BLOG DO ORLANDO TAMBOSI

23-06-2020
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Fome, soldos de 60 reais, ordens para reprimir os concidadãos: as histórias dos militares venezuelanos que desertaram e fugiram para a Colômbia. Reportagem de meu ex-aluno Yan Boechat, dos velhos tempos (abraço tardio, véio):

O sol já estava alto na manhã de quarta-feira 27 quando o venezuelano Andrés Rosales decidiu atravessar as águas rasas do Rio Táchira, que separam seu país da Colômbia. Vestindo um moletom falsificado da marca Puma, entrou em território colombiano sozinho e quieto. Passou despercebido por dois soldados que guardavam uma das principais “trochas”, as passagens ilegais entre os dois países, que ligam Cúcuta, na Colômbia, a San António, na Venezuela. Caminhou por cerca de 100 metros até que encontrou um novo grupo fardado. Tirou a carteira do bolso, sacou sua identidade militar e se identificou. A eles, foi curto e direto: “Sou tenente das Forças Armadas Venezuelanas e estou me entregando”. Foi escoltado até o posto da imigração colombiana, distante 500 metros dali, na entrada da ponte Simón Bolívar.

Cercado por compatriotas, Rosales repetia o que o levou a tomar a decisão de abandonar a carreira de quase uma década no Exército para se tornar um desertor. “Eu não podia mais atacar o povo. Nós vemos o que está acontecendo, eu não podia mais fazer isso”, dizia ele, visivelmente emocionado.

Seguiu o caminho com passos firmes, ora quieto ora repetindo que não conseguia mais reprimir os que protestavam contra o regime de Nicolás Maduro. Ao chegar na área administrativa da aduana, sentiu-se confortável para tirar o moletom azul e deixar à mostra uma camiseta verde oliva que compõe seu uniforme. Encostou a cabeça na parede e, enfim, chorou.

Rosales foi o primeiro militar a cruzar a “trocha” da ponte Simón Bolívar naquele dia. Depois dele, mais de uma dezena de soldados repetiu seus passos. Juntaram-se a cerca de outros 400 militares que se entregaram aos soldados colombianos em Cúcuta desde o dia 23 de fevereiro, quando o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, convocou a população civil e militar a forçar a entrada no país de mais de 600 toneladas de remédios, comida e itens básicos enviados pelos Estados Unidos. A maior parte deles, Rosales incluído, não decidiu abandonar o regime por uma questão ideológica. Quase todos optaram por cruzar a fronteira para fugir da miséria de proporções inéditas na América Latina.

'Não há mais comida para as tropas'

O major Hugo Parra Martínez é o militar de mais alta patente a ter desertado até esse momento em Cúcuta. Ele também foi o primeiro. Na noite do dia 22 de fevereiro, menos de 12 horas antes do início da tentativa frustrada de Guaidó de fazer entrar o comboio de ajuda humanitária, Hugo revelou o plano a sua mãe. “Eu já pensava em desertar há mais de um ano, quando as coisas passaram a ser absolutamente insustentáveis”, conta ele, um piloto de helicópteros militares com treinamento na Rússia. “Pedi permissão a ela”, relatou no fim da tarde de terça-feira 26, em um bairro da periferia de Cúcuta, onde está escondido com outros 45 companheiros de farda em uma pequena igreja.

Com a benção materna, Hugo preparou-se para o que chama de momento mais importante de sua vida. Acordou cedo, antes do dia nascer, vestiu seu uniforme e foi a uma das “trochas” — usadas até aquele momento por contrabandistas de gasolina. “Cruzei às sete da manhã, antes de os embates começarem entre a Guarda (Nacional Bolivariana) e os manifestantes. Não participei da repressão.”

Hugo Parra Martinez passou 21 anos na Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). Entrou na academia de formação de oficiais aos 16 anos e seguiu para o destacamento aéreo do Exército. Formou-se piloto, engenheiro aeronáutico e participou do desenvolvimento de um novo modelo do simulador de voo do helicóptero MI-17, uma aeronave usada tanto para transporte de tropas como para ataque.

