recandidatura dos autarcas em condições de ir a votos.

O Partido Socialista não é propriedade de ninguém e tem de respeitar os seus estatutos, que não podem ser riscados para vingar uma orientação estratégica, um mero princípio geral. Nem que as moções estratégicas sejam as do secretário geral do partido. Não posso aceitar que sejam postos em causa princípios de governação municipal por decisões centralistas.

A sua escolha a nível concelhio como candidato autárquico em Barcelos ocorreu em junho, no dia seguinte ao final do congresso. Não foi uma posição de afronta a António Costa?

Não. A eleição do meu nome foi a seguir ao congresso, mas o processo já tinha sido desencadeado em março e estava concluído. Não havia retorno. Foi isso que fiz ver sem sucesso à Comissão Política Nacional na passada semana, quando decidiu apoiar a recandidatura de Miguel Costa Gomes. A vontade da concelhia não podia ser mais expressiva depois de o meu nome ter recolhido mais de 90% dos votos Ir contra isso é desrespeitar os órgão locais. Passar por cima disso, é mandar as concelhias para férias ou questionar para que existem, afinal? A orientação do PS para as autárquicas 2017 não tem sentido nenhum, pois basta que um candidato ganhe no primeiro mandato para se perpetuar no poder até ao limite. Mais vale o partido acabar tudo e centralizar tudo em Lisboa.

O atual presidente da Câmara de Barcelos diz que as eleições foram antidemocráticas, dado alguns membros da concelhia terem votado duas vezes...

É mentira. Vê-se logo que não tem cultura partidária, que caiu aqui de paraquedas, não é um político mas um associativo...

Porquê?

A vida dele foi ser dirigente da Associação Comercial e Industrial de Barcelos. Não sabe que os membros que integram a Comissão Política e o Secretariado votam num e outro órgão, pois são distintos. São as regras, como na assembleia da República os deputados votam nas comissões e no plenário. Ele não percebe isso e pensou que estavam a votar duas vezes. São argumentos falaciosos. Antidemocrático foi a forma como retirou todos os pelouros que tinha como vereador sem dar uma satisfação até hoje.

A decisão de se desfiliar do partido e avançar como independente tem o apoio do líder da Distrital, o deputado Joaquim Barreto?

A Distrital sempre apoiou a autonomia da concelhia, e desta vez não foi diferente.

O que está na origem desta luta interna em Barcelos? Miguel Costa Gomes é um mau autarca?

Não está em causa ser bom ou mau presidente. Nem vou discutir isso. Repito que o que está em causa não são convicções pessoais mas a subordinação aos estatutos que regem o partido. Em 2009, fui eu o preponente de Miguel Costa Gomes a candidato em Barcelos e o nome dele passou só por um voto. E a decisão foi acatada. Não pode ter dois pesos, duas medidas, se o nome dele não foi o mais votado.

É o primeiro dissidente das próximas autárquicas...

E poderei não ser o único. O PS também avocou o processo em Fafe à revelia dos órgãos locais. No meu caso é mais mediático porque sou deputado. Mas prevejo que se sigam mais candidaturas independentes, se o partido persistir em não respeitar as vontades locais. Fala-se muito de descentralização, mas os partidos são o que há de mais centralista no país.

O que significa que no geral as candidaturas independentes sejam candidaturas de rebeldia......

São candidaturas de rebeldia porque os responsáveis partidários não respeitam os militantes locais. Só quando lhes interesse o voto.

Já decidiu quando irá entregar o cartão de militante?

Primeiro tenho de ter uma conversa com Carlos César, o que acontecerá em princípio no início da próxima semana. Acho que devo essa satisfação ao presidente do Grupo parlamentar do PS, mas antes vou decidir se avanço ou não com uma candidatura independente à Câmara de Barcelos. Mas é quase seguro que o farei até meados de fevereiro.

O que falta para tomar a decisão final?

Preciso descansar uns dias, que estou desgostoso, até perplexo com a forma como o PS, o meu partido há 30 anos, decidiu avocar o processo autárquico à revelia da vontade dos barcelenses. Para já o que fiz hoje, de forma irreversível, foi renunciar à liderança da Concelhia e de membro da Comissão Política Nacional, local e da Federação Distrital. As cartas de renúncia já vão a caminho.

É deputado eleito por Braga e já admitiu que passará a independente.

