A Covid mudou o mundo, exige-se solidariedade

16-10-2020
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Falemos sobre uma crise em que não há desculpas nem responsabilidades inventadas, ninguém pode apontar o dedo aos preguiçosos do sul, às mulheres ou ao vinho, ninguém acredita que o vírus é um castigo divino e merecido porque vivemos acima das nossas possibilidades.

Falemos sobre a crise. Não sobre outra crise qualquer, falemos sobre esta crise, a primeira no tempo das nossas vidas a ser provocada por uma pandemia mundial que levou ao confinamento forçado de milhões de pessoas e à suspensão obrigatória de atividades económicas, algumas por tempo indeterminado.

Falemos sobre uma crise em que não há desculpas nem responsabilidades inventadas, ninguém pode apontar o dedo aos preguiçosos do sul, às mulheres ou ao vinho, ninguém acredita que o vírus é um castigo divino e merecido porque vivemos acima das nossas possibilidades.

Falemos sobre uma crise em que os serviços públicos, o Serviço Nacional de Saúde à cabeça, foram testados muito além dos limites de uma normalidade de investimento que nunca existiu, e a destruição de emprego não tem precedentes em rapidez e intensidade.

Falemos sobre uma tempestade, imprevista, violenta e devastadora, e de como não nos podemos fazer ao mar em botes de borracha. Falemos sobre o que é obrigatório e o que é irresponsável num orçamento discutido e aprovado no auge desta crise. Falemos da diferença entre este e todos os outros orçamentos.

O Orçamento do Estado para 2021 não pode apresentar como inovações sociais medidas que não passam de fantasmas das promessas passadas. A construção dos hospitais do Seixal e de Évora, a contratação de 4200 profissionais para o SNS, o novo programa de saúde mental são conquistas dos orçamentos passados, negociadas e aprovadas muito antes da covid-19 ser sequer um pesadelo e que continuam por cumprir. Por causa disso, Portugal perdeu médicos durante este período e a pandemia já levava 7 meses de avanço quando o Governo decidiu efetivar 2995 profissionais.

O investimento no SNS é o caso mais gritante mas não é exclusivo no rol de medidas recauchutadas para 2021. Na educação, o Governo volta a anunciar como grande medida a contratação de assistentes operacionais para satisfazer uma revisão de portaria de rácios que foi proposta pela Bloco e aprovada no orçamento para 2020. Na verdade, o OE 2021 não só não acrescenta, como diminui a despesa em recursos humanos em educação.

Outro exemplo, a descida do IVA da eletricidade, que o Governo fez depender de uma resposta da Comissão Europeia e teve a aprovação desta em junho passado, está agora prometida para dezembro e só deve chegar em janeiro.

O Orçamento para 2021 não pode esconder-se atrás da “bazuca europeia”. O acesso ao fundo de recuperação não depende do OE e certamente não desresponsabiliza o Governo de ir além do simbolismo na política de proteção dos rendimentos. O anúncio da alteração das tabelas de retenção na fonte de IRS está muito mais próximo do truque dos duodécimos de Passos Coelho do que de uma política de combate à crise.

O apoio social que o Bloco de Esquerda negociou com o Governo foi descaracterizado, de permanente passou a extraordinário, tem uma duração de 6 meses e uma condição de recursos que exclui muitas famílias que perderam rendimentos. O aumento do salário mínimo não esconde a pobreza entre quem trabalha nem a estagnação da nossa economia em salários baixos.

O Orçamento para 2021 tem de garantir que a crise é temporária. Como disse António Costa, “a pandemia mostrou o preço que pagamos pela excessiva desregulação do mercado de trabalho”. A par do vírus, o desemprego é o maior perigo para o país e para a economia, o mecanismo através do qual uma crise que podia ser transitória se transforma em definitiva, aquilo que estrangula o consumo e leva a falências em massa, a vaga que tem de ser travada a todo o custo.

O mundo mudou, realismo exige-se. A proteção do emprego, dos salários, dos apoios sociais e dos serviços públicos é a única saída para não deixar ninguém para trás, para não acrescentar crise à crise. O Orçamento para 2021 não pode negar tudo isto e continuar a drenar dinheiro para o sorvedouro do Lone Star e do Novo Banco. As medidas que o Bloco de Esquerda levou à mesa das negociações desde julho continuam lá. Não há razões para falhar ao país agora.

