Ódio racial, ameaças, xenofobia: Agentes da PSP demonizam Joana Mortágua e Mamadou Ba em páginas no Facebook

02-09-2020
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“Cortar o Rendimento Social de Inserção a esta gente e entravam na linha”; “Corda nova, pedra velha e pendurado na ponte Oliveira Salazar”; “Pois bem, este indivíduo [Mamadou Ba, dirigente do movimento SOS Racismo e assessor do Bloco de Esquerda (BE)] por mim era o primeiro a levar no focinho”; “Porco” ; “Tiro no centro da testa”; “Esse verme que vá para a terra dele”. “Essa javarda [Joana Mortágua, deputada do BE e vereadora da Câmara Municipal de Almada] quer é votos dessa gente miserável, carga neles!"; “Esta gaja devia era de levar nos cornos”. Quem são os autores destas frases? Resposta: agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), membros das forças de segurança ou simples anónimos. Onde foram proferidas? Em duas páginas do Facebook - "Carro de Patrulha 1" e "Carro de Patrulha 2" - e um perfil individual ("Charlie Papa"), seguidas e alimentadas por dezenas de milhares de pessoas, entre elas muitos agentes da PSP e de outras forças de segurança, e em que o ódio racial, a violência gratuita e até o incentivo ao fascismo estão muito presentes - sobretudo quando o tema é a polémica intervenção policial no bairro da Jamaica, Seixal, no passado domingo, 20.

Na sequência da polémica intervenção policial no bairro da Jamaica o trio de páginas fervilhou com sucessivas publicações em defesa dos agentes da polícia e contra os residentes do bairro.

A pedido de vários leitores, o Polígrafo analisou as páginas em questão e concluiu que todas se dedicam a partilhar informação e opinião sobre matérias relacionadas com a atividade dos agentes da PSP. “Entretenimento e motivação a elementos das forças de segurança portuguesas e cidadãos de bem que apoiam as forças de segurança portuguesas”, lê-se no texto de apresentação da página “Carro de Patrulha 1”, a qual tem mais de 15 mil seguidores. “Se és operacional de polícia, se és amigo ou familiar de polícia, se és cidadão de bem, cumpridor e gostas da polícia, esta é a tua página. Segue-nos”, indica a página “Carro de Patrulha 2”, com cerca de 8 mil seguidores. Também há grupos privados de WhatsApp interligados às duas páginas. A pessoa que utiliza o pseudónimo “Charlie Papa” indica no próprio perfil que é “administrador da página Carro de Patrulha, motivador das Forças de Segurança” e “trabalha no Ministério da Administração Interna”. O Polígrafo tentou contactá-la para confirmar se se trata ou não de um agente da PSP, mas não obteve resposta.

Na sequência da polémica intervenção policial no bairro da Jamaica o trio de páginas fervilhou com sucessivas publicações em defesa dos agentes da polícia e contra os residentes do bairro. A agressividade latente dos textos e dos comentários tornou-se mais explícita, entrando claramente no discurso de ódio, com os desenvolvimentos do caso: as reações de Mamadou Ba e de Joana Mortágua; a manifestação de segunda-feira na Avenida da Liberdade, em Lisboa, por residentes do bairro da Jamaica, culminando em nova intervenção policial; e os automóveis incendiados e esquadras da PSP apedrejadas, entre outros estragos, na madrugada de terça-feira, em várias localidades do distrito de Lisboa.

