Os velhos do Bloco e os novos do PCP

01-11-2019
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Força envelhecida uma ova, gritam de um lado. Partido dos miúdos lisboetas? Somos muito, muito mais do que isso, asseguram do outro. Várias décadas separam o PCP do Bloco de Esquerda, mas há dois rótulos que os críticos lhes colaram: o primeiro é o partido dos velhos; o segundo é um movimento dos novos e para os novos. Como ninguém é eterno e como as modas juvenis tendem a ser passageiras, os dois estavam condenados a desaparecer, vaticinavam. Neste jogo do quem é quem, todavia, as aparências iludem.

Primeiro, os números. Com 95 anos de história, o partido mais antigo da democracia portuguesa tem, por esta altura, a bancada parlamentar mais jovem do hemiciclo. Por sua vez, o Bloco tem cinco deputados (em 19) que já passaram dos 60 anos. A média de idades das duas bancadas, de resto, reflete essa tendência: o PCP não chega os 44 anos (43,6); já o Bloco caminha para uns respeitosos 46 (45,6). E aqui não há liftings forçados nem peelings por conveniência: a renovação gradual dos primeiros foi sempre assumida; o “amadurecimento” dos segundos, dizem os próprios, é um sintoma natural de quem está a um ano de atingir a maioridade.

É mesmo isso que assegura Jorge Campos, um dos cinco deputados com mais de 60 anos do BE. “Hoje, o Bloco é absolutamente transversal. Temos desde o deputado mais novo da Assembleia, Luís Monteiro [22 anos], à segunda deputada mais velha, Domicília Costa [70 anos]. Essa ideia de que o Bloco de Esquerda é um partido da moda desapareceu. O Bloco cresceu muito“.

Com 63 anos, este doutorado em comunicação social e professor universitário entrou nas listas do partido pelo círculo eleitoral do Porto mas com estatuto de independente. Ao Observador, lamenta que “durante muito tempo” e de uma forma “muito injusta” o Bloco de Esquerda tenha sido desvalorizado e visto como “o partido do protesto” e para o protesto. Daí a colarem-lhe a imagem de esquerda cool foi um passo, reconhece. “Mas o Bloco foi sempre muito mais do que isso“.

Com 63 anos, Jorge Campos, professor universitário, é um dos deputados mais velhos do BE

“O BE foi sempre um partido de causas e com um projeto. Foi fazendo o seu percurso e as raízes cresceram”, explica Jorge Campos. Cresceram ao ponto de o Bloco ser hoje o terceiro partido mais representado na Assembleia da República. A razão é simples: “Tudo isto é fruto de uma proximidade muito intensa” e de um trabalho diário de “chegar e procurar perceber o que preocupa as pessoas”. Todas as pessoas, sem olhar a idades. Ou não chegariam onde chegaram. “Todas as faixas etárias estão representadas no Bloco” e é assim que deve ser, assume.

Prova disso mesmo, é a organização, neste sábado, do “1º Encontro Nacional +60“, uma iniciativa do Bloco, cujo mote é “Segurança Social, Saúde e Crise Social: problemas e soluções”. Tema caro à terceira idade e mais um esforço do partido para se aproximar desta faixa etária, explica Heitor de Sousa, deputado do Bloco de Esquerda e também ele acima da barreira dos 60 anos.

“O tema da terceira idade está a ganhar uma relevância crescente dentro do partido. Iniciativas como esta vão permitir dar uma expressão maior e mais organizada a estas questões”, sublinha este economista de 62 anos, em declarações ao Observador. É, também, a prova “do amadurecimento natural” do Bloco, que lhe permite alargar as suas áreas de influência. Um sinal de “transversalidade de políticas que abrangem os vários setores da sociedade”.

Um dos vídeos de promoção do “1º Encontro Nacional +60”

Os sinais deste “amadurecimento” de que falam Jorge Campos e Heitor de Sousa não se esgotam aqui. O facto de o partido ter em Domícilia Costa, a doméstica que “não contava” ser eleita deputada e o segundo parlamentar mais velho do hemiciclo, é mais um exemplo disso. Pouco depois de saber que tinha entrado na Assembleia da República, graças a um surpreendente resultado do BE no Porto, a ex-militante do PCP garantia ao Observador estar pronta para a tarefa e para deixar para trás o percurso “casa-Porto-casa”.

