A Europa, segundo Wolfgang Schäuble

10-12-2019
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(Nicolau Santos, in Expresso, 18/07/2015)

A
Europa não está só a mudar de pele. Está a transformar-se. É cada vez mais
evidente que coesão e solidariedade são palavras que ficaram pelo caminho. E
que a estabilidade na visão alemã estará sempre à frente das preocupações com o
crescimento dos países periféricos.

Os eixos do poder também se têm vindo a deslocar. O
Parlamento Europeu continua a contar pouco. A Comissão, sob a liderança de
Durão Barroso, eclipsou-se. Jean-Claude Juncker tenta agora tirá-la do baú para
onde foi remetida. François Hollande, juntamente com Matteo Renzi, deu um ar da
sua graça nas negociações com a Grécia. Mas é cada vez mais evidente que nada
se faz contra a vontade do Eurogrupo e do ministro alemão das Finanças,
Wolfgang Schäuble. O Eurogrupo tornou-se mesmo mais decisivo que o próprio
Conselho Europeu. Passou a determinar todas as grandes decisões económicas da
União, desde a aprovação prévia dos orçamentos nacionais até à vigilância sobre
a sua execução, passando pelos pedidos de ajuda. O Eurogrupo tem um presidente,
o socialista holandês Jeroen Dijsselbloem, que não passa de uma correia de
transmissão da vontade de Schäuble. O ministro finlandês das Finanças,
Alexander Stubb, grita esfola onde o seu colega alemão diz mata. E os
representantes dos países bálticos alinham pela liderança não-oficial do
Eurogrupo.

Ora, Schäuble está mais do que convencido que a Grécia
deve sair do euro. O choque contra Yanis Varoufakis deixou-o à beira de uma
apoplexia. E não acredita que Alexis Tsipras cumpra o brutal pacote de
austeridade que foi obrigado a assinar. Pensa que o fez apenas para tirar a
Grécia do enorme aperto financeiro em que se encontra, mas sem nenhuma
convicção, pelo que invocará tudo o que puder para não o aplicar. O papel que
deu entrada na reunião do Eurogrupo, propondo uma saída temporária da Grécia do
euro, veio da delegação alemã — e teve a sua concordância.
Agora, vem dizer que será difícil encontrar uma solução para um
empréstimo-ponte para a Grécia, de que o país precisa desesperadamente, no
quadro do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF). E passa a bola
para Atenas, defendendo que tem de ser Atenas a avançar com ideias para
resolver o problema.

Schäuble e Tsipras não acreditam no acordo. O ministro
das Finanças alemão quer a Grécia fora do euro. O acordo só adia o problema.

Mesmo que existam efetivamente problemas legais para
esse financiamento-ponte, o que há, em primeiro lugar, é uma enorme falta de
vontade política de Schäuble e dos seus apoiantes no Eurogrupo para resolver o
problema. Se Tsipras diz que assinou um acordo em que não acredita, Schäuble
podia ter dito exatamente o mesmo. Schäuble quer a Grécia fora do euro, ponto
final. E pensa que este acordo só adia o problema. Além disso, recusa qualquer
discussão sobre os mecanismos que faltam ao euro. E tem razão, porque este euro
beneficia a Alemanha e os países do norte e prejudica os periféricos do sul.
Deutschland über alles. A Europa está a germanizar-se, sob a batuta de
Schäuble. Não vai acabar bem.

Competência
no turismo

Há dois anos, Portugal estava na 20ª posição na lista
dos principais destinos turísticos do mundo, agora está no 15º posto e quer
chegar ao 10º lugar até 2020, de acordo com o plano estratégico para o turismo
até 2020. A ambição é louvável (embora Durão Barroso tenha apontado também para
aí quando foi primeiro-ministro, entre 2002 e 2004), mas parece agora
plausível. Primeiro, porque a situação internacional, com grande instabilidade
no norte de África, nos favorece. Segundo, porque os operadores em geral e os
grupos turísticos nacionais estão hoje muito mais estruturados e competitivos
(nomeadamente Pestana, Vila Galé e Porto Bay). Terceiro, porque com a crise os
preços jogam a nosso favor. Quarto porque o sector conta com um excelente
secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes e com um igualmente
muito competente presidente do Instituto de Turismo de Portugal, João Cotrim de
Figueiredo. Com o relevo do sector na economia nacional, é fundamental que ele
esteja em boas mãos.

