ABRUPTO

19-12-2019
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AS VÁRIAS COISAS QUE ESTÃO A ARDER

[2ª série]

É perfeitamente notório que a estratégia comunicacional do Governo nesta época de fogos está a revelar-se eficaz. Já a realidade da devastação que se assiste não tem paralelo com as promessas que antecederam a época dos fogos. Perante tal realidade eis que o nosso ministro mais intocável do Governo, estatuto que ainda o vai levar bem longe, tira novamente da cartola o bode expiatório da falta de limpeza das matas, á semelhança do ocorrido o ano passado , com o beneplácido do á data urbano-citadino presidente Sampaio. E então verificamos que não são aqueles incautos e irresponsáveis milhares de pequenos proprietários , mas também o Estado “os responsáveis”, como se pudéssemos afirmar peremptoriamente que aí está o cerne do problema.

Ora nem a floresta é um jardim ordenado, e circunscrito a fileiras de arvores militarmente dispostas em filas, nem a fauna e flora restante sobreviveria á uma tal disposição de jardim artificial.Ou seja , ou se mantém alguma veracidade no que é uma floresta , ou então de floresta não terá nada.

Quero dizer com isto, que ou se aposta na vigilância das matas a sério , ou vale mais desistir e entregar a gestão florestal , como parece ser a tendência actual , subliminar, mas latente, ás ditas sociedades de gestão florestal, ( cujos accionistas já estamos a adivinhar quem são) as quais forçosamente nos darão um ambiente de jardim catalogado e inventariado.Pergunta-se, e depois qual seria o problema ?

Bom , na tendência actual em que o País caminha , nenhum. Afinal não se está a desfigurar as zonas naturais no sentido de fomentar o abandono da actividade agrícola em deterimento das novas “oportunidades” como os parques éolicos, os resorts , o turismo ruralóide de televisão ? Não é este o modelo para o qual Alquevas são reformulados, Otas devem ser construídas, e TGVs instalados ? Afinal não é verdade que quem está a mais no interior são os velhos e os pinheiros e eucaliptos ?

Se o modelo de desenvolvimento futuro é este do turismo, das novas energias vale mais virem todos para o litoral para casa dos filhos que estão a pagar casas á Banca a 40 anos.Deixem os montes do Algarve, as planuras Alentejanas, as quintas do Douro, há por aí muita gentinha para as vender.

Podemos ainda manter aquelas produçõeszitas DOC e Certificadas tão do gostos da telejornalada e do turista europeu, as quais se pagam bem acima do seu real valor.Um País assim tem grande futuro.Afinal é o nosso Petróleo verde , de campos de golfe e toalhinha na mão.

(António Carrilho)

*

Há algum tempo, ainda antes da chamada "época de fogos", vieram a público uns senhores garantir que algumas corporações de bombeiros poderiam recusar-se a actuar fora das suas áreas específicas. Não me recordo das razões que invocavam, mas ficou-me na memória o facto de essa ameaça prefigurar uma situação totalmente simétrica da que nos é mostrada em «Os Gangues de Nova Iorque» - um filme muito violento onde, a dada altura, o realizador introduziu um episódio cómico para amenizar o excessivo dramatismo:

Quando uma corporação de bombeiros se prepara para combater um incêndio num edifício, aparece uma outra a disputar-lhe o trabalho... e descamba tudo numa monumental cena de pancadaria. Para que a comicidade seja perfeitamente conseguida, a cena prossegue com as chamas a consumirem tudo até aos alicerces... enquanto os soldados-da-paz (?), felizes e contentes, se entretêm a agredir-se mutuamente.

Na plateia, é claro, a assistência delira com o absurdo da cena - e descomprime da tensão acumulada.

Ah! Assim pudéssemos nós rir, com um riso aberto e inocente, de rábulas verídicas como a que no início se refere, bem como da falta de sintonia (passe o eufemismo...) entre os Ministérios da Administração Interna, da Agricultura e do Ambiente a propósito do estado actual das nossas florestas que continuam, ano após ano, impreparadas para enfrentar os fogos!

(C. Medina Ribeiro)

*

É a segunda vez que lança o tema. A primeira tinha o assunto remetido para este título FOGOS, BALDES E BALDAS. Lança agora o debate sobre o tema em epígrafe.