O objetivo agora era outro: levar para o Parlamento bandeiras que lhe são próximas. O combate ao desemprego em todas as faixas etárias, a situação dos trabalhadores precários, os pensionistas, a assistência médica hospitalar e a violência doméstica estão no topo da lista.

Domícilia Costa (70 anos) é a segunda deputada mais velha. Só Alexandre Quintanilha, do PS, tem mais

Carlos Matias (64 anos) e Jorge Falcato (61 anos) completam o grupo dos anciãos do Bloco de Esquerda. O primeiro ajudou a erguer o partido – é um dos fundadores da UDP, movimento que estaria na génese do BE. Mas a atividade política vem de trás. Entre 1974 e 1975, foi dirigente do Movimento das Forças Armadas (MFA), mais tarde professor e só depois funcionário dos CTT e da PT, sempre cruzando a vida com o sindicalismo. Na política, foi deputado municipal no Entroncamento durante 11 anos, para depois se tornar vereador eleito pelo Bloco de Esquerda na mesma autarquia. Já como dirigente do Bloco, avançou para as legislativas como cabeça de lista do partido por Santarém e tornou-se deputado.

Ainda durante a corrida a São Bento, em entrevista à Rádio Hertz — citada pelo Esquerda.net — definia como objetivos a criação de emprego no distrito e no país. Era preciso “dar a volta a isto” e esse devia ser um dos pressupostos do Bloco. Objetivo definido, ainda dava uma alfinetada aos socialistas, futuros parceiros parlamentares:

“Os bancos devem ser obrigados a canalizar dinheiro para o investimento na economia real, na agricultura, nas florestas, nas fábricas, transportes e infraestruturas, naquilo que cria riqueza e não na especulação financeira”. Era preciso concentrar esforços em políticas de promoção de emprego e de proteção no desemprego “e não, como o PS propõe, facilitar ainda mais os despedimentos“, atiraria na altura.

Força envelhecida uma ova, gritam de um lado. Partido dos miúdos lisboetas? Somos muito, muito mais do que isso, asseguram do outro. Várias décadas separam o PCP do Bloco de Esquerda, mas há dois rótulos que os críticos lhes colaram: o primeiro é o partido dos velhos; o segundo é um movimento dos novos e para os novos. Como ninguém é eterno e como as modas juvenis tendem a ser passageiras, os dois estavam condenados a desaparecer, vaticinavam. Neste jogo do quem é quem, todavia, as aparências iludem.

Primeiro, os números. Com 95 anos de história, o partido mais antigo da democracia portuguesa tem, por esta altura, a bancada parlamentar mais jovem do hemiciclo. Por sua vez, o Bloco tem cinco deputados (em 19) que já passaram dos 60 anos. A média de idades das duas bancadas, de resto, reflete essa tendência: o PCP não chega os 44 anos (43,6); já o Bloco caminha para uns respeitosos 46 (45,6). E aqui não há liftings forçados nem peelings por conveniência: a renovação gradual dos primeiros foi sempre assumida; o “amadurecimento” dos segundos, dizem os próprios, é um sintoma natural de quem está a um ano de atingir a maioridade.

É mesmo isso que assegura Jorge Campos, um dos cinco deputados com mais de 60 anos do BE. “Hoje, o Bloco é absolutamente transversal. Temos desde o deputado mais novo da Assembleia, Luís Monteiro [22 anos], à segunda deputada mais velha, Domicília Costa [70 anos]. Essa ideia de que o Bloco de Esquerda é um partido da moda desapareceu. O Bloco cresceu muito“.

Com 63 anos, este doutorado em comunicação social e professor universitário entrou nas listas do partido pelo círculo eleitoral do Porto mas com estatuto de independente. Ao Observador, lamenta que “durante muito tempo” e de uma forma “muito injusta” o Bloco de Esquerda tenha sido desvalorizado e visto como “o partido do protesto” e para o protesto. Daí a colarem-lhe a imagem de esquerda cool foi um passo, reconhece. “Mas o Bloco foi sempre muito mais do que isso“.

