As causas. Vender a alma aos radicais contra o Bloco Central. A caminho da cauda da Europa

01-09-2020
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DE COSTAS VOLTADAS, PS E PSD NEGOCEIAM COM RADICAIS

Na passada semana tentei explicar as razões que justificariam um governo de bloco central nesta conjuntura.

A resposta não se fez tardar: António Costa e Rui Rio foram de imediato muito claros, nenhum deles sequer admite essa possibilidade.

Assunto encerrado? Veremos no futuro.

Mas hoje o que me interessa realçar são dois factos: por um lado, esta semana António Costa acelerou as negociações com o BE e o PCP para um acordo de renovação da geringonça; pelo outro, Rui Rio admitiu também esta semana e de forma clara acordos eleitorais com o Chega se este se moderar, seja lá o que isso for.

Em ambos os casos, os potenciais parceiros radicais subiram de imediato a parada nas suas exigências, o que é normal sempre que o mais forte precisa do mais fraco e este sente que vive uma conjuntura que lhe pode ser mais favorável se não negociar.

Ou seja, os possíveis acordos têm um preço elevado para os partidos centrais do sistema político.

No caso do PS, o preço de aceitar agora uma viragem à esquerda que recusou na primeira legislatura. E isso apesar da queda maior de sempre do PIB (que no início de março até um não especialista como eu foi capaz de prever), do desemprego a explodir, do investimento privado a reduzir, das empresas português fragilizadas e de prováveis condicionalismos do dinheiro europeu que dificultarão ceder ao BE (do PCP falarei a seguir).

No caso do PSD, o preço da aceitação de ideias, estilos e propostas muito radicais do Chega contra as quais reage a esmagadora maioria dos portugueses, que são profusamente hostis ao Chega em todo o espectro político.

A BIPOLARIZAÇÃO AO CENTRO NÃO É ISTO

A motivação essencial da minha defesa da bipolarização em 1978 (e que levou Sá Carneiro a sugerir-me que conversássemos sobre o tema no início de 1979) era:

provocar condições reais para a alternância (essencial ao sistema democrático) quando o PS vivia um período em que sonhava em se tornar no “partido natural de governo”, o que eu chamava um projeto de “mexicanização” do regime político (e que - com a minha constante crítica - o “cavaquismo” mais tarde também tentou); fazer integrar na “tenda democrática” os setores mais radicais da sociedade à Direita e à Esquerda, através da aceitação da liderança política e estratégica dos partidos mais moderados de cada lado; diminuir as condições para a corrupção e o clientelismo que estavam a destruir a Itália com a eternização da aliança entre democratas-cristãos e socialistas.

A bipolarização que o PS e o PSD nos preparam hoje nada tem a ver com isto: nem o Chega é o CDS de Freitas do Amaral, Amaro da Costa e Lucas Pires, nem o BE fez a evolução para o realismo e a moderação que – se o fizesse – eu saudaria por razões sistémicas e permitiria sem problemas graves uma aliança com o PS.

E a conjuntura no final dos anos 70 não é comparável à atual. Não tenho tempo de aprofundar o tema, mas basta dizer que não havia nada na política à Direita do CDS que não fossem grupúsculos mais ou menos saudosistas, e à esquerda os trotskistas e maoístas eram pequenas seitas sem expressão eleitoral, pelo que tudo se passaria entre 4 partidos, dois de cada lado do centro “geométrico”.

E, sobretudo, o PS e o PSD tinham quadros qualificados, adesão de elites, implantação no território, energia vital. E sabia-se que, depois de anos de crise, o destino era a integração europeia vista como um oásis.

Agora a bipolarização reforça os extremos e vai contra os objetivos que fizeram a primeira com a AD em 1979 e destrói o grande objetivo da esmagadora maioria do eleitorado que não quer alianças com populistas.

DINHEIRO EM CIMA DOS PROBLEMAS

Esta nova bipolarização radicalizante é má, mas há pior do que esta tendência para o domínio crescente das agendas radicais à Esquerda e à Direita.

