A morte de Ihor às mãos do SEF. Os suspeitos e momentos-chave

26-12-2020
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Tudo correu mal desde que Ihor Homeniuk aterrou em Lisboa, às 11h de 10 de março, vindo de Istambul. A IGAI diz que a sua retenção foi ilegal, assim como o facto de não ter tido direito a tradutor ou advogado.

Sem remédio

Alguns inspetores do SEF e a técnica da farmácia do aeroporto não garantiram a Ihor o medicamento para a abstinência alcoólica, o que lhe provocou tremores, ansiedade e movimentos repetitivos.

Algemas e fita adesiva

Os inspetores Ricardo Diogo e Bruno Francisco colocaram Ihor no chão e algemaram-no, com as mãos à frente do tronco, pela primeira vez, na noite de 11 de março, já depois de o ucraniano se ter recusado a embarcar com destino a Istambul e causado distúrbios. Acabaram por soltá-lo depois de o porem a falar com uma inspetora que percebe russo. Mais tarde, depois de Ihor ter tentado sair da sala, os vigilantes Paulo Marcelo e Manuel Correia colocam-lhe fita adesiva grossa nas mãos e nos pés para o “acalmar”. Apesar de o enfermeiro João Lopes ter avisado que a fita poderia cortar-lhe a circulação sanguínea, Ihor permaneceu assim toda a noite. De manhã, foi novamente algemado por inspetores do SEF.

Bastonadas e gritos

Às 8h32 do dia 12, os inspetores Bruno Sousa, Duarte Laja e Luís Silva entraram na sala onde estava Ihor. Um deles disse às vigilantes para não registarem os seus nomes na ficha de entrada. Luís Silva transportava um bastão extensível e Bruno Sousa algemas metálicas. Quatro seguranças da Prestibel ouvem gritos proferidos por Ihor no interior da sala. Três dos vigilantes viram-no deitado no chão, algemado atrás das costas e com fitas brancas a imobilizarem-lhe os braços e as pernas. Duarte Laja mandou-os embora, alegando que “aquilo não era para eles verem”. Às 8h55, os três inspetores saem da sala transpirados. O relatório da autópsia revelaria lesões traumáticas no tórax de Ihor, infligidas pelos três inspetores, e aponta para “uma causa de morte violenta, por asfixia mecânica, e de etiologia homicida”.

Vigilantes coniventes

Ihor foi deixado imobilizado com algemas atrás das costas e com fitas a imobilizar-lhe os braços e as pernas, no chão, sem vigilância. Não foi visível qualquer preocupação por parte dos vigilantes e inspetores quanto ao seu estado de saúde. Nem sequer para este ir à casa de banho, apesar de estar urinado. Os vigilantes da Prestibel no Centro de Instalação Temporária do aeroporto são acusados pela IGAI de conduta imprópria, pela forma como negligenciaram e negaram o auxílio ao ucraniano e permitiram que ele se mantivesse manietado de forma desumana durante 18 horas, sete das quais com total ausência de movimentos e em agonia (asfixia lenta).

Atraso no socorro

O médico João Jorge, que chegou ao local numa ambulância do Hospital de Santa Maria, diz a uma médica daquele hospital que Ihor teria tido uma crise convulsiva e aspiração de vómitos antes da paragem cardiorrespiratória. As manobras de reanimação falharam. Ihor morre às 18h40 do dia 12. Esta terça-feira, pouco antes de o ministro Eduardo Cabrita ser ouvido no Parlamento, a IGAI fez uma participação à Ordem dos Médicos para esta apurar as responsabilidades daquele clínico. A falta de articulação entre a equipa de socorro da Cruz Vermelha e o oficial de segurança do aeroporto atrasou em 15 minutos a prestação de auxílio a Ihor.

Mentira no relatório

No relatório enviado à então diretora do SEF cinco dias após o homicídio, o coordenador do Gabinete de Inspeção do SEF, João Ataíde, que se demitiu esta terça-feira, diz que as imagens de videovigilância não mostravam “qualquer indício de agressões e maus-tratos”.

Versão combinada

O ex-responsável da Direção de Fronteiras de Lisboa, António Sérgio Henriques, avalizou o relatório elaborado pelo SEF e entregue à IGAI a 18 de março, que atribuiu a morte a causas naturais, omitindo informações fundamentais. Se não fosse a intervenção do médico legista e uma carta anónima a denunciar os inspetores, o crime teria passado impune.