Independentemente da justeza do debate, das justas críticas ao governo e a todos os outros que consciente ou inconscientemente colaboram nesta desgraça e das muito doutas e sapientes opiniões de Francisco M. Figueiredo, Pedro Almeida Vieira e outros que mais para frente se ouvirão parece-me um bocado demagógico lançar agora o tema.

No mesmo sentido do provérbio espanhol que na minha anterior intervenção citei (os fogos apagam-se no Inverno) porque não lançar o tema por exemplo em Janeiro?

E não nos preocupemos porque a imprensa (vide a caixa do Correio da Manhã de hoje) já escolheu o próximo assunto. Amanhã abre a caça ás espécies migratórias e passa a estar na ordem do dia a Gripe das Aves (mesmo assim com caixa alta).

Os fogos deixam de existir na televisão, na cabeça das pessoas e dos jornalistas e, em breve, veremos os repórteres a correrem (razão têm os Adiafa a propósito dos foguetes) na tonteria habitual atrás do último Pato ou da última Galinhola abatida perguntando em directo aos caçadores se não têm medo do bicho estar infectado.

Acho que tem(os) obrigação de fazer melhor.

(Fernando Frazão)

*

1 - No seu balanço dos fogos florestais a meio de Agosto, o ministro António Costa aludiu por alto à questão que tratei na m/ anterior

intervenção: a expansão incontrolada dos espaços urbanos para junto das áreas florestais. Fê-lo, porém, em tom de mero lamento, sem perspectivar solução para o problema.

Não me pareceu que, entretanto, tenha aludido à não menos incontrolada expansão do eucalipto e à extinção desregrada das espécies autóctones (tomou-se o eucalipto de ponta, mas o pinheiro também tem que se lhe diga...).

Apesar do que referi no anterior texto, o facto é que, para o ordenamento urbanístico ainda vai havendo algumas regras, que uma ou outra Câmara Municipal vão tentando levar com mais ou menos rigor. Mas para o ordenamento agrícola e florestal é que parece não haver praticamente rei nem roque. Aparecem extensões enormes de novas plantações, em muitos casos financiadas por fundos públicos, sem que as autarquias sejam consultadas. E no entanto trata-se de questões relevantes do ordenamento do território.

A verdade é que existem capelas intocáveis, cada instituição tem (quando tem...) apenas a visão estreita dos parâmetros de ordenamento do seu sector, que não coordena com os outros, as coisas passam-se em circuito fechado, ai de quem se intrometa!

Estão actualmente a ser elaborados pelas CCDR´s os Planos Regionais do Ordenamento do Território (PROT): é uma boa oportunidade para colocar ordem nestas matérias e rigor e exigência nestas instituições.

2 - Um erro estratégico na concepção do modelo de prevenção dos fogos florestais foi ter apostado na limpeza coerciva das matas. Pelas razões que são sobejamente conhecidas, nas actuais circunstâncias (e então nos meios rurais...) as pessoas estão-se nas tintas para as ameaças, e só mandarão limpar as suas matas quando isso voltar a ter vantagem económica. Ora, esse potencial económico está bem à vista: o que está nas matas com abundância, e que as matas reproduzem regularmente, é biomassa, susceptível de ser transformada em energia.

Sejamos construtivos: é capaz de valer a pena investir em centrais eléctricas de biomassa, disseminadas pelo país, uma por cada dois distritos ou assim.

Isso geraria a criação de pequenas empresas recolectoras e transportadoras da biomassa, postos de trabalho, receita para os donos das matas, limpeza assegurada, menos condições para a propagação do fogo, etc.

Esta ideia, aliás, não é novidade nenhuma, custa entender porque é que, depois de tantos anos de incêndios, não vai para a frente.

Suponho que haverá já quem exclame: é o lóbi do sector energético que ateia os incêndios para evidenciar a necessidade dessas centrais de biomassa! Lóbis haverá muitos, e então no sector das várias alternativas de produção de energia... calculo: ele é o vento, ele é o urânio, ele são as mini-hídricas, são os produtores convencionais, são os distribuidores tradicionais, são os negócios da importação de energia...

Mas que não seja por isso que, sem reflectir, se ponha de parte a hipótese da biomassa, até porque essa, parece-me, teria adesão popular por distribuir amplamente receitas da venda da matéria prima, e por, a prazo, abrandar os incêndios.

3 – Houve erros, é certo, mas neste momento já não parece muito relevante discutir as responsabilidades dos sucessivos governos (que aliás são também de todos nós, dos nossos pequenos egoísmos, etc.) Relevante é que, mais que os anteriores, o actual Governo está politicamente em óptimas condições para levar estes assuntos a (p)eito.

