Covid-19. Confinamento geral ou localizado? Os hospitais aguentam? As respostas dos especialistas às perguntas de Marcelo

01-12-2020
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Foram de Marcelo Rebelo de Sousa as primeiras perguntas feitas esta quinta-feira, no regresso das reuniões do Infarmed, que reúnem vários especialistas para que seja feito um retrato da evolução da pandemia de covid-19 em Portugal.

Começando por assinalar os dados positivos - "o R a descer ligeiramente e o tempo de duplicação de casos a subir até aos 26 dias” -, mas também os negativos - “o R acima de 1 e o próximo pico a chegar, ou no final de novembro ou no começo de dezembro” - revelados na reunião, o Presidente da República procurou prazos: da duração do processo de vacinação, mas também da ocorrência ou não de uma eventual terceira onda no início do próximo ano. Perguntou por linhas vermelhas: a partir de que nível sugerem os especialistas que se volte a adotar as "medidas extremas" de março? Mas também sobre escolas e sobre as medidas para concelhos em situações de gravidade diferentes. E as unidades de Cuidados Intensivos, aguentam?

No final, ainda antes de receber as respostas, deixou um sinal a Marta Temido. "Muito interessante esta iniciativa", disse sobre a reunião que assinalou o regresso dos encontros entre governantes e especialistas em saúde pública.

Todos em casa ou só alguns e nos concelhos 'vermelhos'?

Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, não vê "grande alternativa" ao cenário atual de medidas de restrição a nível local, mas frisa a importância de contar com as autoridades de saúde locais para definir regras específicas. “Estamos com um conjunto de medidas que considero intermédias, entre o não fazer nada e voltar à situação de março. Se não quisermos ir para a situação de março, e eu não defendo isso, sinceramente não vejo alternativa a uma situação muito parecida, idêntica ou com algumas variantes à que vivemos nesta altura", disse.

Sobre a transversalidade das medidas ao território nacional ou a adoção de medidas locais a resposta foi bem mais elucidativo. "Sempre defendi que utilizássemos uma faca cirúrgica e não uma romba, que toma o país como um todo. Sempre defendi níveis de risco, com uma definição clara de como se passa de um nível para o outro e uma tentativa de adaptar a cada concelho medidas gerais e específicas”.

O especialista sublinhou ainda a importância de olhar para outros indicadores, que não apenas o número de novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias, para definir os níveis de risco. “A aceleração com que os casos evoluem nas semanas anteriores é uma informação importante”, defendeu. Além disso, é preciso ter em conta a “vizinhança”, ou seja, a realidade dos concelhos envolventes e outra informação “mais difícil” de obter: as características dos surtos em cada concelho. “Combinar as quatro informações não é simples. E comunicá-las de forma percetível à população também não”, reconhece Carmo Gomes. “Há que fazer um refinamento das medidas de acordo com as realidades locais. E para isso é necessário contar com as autoridades de saúde locais que são quem conhece melhor a realidade.”

Pior foi a resposta sobre quanto tempo ainda teremos pela frente em situação de pandemia e sobre eventuais novos picos no início do próximo ano. “Se mantivermos a pressão, o R virá para baixo de 1 e se se mantiver a incidência começará a descer. Depois, depende do que fizermos. O R, como nós vimos, está sempre preparado para vir por aí acima.”

Os cuidados intensivos aguentam?

Por sua vez, coube a João Gouveia traçar o cenário das unidades de cuidados intensivos em Portugal. E a preocupação do Presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos é grande. "Estamos com 84% de taxa de ocupação das camas dedicadas à covid-19 e já em risco de não poder receber todos os doentes que precisem de medicina intensiva. É um valor com uma variedade regional enorme, temos unidades no Norte a 113% e outros com menos noutras zonas do país. Mas as que estão a 40% ou 60% são em serviços mais pequenos e por isso com menos camas”, alertou. Admitindo estar "muito preocupado", João Gouveia reconheceu que ainda há "almofada", mas que haverá um preço a pagar por isso: "Temos uma almofada, uma capacidade de extensão e podemos chegar às 967 camas, mas com sacrifício da assistência a outros doentes. E isso é uma fatura que vamos pagar mais tarde.”