Li, no Expresso deste fim de semana, que o PS agora acha que pode fazer um acordo à Esquerda porque há dinheiro a chegar e com ele (e apesar da pandemia e seus efeitos económicos) passa a ser viável o que antes era impossível (sem pandemia e com a economia a avançar)!

Sobre isso há que ler no mesmo jornal do passado sábado o corajoso editorial de João Vieira Pereira e uma magnífica entrevista a Joaquim Miranda Sarmento, que está a revelar qualidades políticas que (meu erro) eu nunca vira e que – não apenas como Presidente do Conselho Estratégico do PSD – se está a revelar como o nº 2 de Rui Rio.

Os sinais são claros: o dinheiro da Europa corre o risco de servir apenas para ser deitado em cima dos problemas e, quando isso acontece e cito Sarmento, então “uma das duas coisas desaparece – raramente são os problemas”.

Esta estratégia permitirá que o BE aceda ao poder sem pagar o preço de se moderar, e enrola o PS numa estratégia radical que não faz reféns. Pode provocar uma cisão no PS (como em 1979 a solução Pintasilgo ajudou a aproximar de Sá Carneiro e da Aliança Democrática parte do centro-esquerda). Mas, mais do que tudo, o preço para o País nesta altura será devastador.

E O PCP NO MEIO DISTO?

Parece que o PCP não estará disposto a apoiar o PS. Não me admira.

Uma das qualidades do PCP é não olhar apenas o dia seguinte e não ser facilmente seduzível por cantos de sereia.

Com muito dinheiro da Europa, pode iludir-se a degradação de Portugal, mas nada muda.

Antes da pandemia estávamos a “avançar” gradualmente para a cauda da Europa. Agora tudo acelera: desde logo pelos efeitos da pandemia na indústria do turismo (queda de 80% em junho se comparado com 2019 e mais de 90% nos estrangeiros) e em tudo o que gira à volta dela vão acelerar esse processo.

É que a indústria do turismo está para Portugal como a indústria financeira está para Londres ou a indústria tecnológica para a Califórnia. Não há dinheiro que a salve se uma vacina não fizer regressar as viagens aéreas de lazer.

Vamos ter uma catástrofe social nesse setor que tem amplas zonas com mão de obra muito pouco protegida e que precisa de uma força política que a defenda. Eles são os mais desfavorecidos e, com outros, vão ser o terreno de combate entre o PCP e o Chega.

O PCP está entrincheirado na defesa do setor público da economia e tem deixado livre o restante terreno. Não era grave, pois não tinha concorrência. Agora vai haver combate.

E será um combate feroz, pois tem a ver com a função tribunícia (essencial desde os tempos do Império Romano) que no passado século foi na Europa a função dos partidos comunistas.

Na Europa mais rica os comunistas não souberam ou não quiseram evoluir para os novos desafios e os novos proletariados. Perderam para os partidos populistas de Direita essa função, por exemplo em França, Itália e Espanha onde eram o tribunato da plebe, que Karl Loewenstein explicou como ninguém.

O grande desafio atual do PCP não passa por integrar o quadro do poder, mas reforçar-se como contrapoder. E prefiro que seja o PCP em vez do Chega que tenha esse papel. O que talvez um dia explique mais em pormenor.

A CAMINHO DA CAUDA DA EUROPA

As previsões da queda do PIB confirmaram-se. Somos o 2º país europeu que mais quebra em relação ao 1º trimestre (pior só a Espanha) e o 4º em relação ao mês homólogo de 2019.

Os três piores (Espanha, Itália e França) são muito mais sólidos, desenvolvidos e pela sua dimensão têm economias mais diversificadas.

O efeito é óbvio: vamos cair mais rapidamente para a cauda da Europa, mas sem a “vantagem” da desvalorização da moeda que atrai investimento, ao contrário de 5 dos que estão piores do que nós.

