José Luís Neto e a identidade pela arqueologia

07-01-2020
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«Depois desta provocação, comecemos então a discussão».
Assim se conclui a obra Túbal te fez – Arqueologia, património e cultura
periférica, de José Luís Neto, recentemente aparecida (Setúbal: Prima Folia,
2012), que, ao longo de uma introdução e de uma dúzia de capítulos, se passeia
por questões da identidade sadina, num percurso que decorre entre 1721, registo
de nascimento da Academia Problemática e Obscura de Setúbal, e 2007, data do
aparecimento da Prima Folia.

O contributo para esta identidade ressalta do mundo da
arqueologia, área e saber problematizado que ajuda a questionar verdades que
foram deixando de o ser ao longo do tempo porque também na arqueologia há
correntes, caminhos, modas.

José Luís Neto não esconde na nota introdutória a
sobrevalorização da perspectiva arqueológica que dominará o livro, seja porque
confessa analisar os arqueólogos que foram descobrindo Setúbal (e a sua obra),
seja porque decide criar uma teia em que a arqueologia se emaranha com os
poderes e com os cidadãos, seja porque segue o princípio de que esta área de
investigação concilia dois tempos – o passado sobre que se investiga e o
presente sob que se analisa.

Da junção de tais ingredientes ou princípios, só pode
sair uma leitura airosa e arejada sobre o que em Setúbal tem feito história,
questionando métodos, confrontando limites, passando os movimentos à lupa,
destacando as figuras que têm tentado descobrir a identidade setubalense,
insistindo na inscrição, necessária para que haja memória.

O título da obra parte, aliás, de uma tentativa de
interpretação das origens – Túbal, a personagem bíblica, associada à arca e ao
dilúvio. Não é que José Luís Neto vá por aí, mas é a associação de vários
saberes que não podem ser confrontados no sentido de uns anularem os outros,
antes de todos se complementarem. E pelo caminho vem também a história de
Cetóbriga, acentuada, de resto, com as escavações do século XIX. Duas interpretações
que não colidem, antes são apresentadas como sinais dos tempos em que foram
geradas como sinais de leitura explorados à saciedade.

Compreender o que tem sido a história desta terra
sadina ajuda a explicar os fenómenos de sucesso temporário, bem como os tempos
de insucesso que se lhes seguem, uma rotina que não é de agora, que não é
recente, que já polvilha as margens do Sado desde que é possível fazer
história, aí se mesclando indústria, comércio, religião, política,
internacionalizações, auges e declínios, algo que ajuda a compreender ainda a
miscigenação de populações que têm construído Setúbal desde sempre, não
faltando símbolos, sejam eles vultos da cultura local (Todi e Bocage são
incontornáveis) ou marcas deixadas na pedra e no património construído
(igualmente imprescindível é o Convento de Jesus, além de outros sítios como a
Fonte Nova, a Anunciada, Fontainhas, entre outros).

Esta leitura é um passeio pelas formas de
problematizar e fazer a história, algo que José Luís Neto só claramente diz
quase no final, assumindo reflectir «sobre a história da arqueologia sadina»,
sobre «conceitos como o da identidade local», embora andando na companhia de
nomes importantes na área da colecção de saberes ou da descoberta, como sejam
os de Almeida Carvalho, Arronches Junqueiro, Marques da Costa, Tavares da Silva
e muitos outros.

Túbal te
fez é um contributo importante para se ler a história de Setúbal, obra a ser vista
para que haja entendimento, não tanto certezas mas ligações das histórias em
que Setúbal navega àquelas que fazem mover o mundo, apesar de uma apresentação
gráfica que necessitaria de mais cuidado, de uma capa que pode induzir em
leituras pouco consentâneas com a riqueza de pensamento que por esta centena de
páginas se nos dá e de algumas informações que carecem de correcção ou, pelo
menos, de explicação (o Centro de Estudos Bocageanos, CEB, não nasceu do MAEDS,
Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, como é dado a
entender, antes promoveu algumas das suas actividades no espaço daquele Museu;
a LASA, Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, não pode ter nascido do Museu de
Setúbal, como é dito, uma vez que a LASA foi criada em 1955 e o Museu de
Setúbal foi instituído em 1961).

