O regresso às aulas de Marcelo. 10 lições, uma barbicha e as "saudades dos beijos e abraços"

23-06-2020
marcar artigo

“Tenho fama de quê?”. O ministro da Educação ia seguindo, numa sala à parte, as lições televisivas de Marcelo e não apanhou bem o que o Presidente da República tinha acabado de confessar. Bom, não seria nada que não soubesse já, ainda assim Tiago Brandão Rodrigues riu-se com a “fama de beijoqueiro” do professor de última hora que esta segunda-feira levou aos estúdios do “estudo em casa”, a escola pública em tempos de pandemia. Pela hora de almoço dos alunos viram o Presidente da República dar uma aula extra, “as lições da pandemia”.

Era para ser uma aula de cidadania, mas Marcelo já chegou à RTP a explicar que mudou o tema à última hora. “Depois dê-me um minuto para nos coordenarmos”, pedia a tradutora de linguagem gestual atrás do plateau quando o Presidente a foi cumprimentar. Marcelo avisou logo que tinha feito a tal alteração e que sim, já se acertavam os passos entre os dois.

E como é que se diz Marcelo Rebelo de Sousa em linguagem gestual? “É assim [e a tradutora faz o gesto de uma pequena pêra no queixo, bigode e barbicha]”. Porquê, questionou o Presidente. “Porque tinha essa barba antigamente e a identificação em linguagem gestual é como um bilhete de identidade, já nunca mais muda”.

Curiosidades tiradas, última aula da professora de português dos 7º e 8º anos terminada (a professora Teresa Sampainho gravava os últimos episódios que irão para o ar nestas últimas semanas de telescola) e era o diretor da RTP, Gonçalo Reis, quem tentava acelerar o cerimonial de cumprimentos e conversa de circunstância.

Estava quase na hora de Marcelo, mas os 16 anos de comentário televisivo (na RTP e na TVI) não exigem grande preparação, tanto que nesse pequeno intervalo, o chefe de Estado ainda teve tempo para tirar selfies sozinho, naquele cenário de sala de aula feita casa que é o da telescola.

Depois arrancou para as suas “10 lições”. “Ia na sétima lição, olhei para o relógio, e ainda faltavam 14 minutos. Tive de contar ali umas histórias pessoais para compor”, desabafou no final à comitiva que o aplaudiu à saída do estúdio (ministro da Educação incluído). No currículo não pesa só a experiência televisiva, há outra mais significativa, a do professor universitário que foi, durante mais de 40 anos, na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Matar saudades de quatro Marcelos de uma vez

“Olá, chamo-me Marcelo Rebelo de Sousa e sou professor. E hoje vou matar saudades”. De tudo. Das aulas e da exposição televisiva sem freio. Meia hora pela frente em contacto direto com os espetadores habituais do “estudo em casa” e Marcelo rapidamente começou a divagar pelas suas memórias da quarentena e pelos “quilómetros” que passeou no Palácio de Belém. Ou pelos passeios noturno no paredão, em Cascais, “sem pôr o pé na areia”. Ou ainda no primeiro mergulho do pós-confinamento, aquele que lhe “soube ao primeiro da vida”.

E aquela vez em que o filho vindo do Brasil lhe deu um abraço na despedida, no aeroporto? “Foi incrível”, descreveu. O filho ainda comentou que estava a violar as regras de distanciamento social. “Aconteceu!”, justificou Marcelo que confessou que lhe custa “passar por um neto e não o abraçar ou beijar” e como está desejoso que acabe essa fase para que possa voltar a abraçar e a disparar afetos como antigamente.

“Tenho saudades”, confessou aos alunos à distância: “Eu tenho fama de beijoqueiro e sou beijoqueiro”. Cá fora entre a comitiva de Belém, do Ministério da Educação e também da Fundação Calouste Gulbenkian (parceira desta iniciativa do estudo em casa), representada por Carlos Moedas, soltavam-se sorrisos com a confissão pouco surpreendente.

Foi quase o divã da quarentena que o professor Marcelo levou para o seu regresso às aulas. Um período em que os alunos que o ouvem “tiveram a grande aula das vidas: viver o que viveram”. “Não fiquem desanimados que não é o fim do mundo”, aconselhou já no final da aula para a qual levou dez lições para os mais jovens, a começar pelo agradecimento aos profissionais de saúde. Depois, que as vacinas quando chegarem têm de ser para todos e uma crítica à Europa que acordou tarde para o problema: “Andou distraída no início, mas quando percebeu foi menos egoísta do que os outros países”.

Entre as suas lições, o Presidente destacou a necessidade de proteger os mais idosos, como ele que tem “71 anos e meio”, detalhou. E também como vírus afeta os mais pobres e os milhares de emigrantes que não puderam vir a Portugal na Páscoa e espera que venham “com cuidado”.

E nisto tudo sem perder o tempo ao relógio, até porque o combinado era a meia hora da praxe da telescola, e muito menos descolar os olhos das várias câmaras. Esquerda, direita, esquerda. Sempre, sem nunca falhar o timing. Marcelo o professor, o comentador televisivo, o conselheiro e simultaneamente o homem que precisa de desabafar e que tem saudades de afetos. Todos em um, sem faltar sequer o rapaz da barbicha.

