Se gostam de bem comer e de boas leituras, leiam o blogue e os livros do educadíssimo João Vasconcelos Costa

02-09-2020
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Na ponta da língua Por Miguel Esteves Cardoso

Se gostam de bem comer e de boas leituras, leiam o blogue e os livros do educadíssimo João Vasconcelos Costa

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19.03.2014
Miguel Esteves Cardoso

Ter bons críticos, que sabem do que falam e se dão ao trabalho de ensinar o que está errado e está certo, é uma sorte rara para quem escreve.
Claro que custa um bocadinho sermos apanhados numa ignorância — sobretudo quando a afirmámos imperiosamente — mas o desconforto é merecido e logo esquecido quando, depois de termos levado no toutiço, somos sabiamente esclarecidos.

Esta semana, por exemplo, o grande gastrónomo João Vasconcelos Costa corrigiu impiedosamente as asneiras sobre limões e limas que inquinaram a minha receita para a caipirinha.

Todos clamam, desde o início da escrita, por uma crítica construtiva.

Eis o que faz João Vasconcelos Costa: que sirva de exemplo a críticos em todas as áreas. Em vez de julgar sumariamente e passar à frente, dá-se ao cuidado de repor as verdades uma a uma, sem fazer show off ou mostrar qualquer prazer sádico em descobrir os disparates que escrevi como se fossem eternas verdades.

Tem sempre a elegância caridosa de supor que o criticado tem fontes fidedignas, dando-lhe o benefício da dúvida. É de gentleman e, para mais, o efeito conseguido junto do atoardeiro — quem não se sente não é filho de boa gente — é ainda mais pedagogicamente eficaz.

Nas limas e nos limões, por exemplo, João Vasconcelos Costa descobriu as minhas más fontes num instantinho (maldito Google!) mas, fornecendo as informações científicas correctas, permitiu-me aprender o que não sabia nem tinha maneira de saber.

Fiquei com a esperança de um dia provar um limão galego e de ver se é verdade que faz uma bela caipirinha. Hei-de perguntar ao sapiente e simpático casal Alfredo Alves a próxima vez que formos ao esplêndido Espaço Açores (213 640 881), onde João Vasconcelos Costa é cliente habitual.

Aliás, uma das grandes vantagens do blogue dele, Gosto de bem comer, é recomendar boas lojas e bons restaurantes, não sendo vício do autor “guardar segredo para não estragar”, como é infelizmente nosso hábito nacional — continental, pelo menos.

Seguranças como a minha em matéria de gastronomia são sempre uma prova de poucos conhecimentos. Nas coisas sobre as quais sei mais um bocadinho já sou muito mais cuidadoso e talvezístico. O entusiasmo também encobre muitos buracos.

João Vasconcelos Costa tem tido a generosidade de criticar as minhas gulodices pretensiosas no delicioso blogue Gosto de bem comer. Mais uma prova de generosidade dele é oferecer grátis, no site, dois excelentes livros. Basta descarregá-los em PDF, logo ali.

O primeiro, Gosto de bem comer, são duzentas páginas de receitas dele e da família dele, bem escritas, com empenho, graça e erudição. O segundo, Livro de Receitas 1, reúne as receitas publicadas uma a uma no blogue. São ideais para imprimir e guardar na biblioteca de culinária e, ao mesmo tempo, andar connosco no telemóvel.

Veja-se a atitude rara e louvável de João Vasconcelos Costa: “Não invoco nenhuns direitos de autor. Quero é que toda a gente aproveite para comer um pouco melhor. Também para se divertir, educar o paladar, cultivar-se na pesquisa de algum saber gastronómico e competir com amigos, porque a prática da cozinha, por amadores, é tudo isto. Profissionais são outra coisa”.

Pois: os profissionais não só não partilham irmamente, por gosto e por educação, como tendem a ser maçudos e monomaníacos.

João Vasconcelos Costa tem a sorte (para nós redobrada) de ser açoriano e de juntar o saber gastronómico (e botânico) à experiência pessoal e familiar. Veja-se o post de 3 de Março — Carnaval açoriano — que é uma maravilha de malassadas, marmanjos e “donairosas donzelas dançarinas”.

