Centro de atracção

25-08-1999
marcar artigo

CCB: o espaço mandado construir por Cavaco Silva para receber a presidência portuguesa da Comunidade Europeia não degenerou em «elefante branco» e tem vida própria. Um balanço cujos resultados injectam optimismo na previsão do dia seguinte à Expo-98

Os números oficiais disponíveis, facultados pela Fundação das Descobertas, que gere o CCB, provam o contrário.

Mais sessões por espectáculo

Nos espectáculos, um dos vectores fundamentais da programação do centro, o CCB teve entre 1994 e 1997 uma taxa de ocupação média de 66 por cento dos 1853 lugares disponíveis, divididos por grande auditório, pequeno auditório e sala de ensaios. Por ano, a taxa de ocupação traduziu-se em 119 mil espectadores em 1994, 139 mil em 1995, 117 mil em 1996 e 147 mil em 1997. A descida verificada em 1996 é explicada pelo facto de o Centro ter estado reservado, durante dois meses, para a cimeira da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Para a subida do número de espectadores concorreram o maior número de espectáculos e, sobretudo, de sessões. Em 1994 realizaram-se 164 sessões (de 95 espectáculos), contra 194 sessões em 1995 (113 espectáculos), 242 sessões em 1996 (112 espectáculos) e 416 sessões (de 168 espectáculos) em 1997.

As exposições são o outro grande vector de actividade do CCB. Logo em 1994, a elas assistiram 231 mil pessoas. «The Gate of the present», com 55 mil espectadores, e «O rosto da máscara», com 30 mil, foram os «best of» desse ano. Em 1995, o número de visitantes das mostras baixou para 195 mil, com «A pintura maneirista em Portugal» a ser a mais visitada, por 25 mil pessoas.

Em 1996 a afluência desceu ainda mais, para 193 mil pessoas, mas devido à cimeira da OSCE. Nesse ano, «A magia da Imagem» atraiu 36 mil pessoas.

O ano dos recordes

1997 foi o ano do grande recorde: 278 mil pessoas percorreram as exposições feitas no centro. «La Villete» e a antológica de Paula Rego, cada uma delas com mais de 60 mil visitantes, foram as mais visitadas. Curiosamente, Francis Picabia, uma grande aposta dos programadores, só levou 16 mil pessoas a Belém.

Miguel Lobo Antunes, o administrador da Fundação das Descobertas que detém o pelouro da programação cultural, considera que «taxas de ocupação de 66 por cento são extraordinárias para qualquer equipamento cultural». Antunes faz o balanço da actividade do CCB de forma curiosa: «Padecemos do fracasso do sucesso. Como o público respondeu, e não temos défice orçamental, o Governo tem diminuído progressivamente a sua contribuição. Deve ser ao contrário, se a fórmula resulta é de investir nela». Opinião diferente tem o ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, para quem o Executivo «investe o que deve e pode no CCB».

Segundo o administrador, a estratégia para os espectáculos «privilegia uma grande diversidade de artistas e estéticas, desde que tenham qualidade, de modo a captar o maior número possível de públicos», enquanto nas exposições os programadores optam «decisivamente pela arte contemporânea e moderna».

À beira do circuito internacional

A avaliação do papel do CCB não suscita hoje um discurso crítico que se fazia ouvir há cinco anos, embora a unanimidade seja matizada por alguns reparos pontuais.

Carrilho considera que «a estratégia cultural do CCB é correcta nos espectáculos, mas há aspectos a melhorar nas exposições, como a inserção regular no circuito das grandes exposições internacionais».

Já o crítico e professor universitário Eduardo Prado Coelho diz que «depois de tantas críticas, o CCB entrou nos hábitos dos portugueses, fruto de uma programação interessante, variada e aberta. Trouxe coisas que de outro modo não se veriam».

A adopção pela cidade

Teresa Patrício Gouveia, deputada do PSD e ex-ministra da Cultura que lançou o projecto, sublinha que «a programação foi fazendo o seu caminho, encontrou-se, e está adaptada ao tipo de público que deve receber. Isto aconteceu porque a cidade adoptou o edifício».

António Lamas, ex-presidente do Instituto Português do Património Cultural, um dos pais do projecto do CCB, afirma que a dinâmica «podia ser melhor, embora tudo o que seja tirar partido daquele espaço se torna válido. O CCB foi gerido por pessoas tristes, até chegar este Governo, o primeiro a gostar do Centro».

Manuel Falcão, a primeira pessoa a estar à frente da programação de espectáculos do Centro, defende que «o CCB teve sucesso porque combinou qualidade com criações que atraem o grande público. Ultimamente, a escolha tem sido para públicos mais minoritários, e isso pode esbater a marca CCB».

António Barreto, o principal crítico do projecto, fora da lógica partidária - autor da designação «Centro Comercial de Belém» -, não quis falar ao EXPRESSO.

Com um orçamento de programação que em 1997 rondou os 900 mil contos, e este ano não chega aos 700 mil, o CCB vai manter a mesma estratégia, diz Lobo Antunes. Longe de serem concretizados, por falta de dinheiro, estão dois projectos estruturantes: a criação de uma colecção permanente e a construção dos módulos 4 e 5.

