"O Bloco de Esquerda está a sofrer bullying de Francisco Louçã"

02-11-2020
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Já que falou no bullying de Francisco Louçã à direção do BE, o PS também não terá passado a imagem de que também estaria a fazer bullying ao Bloco de Esquerda? E o que é que é preciso para que haja um retomar das negociações, basta o Bloco pedir uma reunião?

O Governo respondeu por carta ao BE quando o BE anunciou que votava contra e apresentou as suas razões. O Governo entendeu recordar ao Bloco de Esquerda, e bem, em que ponto ficaram as negociações. Os avanços conquistados na negociação. Em todas as áreas — direitos laborais, SNS, Novo Banco, áreas sociais. Houve avanços da parte do Governo em todas estas áreas, mesmo depois da entrega do Orçamento, para tentar obviamente ter pelo menos a abstenção do Bloco de Esquerda. O que é incompreensível, no meu entender, é que, apesar das reservas que o BE foi explicando, porque é que votou contra e não optou pela abstenção. Essa intransigência e inflexibilidade é que se tornou, do meu ponto de vista, uma enorme desilusão perante aquilo que foi o compromisso que o BE assumiu na campanha eleitoral das legislativas, em que o BE pediu para que os portugueses não dessem uma maioria absoluta ao PS e que reforçassem a votação do BE para que o BE fosse um partido de compromisso nas negociações com o governo. O Bloco de Esquerda desperdiçou esse compromisso.

Mas agora tem de ser o Bloco a dar esse passo, é isso?

O Bloco ainda não respondeu à carta que o Governo enviou. Foi responder no debate na generalidade e, nas últimas intervenções dos deputados Pedro Filipe Soares e Mariana Mortágua, deixaram um postigozinho aberto dizendo que estavam interessados em voltar às negociações desde que fosse para discutir alguns avanços nas áreas que falei há pouco. Se o BE responder à carta do Governo, certamente que o Governo…

Se não responder, o Governo não dará nenhum passo no sentido de chamar o Bloco à mesa das negociações. É isso que está a dizer?

Não posso responder no lugar do Governo. Mas quem saiu da mesa das negociações foi o Bloco de Esquerda, e para as negociações serem retomadas, o Bloco tem de dar um passo em frente.

Mas é do interesse do PS voltar a ter o Bloco na mesa das negociações para não ficar inteiramente dependente do PCP, que, de resto, já disse que a abstenção na generalidade não significa o mesmo voto na votação final.

O Governo sabe que tem de prosseguir as negociações com o PCP, e com o PAN e os Verdes. Da mesma forma que queria prosseguir as negociações na especialidade com o Bloco de Esquerda, porque este voto contra não estava nos prognósticos do Governo nem do PS. E sabemos que a especialidade representa sempre mais avanços, mais conquistas por parte dos nossos parceiros parlamentares.

Sem o voto do Bloco, o Governo não fica muito mais fragilizado neste momento?

Isto tem de ser visto ao momento, e não em relação ao que representa para o futuro. Como eu disse há pouco, acho que a tendência que o doutor Francisco Louçã lidera no seio do BE, tinha preparado uma rutura com o governo e com o PS e 2021 e a pandemia antecipou isto tudo. Portanto não se pode falar do momento a pensar que pode condicionar o futuro.

Mas estamos a falar do presente. Temos um orçamento que está muito dependente do voto do PCP e de outros partidos. Sem o Bloco, com o PCP com uma posição mais forte na mesa das negociações, o PS não está mais dependente e mais fragilizado?

Não estou de acordo. Mesmo que o BE mantenha o voto contra na votação final não significa um divórcio entre o PS e o Bloco de Esquerda.

Ai não?

Há matérias que são comuns aos dois partidos.

E essas matérias não caem agora? António Costa falou no tal acordo sobre as leis laborais no horizonte da legislatura. Isso não fica inviabilizado agora que o Bloco está de costas voltadas?

