Nos 40 anos de glória de João Moura, Miguel foi um Caso

21-11-2019
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Crónica de Miguel Ortega Cláudio sobre a corrida do Campo Pequeno, que aconteceu quinta-feira e na qual João Moura comemorou os 40 anos da sua Alternativa

| foto Fernando Henriques/Protoiro

Dia 7 de Junho de 2018, ambiente de festa, com muitos políticos (deputados e autarcas), caras conhecidas da televisão, figuras do toureio como são os casos do matador espanhol El Juli, de Ventura, de Telles, de Rui Fernandes e tantos outros. João Moura comemorou os 40 anos da sua Alternativa em Lisboa.

Apesar de uma boa lotação (quase 3/4 de casa), faltou a enchente que devia ter acontecido. O mau tempo e o futebol, porém, não são amigos dos toiros. Sobrou emoção e valor a toureiros e forcados diante do curro de toiros das ganadarias Manuel Coimbra e Francisco Romão Tenório.

Foram lidados toiros de duas ganadarias - Manuel Coimbra (1º, 2º e 6º) e Francisco Romão Tenório (3º, 4º e 5º) e de encastes bem distintos, respetivamente, Parladé e Murube.

Feio e difícil, o touro que abriu a corrida; Parado e a menos, o bonito segundo; Nobre e com muita classe, o que fez terceiro, superiormente apresentado; Uma estampa foi o quarto, também ele nobre e com classe, mas a menos; O quinto era grande e alto, teve pouco recorrido e transmitia muito pouco às bancadas; Bravo e bonito foi o que fechou a noite. Mais pesados, os de Murube com 638 kg, 592 kg e 616 kg; os de Coimbra deram na balança 58 5kg, 572 kg e 530 kg.

João Moura teve duas atuações distintas. Na primeira enfrentou um toiro complicado, que esperava muito no momento do ferro e que se orientou rapidamente. O Mestre andou com as devidas precauções, porque o Coimbra não estava lá para colaborar em nada para o triunfo. No seu segundo fez lembrar os tempos áureos do "niño prodígio", o génio, o Mestre, a perfeição, o tratar os toiros por tu e o sair sempre por cima. João Moura escreveu mais uma página no seu livro de glória, continua a escrevê-las com um saber único, a raça com que se supera a si próprio e com que inova. Uma brega envolvente, que oferece ao toiro a garupa ou a espádua do cavalo. Ladeia e galopa sem nunca lhe perder a cara, templa ao máximo as investidas até ganhar terreno para inverter a marcha, depois carrega a sorte e reúne em terrenos de compromisso. Assim foi a lide do quarto.

João Moura Jr. pôs "a carne toda no assador". Fez das tripas coração e rubricou, no complicado e reservado segundo Coimbra, uma lide com princípio, meio e fim, bem reveladora do momento alto que vive e da maturidade que atingiu como toureiro e lidador. O palmo com que fechou a atuação foi excelente e assim o viu o público que, de pé, despediu o cavaleiro. No quinto, um Romão Tenório com pouca transmissão, quis fazer tudo e nem sempre a sorte o acompanhou. Moura é um toureiro de casta, que se agiganta e se impõe. Esteve vai não vai para desanimar, face à falta de "matéria prima", mas não virou a cara, espremeu até à última gota o toiro. E reafirmou que é, de facto, um grande Toureiro, com argumentos de sobra para vencer todas as dificuldades, até mesmo o facto de não ter opositores à altura do seu grande valor. Já no fim da lide e ao cair do pano deixou dois bons ferros de palmo que entusiasmaram o conclave.

A noite, porém, ficou marcada pelo inequívoco triunfo de Miguel Moura, no terceiro da noite. Quarenta anos depois da revolução mourista, ontem um novo "Niño Moura" mandou na noite! Miguel esteve em plano de grande superioridade. Uma imensa maturidade, a forma e a atitude com que lidou, bregou, cravou, templou e rematou as sortes, deixaram o público em verdadeiro delírio e trouxeram à memória as noites de glória imortal vividas na antiga praça por seu pai nos anos de ouro. O primeiro comprido, o primeiro curto e o palmo com que fechou a atuação foram soberbos.

No sexto, a sorte de gaiola com que recebeu o toiro pôs o público de pé. Olé! O Coimbra foi bravo e não permitiu grandes desdizes. Miguel andou bem, mas aquém do que tinha feito no seu primeiro. Esteve bem na brega, os sites tiveram galhardia e partindo para o toiro com emoção, mas nem sempre as sortes foram tão brilhantes como sucedera no primeiro de seu lote.

Noite grande para os três grupos de forcados presentes no Campo Pequeno, fazendo a sua estreia na arena da capital o grupo de Arronches.