Com 63 anos, Jorge Campos, professor universitário, é um dos deputados mais velhos do BE

“O BE foi sempre um partido de causas e com um projeto. Foi fazendo o seu percurso e as raízes cresceram”, explica Jorge Campos. Cresceram ao ponto de o Bloco ser hoje o terceiro partido mais representado na Assembleia da República. A razão é simples: “Tudo isto é fruto de uma proximidade muito intensa” e de um trabalho diário de “chegar e procurar perceber o que preocupa as pessoas”. Todas as pessoas, sem olhar a idades. Ou não chegariam onde chegaram. “Todas as faixas etárias estão representadas no Bloco” e é assim que deve ser, assume.

Prova disso mesmo, é a organização, neste sábado, do “1º Encontro Nacional +60“, uma iniciativa do Bloco, cujo mote é “Segurança Social, Saúde e Crise Social: problemas e soluções”. Tema caro à terceira idade e mais um esforço do partido para se aproximar desta faixa etária, explica Heitor de Sousa, deputado do Bloco de Esquerda e também ele acima da barreira dos 60 anos.

“O tema da terceira idade está a ganhar uma relevância crescente dentro do partido. Iniciativas como esta vão permitir dar uma expressão maior e mais organizada a estas questões”, sublinha este economista de 62 anos, em declarações ao Observador. É, também, a prova “do amadurecimento natural” do Bloco, que lhe permite alargar as suas áreas de influência. Um sinal de “transversalidade de políticas que abrangem os vários setores da sociedade”.

Um dos vídeos de promoção do “1º Encontro Nacional +60”

Os sinais deste “amadurecimento” de que falam Jorge Campos e Heitor de Sousa não se esgotam aqui. O facto de o partido ter em Domícilia Costa, a doméstica que “não contava” ser eleita deputada e o segundo parlamentar mais velho do hemiciclo, é mais um exemplo disso. Pouco depois de saber que tinha entrado na Assembleia da República, graças a um surpreendente resultado do BE no Porto, a ex-militante do PCP garantia ao Observador estar pronta para a tarefa e para deixar para trás o percurso “casa-Porto-casa”.

O objetivo agora era outro: levar para o Parlamento bandeiras que lhe são próximas. O combate ao desemprego em todas as faixas etárias, a situação dos trabalhadores precários, os pensionistas, a assistência médica hospitalar e a violência doméstica estão no topo da lista.

Domícilia Costa (70 anos) é a segunda deputada mais velha. Só Alexandre Quintanilha, do PS, tem mais

Carlos Matias (64 anos) e Jorge Falcato (61 anos) completam o grupo dos anciãos do Bloco de Esquerda. O primeiro ajudou a erguer o partido – é um dos fundadores da UDP, movimento que estaria na génese do BE. Mas a atividade política vem de trás. Entre 1974 e 1975, foi dirigente do Movimento das Forças Armadas (MFA), mais tarde professor e só depois funcionário dos CTT e da PT, sempre cruzando a vida com o sindicalismo. Na política, foi deputado municipal no Entroncamento durante 11 anos, para depois se tornar vereador eleito pelo Bloco de Esquerda na mesma autarquia. Já como dirigente do Bloco, avançou para as legislativas como cabeça de lista do partido por Santarém e tornou-se deputado.

Ainda durante a corrida a São Bento, em entrevista à Rádio Hertz — citada pelo Esquerda.net — definia como objetivos a criação de emprego no distrito e no país. Era preciso “dar a volta a isto” e esse devia ser um dos pressupostos do Bloco. Objetivo definido, ainda dava uma alfinetada aos socialistas, futuros parceiros parlamentares:

“Os bancos devem ser obrigados a canalizar dinheiro para o investimento na economia real, na agricultura, nas florestas, nas fábricas, transportes e infraestruturas, naquilo que cria riqueza e não na especulação financeira”. Era preciso concentrar esforços em políticas de promoção de emprego e de proteção no desemprego “e não, como o PS propõe, facilitar ainda mais os despedimentos“, atiraria na altura.

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