Juan Carlos, o Podemos e a Joana Mortágua

15-08-2020
marcar artigo

Portugal está na antecâmara dos maiores problemas sociais e económicos da sua história, mas o que a alguns parece importar é falar sobre o cenário político de Espanha. É isto que se passa nalguns quadrantes da sociedade portuguesa – uns fá-lo-ão por convicção e outros para distrair as atenções do que verdadeiramente interessa.

Para não ser mal interpretado, quero só aclarar desde já que o meu intuito não é defender Juan Carlos das suas alegadas ilegalidades. Uma coisa é atacá-lo por elas. É legítimo. Outra, que é a que me leva a escrever e não tem cabimento, é partir daí para colocar em causa o seu imenso e inquestionável legado político, bem como todo o regime político espanhol.

Há dias, neste mesmo jornal, li com interesse um artigo da Joana Mortágua e senti imensa preocupação da sua parte com o que se passa do lado de lá da fronteira. É legítimo, pese embora fosse mais proveitoso preocupar-se com o estado do país pelo qual foi eleita. Mas Joana não aguentou e saiu em defesa dos seus congéneres do Podemos, essa corja política que conduz Espanha ao abismo. Sim, o Podemos. Não foi/é Juan Carlos.

Analisando, começou dando a bicada por Juan Carlos poder estar em Portugal e, supostamente, ser cá recebido por membros da família Espírito Santo. Tudo bons rapazes, considerou. Ó Joana, se continuamos a ter entre nós assaltantes de bancos ou sequestradores de aviões ou navios, ainda que já retirados, não percebo o perigo de termos agora um rei emérito sob investigação.

Prosseguindo, Joana elencou ainda de forma bastante eloquente os motivos que terão levado Juan Carlos a sair de Espanha, o trajeto dos alegados 100 milhões até à conta de uma suposta amante real, situada numa offshore, e mencionou ainda a célebre caçada aos elefantes (tendo pelo menos a decência de esclarecer que a caçada foi paga pelo assessor da família real saudita, e não pelos espanhóis).

É um relato, ao que parece, factual. Porém, estragou tudo quando, afinal, este elencar de circunstâncias serviu apenas para atacar a lógica e capacidade de uma democracia sustentar um regime monárquico – sustentar uma casta de laços sanguíneos, como lhe chamou, aproveitando para martirizar o Podemos, essa corja, repito.

Saberá porventura a senhora deputada que, tanto quanto se noticiou em tempos, a casa real espanhola custa menos aos seus contribuintes que a Presidência da República aos nossos?

Saberá porventura a senhora deputada quão importante foi Juan Carlos na união de uma Espanha socialmente desfeita e politicamente sempre ténue, como é seu apanágio?

Saberá porventura a senhora deputada que foi graças a Juan Carlos, o mesmo que tanto ataca, que os seus congéneres partidários puderam sequer almejar a possibilidade de terem representação política?

Saberá porventura a senhora deputada que, em Espanha, o maior defensor da democracia com que tanto enche essa boca foi o Rei Juan Carlos?

Não quererá escrever a senhora deputada também sobre as alegadas notícias que dão conta de que o Podemos anda para aí metido em alegados esquemas de faturações estranhas?

Já que tanto critica Juan Carlos por ter ido caçar elefantes quando os espanhóis atravessavam dificuldades, não quer criticar também Pablo Iglesias por ter comprado uma casa de 600 mil euros? Isto quando antes criticou um deputado de direita por tê-lo feito também?

É isto que me aborrece no BE: a sua deslealdade intelectual. Um partido que não tem pejo em fazer-se passar por dono da moral e dos bons costumes quando, na verdade, fazem o mesmo que nos outros criticam e gostam dos que fazem igual ou pior que os que condenam. Ai, o Robles, o Robles!!

Aquilo que a senhora deputada pretendeu, sem a coragem de o assumir, foi tirar partido de um problema jurídico para apelar à queda da monarquia em Espanha. Como sabe que essa tentativa não encontraria respaldo nos seus argumentos, alvitrou que a monarquia espanhola resultou de um pacto com a ditadura, tentando assim torná-la ilegítima. Tenha vergonha.

Para terminar, Joana. Uma vez que no último parágrafo deixou no ar que as alegadas ilegalidades de Juan Carlos deveriam ser o mote para se discutir a viabilidade da continuidade monárquica em Espanha, não me leve a mal, que não quero de maneira nenhuma ofendê-la, mas alguém tem de lhe dizer as verdades.

Se considera que o alegado crime de um pai se deve refletir na vida do filho e que, nesta lógica, as falhas de Juan Carlos colocam em causa o reinado de Filipe vi, então, lamento, mas a olhar a algumas condutas que o senhor seu pai teve quando era mais novo, a senhora não pode ser deputada em Portugal nem em lugar nenhum deste mundo.

