Luanda à conquista do Bailundo

13-10-1999
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UNITA alega que há militares portugueses ao lado das tropas angolanas

Luanda à Conquista do Bailundo

Por JORGE HEITOR

Terça-feira, 28 de Setembro de 1999 As tropas de José Eduardo dos Santos estão a tentar tomar de assalto o Bailundo, quartel-general de Jonas Savimbi. A UNITA, que fala numa "situação gravíssima mas não desesperante", alega que há militares portugueses ao lado das tropas de Luanda. Em algumas cidades angolanas, a população só consegue sobreviver comendo cães e gatos. As Forças Armadas Angolanas (FAA) reafirmaram ontem que está em curso uma operação contra o Bailundo, dirigida pelo chefe do respectivo Estado-Maior, general João de Matos; e fontes da UNITA disseram ao PÚBLICO que "a situação é gravíssima, mas não desesperante". Um diplomata acreditado em Luanda chegou a declarar à correspondente da Reuters, Lara Pawson, que as FAA já teriam mesmo capturado o quartel-general de Savimbi, o que no entanto não foi confirmado pelo vice-ministro angolano das Relações Exteriores, George Chikoty, presentemente de visita a Portugal. "O Estado angolano tem vindo a repor a legalidade em várias regiões, mas não posso confirmar o Bailundo em especial", disse Chikoty, salientando que a situação político-militar em Angola continua bastante difícil. "Não vai ser fácil tomarem o Bailundo, apesar de recorrerem a napalm e bombas de fósforo", afirmou, por seu turno, o representante da UNITA em Genebra, João Vahekeni. Este acusa que "há elementos portugueses no Estado-Maior das FAA" e diz não acreditar que "vão por conta própria". A acusação deste colaborador de Savimbi foi feita numa altura em que se encontra de visita oficial a Luanda o chefe do Estado-Maior do Exército português, general António Eduardo Martins Barrento, que deverá ter encontros tanto com João de Matos como com o ministro da Defesa, general Kundi Paihama. "Portugal procura responder às solicitações de Angola" no âmbito da cooperação bilateral na área técnico-militar, e a formação de comandos é um dos sectores privilegiados, reconheceu o general Martins Barrento, citado pela Lusa. "O Instituto de Altos Estudos Militares de Portugal está muito empenhado na formação de oficiais angolanos, e julgo que Angola está muito satisfeita com este intercâmbio", acrescentou. "Pediram-nos formação de comandos e estamos a dá-la". Uma situação trágica As visitas simultâneas de George Chikoty a Lisboa e de Martins Barrento a Luanda ocorrem numa altura em que os casos de fome aumentam no Planalto Central, como têm revelado fontes eclesiásticas, segundo as quais a população só consegue sobreviver comendo cães, gatos, raízes e folhas de plantas. Dois milhões de angolanos, quase um quinto da população, estão a viver em níveis subhumanos, sob a ameaça de não conseguirem sobreviver por muito mais tempo; mas desses só 600.000 têm sido auxiliados por organizações internacionais, conforme disse o mês passado o subsecretário das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Foi no meio deste contexto trágico que surgiu nas últimas 48 horas a polémica sobre se as FAA já teriam conseguido ou não entrar no Bailundo, que juntamente com o Andulo são os seus dois grandes alvos no Planalto Central. É aqui, nesta época de cacimbo, que está a ser discutido a ferro e fogo o futuro de Angola. Os combates têm sido travados essencialmente em posições situadas de 20 a 40 quilómetros do Bailundo, diziam no domingo à noite quadros da UNITA na Europa; e ontem à tarde Vahekeni comentou para o PÚBLICO, num contacto telefónico, que em 12 dias de ofensiva as FAA não tinham conseguido progredir no terreno, a partir da cidade do Huambo, muito mais de meia centena de quilómetros. Também no domingo à noite, por volta das 22 horas de Lisboa, o secretário-geral da UNITA, Lukamba Gato, comunicou para camaradas seus no exterior, por telefone-satélite, que a vida no Bailundo continuava a ser normal, mesmo depois de algumas fontes já terem dado como certa a queda da cidade. Quando ontem esteve no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, a receber o visitante português, o Inspector Geral do Exército angolano, general Carlos Hendrick, recusou-se a entrar em pormenores sobre a situação militar. No mês de Março as FAA tentaram sem êxito entrar no Andulo, outra das praças fortes de Savimbi, uma centena e meia de quilómetros a nordeste do Bailundo. E observadores internacionais têm dito que não há solução militar para esta guerra, sendo necessário que ambas as partes regressem à mesa das conversações, no sentido de se conseguir estabelecer um compromisso, mais sólido do que os anteriores. OUTROS TÍTULOS EM INTERNACIONAL Luanda à conquista do Bailundo

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