A elaboração dos PROT, que referi acima, é uma excelente oportunidade e uma óptima instância para fazer as necessárias reflexões e tomar medidas concretas sobre todas as questões referidas: coordenação efectiva dos critérios de ordenamento territorial dos diversos sectores da administração pública, mais rigor e exigência contra a dispersão das casas, penalização dos solos urbanizados expectantes, contenção dos investimentos em infraestruturas urbanas, rentabilização efectiva das imensas infraestruturas públicas desperdiçadas, regras e acções eficientes para a gestão cadastral dos solos, proibição efectiva do fraccionamento dos solos rústicos, avaliação séria do aproveitamento do recurso "biomassa", etc.

Pelas especiais condições políticas que nós, os eleitores, lhes outorgámos, espera-se deste Governo, e do Presidente da República, que aprofundem o mais possível a avaliação do fenómeno dos incêndios e, sem contemplações na defesa do interesse público, que mexam a fundo nos problemas do ordenamento do território, na sua racionalização e no aproveitamento real dos seus recursos.

(Joaquim Jordão)

*

No que diz respeito ao seu post sobre os incêndios é caso para dizer, “preso por ter cão e preso por não ter”…

Na verdade, a sua forma de argumentação política, consoante se trate ou não de um ministro ou personalidade da sua simpatia pessoal

- e António Costa é, já todos percebemos, um ministro que claramente não gosta – inquina totalmente a discussão.

Senão vejamos, quando não se deu importância à chaga económica e social dos incêndios, à mobilização de meios dispersos e complementares,

à chamada de profissionais militares e militarizados e ao reforço de meios de acção e combate, nenhum governo pode ser merecedor de censura pública

por ausência de políticas eficazes.

Ao contrário, quando um decisor político, neste caso António Costa, faz o que deve, não se resignando com o agravamento

desta chaga social e procura reforçar os meios como nunca antes tinha sido feito, mobilizando os profissionais mais capazes,

envolvendo as forças de segurança e as forças armadas, ainda que com isso não consiga resolver o problema, a culpa já passa a ser dele ?.

(João Paulo Pedrosa)

AS VÁRIAS COISAS QUE ESTÃO A ARDER

[2ª série]

É perfeitamente notório que a estratégia comunicacional do Governo nesta época de fogos está a revelar-se eficaz. Já a realidade da devastação que se assiste não tem paralelo com as promessas que antecederam a época dos fogos. Perante tal realidade eis que o nosso ministro mais intocável do Governo, estatuto que ainda o vai levar bem longe, tira novamente da cartola o bode expiatório da falta de limpeza das matas, á semelhança do ocorrido o ano passado , com o beneplácido do á data urbano-citadino presidente Sampaio. E então verificamos que não são aqueles incautos e irresponsáveis milhares de pequenos proprietários , mas também o Estado “os responsáveis”, como se pudéssemos afirmar peremptoriamente que aí está o cerne do problema.

Ora nem a floresta é um jardim ordenado, e circunscrito a fileiras de arvores militarmente dispostas em filas, nem a fauna e flora restante sobreviveria á uma tal disposição de jardim artificial.Ou seja , ou se mantém alguma veracidade no que é uma floresta , ou então de floresta não terá nada.

Quero dizer com isto, que ou se aposta na vigilância das matas a sério , ou vale mais desistir e entregar a gestão florestal , como parece ser a tendência actual , subliminar, mas latente, ás ditas sociedades de gestão florestal, ( cujos accionistas já estamos a adivinhar quem são) as quais forçosamente nos darão um ambiente de jardim catalogado e inventariado.Pergunta-se, e depois qual seria o problema ?

Bom , na tendência actual em que o País caminha , nenhum. Afinal não se está a desfigurar as zonas naturais no sentido de fomentar o abandono da actividade agrícola em deterimento das novas “oportunidades” como os parques éolicos, os resorts , o turismo ruralóide de televisão ? Não é este o modelo para o qual Alquevas são reformulados, Otas devem ser construídas, e TGVs instalados ? Afinal não é verdade que quem está a mais no interior são os velhos e os pinheiros e eucaliptos ?

Se o modelo de desenvolvimento futuro é este do turismo, das novas energias vale mais virem todos para o litoral para casa dos filhos que estão a pagar casas á Banca a 40 anos.Deixem os montes do Algarve, as planuras Alentejanas, as quintas do Douro, há por aí muita gentinha para as vender.