“Morei por dois anos em São Petersburgo. Sou fluente em russo, sou extremamente capacitado”, conta ele, sem falsa modéstia.

Foi exatamente a absoluta disparidade entre suas habilidades e seu soldo que o fizeram cruzar o Rio Táchira naquela manhã quente do sábado 23. Seus ganhos mensais, incluídos todos os benefícios, não chegavam a 15 dólares, pouco menos de 60 reais. “Eu não conseguia nem mesmo alimentar meus filhos, não conseguia comprar carne para a minha mãe”, conta ele, que deixou os dois filhos na Venezuela, assim como sua ex-mulher, a mãe, o pai e os irmãos.

“Nos últimos dois anos, a situação nos quartéis entrou em absoluto processo de deterioração. Não há mais comida suficiente para as tropas. Não há coisas básicas, como itens de higiene. Muitas vezes, não há nem mesmo colchões para todos dormirem.”

Já do lado colombiano, Hugo passou a enviar mensagens a seus comandados informando que havia desertado. Dezenas se juntaram a ele. Estão todos amontoados em um pequeno templo da Igreja Católica Apostólica Brasileira, uma dissidência religiosa do Vaticano criada no Brasil na década de 1940 e que se espalhou por vários países da América Latina.

“Hoje temos espaço para receber até treze pessoas de forma confortável, mas hoje estamos com 45 militares”, conta o padre Sergio Sanmiguel, responsável pela paróquia de Cúcuta dessa linha do catolicismo, que não reconhece o Papa e não segue o celibato e a proibição ao divórcio.

Sanmiguel se tornou um interlocutor importante entre os militares venezuelanos decididos a abandonar a Força Armada. Nos últimos dois anos, diz ele, dezenas de soldados e oficiais desertaram com sua ajuda. “Mas o que temos hoje é completamente diferente. As deserções aconteciam de forma muito mais espaçada, nada como agora”, diz ele, sentado em uma pequena praça cercada por mais de uma dezena de soldados colombianos que fazem a proteção da igreja.

“Precisamos deles. Já recebemos ameaças de bomba e não sabemos o que podem tentar fazer com os militares que abandonaram Maduro”, conta.

O padre Sanmiguel relata não ter recebido ajuda nem do governo colombiano nem da oposição venezuelana, que tanto incentivou a deserção de militares nas últimas semanas. Os 45 que vivem em sua igreja são alimentados por doações feitas pela comunidade do bairro ou por fiéis que apoiam sua disposição em ajudar.

“Não é uma situação fácil para nenhum deles. Abandonaram tudo e estão aqui sem nada, apenas com a esperança de que a coisa melhore. Muitos deixaram não só a carreira, mas também suas famílias inteiras”, diz. Ao ser interrompido por uma de suas fiéis sobre o que fazer com os dois pares de sapatos 43, o sacerdote prontamente recomendou: “Aqui estão todos calçados, leve para o hotel, lá há muitos que estão descalços.”

Júlio*, sargento da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), desertou no domingo 24 ainda de madrugada. Passou o dia anterior a comandar seus soldados nos enfrentamentos contra os manifestantes venezuelanos, que tentavam abrir a passagem para a entrada dos caminhões de ajuda humanitária. Quando terminou seu turno, às quatro da manhã, decidiu que havia tocado o seu limite.

“Cheguei ao quartel e decidi vir. Disse que ia fumar um cigarro e vim para a ‘trocha’. Estava tudo escuro, mas deu tudo certo”. Desde então, Júlio vive em um hotel no centro de Cúcuta junto com outros militares. Sem calçados que não sejam as botas militares que trazia ao entrar na Colômbia, passa os dias com um par de meias e chinelos que lhes foram doados.

Ele, como o major Hugo, decidiu abandonar o Exército porque não tinha dinheiro para nada. Seu último salário foi de apenas 6 dólares, pouco mais do que 20 reais. Ao longo do último ano, conta ele, usava o tempo livre para fazer qualquer tipo de bico que pudesse aumentar um pouco sua renda.