José Vegar

CCB: o espaço mandado construir por Cavaco Silva para receber a presidência portuguesa da Comunidade Europeia não degenerou em «elefante branco» e tem vida própria. Um balanço cujos resultados injectam optimismo na previsão do dia seguinte à Expo-98

Os números oficiais disponíveis, facultados pela Fundação das Descobertas, que gere o CCB, provam o contrário.

Mais sessões por espectáculo

Nos espectáculos, um dos vectores fundamentais da programação do centro, o CCB teve entre 1994 e 1997 uma taxa de ocupação média de 66 por cento dos 1853 lugares disponíveis, divididos por grande auditório, pequeno auditório e sala de ensaios. Por ano, a taxa de ocupação traduziu-se em 119 mil espectadores em 1994, 139 mil em 1995, 117 mil em 1996 e 147 mil em 1997. A descida verificada em 1996 é explicada pelo facto de o Centro ter estado reservado, durante dois meses, para a cimeira da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Para a subida do número de espectadores concorreram o maior número de espectáculos e, sobretudo, de sessões. Em 1994 realizaram-se 164 sessões (de 95 espectáculos), contra 194 sessões em 1995 (113 espectáculos), 242 sessões em 1996 (112 espectáculos) e 416 sessões (de 168 espectáculos) em 1997.

As exposições são o outro grande vector de actividade do CCB. Logo em 1994, a elas assistiram 231 mil pessoas. «The Gate of the present», com 55 mil espectadores, e «O rosto da máscara», com 30 mil, foram os «best of» desse ano. Em 1995, o número de visitantes das mostras baixou para 195 mil, com «A pintura maneirista em Portugal» a ser a mais visitada, por 25 mil pessoas.

Em 1996 a afluência desceu ainda mais, para 193 mil pessoas, mas devido à cimeira da OSCE. Nesse ano, «A magia da Imagem» atraiu 36 mil pessoas.

O ano dos recordes

1997 foi o ano do grande recorde: 278 mil pessoas percorreram as exposições feitas no centro. «La Villete» e a antológica de Paula Rego, cada uma delas com mais de 60 mil visitantes, foram as mais visitadas. Curiosamente, Francis Picabia, uma grande aposta dos programadores, só levou 16 mil pessoas a Belém.

Miguel Lobo Antunes, o administrador da Fundação das Descobertas que detém o pelouro da programação cultural, considera que «taxas de ocupação de 66 por cento são extraordinárias para qualquer equipamento cultural». Antunes faz o balanço da actividade do CCB de forma curiosa: «Padecemos do fracasso do sucesso. Como o público respondeu, e não temos défice orçamental, o Governo tem diminuído progressivamente a sua contribuição. Deve ser ao contrário, se a fórmula resulta é de investir nela». Opinião diferente tem o ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, para quem o Executivo «investe o que deve e pode no CCB».

Segundo o administrador, a estratégia para os espectáculos «privilegia uma grande diversidade de artistas e estéticas, desde que tenham qualidade, de modo a captar o maior número possível de públicos», enquanto nas exposições os programadores optam «decisivamente pela arte contemporânea e moderna».

À beira do circuito internacional

A avaliação do papel do CCB não suscita hoje um discurso crítico que se fazia ouvir há cinco anos, embora a unanimidade seja matizada por alguns reparos pontuais.

Carrilho considera que «a estratégia cultural do CCB é correcta nos espectáculos, mas há aspectos a melhorar nas exposições, como a inserção regular no circuito das grandes exposições internacionais».

Já o crítico e professor universitário Eduardo Prado Coelho diz que «depois de tantas críticas, o CCB entrou nos hábitos dos portugueses, fruto de uma programação interessante, variada e aberta. Trouxe coisas que de outro modo não se veriam».

A adopção pela cidade

Teresa Patrício Gouveia, deputada do PSD e ex-ministra da Cultura que lançou o projecto, sublinha que «a programação foi fazendo o seu caminho, encontrou-se, e está adaptada ao tipo de público que deve receber. Isto aconteceu porque a cidade adoptou o edifício».

António Lamas, ex-presidente do Instituto Português do Património Cultural, um dos pais do projecto do CCB, afirma que a dinâmica «podia ser melhor, embora tudo o que seja tirar partido daquele espaço se torna válido. O CCB foi gerido por pessoas tristes, até chegar este Governo, o primeiro a gostar do Centro».

Manuel Falcão, a primeira pessoa a estar à frente da programação de espectáculos do Centro, defende que «o CCB teve sucesso porque combinou qualidade com criações que atraem o grande público. Ultimamente, a escolha tem sido para públicos mais minoritários, e isso pode esbater a marca CCB».

António Barreto, o principal crítico do projecto, fora da lógica partidária - autor da designação «Centro Comercial de Belém» -, não quis falar ao EXPRESSO.

Com um orçamento de programação que em 1997 rondou os 900 mil contos, e este ano não chega aos 700 mil, o CCB vai manter a mesma estratégia, diz Lobo Antunes. Longe de serem concretizados, por falta de dinheiro, estão dois projectos estruturantes: a criação de uma colecção permanente e a construção dos módulos 4 e 5.

José Vegar

marcar artigo