Perante uma crise desta dimensão e perante os problemas que o país tem de resolver, o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista diria que estão condenados a dialogar. Não diria que estão condenados a promover entendimentos a toda a hora, mas estão condenados a dialogar. Esse diálogo tem sido, aliás, muito liderado pelo Governo em várias matérias. Houve sempre um diálogo permanente com o Bloco de Esquerda, como existe com o PCP e o PEV. Portanto, o Governo e o PS não dialogam mais com um parceiro do que com outro.

Expressões como “chantagem”, “mentira”, “desertar”, tudo isso é apenas um espécie de desabafo no meio deste diálogo que se vai fazendo entre o Bloco e o Governo do PS?

Faz parte do quadro discursivo que, quer o PS, quer o Bloco, tem de pintar para defender as suas razões para posição política que assumiram. Da nossa parte, nós nunca subimos o tom no debate nas últimas semanas com o Bloco de Esquerda. Fomos reagindo àquilo que foram as tomadas de posição do BE e os ataques que o BE foi fazendo às negociações. O PS procurou sempre estar numa posição responsável e de bom senso. Não podemos em nenhum momento dar a entender que perdemos o norte daquilo que é a nossa responsabilidade no Parlamento e na governação.

Percebi há instantes que disse que o Bloco quis precipitar uma crise política.

Eu disse que a tendência de Francisco Louçã no Bloco de Esquerda está a tentar precipitar uma rutura com o PS.

Acredita que esta legislatura pode chegar até ao fim?

Já tive mais seguro disso. A crise coloca todos os dias muitas incertezas e julgo que hoje não há ninguém que tenha condições nem informação para dizer que esta legislatura chegará a 2023. Não há também nada que leve a acreditar que não chegará. Hoje tivemos acesso aos dados do terceiro trimestre da nossa economia e da economia europeia e da zona euro. Fiquei particularmente satisfeito quando vi os números do crescimento do PIB em relação ao trimestre anterior e àquilo foi o crescimento do PIB espanhol e da média da Zona Euro em relação ao trimestre anterior. Portanto, está de acordo com as linhas do cenário macroeconómico do orçamento. Depende muito do ano de 2021, acho que vai ser um ano fundamental para responder à pergunta que me colocou.

Já que falou no bullying de Francisco Louçã à direção do BE, o PS também não terá passado a imagem de que também estaria a fazer bullying ao Bloco de Esquerda? E o que é que é preciso para que haja um retomar das negociações, basta o Bloco pedir uma reunião?

O Governo respondeu por carta ao BE quando o BE anunciou que votava contra e apresentou as suas razões. O Governo entendeu recordar ao Bloco de Esquerda, e bem, em que ponto ficaram as negociações. Os avanços conquistados na negociação. Em todas as áreas — direitos laborais, SNS, Novo Banco, áreas sociais. Houve avanços da parte do Governo em todas estas áreas, mesmo depois da entrega do Orçamento, para tentar obviamente ter pelo menos a abstenção do Bloco de Esquerda. O que é incompreensível, no meu entender, é que, apesar das reservas que o BE foi explicando, porque é que votou contra e não optou pela abstenção. Essa intransigência e inflexibilidade é que se tornou, do meu ponto de vista, uma enorme desilusão perante aquilo que foi o compromisso que o BE assumiu na campanha eleitoral das legislativas, em que o BE pediu para que os portugueses não dessem uma maioria absoluta ao PS e que reforçassem a votação do BE para que o BE fosse um partido de compromisso nas negociações com o governo. O Bloco de Esquerda desperdiçou esse compromisso.

Mas agora tem de ser o Bloco a dar esse passo, é isso?

O Bloco ainda não respondeu à carta que o Governo enviou. Foi responder no debate na generalidade e, nas últimas intervenções dos deputados Pedro Filipe Soares e Mariana Mortágua, deixaram um postigozinho aberto dizendo que estavam interessados em voltar às negociações desde que fosse para discutir alguns avanços nas áreas que falei há pouco. Se o BE responder à carta do Governo, certamente que o Governo…

Se não responder, o Governo não dará nenhum passo no sentido de chamar o Bloco à mesa das negociações. É isso que está a dizer?