E enfrentamos essa derrocada com impostos sobre o rendimento que são os mais elevados da Europa: a taxa marginal é a 25ª mais alta em 26 registadas (pior só a Eslovénia) e começa para rendimento de 80 000 euros anuais, sem deduções, o que é a situação pior da Europa.

No ano passado havia 7 países piores do que Portugal na Europa. Na queda para a cauda da Europa, as previsões anteriores ao Covid 19 eram que até 2024 Portugal fosse ultrapassado pela Hungria, Roménia, Polónia e Letónia, e até 2031 pela Croácia e pela Grécia, ficando como o segundo país mais pobre da UE, só à frente da Bulgária.

Mas com a pandemia tudo acelerou. Por exemplo, a Letónia caiu apenas pouco mais de metade de Portugal e exceto a Grécia e a Croácia não vivem do turismo e todos estão mais perto do centro da Europa.

Tudo isto nos deveria fazer pensar se alianças com o BE e com o Chega é o que interessa à esmagadora maioria dos portugueses e ao nosso futuro. Veremos se a lucidez regressa com o agravar previsível da evolução nos próximos meses.

ELOGIO

Ontem pela primeira vez não morreu ninguém com Covid 19, e o número de infetados diário está pouco acima de 100. O elogio é devido à equipa do Ministério da Saúde.

Critiquei aqui muitas vezes os erros da equipa. Mas erros todos cometemos. Aprender com eles é que nem sempre é fácil. Deus queira que seja um momento de viragem.

Mas atenção: o Público revela hoje o aumento enorme de mortos que não de Covid em julho (há 12 anos que não morria tanta gente) e a DGS diz que foi por causa de duas vagas de calor. Ninguém quer fazer mea culpa de não ter havido uma estratégia de saúde pública para outras doenças (e em julho morreram 156 pessoas com covid 19 num total de 10390, ou seja 1,5% do total!).

LER É O MELHOR REMÉDIO

Uma entrevista, ao Diário de Notícias de sábado, do CEO e creio que principal acionista da tecnológica “WeDo”, Rui Paiva, que mostra preocupação com a aplicação dos fundos europeus e revela crescimento superior a 30% da “WeDo”, apesar da pandemia.

Uma lufada de ar fresco, um empresário a dar a cara, um sinal de esperança. E uma inteligente provocação: “Se eu fosse o primeiro-ministro trazia os holandeses que nos criticam para virem ajudar a aplicar os fundos europeus”.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

Há 10 dias, o advogado e membro do Iniciativa Liberal (IL), Tiago Mayan Gonçalves, anunciou a candidatura à Presidência da República, que fonte anónima desse partido apoiou numa curta declaração.

No entanto o site da IL não tem a mais leve referência ao que, visto de fora, deveria ser um momento importante do partido.

Acresce que o Presidente da IL, João Cotrim de Figueiredo, parece desaparecido em combate e, mais curioso, não encontro nenhuma declaração dele sobre o tema e ainda menos a apoiar o candidato.

A pergunta é óbvia: depois do Livre e do PAN chegou a vez de uma cisão na IL?

A LOUCURA MANSA

O Secretário de Estado João Galamba é um prosélito de apoios maciços do dinheiro europeu para a produção de hidrogénio. Nada contra, pode ou não fazer sentido, mas não é disso que quero falar.

Essa política foi criticada por um grupo de personalidades, entre os quais o Professor Pedro Nunes, que no exercício da sua liberdade de expressão – com ou sem razão, não faço ideia porque ainda não estudei o tema (o que ando a tentar fazer) - disse que com isso “Quem vai ser roubado são os contribuintes” e que “os beneficiados vão ser os suspeitos do costume, entre os quais a EDP” (que é uma bête noir de Pedro Nunes há anos).

Galamba reagiu “tweetando à la Trump” e chamando “aldrabão encartado” e “um mentiroso do pior” ao seu crítico. Discípulo de Pedro Nuno Santos na política, segue as pisadas do Ministro, apesar deste à sua custa já ter percebido que um governante quando insulta está objetivamente a tentar atemorizar e condicionar o discurso crítico. Uma loucura escusada, realmente.