“Estou convencido que vai haver uma terceira e uma quarta onda e que teremos um período de tempo em que vamos ter de conviver com este vírus. Não podemos manter o tipo de expansão que temos agora, reativo, porque não é compatível com uma atividade médica normal”, disse o responsável, lembrando, no entanto, que está em curso um projeto de expansão da capacidade nacional de cuidados intensivos. Para já, não estamos "em situação de catástrofe, ainda, mas estamos em rotura em muitos sítios”.

Vacinas para quando, a chegar a quantos e quanto tempo será preciso?

Coube a Rui Ivo, presidente do Infarmed, esclarecer as dúvidas sobre o processo de vacinação. Mas com mais expectativas que certezas. Caso tudo corra pelo melhor no desenvolvimento, autorização das vacinas, a expectativa é que no próximo verão já "um número muito significativo de pessoas" tenha sido vacinado.

"O fabrico das vacinas já está a acontecer”, lembrou Rui Ivo, defendendo que no começo do ano poderão estar “disponíveis algumas quantidades, não para todas as pessoas, mas para iniciar o processo". “Em janeiro podemos ter as primeiras doses de vacina e nessa altura teremos de olhar para os dados da agência europeia e perceber para onde as devemos dirigir”, apontou.

As escolas e universidades são ou não locais de menor contágio?

Henrique de Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), apresentou um estudo de caso sobre os fatores de risco para infeção por SARS-CoV-2 . Contudo, os dados que tem referem-se apenas a estudantes do Ensino Superior, como esclareceu na resposta às perguntas de Marcelo Rebelo de Sousa.

O estudo permitiu concluir que frequentar presencialmente as instituições de Ensino Superior não provocou um aumento de casos. Henrique de Barros sublinhou ainda que esse dado pode ainda ser conciliado com outros como os que indicam que o contágio dos casos identificados nas faculdades ocorreu fora do espaço da universidade.

Foram de Marcelo Rebelo de Sousa as primeiras perguntas feitas esta quinta-feira, no regresso das reuniões do Infarmed, que reúnem vários especialistas para que seja feito um retrato da evolução da pandemia de covid-19 em Portugal.

Começando por assinalar os dados positivos - "o R a descer ligeiramente e o tempo de duplicação de casos a subir até aos 26 dias” -, mas também os negativos - “o R acima de 1 e o próximo pico a chegar, ou no final de novembro ou no começo de dezembro” - revelados na reunião, o Presidente da República procurou prazos: da duração do processo de vacinação, mas também da ocorrência ou não de uma eventual terceira onda no início do próximo ano. Perguntou por linhas vermelhas: a partir de que nível sugerem os especialistas que se volte a adotar as "medidas extremas" de março? Mas também sobre escolas e sobre as medidas para concelhos em situações de gravidade diferentes. E as unidades de Cuidados Intensivos, aguentam?

No final, ainda antes de receber as respostas, deixou um sinal a Marta Temido. "Muito interessante esta iniciativa", disse sobre a reunião que assinalou o regresso dos encontros entre governantes e especialistas em saúde pública.

Todos em casa ou só alguns e nos concelhos 'vermelhos'?

Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, não vê "grande alternativa" ao cenário atual de medidas de restrição a nível local, mas frisa a importância de contar com as autoridades de saúde locais para definir regras específicas. “Estamos com um conjunto de medidas que considero intermédias, entre o não fazer nada e voltar à situação de março. Se não quisermos ir para a situação de março, e eu não defendo isso, sinceramente não vejo alternativa a uma situação muito parecida, idêntica ou com algumas variantes à que vivemos nesta altura", disse.

Sobre a transversalidade das medidas ao território nacional ou a adoção de medidas locais a resposta foi bem mais elucidativo. "Sempre defendi que utilizássemos uma faca cirúrgica e não uma romba, que toma o país como um todo. Sempre defendi níveis de risco, com uma definição clara de como se passa de um nível para o outro e uma tentativa de adaptar a cada concelho medidas gerais e específicas”.