Podemos ainda manter aquelas produçõeszitas DOC e Certificadas tão do gostos da telejornalada e do turista europeu, as quais se pagam bem acima do seu real valor.Um País assim tem grande futuro.Afinal é o nosso Petróleo verde , de campos de golfe e toalhinha na mão.

(António Carrilho)

*

Há algum tempo, ainda antes da chamada "época de fogos", vieram a público uns senhores garantir que algumas corporações de bombeiros poderiam recusar-se a actuar fora das suas áreas específicas. Não me recordo das razões que invocavam, mas ficou-me na memória o facto de essa ameaça prefigurar uma situação totalmente simétrica da que nos é mostrada em «Os Gangues de Nova Iorque» - um filme muito violento onde, a dada altura, o realizador introduziu um episódio cómico para amenizar o excessivo dramatismo:

Quando uma corporação de bombeiros se prepara para combater um incêndio num edifício, aparece uma outra a disputar-lhe o trabalho... e descamba tudo numa monumental cena de pancadaria. Para que a comicidade seja perfeitamente conseguida, a cena prossegue com as chamas a consumirem tudo até aos alicerces... enquanto os soldados-da-paz (?), felizes e contentes, se entretêm a agredir-se mutuamente.

Na plateia, é claro, a assistência delira com o absurdo da cena - e descomprime da tensão acumulada.

Ah! Assim pudéssemos nós rir, com um riso aberto e inocente, de rábulas verídicas como a que no início se refere, bem como da falta de sintonia (passe o eufemismo...) entre os Ministérios da Administração Interna, da Agricultura e do Ambiente a propósito do estado actual das nossas florestas que continuam, ano após ano, impreparadas para enfrentar os fogos!

(C. Medina Ribeiro)

*

É a segunda vez que lança o tema. A primeira tinha o assunto remetido para este título FOGOS, BALDES E BALDAS. Lança agora o debate sobre o tema em epígrafe.

Independentemente da justeza do debate, das justas críticas ao governo e a todos os outros que consciente ou inconscientemente colaboram nesta desgraça e das muito doutas e sapientes opiniões de Francisco M. Figueiredo, Pedro Almeida Vieira e outros que mais para frente se ouvirão parece-me um bocado demagógico lançar agora o tema.

No mesmo sentido do provérbio espanhol que na minha anterior intervenção citei (os fogos apagam-se no Inverno) porque não lançar o tema por exemplo em Janeiro?

E não nos preocupemos porque a imprensa (vide a caixa do Correio da Manhã de hoje) já escolheu o próximo assunto. Amanhã abre a caça ás espécies migratórias e passa a estar na ordem do dia a Gripe das Aves (mesmo assim com caixa alta).

Os fogos deixam de existir na televisão, na cabeça das pessoas e dos jornalistas e, em breve, veremos os repórteres a correrem (razão têm os Adiafa a propósito dos foguetes) na tonteria habitual atrás do último Pato ou da última Galinhola abatida perguntando em directo aos caçadores se não têm medo do bicho estar infectado.

Acho que tem(os) obrigação de fazer melhor.

(Fernando Frazão)

*

1 - No seu balanço dos fogos florestais a meio de Agosto, o ministro António Costa aludiu por alto à questão que tratei na m/ anterior

intervenção: a expansão incontrolada dos espaços urbanos para junto das áreas florestais. Fê-lo, porém, em tom de mero lamento, sem perspectivar solução para o problema.

Não me pareceu que, entretanto, tenha aludido à não menos incontrolada expansão do eucalipto e à extinção desregrada das espécies autóctones (tomou-se o eucalipto de ponta, mas o pinheiro também tem que se lhe diga...).

Apesar do que referi no anterior texto, o facto é que, para o ordenamento urbanístico ainda vai havendo algumas regras, que uma ou outra Câmara Municipal vão tentando levar com mais ou menos rigor. Mas para o ordenamento agrícola e florestal é que parece não haver praticamente rei nem roque. Aparecem extensões enormes de novas plantações, em muitos casos financiadas por fundos públicos, sem que as autarquias sejam consultadas. E no entanto trata-se de questões relevantes do ordenamento do território.

A verdade é que existem capelas intocáveis, cada instituição tem (quando tem...) apenas a visão estreita dos parâmetros de ordenamento do seu sector, que não coordena com os outros, as coisas passam-se em circuito fechado, ai de quem se intrometa!