Deputada do Bloco de Esquerda

Falemos sobre uma crise em que não há desculpas nem responsabilidades inventadas, ninguém pode apontar o dedo aos preguiçosos do sul, às mulheres ou ao vinho, ninguém acredita que o vírus é um castigo divino e merecido porque vivemos acima das nossas possibilidades.

Falemos sobre a crise. Não sobre outra crise qualquer, falemos sobre esta crise, a primeira no tempo das nossas vidas a ser provocada por uma pandemia mundial que levou ao confinamento forçado de milhões de pessoas e à suspensão obrigatória de atividades económicas, algumas por tempo indeterminado.

Falemos sobre uma crise em que não há desculpas nem responsabilidades inventadas, ninguém pode apontar o dedo aos preguiçosos do sul, às mulheres ou ao vinho, ninguém acredita que o vírus é um castigo divino e merecido porque vivemos acima das nossas possibilidades.

Falemos sobre uma crise em que os serviços públicos, o Serviço Nacional de Saúde à cabeça, foram testados muito além dos limites de uma normalidade de investimento que nunca existiu, e a destruição de emprego não tem precedentes em rapidez e intensidade.

Falemos sobre uma tempestade, imprevista, violenta e devastadora, e de como não nos podemos fazer ao mar em botes de borracha. Falemos sobre o que é obrigatório e o que é irresponsável num orçamento discutido e aprovado no auge desta crise. Falemos da diferença entre este e todos os outros orçamentos.

O Orçamento do Estado para 2021 não pode apresentar como inovações sociais medidas que não passam de fantasmas das promessas passadas. A construção dos hospitais do Seixal e de Évora, a contratação de 4200 profissionais para o SNS, o novo programa de saúde mental são conquistas dos orçamentos passados, negociadas e aprovadas muito antes da covid-19 ser sequer um pesadelo e que continuam por cumprir. Por causa disso, Portugal perdeu médicos durante este período e a pandemia já levava 7 meses de avanço quando o Governo decidiu efetivar 2995 profissionais.

O investimento no SNS é o caso mais gritante mas não é exclusivo no rol de medidas recauchutadas para 2021. Na educação, o Governo volta a anunciar como grande medida a contratação de assistentes operacionais para satisfazer uma revisão de portaria de rácios que foi proposta pela Bloco e aprovada no orçamento para 2020. Na verdade, o OE 2021 não só não acrescenta, como diminui a despesa em recursos humanos em educação.

Outro exemplo, a descida do IVA da eletricidade, que o Governo fez depender de uma resposta da Comissão Europeia e teve a aprovação desta em junho passado, está agora prometida para dezembro e só deve chegar em janeiro.

O Orçamento para 2021 não pode esconder-se atrás da “bazuca europeia”. O acesso ao fundo de recuperação não depende do OE e certamente não desresponsabiliza o Governo de ir além do simbolismo na política de proteção dos rendimentos. O anúncio da alteração das tabelas de retenção na fonte de IRS está muito mais próximo do truque dos duodécimos de Passos Coelho do que de uma política de combate à crise.

O apoio social que o Bloco de Esquerda negociou com o Governo foi descaracterizado, de permanente passou a extraordinário, tem uma duração de 6 meses e uma condição de recursos que exclui muitas famílias que perderam rendimentos. O aumento do salário mínimo não esconde a pobreza entre quem trabalha nem a estagnação da nossa economia em salários baixos.

O Orçamento para 2021 tem de garantir que a crise é temporária. Como disse António Costa, “a pandemia mostrou o preço que pagamos pela excessiva desregulação do mercado de trabalho”. A par do vírus, o desemprego é o maior perigo para o país e para a economia, o mecanismo através do qual uma crise que podia ser transitória se transforma em definitiva, aquilo que estrangula o consumo e leva a falências em massa, a vaga que tem de ser travada a todo o custo.

O mundo mudou, realismo exige-se. A proteção do emprego, dos salários, dos apoios sociais e dos serviços públicos é a única saída para não deixar ninguém para trás, para não acrescentar crise à crise. O Orçamento para 2021 não pode negar tudo isto e continuar a drenar dinheiro para o sorvedouro do Lone Star e do Novo Banco. As medidas que o Bloco de Esquerda levou à mesa das negociações desde julho continuam lá. Não há razões para falhar ao país agora.

Deputada do Bloco de Esquerda

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