DE COSTAS VOLTADAS, PS E PSD NEGOCEIAM COM RADICAIS

Na passada semana tentei explicar as razões que justificariam um governo de bloco central nesta conjuntura.

A resposta não se fez tardar: António Costa e Rui Rio foram de imediato muito claros, nenhum deles sequer admite essa possibilidade.

Assunto encerrado? Veremos no futuro.

Mas hoje o que me interessa realçar são dois factos: por um lado, esta semana António Costa acelerou as negociações com o BE e o PCP para um acordo de renovação da geringonça; pelo outro, Rui Rio admitiu também esta semana e de forma clara acordos eleitorais com o Chega se este se moderar, seja lá o que isso for.

Em ambos os casos, os potenciais parceiros radicais subiram de imediato a parada nas suas exigências, o que é normal sempre que o mais forte precisa do mais fraco e este sente que vive uma conjuntura que lhe pode ser mais favorável se não negociar.

Ou seja, os possíveis acordos têm um preço elevado para os partidos centrais do sistema político.

No caso do PS, o preço de aceitar agora uma viragem à esquerda que recusou na primeira legislatura. E isso apesar da queda maior de sempre do PIB (que no início de março até um não especialista como eu foi capaz de prever), do desemprego a explodir, do investimento privado a reduzir, das empresas português fragilizadas e de prováveis condicionalismos do dinheiro europeu que dificultarão ceder ao BE (do PCP falarei a seguir).

No caso do PSD, o preço da aceitação de ideias, estilos e propostas muito radicais do Chega contra as quais reage a esmagadora maioria dos portugueses, que são profusamente hostis ao Chega em todo o espectro político.

A BIPOLARIZAÇÃO AO CENTRO NÃO É ISTO

A motivação essencial da minha defesa da bipolarização em 1978 (e que levou Sá Carneiro a sugerir-me que conversássemos sobre o tema no início de 1979) era:

provocar condições reais para a alternância (essencial ao sistema democrático) quando o PS vivia um período em que sonhava em se tornar no “partido natural de governo”, o que eu chamava um projeto de “mexicanização” do regime político (e que - com a minha constante crítica - o “cavaquismo” mais tarde também tentou); fazer integrar na “tenda democrática” os setores mais radicais da sociedade à Direita e à Esquerda, através da aceitação da liderança política e estratégica dos partidos mais moderados de cada lado; diminuir as condições para a corrupção e o clientelismo que estavam a destruir a Itália com a eternização da aliança entre democratas-cristãos e socialistas.

A bipolarização que o PS e o PSD nos preparam hoje nada tem a ver com isto: nem o Chega é o CDS de Freitas do Amaral, Amaro da Costa e Lucas Pires, nem o BE fez a evolução para o realismo e a moderação que – se o fizesse – eu saudaria por razões sistémicas e permitiria sem problemas graves uma aliança com o PS.

E a conjuntura no final dos anos 70 não é comparável à atual. Não tenho tempo de aprofundar o tema, mas basta dizer que não havia nada na política à Direita do CDS que não fossem grupúsculos mais ou menos saudosistas, e à esquerda os trotskistas e maoístas eram pequenas seitas sem expressão eleitoral, pelo que tudo se passaria entre 4 partidos, dois de cada lado do centro “geométrico”.

E, sobretudo, o PS e o PSD tinham quadros qualificados, adesão de elites, implantação no território, energia vital. E sabia-se que, depois de anos de crise, o destino era a integração europeia vista como um oásis.

Agora a bipolarização reforça os extremos e vai contra os objetivos que fizeram a primeira com a AD em 1979 e destrói o grande objetivo da esmagadora maioria do eleitorado que não quer alianças com populistas.

DINHEIRO EM CIMA DOS PROBLEMAS

Esta nova bipolarização radicalizante é má, mas há pior do que esta tendência para o domínio crescente das agendas radicais à Esquerda e à Direita.