«Depois desta provocação, comecemos então a discussão».
Assim se conclui a obra Túbal te fez – Arqueologia, património e cultura
periférica, de José Luís Neto, recentemente aparecida (Setúbal: Prima Folia,
2012), que, ao longo de uma introdução e de uma dúzia de capítulos, se passeia
por questões da identidade sadina, num percurso que decorre entre 1721, registo
de nascimento da Academia Problemática e Obscura de Setúbal, e 2007, data do
aparecimento da Prima Folia.

O contributo para esta identidade ressalta do mundo da
arqueologia, área e saber problematizado que ajuda a questionar verdades que
foram deixando de o ser ao longo do tempo porque também na arqueologia há
correntes, caminhos, modas.

José Luís Neto não esconde na nota introdutória a
sobrevalorização da perspectiva arqueológica que dominará o livro, seja porque
confessa analisar os arqueólogos que foram descobrindo Setúbal (e a sua obra),
seja porque decide criar uma teia em que a arqueologia se emaranha com os
poderes e com os cidadãos, seja porque segue o princípio de que esta área de
investigação concilia dois tempos – o passado sobre que se investiga e o
presente sob que se analisa.

Da junção de tais ingredientes ou princípios, só pode
sair uma leitura airosa e arejada sobre o que em Setúbal tem feito história,
questionando métodos, confrontando limites, passando os movimentos à lupa,
destacando as figuras que têm tentado descobrir a identidade setubalense,
insistindo na inscrição, necessária para que haja memória.

O título da obra parte, aliás, de uma tentativa de
interpretação das origens – Túbal, a personagem bíblica, associada à arca e ao
dilúvio. Não é que José Luís Neto vá por aí, mas é a associação de vários
saberes que não podem ser confrontados no sentido de uns anularem os outros,
antes de todos se complementarem. E pelo caminho vem também a história de
Cetóbriga, acentuada, de resto, com as escavações do século XIX. Duas interpretações
que não colidem, antes são apresentadas como sinais dos tempos em que foram
geradas como sinais de leitura explorados à saciedade.

Compreender o que tem sido a história desta terra
sadina ajuda a explicar os fenómenos de sucesso temporário, bem como os tempos
de insucesso que se lhes seguem, uma rotina que não é de agora, que não é
recente, que já polvilha as margens do Sado desde que é possível fazer
história, aí se mesclando indústria, comércio, religião, política,
internacionalizações, auges e declínios, algo que ajuda a compreender ainda a
miscigenação de populações que têm construído Setúbal desde sempre, não
faltando símbolos, sejam eles vultos da cultura local (Todi e Bocage são
incontornáveis) ou marcas deixadas na pedra e no património construído
(igualmente imprescindível é o Convento de Jesus, além de outros sítios como a
Fonte Nova, a Anunciada, Fontainhas, entre outros).

Esta leitura é um passeio pelas formas de
problematizar e fazer a história, algo que José Luís Neto só claramente diz
quase no final, assumindo reflectir «sobre a história da arqueologia sadina»,
sobre «conceitos como o da identidade local», embora andando na companhia de
nomes importantes na área da colecção de saberes ou da descoberta, como sejam
os de Almeida Carvalho, Arronches Junqueiro, Marques da Costa, Tavares da Silva
e muitos outros.

Túbal te
fez é um contributo importante para se ler a história de Setúbal, obra a ser vista
para que haja entendimento, não tanto certezas mas ligações das histórias em
que Setúbal navega àquelas que fazem mover o mundo, apesar de uma apresentação
gráfica que necessitaria de mais cuidado, de uma capa que pode induzir em
leituras pouco consentâneas com a riqueza de pensamento que por esta centena de
páginas se nos dá e de algumas informações que carecem de correcção ou, pelo
menos, de explicação (o Centro de Estudos Bocageanos, CEB, não nasceu do MAEDS,
Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, como é dado a
entender, antes promoveu algumas das suas actividades no espaço daquele Museu;
a LASA, Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, não pode ter nascido do Museu de
Setúbal, como é dito, uma vez que a LASA foi criada em 1955 e o Museu de
Setúbal foi instituído em 1961).

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