Torturem
os números

Na entrevista à SIC, Passos Coelho disse que as contas
do memorando original estavam erradas e que os défices foram muito superiores.
Bom, o que fez disparar o défice de 2011 para 8,6% foi o impacto em março do
BPN, BPP e três PPP. Sem isso, o défice seria de 6,8%, abaixo dos 7,3%
previstos, afirma o INE. Em abril, subiu para 9,1% por causa de mais três PPP e
depois, em dezembro, para 9,8% por causa da Madeira. Ora, o memorando foi
negociado antes de tudo isto acontecer. Torturem os números mas não a nossa
inteligência.

Não há
papel (comercial)

Há coisas que estão escritas nas estrelas — e uma
delas é que o Banco de Portugal nunca permitirá
que o Novo Banco seja chamado a ressarcir um cêntimo que seja das aplicações
feitas em papel comercial do Grupo Espírito Santo aos balcões do BES. Não se
trata de questões legais decorrentes da resolução do BES. Trata-se mesmo do
governador do BdP, Carlos Costa, salvar a pele neste processo. E isso implica
que o Novo Banco seja vendido por um valor o mais aproximado possível dos €3900
milhões com que foi capitalizado o Novo Banco, através do Fundo de Resolução.
Tudo o que seja acima dos 3000 milhões é aceitável, abaixo disso é um desastre
para os outros grandes bancos do sistema (que vão pagar o calote) — só
evitável através de um perdão encapotado da dívida por parte do Governo. Por
isso, bem prega o presidente da CMVM, Carlos Tavares. Está a perder tempo. Uma
decisão a favor dos lesado é contrária aos interesses de Costa e do Governo. E
contra eles o que valem 2000 cidadãos anónimos?

Fonte: Estátua de Sal

(Nicolau Santos, in Expresso, 18/07/2015)

A
Europa não está só a mudar de pele. Está a transformar-se. É cada vez mais
evidente que coesão e solidariedade são palavras que ficaram pelo caminho. E
que a estabilidade na visão alemã estará sempre à frente das preocupações com o
crescimento dos países periféricos.

Os eixos do poder também se têm vindo a deslocar. O
Parlamento Europeu continua a contar pouco. A Comissão, sob a liderança de
Durão Barroso, eclipsou-se. Jean-Claude Juncker tenta agora tirá-la do baú para
onde foi remetida. François Hollande, juntamente com Matteo Renzi, deu um ar da
sua graça nas negociações com a Grécia. Mas é cada vez mais evidente que nada
se faz contra a vontade do Eurogrupo e do ministro alemão das Finanças,
Wolfgang Schäuble. O Eurogrupo tornou-se mesmo mais decisivo que o próprio
Conselho Europeu. Passou a determinar todas as grandes decisões económicas da
União, desde a aprovação prévia dos orçamentos nacionais até à vigilância sobre
a sua execução, passando pelos pedidos de ajuda. O Eurogrupo tem um presidente,
o socialista holandês Jeroen Dijsselbloem, que não passa de uma correia de
transmissão da vontade de Schäuble. O ministro finlandês das Finanças,
Alexander Stubb, grita esfola onde o seu colega alemão diz mata. E os
representantes dos países bálticos alinham pela liderança não-oficial do
Eurogrupo.

Ora, Schäuble está mais do que convencido que a Grécia
deve sair do euro. O choque contra Yanis Varoufakis deixou-o à beira de uma
apoplexia. E não acredita que Alexis Tsipras cumpra o brutal pacote de
austeridade que foi obrigado a assinar. Pensa que o fez apenas para tirar a
Grécia do enorme aperto financeiro em que se encontra, mas sem nenhuma
convicção, pelo que invocará tudo o que puder para não o aplicar. O papel que
deu entrada na reunião do Eurogrupo, propondo uma saída temporária da Grécia do
euro, veio da delegação alemã — e teve a sua concordância.
Agora, vem dizer que será difícil encontrar uma solução para um
empréstimo-ponte para a Grécia, de que o país precisa desesperadamente, no
quadro do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF). E passa a bola
para Atenas, defendendo que tem de ser Atenas a avançar com ideias para
resolver o problema.