Estão actualmente a ser elaborados pelas CCDR´s os Planos Regionais do Ordenamento do Território (PROT): é uma boa oportunidade para colocar ordem nestas matérias e rigor e exigência nestas instituições.

2 - Um erro estratégico na concepção do modelo de prevenção dos fogos florestais foi ter apostado na limpeza coerciva das matas. Pelas razões que são sobejamente conhecidas, nas actuais circunstâncias (e então nos meios rurais...) as pessoas estão-se nas tintas para as ameaças, e só mandarão limpar as suas matas quando isso voltar a ter vantagem económica. Ora, esse potencial económico está bem à vista: o que está nas matas com abundância, e que as matas reproduzem regularmente, é biomassa, susceptível de ser transformada em energia.

Sejamos construtivos: é capaz de valer a pena investir em centrais eléctricas de biomassa, disseminadas pelo país, uma por cada dois distritos ou assim.

Isso geraria a criação de pequenas empresas recolectoras e transportadoras da biomassa, postos de trabalho, receita para os donos das matas, limpeza assegurada, menos condições para a propagação do fogo, etc.

Esta ideia, aliás, não é novidade nenhuma, custa entender porque é que, depois de tantos anos de incêndios, não vai para a frente.

Suponho que haverá já quem exclame: é o lóbi do sector energético que ateia os incêndios para evidenciar a necessidade dessas centrais de biomassa! Lóbis haverá muitos, e então no sector das várias alternativas de produção de energia... calculo: ele é o vento, ele é o urânio, ele são as mini-hídricas, são os produtores convencionais, são os distribuidores tradicionais, são os negócios da importação de energia...

Mas que não seja por isso que, sem reflectir, se ponha de parte a hipótese da biomassa, até porque essa, parece-me, teria adesão popular por distribuir amplamente receitas da venda da matéria prima, e por, a prazo, abrandar os incêndios.

3 – Houve erros, é certo, mas neste momento já não parece muito relevante discutir as responsabilidades dos sucessivos governos (que aliás são também de todos nós, dos nossos pequenos egoísmos, etc.) Relevante é que, mais que os anteriores, o actual Governo está politicamente em óptimas condições para levar estes assuntos a (p)eito.

A elaboração dos PROT, que referi acima, é uma excelente oportunidade e uma óptima instância para fazer as necessárias reflexões e tomar medidas concretas sobre todas as questões referidas: coordenação efectiva dos critérios de ordenamento territorial dos diversos sectores da administração pública, mais rigor e exigência contra a dispersão das casas, penalização dos solos urbanizados expectantes, contenção dos investimentos em infraestruturas urbanas, rentabilização efectiva das imensas infraestruturas públicas desperdiçadas, regras e acções eficientes para a gestão cadastral dos solos, proibição efectiva do fraccionamento dos solos rústicos, avaliação séria do aproveitamento do recurso "biomassa", etc.

Pelas especiais condições políticas que nós, os eleitores, lhes outorgámos, espera-se deste Governo, e do Presidente da República, que aprofundem o mais possível a avaliação do fenómeno dos incêndios e, sem contemplações na defesa do interesse público, que mexam a fundo nos problemas do ordenamento do território, na sua racionalização e no aproveitamento real dos seus recursos.

(Joaquim Jordão)

*

No que diz respeito ao seu post sobre os incêndios é caso para dizer, “preso por ter cão e preso por não ter”…

Na verdade, a sua forma de argumentação política, consoante se trate ou não de um ministro ou personalidade da sua simpatia pessoal

- e António Costa é, já todos percebemos, um ministro que claramente não gosta – inquina totalmente a discussão.

Senão vejamos, quando não se deu importância à chaga económica e social dos incêndios, à mobilização de meios dispersos e complementares,

à chamada de profissionais militares e militarizados e ao reforço de meios de acção e combate, nenhum governo pode ser merecedor de censura pública

por ausência de políticas eficazes.

Ao contrário, quando um decisor político, neste caso António Costa, faz o que deve, não se resignando com o agravamento

desta chaga social e procura reforçar os meios como nunca antes tinha sido feito, mobilizando os profissionais mais capazes,

envolvendo as forças de segurança e as forças armadas, ainda que com isso não consiga resolver o problema, a culpa já passa a ser dele ?.

(João Paulo Pedrosa)

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