Mamadou Ba foi o mais visado nas publicações das três páginas, tendo sido inclusivamente protagonista de memes agressivos, claramente fabricados para serem partilhados pela comunidade. “Ninguém consegue entender quem está por trás destes movimentos, que há muito temos vindo a avisar que existem, de oradores que nas redes sociais, fazem apologia ao crime, manipulando as cabeças fracas destes delinquentes, que acreditam nestes falsos profetas, moralistas sem moral. Este é apenas o mais mediático, mas outros mais existem, muitos deles nem em Portugal residem, mas de fora incentivam ao ódio e à violência, usando a desculpa do racismo como mote. Hoje este activista que vive à custa do erário público, deu-se ao desplante de partilhar fotos de perfis de Agentes da PSP, logo por isso, tomamos também a liberdade de partilhar uma foto do Excelentíssimo”, lê-se num texto publicado por “Charlie Papa”, acompanhando um meme com a imagem de Mamadu Ba e responsabilizando-o pela manifestação de segunda-feira, que classifica como um “Arrastão” (embora não haja registo de quaisquer assaltos durante a mesma).

Eis alguns dos comentários a essa publicação: “Por estas razões é que eu estou a radicalizar o meu pensamento acerca destas comunidades, eles que vão para a terra dos pais deles”; “Como é que um vendedor de tapetes vira assessor não sei das quantas?”; “Quem está por trás é escumalha”; “Não perdes pela demora” (este escrito por um agente da PSP); “Pois bem, este indivíduo por mim era o primeiro a levar no focinho” (da autoria de outro agente da PSP); “Porco” (assinado por um agente das “forças de segurança”); “Tiro no centro da testa”; “Esse verme que vá para a terra dele”; etc.

Nas mesmas páginas, outro agente da PSP divulgou uma publicação de Mamadou Ba no Facebook em que faz referência à “bosta da bófia”. A imagem desta publicação suscitou mais uma vaga de insultos de cariz racista e xenófobo, além de incitamento ao ódio e à violência. Também há indicações sobre perfis de Mamadou Ba nas redes sociais, como que sugerindo contactos diretos com o mesmo.

Outra visada foi Joana Mortágua, por causa de um tweet no qual difundiu um vídeo da intervenção policial no Seixal, tendo escrito o seguinte comentário: “São quatro minutos de violência policial no bairro da Jamaica. Podem ir começando a pensar em desculpas mas não há explicação para isto. O Bloco vai exigir responsabilidades”.

A reação de “Charlie Papa” foi quase instantânea. “Esta Ignorante diz na sua página que o Bloco irá pedir responsabilidades pelos quatro minutos de violência policial no bairro da Jamaica. Eu gostaria de pedir apoio psiquiátrico pelas quatro linhas de estupidez humana escritas naquele post. Se o vídeo exibido for o mesmo que eu vi, são de facto quatro minutos de violência, delinquência e ataques contra a polícia. Vários agentes agredidos e insultados, impedidos de efectivar uma detenção em segurança, detenção essa de um criminoso que atentou contra a vida de um profissional. Este Bloco de Esquerda nojento, imoral deveria ser extinto por atentar contra a lei e bons costumes de uma sociedade democrática”, escreveu, em publicação acompanhada de um meme com a imagem de Joana Mortágua e difundida no seu perfil e nas páginas “Carro de Patrulha 1” e “Carro de Patrulha 2”.

Eis alguns dos comentários (são centenas no total) a essa publicação: “Esta gaja devia era de levar nos cornos, e estão eles nos comandos do nosso país”; “Filha de bombista sabe nadar”; “Vai chupar aquilo de que gostas”; “Vai dar banho ao cão”; “Uma filha delinquente a defender a ‘família’” (este da autoria de um agente da PSP); “O BE passa a vida a exigir responsabilidades da polícia em tudo o que é noticia. Curioso é que nunca os vejo a exigir responsabilidades sociais às minorias envolvidas” (escrito por outro agente da PSP); “Esta sai mesmo ao paizinho” (mais um agente da PSP); “Essa porca vacarrona segadora de dildos” (da autoria de outro agente da PSP); “A culpa é nossa em votar nesta gente de merda!” (escrito por um ex-fuzileiro); “Metam-me fechada numa sala só com ela” (mais uma agente da PSP); “Depois admirem-se se o PNR receber muitos votos”, acrescenta outro um agente da PSP, numa caixa de comentários em que são muitas as manifestações de racismo, xenofobia, misoginia, incitamento à violência e até apologia do fascismo.