“Tenho fama de quê?”. O ministro da Educação ia seguindo, numa sala à parte, as lições televisivas de Marcelo e não apanhou bem o que o Presidente da República tinha acabado de confessar. Bom, não seria nada que não soubesse já, ainda assim Tiago Brandão Rodrigues riu-se com a “fama de beijoqueiro” do professor de última hora que esta segunda-feira levou aos estúdios do “estudo em casa”, a escola pública em tempos de pandemia. Pela hora de almoço dos alunos viram o Presidente da República dar uma aula extra, “as lições da pandemia”.

Era para ser uma aula de cidadania, mas Marcelo já chegou à RTP a explicar que mudou o tema à última hora. “Depois dê-me um minuto para nos coordenarmos”, pedia a tradutora de linguagem gestual atrás do plateau quando o Presidente a foi cumprimentar. Marcelo avisou logo que tinha feito a tal alteração e que sim, já se acertavam os passos entre os dois.

E como é que se diz Marcelo Rebelo de Sousa em linguagem gestual? “É assim [e a tradutora faz o gesto de uma pequena pêra no queixo, bigode e barbicha]”. Porquê, questionou o Presidente. “Porque tinha essa barba antigamente e a identificação em linguagem gestual é como um bilhete de identidade, já nunca mais muda”.

Curiosidades tiradas, última aula da professora de português dos 7º e 8º anos terminada (a professora Teresa Sampainho gravava os últimos episódios que irão para o ar nestas últimas semanas de telescola) e era o diretor da RTP, Gonçalo Reis, quem tentava acelerar o cerimonial de cumprimentos e conversa de circunstância.

Estava quase na hora de Marcelo, mas os 16 anos de comentário televisivo (na RTP e na TVI) não exigem grande preparação, tanto que nesse pequeno intervalo, o chefe de Estado ainda teve tempo para tirar selfies sozinho, naquele cenário de sala de aula feita casa que é o da telescola.

Depois arrancou para as suas “10 lições”. “Ia na sétima lição, olhei para o relógio, e ainda faltavam 14 minutos. Tive de contar ali umas histórias pessoais para compor”, desabafou no final à comitiva que o aplaudiu à saída do estúdio (ministro da Educação incluído). No currículo não pesa só a experiência televisiva, há outra mais significativa, a do professor universitário que foi, durante mais de 40 anos, na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Matar saudades de quatro Marcelos de uma vez

“Olá, chamo-me Marcelo Rebelo de Sousa e sou professor. E hoje vou matar saudades”. De tudo. Das aulas e da exposição televisiva sem freio. Meia hora pela frente em contacto direto com os espetadores habituais do “estudo em casa” e Marcelo rapidamente começou a divagar pelas suas memórias da quarentena e pelos “quilómetros” que passeou no Palácio de Belém. Ou pelos passeios noturno no paredão, em Cascais, “sem pôr o pé na areia”. Ou ainda no primeiro mergulho do pós-confinamento, aquele que lhe “soube ao primeiro da vida”.

E aquela vez em que o filho vindo do Brasil lhe deu um abraço na despedida, no aeroporto? “Foi incrível”, descreveu. O filho ainda comentou que estava a violar as regras de distanciamento social. “Aconteceu!”, justificou Marcelo que confessou que lhe custa “passar por um neto e não o abraçar ou beijar” e como está desejoso que acabe essa fase para que possa voltar a abraçar e a disparar afetos como antigamente.

“Tenho saudades”, confessou aos alunos à distância: “Eu tenho fama de beijoqueiro e sou beijoqueiro”. Cá fora entre a comitiva de Belém, do Ministério da Educação e também da Fundação Calouste Gulbenkian (parceira desta iniciativa do estudo em casa), representada por Carlos Moedas, soltavam-se sorrisos com a confissão pouco surpreendente.

Foi quase o divã da quarentena que o professor Marcelo levou para o seu regresso às aulas. Um período em que os alunos que o ouvem “tiveram a grande aula das vidas: viver o que viveram”. “Não fiquem desanimados que não é o fim do mundo”, aconselhou já no final da aula para a qual levou dez lições para os mais jovens, a começar pelo agradecimento aos profissionais de saúde. Depois, que as vacinas quando chegarem têm de ser para todos e uma crítica à Europa que acordou tarde para o problema: “Andou distraída no início, mas quando percebeu foi menos egoísta do que os outros países”.

Entre as suas lições, o Presidente destacou a necessidade de proteger os mais idosos, como ele que tem “71 anos e meio”, detalhou. E também como vírus afeta os mais pobres e os milhares de emigrantes que não puderam vir a Portugal na Páscoa e espera que venham “com cuidado”.

E nisto tudo sem perder o tempo ao relógio, até porque o combinado era a meia hora da praxe da telescola, e muito menos descolar os olhos das várias câmaras. Esquerda, direita, esquerda. Sempre, sem nunca falhar o timing. Marcelo o professor, o comentador televisivo, o conselheiro e simultaneamente o homem que precisa de desabafar e que tem saudades de afetos. Todos em um, sem faltar sequer o rapaz da barbicha.

marcar artigo