Abriu a corrida, pelo grupo de Portalegre, João Fragoso, que à segunda tentativa superou os problemas que o toiro lhe meteu por diante. Cara alta e uma investida bruta e dura. No quarto, o grupo da capital do Norte Alentejano mandou para a cara do toiro Ricardo Almeida que realizou uma boa pega ao primeiro intento.

Pelos Amadores de Arronches, saltou para a cara do Coimbra, Manuel Cardoso, cabo do grupo que realizou um pegão à primeira tentativa. Para a cara do quinto foi Fábio Mileu, que à segunda tentativa se fechou na cara do toiro.

O terceiro da noite foi pegado pelos Amadores de Monforte e o escolhido para ir à cara do Romão Tenório foi Nuno Toureiro, que ao primeiro intento realizou uma boa pega. Fechou a noite Pedro Peixoto pelos de Monforte à primeira tentativa.

No final da corrida foi lidado um novilho a pé por João Augusto Moura, sobrinho de Mestre João Moura. O novilho tinha o ferro Torre de Onofre. Teve tanta qualidade e nobreza, como falta de força, uma pena... João Augusto andou templado de capote, sempre tentado ajudar o seu oponente. Com a muleta nunca lhe pode baixar a mão, visto a justeza de forças do animal, mas andou a gosto mostrando a arte que leva dentro e o toureiro que é.

Dirigiu a corrida Pedro Reinhardt, assessorado pelo médico veterinário Moreira da Silva.

Síntese da corrida:

Corrida de toiros mista, 40 anos de alternativa de João Moura, que contou com a participação do seu filho Tomás Moura, de 9 anos, nas cortesias.

Ganadarias: Manuel Coimbra - Primeiro difícil, segundo a menos e sexto bravo; Romão Tenório - Nobre com classe e bravo o terceiro, nobre e a menos o quarto, com pouca casta o quinto.

Cavaleiros: João Moura (Ovação e Volta com chamada aos médios); João Moura Jr. (Volta e Volta); Miguel Moura (Volta e Volta); João Agusto Moura (Ovação)

Forcados: Amadores de Portalegre - João Fragoso (Volta) e Ricardo Almeida (Volta); Amadores de Arronches - Manuel Cardoso (Volta) e Fábio Miléu (Volta); Amadores de Monforte - Nuno Toureiro (Volta) e Pedro Peixoto (Volta)

Crónica de Miguel Ortega Cláudio sobre a corrida do Campo Pequeno, que aconteceu quinta-feira e na qual João Moura comemorou os 40 anos da sua Alternativa

| foto Fernando Henriques/Protoiro

Dia 7 de Junho de 2018, ambiente de festa, com muitos políticos (deputados e autarcas), caras conhecidas da televisão, figuras do toureio como são os casos do matador espanhol El Juli, de Ventura, de Telles, de Rui Fernandes e tantos outros. João Moura comemorou os 40 anos da sua Alternativa em Lisboa.

Apesar de uma boa lotação (quase 3/4 de casa), faltou a enchente que devia ter acontecido. O mau tempo e o futebol, porém, não são amigos dos toiros. Sobrou emoção e valor a toureiros e forcados diante do curro de toiros das ganadarias Manuel Coimbra e Francisco Romão Tenório.

Foram lidados toiros de duas ganadarias - Manuel Coimbra (1º, 2º e 6º) e Francisco Romão Tenório (3º, 4º e 5º) e de encastes bem distintos, respetivamente, Parladé e Murube.

Feio e difícil, o touro que abriu a corrida; Parado e a menos, o bonito segundo; Nobre e com muita classe, o que fez terceiro, superiormente apresentado; Uma estampa foi o quarto, também ele nobre e com classe, mas a menos; O quinto era grande e alto, teve pouco recorrido e transmitia muito pouco às bancadas; Bravo e bonito foi o que fechou a noite. Mais pesados, os de Murube com 638 kg, 592 kg e 616 kg; os de Coimbra deram na balança 58 5kg, 572 kg e 530 kg.

João Moura teve duas atuações distintas. Na primeira enfrentou um toiro complicado, que esperava muito no momento do ferro e que se orientou rapidamente. O Mestre andou com as devidas precauções, porque o Coimbra não estava lá para colaborar em nada para o triunfo. No seu segundo fez lembrar os tempos áureos do "niño prodígio", o génio, o Mestre, a perfeição, o tratar os toiros por tu e o sair sempre por cima. João Moura escreveu mais uma página no seu livro de glória, continua a escrevê-las com um saber único, a raça com que se supera a si próprio e com que inova. Uma brega envolvente, que oferece ao toiro a garupa ou a espádua do cavalo. Ladeia e galopa sem nunca lhe perder a cara, templa ao máximo as investidas até ganhar terreno para inverter a marcha, depois carrega a sorte e reúne em terrenos de compromisso. Assim foi a lide do quarto.

