A Talhe de Foice

12-11-1997
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A TALHE DE FOICE

Fitas

M arcelo Rebelo de Sousa (MRS) foi segunda-feira à SIC para explicar em directo aos telespectadores do canal de Carnaxide porque é que nesse mesmíssimo dia não poderia ser visto no debate político que reuniu na RTP António Gueterres, Carlos Carvalhas e Manuel Monteiro. Que debates só a dois, diz, deixando no ar a ideia de que isto da política é como o casamento, tudo o que transcenda o par é multidão a dar para a promiscuidade. Tanto mais, como fez o favor de explicar o professor, que «o confronto que os portugueses esperariam neste momento era entre o primeiro-ministro e o líder da oposição», ou seja ele próprio. Pelo que, não tendo Guterres aceitado o tête-à-tête, logo ali foi apontado como exemplo de «autoritarismo e de falta de coragem».

É verdade que MRS não explicou como é que, havendo vários partidos da oposição com assento parlamentar, sendo que dois à direita e um à esquerda, ele ascendeu ao cargo de líder da dita, ou das ditas; ou até mesmo se com rigor se pode afirmar que PSD e PP são oposição ao PS, tamanho é o entendimento que a diversos níveis manifestam, como é o caso mais recente da revisão constitucional, onde um diz «mata» e logo os outros gritam «esfola». Sendo certo que lá para as bandas do PSD os cargos são como as cerejas, tanto caem no colo de uma rodagem de carro como na batina de um examinador encartado, manda a decência que as coisas, não sendo sérias, ao menos o aparentem. Afinal, vivemos na era da imagem. Lá por ser virtual, a realidade não deixa de ter as suas exigências. Com a agravante de que MRS tem ainda muita côdea para roer até se afirmar como líder, seja lá do que for. Se ainda nem conseguiu convencer o PSD...

Mas adiante. Grave, mesmo grave, foi aquela de MRS dizer esperar que Guterres, «depois deste treino, deste aquecimento, aceite um dia jogar a nível de seniores». Ó doutor, então «o primeiro milho é para os pardais»? Então PCP e PP são arraia miúda? Júniores da política? Manuel Monteiro vá que não vá, caído de paraquedas no Largo do Caldas ainda não se sabe bem como. Mas Carlos Carvalhas? O dirigente de um Partido que já escrevia a História do país quando MRS ainda nem sonhava aprender a nadar para se lançar ao Tejo a ver se pescava a Câmara de Lisboa?

É caso para pensar que MRS ficou nervoso com o «jogo», perdeu a pose, esqueceu as conveniências, teve uma secura de boca que lhe obliterou a verborreia democrática. Talvez por isso MRS foi a correr à SIC provar a máxima «apareço, logo existo». Para jogador de sueca nem mostrou grande tacto. Revelou os trunfos antes de tempo. A meio da tarde, com aquele ar de Madalena arrependida que lhe assenta tão bem, Teresa Patrício Gouveia já havia informado a imprensa que o líder do PSD voltava a «desafiar o primeiro-ministro para um verdadeiro e esclarecedor debate político, blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá...»

Na SIC, nada de novo. Quem estava à espera de Marcelo, «O Destruidor», teve que se contentar com Chuck Norris, o das outras fitas, que chegou depois.

A TALHE DE FOICE

Fitas

M arcelo Rebelo de Sousa (MRS) foi segunda-feira à SIC para explicar em directo aos telespectadores do canal de Carnaxide porque é que nesse mesmíssimo dia não poderia ser visto no debate político que reuniu na RTP António Gueterres, Carlos Carvalhas e Manuel Monteiro. Que debates só a dois, diz, deixando no ar a ideia de que isto da política é como o casamento, tudo o que transcenda o par é multidão a dar para a promiscuidade. Tanto mais, como fez o favor de explicar o professor, que «o confronto que os portugueses esperariam neste momento era entre o primeiro-ministro e o líder da oposição», ou seja ele próprio. Pelo que, não tendo Guterres aceitado o tête-à-tête, logo ali foi apontado como exemplo de «autoritarismo e de falta de coragem».

É verdade que MRS não explicou como é que, havendo vários partidos da oposição com assento parlamentar, sendo que dois à direita e um à esquerda, ele ascendeu ao cargo de líder da dita, ou das ditas; ou até mesmo se com rigor se pode afirmar que PSD e PP são oposição ao PS, tamanho é o entendimento que a diversos níveis manifestam, como é o caso mais recente da revisão constitucional, onde um diz «mata» e logo os outros gritam «esfola». Sendo certo que lá para as bandas do PSD os cargos são como as cerejas, tanto caem no colo de uma rodagem de carro como na batina de um examinador encartado, manda a decência que as coisas, não sendo sérias, ao menos o aparentem. Afinal, vivemos na era da imagem. Lá por ser virtual, a realidade não deixa de ter as suas exigências. Com a agravante de que MRS tem ainda muita côdea para roer até se afirmar como líder, seja lá do que for. Se ainda nem conseguiu convencer o PSD...

Mas adiante. Grave, mesmo grave, foi aquela de MRS dizer esperar que Guterres, «depois deste treino, deste aquecimento, aceite um dia jogar a nível de seniores». Ó doutor, então «o primeiro milho é para os pardais»? Então PCP e PP são arraia miúda? Júniores da política? Manuel Monteiro vá que não vá, caído de paraquedas no Largo do Caldas ainda não se sabe bem como. Mas Carlos Carvalhas? O dirigente de um Partido que já escrevia a História do país quando MRS ainda nem sonhava aprender a nadar para se lançar ao Tejo a ver se pescava a Câmara de Lisboa?

É caso para pensar que MRS ficou nervoso com o «jogo», perdeu a pose, esqueceu as conveniências, teve uma secura de boca que lhe obliterou a verborreia democrática. Talvez por isso MRS foi a correr à SIC provar a máxima «apareço, logo existo». Para jogador de sueca nem mostrou grande tacto. Revelou os trunfos antes de tempo. A meio da tarde, com aquele ar de Madalena arrependida que lhe assenta tão bem, Teresa Patrício Gouveia já havia informado a imprensa que o líder do PSD voltava a «desafiar o primeiro-ministro para um verdadeiro e esclarecedor debate político, blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá...»

Na SIC, nada de novo. Quem estava à espera de Marcelo, «O Destruidor», teve que se contentar com Chuck Norris, o das outras fitas, que chegou depois.

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