O especialista sublinhou ainda a importância de olhar para outros indicadores, que não apenas o número de novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias, para definir os níveis de risco. “A aceleração com que os casos evoluem nas semanas anteriores é uma informação importante”, defendeu. Além disso, é preciso ter em conta a “vizinhança”, ou seja, a realidade dos concelhos envolventes e outra informação “mais difícil” de obter: as características dos surtos em cada concelho. “Combinar as quatro informações não é simples. E comunicá-las de forma percetível à população também não”, reconhece Carmo Gomes. “Há que fazer um refinamento das medidas de acordo com as realidades locais. E para isso é necessário contar com as autoridades de saúde locais que são quem conhece melhor a realidade.”

Pior foi a resposta sobre quanto tempo ainda teremos pela frente em situação de pandemia e sobre eventuais novos picos no início do próximo ano. “Se mantivermos a pressão, o R virá para baixo de 1 e se se mantiver a incidência começará a descer. Depois, depende do que fizermos. O R, como nós vimos, está sempre preparado para vir por aí acima.”

Os cuidados intensivos aguentam?

Por sua vez, coube a João Gouveia traçar o cenário das unidades de cuidados intensivos em Portugal. E a preocupação do Presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos é grande. "Estamos com 84% de taxa de ocupação das camas dedicadas à covid-19 e já em risco de não poder receber todos os doentes que precisem de medicina intensiva. É um valor com uma variedade regional enorme, temos unidades no Norte a 113% e outros com menos noutras zonas do país. Mas as que estão a 40% ou 60% são em serviços mais pequenos e por isso com menos camas”, alertou. Admitindo estar "muito preocupado", João Gouveia reconheceu que ainda há "almofada", mas que haverá um preço a pagar por isso: "Temos uma almofada, uma capacidade de extensão e podemos chegar às 967 camas, mas com sacrifício da assistência a outros doentes. E isso é uma fatura que vamos pagar mais tarde.”

“Estou convencido que vai haver uma terceira e uma quarta onda e que teremos um período de tempo em que vamos ter de conviver com este vírus. Não podemos manter o tipo de expansão que temos agora, reativo, porque não é compatível com uma atividade médica normal”, disse o responsável, lembrando, no entanto, que está em curso um projeto de expansão da capacidade nacional de cuidados intensivos. Para já, não estamos "em situação de catástrofe, ainda, mas estamos em rotura em muitos sítios”.

Vacinas para quando, a chegar a quantos e quanto tempo será preciso?

Coube a Rui Ivo, presidente do Infarmed, esclarecer as dúvidas sobre o processo de vacinação. Mas com mais expectativas que certezas. Caso tudo corra pelo melhor no desenvolvimento, autorização das vacinas, a expectativa é que no próximo verão já "um número muito significativo de pessoas" tenha sido vacinado.

"O fabrico das vacinas já está a acontecer”, lembrou Rui Ivo, defendendo que no começo do ano poderão estar “disponíveis algumas quantidades, não para todas as pessoas, mas para iniciar o processo". “Em janeiro podemos ter as primeiras doses de vacina e nessa altura teremos de olhar para os dados da agência europeia e perceber para onde as devemos dirigir”, apontou.

As escolas e universidades são ou não locais de menor contágio?

Henrique de Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), apresentou um estudo de caso sobre os fatores de risco para infeção por SARS-CoV-2 . Contudo, os dados que tem referem-se apenas a estudantes do Ensino Superior, como esclareceu na resposta às perguntas de Marcelo Rebelo de Sousa.

O estudo permitiu concluir que frequentar presencialmente as instituições de Ensino Superior não provocou um aumento de casos. Henrique de Barros sublinhou ainda que esse dado pode ainda ser conciliado com outros como os que indicam que o contágio dos casos identificados nas faculdades ocorreu fora do espaço da universidade.

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