“Eu pedi baixa três vezes, mas eles não nos dão, não nos deixam sair. A maior parte dos meus colegas pediu baixa, mas ninguém consegue, estamos todos presos na Guarda, não podemos sair”, conta ele, lembrando que seu salário é incapaz de comprar um quilo de queijo na Venezuela.

Júlio chegou em Cúcuta acreditando que seria tratado como um herói. Imaginou que encontraria Juan Guaidó ou alguns dos deputados da Assembleia Nacional que prometiam serem estes os últimos dias de Maduro. Não viu nenhum deles e nem ouviu qualquer coisa de nenhum de seus representantes.

“Achei que me tornaria um herói, mas virei um refugiado. Não tenho dinheiro nenhum e não nos informam o que acontecerá conosco. Eu sustento minha mulher e meu filho de dois anos e ainda não sei se poderei trazê-los para cá e como vou conseguir lhes enviar dinheiro”, diz ele na esquina do hotel fortemente guardado por soldados colombianos. “Passamos o dia aqui, caminhando de um lado para o outro ou tentando falar com nossas famílias pelo celular.”

As primeira informações que recebeu de casa não foram boas. Nos dias seguintes de sua deserção, agentes do serviço de inteligência do governo venezuelano, Sebin, foram até sua casa. Revistaram tudo o que tinha e levaram todas as condecorações militares que recebeu na curta carreia de cinco anos na GNB. “Ao menos foram respeitosos com minha mulher e meu filho. Ela me disse que os trataram bem”.

Julio ainda não sabe exatamente o que acontecerá daqui para a frente. Conforme relatou, a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) está tratando dos trâmites burocráticos para que ele receba o status de refugiado na Colômbia. A Acnur, por sua vez, afirma que apenas presta consultoria ao Ministério das Relações Exteriores da Colômbia para tratar da questão.

*Nome fictício criado a pedido do entrevistado.

Fome, soldos de 60 reais, ordens para reprimir os concidadãos: as histórias dos militares venezuelanos que desertaram e fugiram para a Colômbia. Reportagem de meu ex-aluno Yan Boechat, dos velhos tempos (abraço tardio, véio):

O sol já estava alto na manhã de quarta-feira 27 quando o venezuelano Andrés Rosales decidiu atravessar as águas rasas do Rio Táchira, que separam seu país da Colômbia. Vestindo um moletom falsificado da marca Puma, entrou em território colombiano sozinho e quieto. Passou despercebido por dois soldados que guardavam uma das principais “trochas”, as passagens ilegais entre os dois países, que ligam Cúcuta, na Colômbia, a San António, na Venezuela. Caminhou por cerca de 100 metros até que encontrou um novo grupo fardado. Tirou a carteira do bolso, sacou sua identidade militar e se identificou. A eles, foi curto e direto: “Sou tenente das Forças Armadas Venezuelanas e estou me entregando”. Foi escoltado até o posto da imigração colombiana, distante 500 metros dali, na entrada da ponte Simón Bolívar.

Cercado por compatriotas, Rosales repetia o que o levou a tomar a decisão de abandonar a carreira de quase uma década no Exército para se tornar um desertor. “Eu não podia mais atacar o povo. Nós vemos o que está acontecendo, eu não podia mais fazer isso”, dizia ele, visivelmente emocionado.

Seguiu o caminho com passos firmes, ora quieto ora repetindo que não conseguia mais reprimir os que protestavam contra o regime de Nicolás Maduro. Ao chegar na área administrativa da aduana, sentiu-se confortável para tirar o moletom azul e deixar à mostra uma camiseta verde oliva que compõe seu uniforme. Encostou a cabeça na parede e, enfim, chorou.