Não posso responder no lugar do Governo. Mas quem saiu da mesa das negociações foi o Bloco de Esquerda, e para as negociações serem retomadas, o Bloco tem de dar um passo em frente.

Mas é do interesse do PS voltar a ter o Bloco na mesa das negociações para não ficar inteiramente dependente do PCP, que, de resto, já disse que a abstenção na generalidade não significa o mesmo voto na votação final.

O Governo sabe que tem de prosseguir as negociações com o PCP, e com o PAN e os Verdes. Da mesma forma que queria prosseguir as negociações na especialidade com o Bloco de Esquerda, porque este voto contra não estava nos prognósticos do Governo nem do PS. E sabemos que a especialidade representa sempre mais avanços, mais conquistas por parte dos nossos parceiros parlamentares.

Sem o voto do Bloco, o Governo não fica muito mais fragilizado neste momento?

Isto tem de ser visto ao momento, e não em relação ao que representa para o futuro. Como eu disse há pouco, acho que a tendência que o doutor Francisco Louçã lidera no seio do BE, tinha preparado uma rutura com o governo e com o PS e 2021 e a pandemia antecipou isto tudo. Portanto não se pode falar do momento a pensar que pode condicionar o futuro.

Mas estamos a falar do presente. Temos um orçamento que está muito dependente do voto do PCP e de outros partidos. Sem o Bloco, com o PCP com uma posição mais forte na mesa das negociações, o PS não está mais dependente e mais fragilizado?

Não estou de acordo. Mesmo que o BE mantenha o voto contra na votação final não significa um divórcio entre o PS e o Bloco de Esquerda.

Ai não?

Há matérias que são comuns aos dois partidos.

E essas matérias não caem agora? António Costa falou no tal acordo sobre as leis laborais no horizonte da legislatura. Isso não fica inviabilizado agora que o Bloco está de costas voltadas?

Perante uma crise desta dimensão e perante os problemas que o país tem de resolver, o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista diria que estão condenados a dialogar. Não diria que estão condenados a promover entendimentos a toda a hora, mas estão condenados a dialogar. Esse diálogo tem sido, aliás, muito liderado pelo Governo em várias matérias. Houve sempre um diálogo permanente com o Bloco de Esquerda, como existe com o PCP e o PEV. Portanto, o Governo e o PS não dialogam mais com um parceiro do que com outro.

Expressões como “chantagem”, “mentira”, “desertar”, tudo isso é apenas um espécie de desabafo no meio deste diálogo que se vai fazendo entre o Bloco e o Governo do PS?

Faz parte do quadro discursivo que, quer o PS, quer o Bloco, tem de pintar para defender as suas razões para posição política que assumiram. Da nossa parte, nós nunca subimos o tom no debate nas últimas semanas com o Bloco de Esquerda. Fomos reagindo àquilo que foram as tomadas de posição do BE e os ataques que o BE foi fazendo às negociações. O PS procurou sempre estar numa posição responsável e de bom senso. Não podemos em nenhum momento dar a entender que perdemos o norte daquilo que é a nossa responsabilidade no Parlamento e na governação.

Percebi há instantes que disse que o Bloco quis precipitar uma crise política.

Eu disse que a tendência de Francisco Louçã no Bloco de Esquerda está a tentar precipitar uma rutura com o PS.

Acredita que esta legislatura pode chegar até ao fim?

Já tive mais seguro disso. A crise coloca todos os dias muitas incertezas e julgo que hoje não há ninguém que tenha condições nem informação para dizer que esta legislatura chegará a 2023. Não há também nada que leve a acreditar que não chegará. Hoje tivemos acesso aos dados do terceiro trimestre da nossa economia e da economia europeia e da zona euro. Fiquei particularmente satisfeito quando vi os números do crescimento do PIB em relação ao trimestre anterior e àquilo foi o crescimento do PIB espanhol e da média da Zona Euro em relação ao trimestre anterior. Portanto, está de acordo com as linhas do cenário macroeconómico do orçamento. Depende muito do ano de 2021, acho que vai ser um ano fundamental para responder à pergunta que me colocou.

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