João Moura Jr. pôs "a carne toda no assador". Fez das tripas coração e rubricou, no complicado e reservado segundo Coimbra, uma lide com princípio, meio e fim, bem reveladora do momento alto que vive e da maturidade que atingiu como toureiro e lidador. O palmo com que fechou a atuação foi excelente e assim o viu o público que, de pé, despediu o cavaleiro. No quinto, um Romão Tenório com pouca transmissão, quis fazer tudo e nem sempre a sorte o acompanhou. Moura é um toureiro de casta, que se agiganta e se impõe. Esteve vai não vai para desanimar, face à falta de "matéria prima", mas não virou a cara, espremeu até à última gota o toiro. E reafirmou que é, de facto, um grande Toureiro, com argumentos de sobra para vencer todas as dificuldades, até mesmo o facto de não ter opositores à altura do seu grande valor. Já no fim da lide e ao cair do pano deixou dois bons ferros de palmo que entusiasmaram o conclave.

A noite, porém, ficou marcada pelo inequívoco triunfo de Miguel Moura, no terceiro da noite. Quarenta anos depois da revolução mourista, ontem um novo "Niño Moura" mandou na noite! Miguel esteve em plano de grande superioridade. Uma imensa maturidade, a forma e a atitude com que lidou, bregou, cravou, templou e rematou as sortes, deixaram o público em verdadeiro delírio e trouxeram à memória as noites de glória imortal vividas na antiga praça por seu pai nos anos de ouro. O primeiro comprido, o primeiro curto e o palmo com que fechou a atuação foram soberbos.

No sexto, a sorte de gaiola com que recebeu o toiro pôs o público de pé. Olé! O Coimbra foi bravo e não permitiu grandes desdizes. Miguel andou bem, mas aquém do que tinha feito no seu primeiro. Esteve bem na brega, os sites tiveram galhardia e partindo para o toiro com emoção, mas nem sempre as sortes foram tão brilhantes como sucedera no primeiro de seu lote.

Noite grande para os três grupos de forcados presentes no Campo Pequeno, fazendo a sua estreia na arena da capital o grupo de Arronches.

Abriu a corrida, pelo grupo de Portalegre, João Fragoso, que à segunda tentativa superou os problemas que o toiro lhe meteu por diante. Cara alta e uma investida bruta e dura. No quarto, o grupo da capital do Norte Alentejano mandou para a cara do toiro Ricardo Almeida que realizou uma boa pega ao primeiro intento.

Pelos Amadores de Arronches, saltou para a cara do Coimbra, Manuel Cardoso, cabo do grupo que realizou um pegão à primeira tentativa. Para a cara do quinto foi Fábio Mileu, que à segunda tentativa se fechou na cara do toiro.

O terceiro da noite foi pegado pelos Amadores de Monforte e o escolhido para ir à cara do Romão Tenório foi Nuno Toureiro, que ao primeiro intento realizou uma boa pega. Fechou a noite Pedro Peixoto pelos de Monforte à primeira tentativa.

No final da corrida foi lidado um novilho a pé por João Augusto Moura, sobrinho de Mestre João Moura. O novilho tinha o ferro Torre de Onofre. Teve tanta qualidade e nobreza, como falta de força, uma pena... João Augusto andou templado de capote, sempre tentado ajudar o seu oponente. Com a muleta nunca lhe pode baixar a mão, visto a justeza de forças do animal, mas andou a gosto mostrando a arte que leva dentro e o toureiro que é.

Dirigiu a corrida Pedro Reinhardt, assessorado pelo médico veterinário Moreira da Silva.

Síntese da corrida:

Corrida de toiros mista, 40 anos de alternativa de João Moura, que contou com a participação do seu filho Tomás Moura, de 9 anos, nas cortesias.

Ganadarias: Manuel Coimbra - Primeiro difícil, segundo a menos e sexto bravo; Romão Tenório - Nobre com classe e bravo o terceiro, nobre e a menos o quarto, com pouca casta o quinto.

Cavaleiros: João Moura (Ovação e Volta com chamada aos médios); João Moura Jr. (Volta e Volta); Miguel Moura (Volta e Volta); João Agusto Moura (Ovação)

Forcados: Amadores de Portalegre - João Fragoso (Volta) e Ricardo Almeida (Volta); Amadores de Arronches - Manuel Cardoso (Volta) e Fábio Miléu (Volta); Amadores de Monforte - Nuno Toureiro (Volta) e Pedro Peixoto (Volta)

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