Rosales foi o primeiro militar a cruzar a “trocha” da ponte Simón Bolívar naquele dia. Depois dele, mais de uma dezena de soldados repetiu seus passos. Juntaram-se a cerca de outros 400 militares que se entregaram aos soldados colombianos em Cúcuta desde o dia 23 de fevereiro, quando o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, convocou a população civil e militar a forçar a entrada no país de mais de 600 toneladas de remédios, comida e itens básicos enviados pelos Estados Unidos. A maior parte deles, Rosales incluído, não decidiu abandonar o regime por uma questão ideológica. Quase todos optaram por cruzar a fronteira para fugir da miséria de proporções inéditas na América Latina.

'Não há mais comida para as tropas'

O major Hugo Parra Martínez é o militar de mais alta patente a ter desertado até esse momento em Cúcuta. Ele também foi o primeiro. Na noite do dia 22 de fevereiro, menos de 12 horas antes do início da tentativa frustrada de Guaidó de fazer entrar o comboio de ajuda humanitária, Hugo revelou o plano a sua mãe. “Eu já pensava em desertar há mais de um ano, quando as coisas passaram a ser absolutamente insustentáveis”, conta ele, um piloto de helicópteros militares com treinamento na Rússia. “Pedi permissão a ela”, relatou no fim da tarde de terça-feira 26, em um bairro da periferia de Cúcuta, onde está escondido com outros 45 companheiros de farda em uma pequena igreja.

Com a benção materna, Hugo preparou-se para o que chama de momento mais importante de sua vida. Acordou cedo, antes do dia nascer, vestiu seu uniforme e foi a uma das “trochas” — usadas até aquele momento por contrabandistas de gasolina. “Cruzei às sete da manhã, antes de os embates começarem entre a Guarda (Nacional Bolivariana) e os manifestantes. Não participei da repressão.”

Hugo Parra Martinez passou 21 anos na Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). Entrou na academia de formação de oficiais aos 16 anos e seguiu para o destacamento aéreo do Exército. Formou-se piloto, engenheiro aeronáutico e participou do desenvolvimento de um novo modelo do simulador de voo do helicóptero MI-17, uma aeronave usada tanto para transporte de tropas como para ataque.

“Morei por dois anos em São Petersburgo. Sou fluente em russo, sou extremamente capacitado”, conta ele, sem falsa modéstia.

Foi exatamente a absoluta disparidade entre suas habilidades e seu soldo que o fizeram cruzar o Rio Táchira naquela manhã quente do sábado 23. Seus ganhos mensais, incluídos todos os benefícios, não chegavam a 15 dólares, pouco menos de 60 reais. “Eu não conseguia nem mesmo alimentar meus filhos, não conseguia comprar carne para a minha mãe”, conta ele, que deixou os dois filhos na Venezuela, assim como sua ex-mulher, a mãe, o pai e os irmãos.

“Nos últimos dois anos, a situação nos quartéis entrou em absoluto processo de deterioração. Não há mais comida suficiente para as tropas. Não há coisas básicas, como itens de higiene. Muitas vezes, não há nem mesmo colchões para todos dormirem.”

Já do lado colombiano, Hugo passou a enviar mensagens a seus comandados informando que havia desertado. Dezenas se juntaram a ele. Estão todos amontoados em um pequeno templo da Igreja Católica Apostólica Brasileira, uma dissidência religiosa do Vaticano criada no Brasil na década de 1940 e que se espalhou por vários países da América Latina.

“Hoje temos espaço para receber até treze pessoas de forma confortável, mas hoje estamos com 45 militares”, conta o padre Sergio Sanmiguel, responsável pela paróquia de Cúcuta dessa linha do catolicismo, que não reconhece o Papa e não segue o celibato e a proibição ao divórcio.

Sanmiguel se tornou um interlocutor importante entre os militares venezuelanos decididos a abandonar a Força Armada. Nos últimos dois anos, diz ele, dezenas de soldados e oficiais desertaram com sua ajuda. “Mas o que temos hoje é completamente diferente. As deserções aconteciam de forma muito mais espaçada, nada como agora”, diz ele, sentado em uma pequena praça cercada por mais de uma dezena de soldados colombianos que fazem a proteção da igreja.