Li, no Expresso deste fim de semana, que o PS agora acha que pode fazer um acordo à Esquerda porque há dinheiro a chegar e com ele (e apesar da pandemia e seus efeitos económicos) passa a ser viável o que antes era impossível (sem pandemia e com a economia a avançar)!

Sobre isso há que ler no mesmo jornal do passado sábado o corajoso editorial de João Vieira Pereira e uma magnífica entrevista a Joaquim Miranda Sarmento, que está a revelar qualidades políticas que (meu erro) eu nunca vira e que – não apenas como Presidente do Conselho Estratégico do PSD – se está a revelar como o nº 2 de Rui Rio.

Os sinais são claros: o dinheiro da Europa corre o risco de servir apenas para ser deitado em cima dos problemas e, quando isso acontece e cito Sarmento, então “uma das duas coisas desaparece – raramente são os problemas”.

Esta estratégia permitirá que o BE aceda ao poder sem pagar o preço de se moderar, e enrola o PS numa estratégia radical que não faz reféns. Pode provocar uma cisão no PS (como em 1979 a solução Pintasilgo ajudou a aproximar de Sá Carneiro e da Aliança Democrática parte do centro-esquerda). Mas, mais do que tudo, o preço para o País nesta altura será devastador.

E O PCP NO MEIO DISTO?

Parece que o PCP não estará disposto a apoiar o PS. Não me admira.

Uma das qualidades do PCP é não olhar apenas o dia seguinte e não ser facilmente seduzível por cantos de sereia.

Com muito dinheiro da Europa, pode iludir-se a degradação de Portugal, mas nada muda.

Antes da pandemia estávamos a “avançar” gradualmente para a cauda da Europa. Agora tudo acelera: desde logo pelos efeitos da pandemia na indústria do turismo (queda de 80% em junho se comparado com 2019 e mais de 90% nos estrangeiros) e em tudo o que gira à volta dela vão acelerar esse processo.

É que a indústria do turismo está para Portugal como a indústria financeira está para Londres ou a indústria tecnológica para a Califórnia. Não há dinheiro que a salve se uma vacina não fizer regressar as viagens aéreas de lazer.

Vamos ter uma catástrofe social nesse setor que tem amplas zonas com mão de obra muito pouco protegida e que precisa de uma força política que a defenda. Eles são os mais desfavorecidos e, com outros, vão ser o terreno de combate entre o PCP e o Chega.

O PCP está entrincheirado na defesa do setor público da economia e tem deixado livre o restante terreno. Não era grave, pois não tinha concorrência. Agora vai haver combate.

E será um combate feroz, pois tem a ver com a função tribunícia (essencial desde os tempos do Império Romano) que no passado século foi na Europa a função dos partidos comunistas.

Na Europa mais rica os comunistas não souberam ou não quiseram evoluir para os novos desafios e os novos proletariados. Perderam para os partidos populistas de Direita essa função, por exemplo em França, Itália e Espanha onde eram o tribunato da plebe, que Karl Loewenstein explicou como ninguém.

O grande desafio atual do PCP não passa por integrar o quadro do poder, mas reforçar-se como contrapoder. E prefiro que seja o PCP em vez do Chega que tenha esse papel. O que talvez um dia explique mais em pormenor.

A CAMINHO DA CAUDA DA EUROPA

As previsões da queda do PIB confirmaram-se. Somos o 2º país europeu que mais quebra em relação ao 1º trimestre (pior só a Espanha) e o 4º em relação ao mês homólogo de 2019.

Os três piores (Espanha, Itália e França) são muito mais sólidos, desenvolvidos e pela sua dimensão têm economias mais diversificadas.

O efeito é óbvio: vamos cair mais rapidamente para a cauda da Europa, mas sem a “vantagem” da desvalorização da moeda que atrai investimento, ao contrário de 5 dos que estão piores do que nós.

E enfrentamos essa derrocada com impostos sobre o rendimento que são os mais elevados da Europa: a taxa marginal é a 25ª mais alta em 26 registadas (pior só a Eslovénia) e começa para rendimento de 80 000 euros anuais, sem deduções, o que é a situação pior da Europa.