Tudo correu mal desde que Ihor Homeniuk aterrou em Lisboa, às 11h de 10 de março, vindo de Istambul. A IGAI diz que a sua retenção foi ilegal, assim como o facto de não ter tido direito a tradutor ou advogado.

Sem remédio

Alguns inspetores do SEF e a técnica da farmácia do aeroporto não garantiram a Ihor o medicamento para a abstinência alcoólica, o que lhe provocou tremores, ansiedade e movimentos repetitivos.

Algemas e fita adesiva

Os inspetores Ricardo Diogo e Bruno Francisco colocaram Ihor no chão e algemaram-no, com as mãos à frente do tronco, pela primeira vez, na noite de 11 de março, já depois de o ucraniano se ter recusado a embarcar com destino a Istambul e causado distúrbios. Acabaram por soltá-lo depois de o porem a falar com uma inspetora que percebe russo. Mais tarde, depois de Ihor ter tentado sair da sala, os vigilantes Paulo Marcelo e Manuel Correia colocam-lhe fita adesiva grossa nas mãos e nos pés para o “acalmar”. Apesar de o enfermeiro João Lopes ter avisado que a fita poderia cortar-lhe a circulação sanguínea, Ihor permaneceu assim toda a noite. De manhã, foi novamente algemado por inspetores do SEF.

Bastonadas e gritos

Às 8h32 do dia 12, os inspetores Bruno Sousa, Duarte Laja e Luís Silva entraram na sala onde estava Ihor. Um deles disse às vigilantes para não registarem os seus nomes na ficha de entrada. Luís Silva transportava um bastão extensível e Bruno Sousa algemas metálicas. Quatro seguranças da Prestibel ouvem gritos proferidos por Ihor no interior da sala. Três dos vigilantes viram-no deitado no chão, algemado atrás das costas e com fitas brancas a imobilizarem-lhe os braços e as pernas. Duarte Laja mandou-os embora, alegando que “aquilo não era para eles verem”. Às 8h55, os três inspetores saem da sala transpirados. O relatório da autópsia revelaria lesões traumáticas no tórax de Ihor, infligidas pelos três inspetores, e aponta para “uma causa de morte violenta, por asfixia mecânica, e de etiologia homicida”.

Vigilantes coniventes

Ihor foi deixado imobilizado com algemas atrás das costas e com fitas a imobilizar-lhe os braços e as pernas, no chão, sem vigilância. Não foi visível qualquer preocupação por parte dos vigilantes e inspetores quanto ao seu estado de saúde. Nem sequer para este ir à casa de banho, apesar de estar urinado. Os vigilantes da Prestibel no Centro de Instalação Temporária do aeroporto são acusados pela IGAI de conduta imprópria, pela forma como negligenciaram e negaram o auxílio ao ucraniano e permitiram que ele se mantivesse manietado de forma desumana durante 18 horas, sete das quais com total ausência de movimentos e em agonia (asfixia lenta).

Atraso no socorro

O médico João Jorge, que chegou ao local numa ambulância do Hospital de Santa Maria, diz a uma médica daquele hospital que Ihor teria tido uma crise convulsiva e aspiração de vómitos antes da paragem cardiorrespiratória. As manobras de reanimação falharam. Ihor morre às 18h40 do dia 12. Esta terça-feira, pouco antes de o ministro Eduardo Cabrita ser ouvido no Parlamento, a IGAI fez uma participação à Ordem dos Médicos para esta apurar as responsabilidades daquele clínico. A falta de articulação entre a equipa de socorro da Cruz Vermelha e o oficial de segurança do aeroporto atrasou em 15 minutos a prestação de auxílio a Ihor.

Mentira no relatório

No relatório enviado à então diretora do SEF cinco dias após o homicídio, o coordenador do Gabinete de Inspeção do SEF, João Ataíde, que se demitiu esta terça-feira, diz que as imagens de videovigilância não mostravam “qualquer indício de agressões e maus-tratos”.

Versão combinada

O ex-responsável da Direção de Fronteiras de Lisboa, António Sérgio Henriques, avalizou o relatório elaborado pelo SEF e entregue à IGAI a 18 de março, que atribuiu a morte a causas naturais, omitindo informações fundamentais. Se não fosse a intervenção do médico legista e uma carta anónima a denunciar os inspetores, o crime teria passado impune.

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