Aqui fica a minha recomendação de alma aberta, sem esconder a esperança de um dia poder corrigi-lo com a mesma limpeza com que me tem corrigido a mim. Isto não fica assim, meu amigo!

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Miguel Esteves Cardoso

Ter bons críticos, que sabem do que falam e se dão ao trabalho de ensinar o que está errado e está certo, é uma sorte rara para quem escreve.
Claro que custa um bocadinho sermos apanhados numa ignorância — sobretudo quando a afirmámos imperiosamente — mas o desconforto é merecido e logo esquecido quando, depois de termos levado no toutiço, somos sabiamente esclarecidos.

Esta semana, por exemplo, o grande gastrónomo João Vasconcelos Costa corrigiu impiedosamente as asneiras sobre limões e limas que inquinaram a minha receita para a caipirinha.

Todos clamam, desde o início da escrita, por uma crítica construtiva.

Eis o que faz João Vasconcelos Costa: que sirva de exemplo a críticos em todas as áreas. Em vez de julgar sumariamente e passar à frente, dá-se ao cuidado de repor as verdades uma a uma, sem fazer show off ou mostrar qualquer prazer sádico em descobrir os disparates que escrevi como se fossem eternas verdades.

Tem sempre a elegância caridosa de supor que o criticado tem fontes fidedignas, dando-lhe o benefício da dúvida. É de gentleman e, para mais, o efeito conseguido junto do atoardeiro — quem não se sente não é filho de boa gente — é ainda mais pedagogicamente eficaz.

Nas limas e nos limões, por exemplo, João Vasconcelos Costa descobriu as minhas más fontes num instantinho (maldito Google!) mas, fornecendo as informações científicas correctas, permitiu-me aprender o que não sabia nem tinha maneira de saber.

Fiquei com a esperança de um dia provar um limão galego e de ver se é verdade que faz uma bela caipirinha. Hei-de perguntar ao sapiente e simpático casal Alfredo Alves a próxima vez que formos ao esplêndido Espaço Açores (213 640 881), onde João Vasconcelos Costa é cliente habitual.

Aliás, uma das grandes vantagens do blogue dele, Gosto de bem comer, é recomendar boas lojas e bons restaurantes, não sendo vício do autor “guardar segredo para não estragar”, como é infelizmente nosso hábito nacional — continental, pelo menos.

Seguranças como a minha em matéria de gastronomia são sempre uma prova de poucos conhecimentos. Nas coisas sobre as quais sei mais um bocadinho já sou muito mais cuidadoso e talvezístico. O entusiasmo também encobre muitos buracos.

João Vasconcelos Costa tem tido a generosidade de criticar as minhas gulodices pretensiosas no delicioso blogue Gosto de bem comer. Mais uma prova de generosidade dele é oferecer grátis, no site, dois excelentes livros. Basta descarregá-los em PDF, logo ali.

O primeiro, Gosto de bem comer, são duzentas páginas de receitas dele e da família dele, bem escritas, com empenho, graça e erudição. O segundo, Livro de Receitas 1, reúne as receitas publicadas uma a uma no blogue. São ideais para imprimir e guardar na biblioteca de culinária e, ao mesmo tempo, andar connosco no telemóvel.

Veja-se a atitude rara e louvável de João Vasconcelos Costa: “Não invoco nenhuns direitos de autor. Quero é que toda a gente aproveite para comer um pouco melhor. Também para se divertir, educar o paladar, cultivar-se na pesquisa de algum saber gastronómico e competir com amigos, porque a prática da cozinha, por amadores, é tudo isto. Profissionais são outra coisa”.

Pois: os profissionais não só não partilham irmamente, por gosto e por educação, como tendem a ser maçudos e monomaníacos.

João Vasconcelos Costa tem a sorte (para nós redobrada) de ser açoriano e de juntar o saber gastronómico (e botânico) à experiência pessoal e familiar. Veja-se o post de 3 de Março — Carnaval açoriano — que é uma maravilha de malassadas, marmanjos e “donairosas donzelas dançarinas”.

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