Schäuble e Tsipras não acreditam no acordo. O ministro
das Finanças alemão quer a Grécia fora do euro. O acordo só adia o problema.

Mesmo que existam efetivamente problemas legais para
esse financiamento-ponte, o que há, em primeiro lugar, é uma enorme falta de
vontade política de Schäuble e dos seus apoiantes no Eurogrupo para resolver o
problema. Se Tsipras diz que assinou um acordo em que não acredita, Schäuble
podia ter dito exatamente o mesmo. Schäuble quer a Grécia fora do euro, ponto
final. E pensa que este acordo só adia o problema. Além disso, recusa qualquer
discussão sobre os mecanismos que faltam ao euro. E tem razão, porque este euro
beneficia a Alemanha e os países do norte e prejudica os periféricos do sul.
Deutschland über alles. A Europa está a germanizar-se, sob a batuta de
Schäuble. Não vai acabar bem.

Competência
no turismo

Há dois anos, Portugal estava na 20ª posição na lista
dos principais destinos turísticos do mundo, agora está no 15º posto e quer
chegar ao 10º lugar até 2020, de acordo com o plano estratégico para o turismo
até 2020. A ambição é louvável (embora Durão Barroso tenha apontado também para
aí quando foi primeiro-ministro, entre 2002 e 2004), mas parece agora
plausível. Primeiro, porque a situação internacional, com grande instabilidade
no norte de África, nos favorece. Segundo, porque os operadores em geral e os
grupos turísticos nacionais estão hoje muito mais estruturados e competitivos
(nomeadamente Pestana, Vila Galé e Porto Bay). Terceiro, porque com a crise os
preços jogam a nosso favor. Quarto porque o sector conta com um excelente
secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes e com um igualmente
muito competente presidente do Instituto de Turismo de Portugal, João Cotrim de
Figueiredo. Com o relevo do sector na economia nacional, é fundamental que ele
esteja em boas mãos.

Torturem
os números

Na entrevista à SIC, Passos Coelho disse que as contas
do memorando original estavam erradas e que os défices foram muito superiores.
Bom, o que fez disparar o défice de 2011 para 8,6% foi o impacto em março do
BPN, BPP e três PPP. Sem isso, o défice seria de 6,8%, abaixo dos 7,3%
previstos, afirma o INE. Em abril, subiu para 9,1% por causa de mais três PPP e
depois, em dezembro, para 9,8% por causa da Madeira. Ora, o memorando foi
negociado antes de tudo isto acontecer. Torturem os números mas não a nossa
inteligência.

Não há
papel (comercial)

Há coisas que estão escritas nas estrelas — e uma
delas é que o Banco de Portugal nunca permitirá
que o Novo Banco seja chamado a ressarcir um cêntimo que seja das aplicações
feitas em papel comercial do Grupo Espírito Santo aos balcões do BES. Não se
trata de questões legais decorrentes da resolução do BES. Trata-se mesmo do
governador do BdP, Carlos Costa, salvar a pele neste processo. E isso implica
que o Novo Banco seja vendido por um valor o mais aproximado possível dos €3900
milhões com que foi capitalizado o Novo Banco, através do Fundo de Resolução.
Tudo o que seja acima dos 3000 milhões é aceitável, abaixo disso é um desastre
para os outros grandes bancos do sistema (que vão pagar o calote) — só
evitável através de um perdão encapotado da dívida por parte do Governo. Por
isso, bem prega o presidente da CMVM, Carlos Tavares. Está a perder tempo. Uma
decisão a favor dos lesado é contrária aos interesses de Costa e do Governo. E
contra eles o que valem 2000 cidadãos anónimos?

Fonte: Estátua de Sal

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