“Cortar o Rendimento Social de Inserção a esta gente e entravam na linha”; “Corda nova, pedra velha e pendurado na ponte Oliveira Salazar”; “Pois bem, este indivíduo [Mamadou Ba, dirigente do movimento SOS Racismo e assessor do Bloco de Esquerda (BE)] por mim era o primeiro a levar no focinho”; “Porco” ; “Tiro no centro da testa”; “Esse verme que vá para a terra dele”. “Essa javarda [Joana Mortágua, deputada do BE e vereadora da Câmara Municipal de Almada] quer é votos dessa gente miserável, carga neles!"; “Esta gaja devia era de levar nos cornos”. Quem são os autores destas frases? Resposta: agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), membros das forças de segurança ou simples anónimos. Onde foram proferidas? Em duas páginas do Facebook - "Carro de Patrulha 1" e "Carro de Patrulha 2" - e um perfil individual ("Charlie Papa"), seguidas e alimentadas por dezenas de milhares de pessoas, entre elas muitos agentes da PSP e de outras forças de segurança, e em que o ódio racial, a violência gratuita e até o incentivo ao fascismo estão muito presentes - sobretudo quando o tema é a polémica intervenção policial no bairro da Jamaica, Seixal, no passado domingo, 20.

Na sequência da polémica intervenção policial no bairro da Jamaica o trio de páginas fervilhou com sucessivas publicações em defesa dos agentes da polícia e contra os residentes do bairro.

A pedido de vários leitores, o Polígrafo analisou as páginas em questão e concluiu que todas se dedicam a partilhar informação e opinião sobre matérias relacionadas com a atividade dos agentes da PSP. “Entretenimento e motivação a elementos das forças de segurança portuguesas e cidadãos de bem que apoiam as forças de segurança portuguesas”, lê-se no texto de apresentação da página “Carro de Patrulha 1”, a qual tem mais de 15 mil seguidores. “Se és operacional de polícia, se és amigo ou familiar de polícia, se és cidadão de bem, cumpridor e gostas da polícia, esta é a tua página. Segue-nos”, indica a página “Carro de Patrulha 2”, com cerca de 8 mil seguidores. Também há grupos privados de WhatsApp interligados às duas páginas. A pessoa que utiliza o pseudónimo “Charlie Papa” indica no próprio perfil que é “administrador da página Carro de Patrulha, motivador das Forças de Segurança” e “trabalha no Ministério da Administração Interna”. O Polígrafo tentou contactá-la para confirmar se se trata ou não de um agente da PSP, mas não obteve resposta.

Na sequência da polémica intervenção policial no bairro da Jamaica o trio de páginas fervilhou com sucessivas publicações em defesa dos agentes da polícia e contra os residentes do bairro. A agressividade latente dos textos e dos comentários tornou-se mais explícita, entrando claramente no discurso de ódio, com os desenvolvimentos do caso: as reações de Mamadou Ba e de Joana Mortágua; a manifestação de segunda-feira na Avenida da Liberdade, em Lisboa, por residentes do bairro da Jamaica, culminando em nova intervenção policial; e os automóveis incendiados e esquadras da PSP apedrejadas, entre outros estragos, na madrugada de terça-feira, em várias localidades do distrito de Lisboa.

Mamadou Ba foi o mais visado nas publicações das três páginas, tendo sido inclusivamente protagonista de memes agressivos, claramente fabricados para serem partilhados pela comunidade. “Ninguém consegue entender quem está por trás destes movimentos, que há muito temos vindo a avisar que existem, de oradores que nas redes sociais, fazem apologia ao crime, manipulando as cabeças fracas destes delinquentes, que acreditam nestes falsos profetas, moralistas sem moral. Este é apenas o mais mediático, mas outros mais existem, muitos deles nem em Portugal residem, mas de fora incentivam ao ódio e à violência, usando a desculpa do racismo como mote. Hoje este activista que vive à custa do erário público, deu-se ao desplante de partilhar fotos de perfis de Agentes da PSP, logo por isso, tomamos também a liberdade de partilhar uma foto do Excelentíssimo”, lê-se num texto publicado por “Charlie Papa”, acompanhando um meme com a imagem de Mamadu Ba e responsabilizando-o pela manifestação de segunda-feira, que classifica como um “Arrastão” (embora não haja registo de quaisquer assaltos durante a mesma).