É uma questão que também irei debater com Carlos César caso me venha a desvincular do partido. Mas mesmo que passe ao estatuto de independente, por princípio, não renegarei os meus deveres e direitos de deputado eleito pelo PS, quer na votação dos orçamentos, moções de confiança ou censura. Ao contrário de alguns colegas, sempre respeitei a orientação de voto da minha bancada. Desvincular-me não é nem será uma decisão fácil, porque sou um socialista convicto...

No caso de passar a ter o estatuto de deputado independente, as contas da 'geringonça' podem ficar dependentes do seu voto, quando o PCP se abstiver. Tem noção que pode ficar como fiel da balança no parlamentar?

Nunca pensei em aritméticas parlamentares, nem penso nisso. O meu problema com o partido é de princípios, de regras, de pessoas, não de números e contas. Eu sou fiel às regras do PS, não estou interessado em jogos de poder e atropelos. Para mim a Assembleia da República, a casa da democracia, é soberana. Não terei atitudes revanchistas, mesmo que considere que o meu partido e António Costa não prestaram um bom serviço no caso de Barcelos.

Mas não acatou a moção estratégica do PS do último congresso de apoiar a recandidatura dos autarcas em condições de ir a votos.

O Partido Socialista não é propriedade de ninguém e tem de respeitar os seus estatutos, que não podem ser riscados para vingar uma orientação estratégica, um mero princípio geral. Nem que as moções estratégicas sejam as do secretário geral do partido. Não posso aceitar que sejam postos em causa princípios de governação municipal por decisões centralistas.

A sua escolha a nível concelhio como candidato autárquico em Barcelos ocorreu em junho, no dia seguinte ao final do congresso. Não foi uma posição de afronta a António Costa?

Não. A eleição do meu nome foi a seguir ao congresso, mas o processo já tinha sido desencadeado em março e estava concluído. Não havia retorno. Foi isso que fiz ver sem sucesso à Comissão Política Nacional na passada semana, quando decidiu apoiar a recandidatura de Miguel Costa Gomes. A vontade da concelhia não podia ser mais expressiva depois de o meu nome ter recolhido mais de 90% dos votos Ir contra isso é desrespeitar os órgão locais. Passar por cima disso, é mandar as concelhias para férias ou questionar para que existem, afinal? A orientação do PS para as autárquicas 2017 não tem sentido nenhum, pois basta que um candidato ganhe no primeiro mandato para se perpetuar no poder até ao limite. Mais vale o partido acabar tudo e centralizar tudo em Lisboa.

O atual presidente da Câmara de Barcelos diz que as eleições foram antidemocráticas, dado alguns membros da concelhia terem votado duas vezes...

É mentira. Vê-se logo que não tem cultura partidária, que caiu aqui de paraquedas, não é um político mas um associativo...

Porquê?

A vida dele foi ser dirigente da Associação Comercial e Industrial de Barcelos. Não sabe que os membros que integram a Comissão Política e o Secretariado votam num e outro órgão, pois são distintos. São as regras, como na assembleia da República os deputados votam nas comissões e no plenário. Ele não percebe isso e pensou que estavam a votar duas vezes. São argumentos falaciosos. Antidemocrático foi a forma como retirou todos os pelouros que tinha como vereador sem dar uma satisfação até hoje.

A decisão de se desfiliar do partido e avançar como independente tem o apoio do líder da Distrital, o deputado Joaquim Barreto?

A Distrital sempre apoiou a autonomia da concelhia, e desta vez não foi diferente.

O que está na origem desta luta interna em Barcelos? Miguel Costa Gomes é um mau autarca?

Não está em causa ser bom ou mau presidente. Nem vou discutir isso. Repito que o que está em causa não são convicções pessoais mas a subordinação aos estatutos que regem o partido. Em 2009, fui eu o preponente de Miguel Costa Gomes a candidato em Barcelos e o nome dele passou só por um voto. E a decisão foi acatada. Não pode ter dois pesos, duas medidas, se o nome dele não foi o mais votado.

É o primeiro dissidente das próximas autárquicas...

E poderei não ser o único. O PS também avocou o processo em Fafe à revelia dos órgãos locais. No meu caso é mais mediático porque sou deputado. Mas prevejo que se sigam mais candidaturas independentes, se o partido persistir em não respeitar as vontades locais. Fala-se muito de descentralização, mas os partidos são o que há de mais centralista no país.

O que significa que no geral as candidaturas independentes sejam candidaturas de rebeldia......

São candidaturas de rebeldia porque os responsáveis partidários não respeitam os militantes locais. Só quando lhes interesse o voto.

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