Escreve à sexta-feira

Portugal está na antecâmara dos maiores problemas sociais e económicos da sua história, mas o que a alguns parece importar é falar sobre o cenário político de Espanha. É isto que se passa nalguns quadrantes da sociedade portuguesa – uns fá-lo-ão por convicção e outros para distrair as atenções do que verdadeiramente interessa.

Para não ser mal interpretado, quero só aclarar desde já que o meu intuito não é defender Juan Carlos das suas alegadas ilegalidades. Uma coisa é atacá-lo por elas. É legítimo. Outra, que é a que me leva a escrever e não tem cabimento, é partir daí para colocar em causa o seu imenso e inquestionável legado político, bem como todo o regime político espanhol.

Há dias, neste mesmo jornal, li com interesse um artigo da Joana Mortágua e senti imensa preocupação da sua parte com o que se passa do lado de lá da fronteira. É legítimo, pese embora fosse mais proveitoso preocupar-se com o estado do país pelo qual foi eleita. Mas Joana não aguentou e saiu em defesa dos seus congéneres do Podemos, essa corja política que conduz Espanha ao abismo. Sim, o Podemos. Não foi/é Juan Carlos.

Analisando, começou dando a bicada por Juan Carlos poder estar em Portugal e, supostamente, ser cá recebido por membros da família Espírito Santo. Tudo bons rapazes, considerou. Ó Joana, se continuamos a ter entre nós assaltantes de bancos ou sequestradores de aviões ou navios, ainda que já retirados, não percebo o perigo de termos agora um rei emérito sob investigação.

Prosseguindo, Joana elencou ainda de forma bastante eloquente os motivos que terão levado Juan Carlos a sair de Espanha, o trajeto dos alegados 100 milhões até à conta de uma suposta amante real, situada numa offshore, e mencionou ainda a célebre caçada aos elefantes (tendo pelo menos a decência de esclarecer que a caçada foi paga pelo assessor da família real saudita, e não pelos espanhóis).

É um relato, ao que parece, factual. Porém, estragou tudo quando, afinal, este elencar de circunstâncias serviu apenas para atacar a lógica e capacidade de uma democracia sustentar um regime monárquico – sustentar uma casta de laços sanguíneos, como lhe chamou, aproveitando para martirizar o Podemos, essa corja, repito.

Saberá porventura a senhora deputada que, tanto quanto se noticiou em tempos, a casa real espanhola custa menos aos seus contribuintes que a Presidência da República aos nossos?

Saberá porventura a senhora deputada quão importante foi Juan Carlos na união de uma Espanha socialmente desfeita e politicamente sempre ténue, como é seu apanágio?

Saberá porventura a senhora deputada que foi graças a Juan Carlos, o mesmo que tanto ataca, que os seus congéneres partidários puderam sequer almejar a possibilidade de terem representação política?

Saberá porventura a senhora deputada que, em Espanha, o maior defensor da democracia com que tanto enche essa boca foi o Rei Juan Carlos?

Não quererá escrever a senhora deputada também sobre as alegadas notícias que dão conta de que o Podemos anda para aí metido em alegados esquemas de faturações estranhas?

Já que tanto critica Juan Carlos por ter ido caçar elefantes quando os espanhóis atravessavam dificuldades, não quer criticar também Pablo Iglesias por ter comprado uma casa de 600 mil euros? Isto quando antes criticou um deputado de direita por tê-lo feito também?

É isto que me aborrece no BE: a sua deslealdade intelectual. Um partido que não tem pejo em fazer-se passar por dono da moral e dos bons costumes quando, na verdade, fazem o mesmo que nos outros criticam e gostam dos que fazem igual ou pior que os que condenam. Ai, o Robles, o Robles!!

Aquilo que a senhora deputada pretendeu, sem a coragem de o assumir, foi tirar partido de um problema jurídico para apelar à queda da monarquia em Espanha. Como sabe que essa tentativa não encontraria respaldo nos seus argumentos, alvitrou que a monarquia espanhola resultou de um pacto com a ditadura, tentando assim torná-la ilegítima. Tenha vergonha.

Para terminar, Joana. Uma vez que no último parágrafo deixou no ar que as alegadas ilegalidades de Juan Carlos deveriam ser o mote para se discutir a viabilidade da continuidade monárquica em Espanha, não me leve a mal, que não quero de maneira nenhuma ofendê-la, mas alguém tem de lhe dizer as verdades.

Se considera que o alegado crime de um pai se deve refletir na vida do filho e que, nesta lógica, as falhas de Juan Carlos colocam em causa o reinado de Filipe vi, então, lamento, mas a olhar a algumas condutas que o senhor seu pai teve quando era mais novo, a senhora não pode ser deputada em Portugal nem em lugar nenhum deste mundo.

Escreve à sexta-feira

marcar artigo