Eis alguns dos comentários a essa publicação: “Por estas razões é que eu estou a radicalizar o meu pensamento acerca destas comunidades, eles que vão para a terra dos pais deles”; “Como é que um vendedor de tapetes vira assessor não sei das quantas?”; “Quem está por trás é escumalha”; “Não perdes pela demora” (este escrito por um agente da PSP); “Pois bem, este indivíduo por mim era o primeiro a levar no focinho” (da autoria de outro agente da PSP); “Porco” (assinado por um agente das “forças de segurança”); “Tiro no centro da testa”; “Esse verme que vá para a terra dele”; etc.

Nas mesmas páginas, outro agente da PSP divulgou uma publicação de Mamadou Ba no Facebook em que faz referência à “bosta da bófia”. A imagem desta publicação suscitou mais uma vaga de insultos de cariz racista e xenófobo, além de incitamento ao ódio e à violência. Também há indicações sobre perfis de Mamadou Ba nas redes sociais, como que sugerindo contactos diretos com o mesmo.

Outra visada foi Joana Mortágua, por causa de um tweet no qual difundiu um vídeo da intervenção policial no Seixal, tendo escrito o seguinte comentário: “São quatro minutos de violência policial no bairro da Jamaica. Podem ir começando a pensar em desculpas mas não há explicação para isto. O Bloco vai exigir responsabilidades”.

A reação de “Charlie Papa” foi quase instantânea. “Esta Ignorante diz na sua página que o Bloco irá pedir responsabilidades pelos quatro minutos de violência policial no bairro da Jamaica. Eu gostaria de pedir apoio psiquiátrico pelas quatro linhas de estupidez humana escritas naquele post. Se o vídeo exibido for o mesmo que eu vi, são de facto quatro minutos de violência, delinquência e ataques contra a polícia. Vários agentes agredidos e insultados, impedidos de efectivar uma detenção em segurança, detenção essa de um criminoso que atentou contra a vida de um profissional. Este Bloco de Esquerda nojento, imoral deveria ser extinto por atentar contra a lei e bons costumes de uma sociedade democrática”, escreveu, em publicação acompanhada de um meme com a imagem de Joana Mortágua e difundida no seu perfil e nas páginas “Carro de Patrulha 1” e “Carro de Patrulha 2”.

Eis alguns dos comentários (são centenas no total) a essa publicação: “Esta gaja devia era de levar nos cornos, e estão eles nos comandos do nosso país”; “Filha de bombista sabe nadar”; “Vai chupar aquilo de que gostas”; “Vai dar banho ao cão”; “Uma filha delinquente a defender a ‘família’” (este da autoria de um agente da PSP); “O BE passa a vida a exigir responsabilidades da polícia em tudo o que é noticia. Curioso é que nunca os vejo a exigir responsabilidades sociais às minorias envolvidas” (escrito por outro agente da PSP); “Esta sai mesmo ao paizinho” (mais um agente da PSP); “Essa porca vacarrona segadora de dildos” (da autoria de outro agente da PSP); “A culpa é nossa em votar nesta gente de merda!” (escrito por um ex-fuzileiro); “Metam-me fechada numa sala só com ela” (mais uma agente da PSP); “Depois admirem-se se o PNR receber muitos votos”, acrescenta outro um agente da PSP, numa caixa de comentários em que são muitas as manifestações de racismo, xenofobia, misoginia, incitamento à violência e até apologia do fascismo.

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