No ano passado havia 7 países piores do que Portugal na Europa. Na queda para a cauda da Europa, as previsões anteriores ao Covid 19 eram que até 2024 Portugal fosse ultrapassado pela Hungria, Roménia, Polónia e Letónia, e até 2031 pela Croácia e pela Grécia, ficando como o segundo país mais pobre da UE, só à frente da Bulgária.

Mas com a pandemia tudo acelerou. Por exemplo, a Letónia caiu apenas pouco mais de metade de Portugal e exceto a Grécia e a Croácia não vivem do turismo e todos estão mais perto do centro da Europa.

Tudo isto nos deveria fazer pensar se alianças com o BE e com o Chega é o que interessa à esmagadora maioria dos portugueses e ao nosso futuro. Veremos se a lucidez regressa com o agravar previsível da evolução nos próximos meses.

ELOGIO

Ontem pela primeira vez não morreu ninguém com Covid 19, e o número de infetados diário está pouco acima de 100. O elogio é devido à equipa do Ministério da Saúde.

Critiquei aqui muitas vezes os erros da equipa. Mas erros todos cometemos. Aprender com eles é que nem sempre é fácil. Deus queira que seja um momento de viragem.

Mas atenção: o Público revela hoje o aumento enorme de mortos que não de Covid em julho (há 12 anos que não morria tanta gente) e a DGS diz que foi por causa de duas vagas de calor. Ninguém quer fazer mea culpa de não ter havido uma estratégia de saúde pública para outras doenças (e em julho morreram 156 pessoas com covid 19 num total de 10390, ou seja 1,5% do total!).

LER É O MELHOR REMÉDIO

Uma entrevista, ao Diário de Notícias de sábado, do CEO e creio que principal acionista da tecnológica “WeDo”, Rui Paiva, que mostra preocupação com a aplicação dos fundos europeus e revela crescimento superior a 30% da “WeDo”, apesar da pandemia.

Uma lufada de ar fresco, um empresário a dar a cara, um sinal de esperança. E uma inteligente provocação: “Se eu fosse o primeiro-ministro trazia os holandeses que nos criticam para virem ajudar a aplicar os fundos europeus”.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

Há 10 dias, o advogado e membro do Iniciativa Liberal (IL), Tiago Mayan Gonçalves, anunciou a candidatura à Presidência da República, que fonte anónima desse partido apoiou numa curta declaração.

No entanto o site da IL não tem a mais leve referência ao que, visto de fora, deveria ser um momento importante do partido.

Acresce que o Presidente da IL, João Cotrim de Figueiredo, parece desaparecido em combate e, mais curioso, não encontro nenhuma declaração dele sobre o tema e ainda menos a apoiar o candidato.

A pergunta é óbvia: depois do Livre e do PAN chegou a vez de uma cisão na IL?

A LOUCURA MANSA

O Secretário de Estado João Galamba é um prosélito de apoios maciços do dinheiro europeu para a produção de hidrogénio. Nada contra, pode ou não fazer sentido, mas não é disso que quero falar.

Essa política foi criticada por um grupo de personalidades, entre os quais o Professor Pedro Nunes, que no exercício da sua liberdade de expressão – com ou sem razão, não faço ideia porque ainda não estudei o tema (o que ando a tentar fazer) - disse que com isso “Quem vai ser roubado são os contribuintes” e que “os beneficiados vão ser os suspeitos do costume, entre os quais a EDP” (que é uma bête noir de Pedro Nunes há anos).

Galamba reagiu “tweetando à la Trump” e chamando “aldrabão encartado” e “um mentiroso do pior” ao seu crítico. Discípulo de Pedro Nuno Santos na política, segue as pisadas do Ministro, apesar deste à sua custa já ter percebido que um governante quando insulta está objetivamente a tentar atemorizar e condicionar o discurso crítico. Uma loucura escusada, realmente.

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