“Precisamos deles. Já recebemos ameaças de bomba e não sabemos o que podem tentar fazer com os militares que abandonaram Maduro”, conta.

O padre Sanmiguel relata não ter recebido ajuda nem do governo colombiano nem da oposição venezuelana, que tanto incentivou a deserção de militares nas últimas semanas. Os 45 que vivem em sua igreja são alimentados por doações feitas pela comunidade do bairro ou por fiéis que apoiam sua disposição em ajudar.

“Não é uma situação fácil para nenhum deles. Abandonaram tudo e estão aqui sem nada, apenas com a esperança de que a coisa melhore. Muitos deixaram não só a carreira, mas também suas famílias inteiras”, diz. Ao ser interrompido por uma de suas fiéis sobre o que fazer com os dois pares de sapatos 43, o sacerdote prontamente recomendou: “Aqui estão todos calçados, leve para o hotel, lá há muitos que estão descalços.”

Júlio*, sargento da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), desertou no domingo 24 ainda de madrugada. Passou o dia anterior a comandar seus soldados nos enfrentamentos contra os manifestantes venezuelanos, que tentavam abrir a passagem para a entrada dos caminhões de ajuda humanitária. Quando terminou seu turno, às quatro da manhã, decidiu que havia tocado o seu limite.

“Cheguei ao quartel e decidi vir. Disse que ia fumar um cigarro e vim para a ‘trocha’. Estava tudo escuro, mas deu tudo certo”. Desde então, Júlio vive em um hotel no centro de Cúcuta junto com outros militares. Sem calçados que não sejam as botas militares que trazia ao entrar na Colômbia, passa os dias com um par de meias e chinelos que lhes foram doados.

Ele, como o major Hugo, decidiu abandonar o Exército porque não tinha dinheiro para nada. Seu último salário foi de apenas 6 dólares, pouco mais do que 20 reais. Ao longo do último ano, conta ele, usava o tempo livre para fazer qualquer tipo de bico que pudesse aumentar um pouco sua renda.

“Eu pedi baixa três vezes, mas eles não nos dão, não nos deixam sair. A maior parte dos meus colegas pediu baixa, mas ninguém consegue, estamos todos presos na Guarda, não podemos sair”, conta ele, lembrando que seu salário é incapaz de comprar um quilo de queijo na Venezuela.

Júlio chegou em Cúcuta acreditando que seria tratado como um herói. Imaginou que encontraria Juan Guaidó ou alguns dos deputados da Assembleia Nacional que prometiam serem estes os últimos dias de Maduro. Não viu nenhum deles e nem ouviu qualquer coisa de nenhum de seus representantes.

“Achei que me tornaria um herói, mas virei um refugiado. Não tenho dinheiro nenhum e não nos informam o que acontecerá conosco. Eu sustento minha mulher e meu filho de dois anos e ainda não sei se poderei trazê-los para cá e como vou conseguir lhes enviar dinheiro”, diz ele na esquina do hotel fortemente guardado por soldados colombianos. “Passamos o dia aqui, caminhando de um lado para o outro ou tentando falar com nossas famílias pelo celular.”

As primeira informações que recebeu de casa não foram boas. Nos dias seguintes de sua deserção, agentes do serviço de inteligência do governo venezuelano, Sebin, foram até sua casa. Revistaram tudo o que tinha e levaram todas as condecorações militares que recebeu na curta carreia de cinco anos na GNB. “Ao menos foram respeitosos com minha mulher e meu filho. Ela me disse que os trataram bem”.

Julio ainda não sabe exatamente o que acontecerá daqui para a frente. Conforme relatou, a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) está tratando dos trâmites burocráticos para que ele receba o status de refugiado na Colômbia. A Acnur, por sua vez, afirma que apenas presta consultoria ao Ministério das Relações Exteriores da Colômbia para tratar da questão.

*Nome fictício criado a pedido do entrevistado.

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