''Temos que estimular o consumo de produtos nacionais''

04-09-1999
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RUI MARQUES - A ideia do estudo nasceu da plena consciência de que este movimento do multimédia interactivo, congregando, no âmbito da nossa associação, empresas, instituições de investigação e escolas de formação, tem como fulcro essencial de intervenção o mercado. Nesta perspectiva, o estudo resulta do interesse que todos os membros da associação têm em conhecer a fundo o mercado não só nas vertentes quantitativas mas também em aspectos qualitativos: o que é que os consumidores pensam sobre os serviços de multimédia que têm disponíveis, o que é que gostariam de ter, etc. Em relação às conclusões, há no estudo sinais de optimismo que sustentam claramente uma dinâmica de confiança. Para referir apenas dois exemplos, os indicadores de opinião dos consumidores sobre a qualidade dos produtos existentes, por um lado, e os índices de crescimento que se verificam nas audiências da Internet, por outro, dão-nos alguma razão de optimismo. Outro dado optimista são as várias iniciativas que estão a decorrer no sentido da criação de um mercado, nomeadamente através do universo das escolas.

EXP. - Foram identificados alguns pontos de debilidade no mercado?

R.M. - Sim, em particular no que diz respeito ao sector da distribuição. É onde existem maiores dificuldades. Primeiro, porque os canais existentes não são estáveis, nem se percebeu bem ainda quais os canais mais eficazes. Depois, os distribuidores não estão suficientemente profissionalizados: começam a aparecer agora as primeiras empresas com algum grau de especialização na distribuição de produtos multimédia. E, quando falamos no «on-line», todos nós conhecemos bem as dificuldades que existem em termos de acesso e de distribuição, por razões que se prendem, entre outras coisas, com os custos das telecomunicações. Portanto, a distribuição é ainda o elo mais fraco desta cadeia. A produção e a edição estão um passo à frente.

EXP. - Tendo em atenção as conclusões do estudo, que iniciativas a associação pretende tomar?

R.M. - O estudo deu-nos um conjunto de pistas em que pegámos para, por exemplo, melhor definir o projecto do Ano Nacional de Multimédia, que irá decorrer em 1998. Assim, um dos eixos essenciais desta iniciativa será a divulgação e a promoção do multimédia interactivo, porque o que fica claro no estudo é que as pessoas ainda não conhecem suficientemente a existência destes produtos. O ponto mais importante terá a ver, portanto, com a necessidade de aumentar a exposição pública do multimédia interactivo, intensificando a divulgação do conceito e fazendo realçar a sua importância enquanto elemento estratégico para a nossa cultura, para a nossa identidade futura.

EXP. - Já existe um programa concreto para o Ano Nacional Multimédia?

R.M. - Já. Vamos desenvolver um conjunto de acções de promoção e de divulgação. Assim, teremos campanhas promocionais do multimédia nacional - um pouco na linha das campanhas do livro, da cultura, etc; vamos criar um selo próprio do Ano Nacional do Multimédia, destinado aos produtos portugueses, para os «sites» e para os CD-ROM; está prevista também uma grande campanha de publicidade e contamos organizar uma exposição itinerante - um «road-show» que deverá ir a cerca de 25 a 30 concelhos - para apresentação do multimédia interactivo. E será ainda editada, semestralmente, uma revista de apresentação do multimédia interactivo, em português, com as empresas que queiram aderir, onde apresentam os seus produtos e as suas propostas. Estamos ainda a desenvolver todos os esforços para que no Dia Nacional do Multimédia, a 25 de Junho, se realize um congresso internacional cujo tema será: «As novas navegações». Além destas ideias, está em andamento outro projecto, mais arrojado, o MMPack, que testámos no ano passado, no Dia Nacional de Multimédia. É um pacotão com todos os produtos multimédia «off-line» e com referências a «sites» «on-line». Em 1997, a ideia foi fazer uma oferta simbólica destes pacotões aos principais líderes de opinião nacional. A experiência resultou bem e, por isso, pensámos, para o próximo ano, num modelo no qual o MMPack possa ser, simultaneamente, uma operação promocional e comercial. Ou seja, iremos vender, a um preço bastante mais reduzido, os produtos incluídos nestes pacotões e esperamos poder sensibilizar quer as empresas quer o Estado para aquisições substanciais dos MMPack. Estamos a pensar que, em termos de Estado, poderá ser ideal para equipar espaços públicos comunitários - bibliotecas, centros de atendimento da juventude, escolas etc., e para as empresas poderá ser uma opção, por exemplo, para oferta aos seus altos funcionários no Natal. É importante aproveitarmos 1998, que é um ano de grande relevo nacional, nomeadamente na perspectiva de uma abertura ao mundo (com a Expo-98), para darmos maior visibilidade ao multimédia interactivo. O objectivo essencial resume-se na aposta em tornar o multimédia interactivo uma realidade comum para a maioria dos empresários, dos decisores e do público em geral. Queremos transferir, de certa maneira, a familiaridade que todas as pessoas revelam com a Internet - mesmo que nunca tenham navegado, já toda a gente ouviu falar - para a realidade do multimédia interactivo português.

EXP. - Nesta perspectiva, 1998 é o ano da afirmação desta indústria?

R.M. - Exactamente. Para existir uma indústria é fundamental que exista um mercado. A novidade maior do discurso da nossa associação em relação a outras perspectivas mais antigas é considerarmos que o ponto de intervenção fulcral não se deve situar no apoio à indústria ou à produção, mas sim no apoio ao mercado. Desenvolva-se o mercado, criem-se oportunidades, que a indústria terá, obviamente, condições para vingar.

EXP. - Sabemos que a associação vai ser, no próximo ano, a organizadora da representação portuguesa ao MILIA, o principal certame europeu na área do multimédia. Como é que avalia as perspectivas de internacionalização da nossa indústria?

R.M. - Foi muito importante ter havido uma presença portuguesa no MILIA em 1997, e, em 1998, seria impensável que ela não se repetisse. Tratou-se de uma presença dignificante para Portugal e, para as empresas que estiveram presentes, foi muito importante, porque se passou a constar do mapa e porque permitiu aos empresários nacionais perceber a dinâmica deste mercado em termos globais e posicionarem-se para poderem vir a ser competitivos em termos internacionais.

EXP. - É possível ter já perspectivas concretas do modo como essa internacionalização se pode vir a dar?

R.M. - Sim. Há uma percepção de que há mercados nos quais podemos ter um papel, quer pela vertente da língua, como no caso brasileiro, quer pela proximidade existente, como no contexto europeu. Existem, por exemplo, empresas portuguesas a negociar a localização de produtos em Espanha e no Brasil. São apenas os primeiros passos, evidentemente, mas há outros sinais que apontam no sentido de se poder vir a fazer a deslocalização para Portugal de áreas significativas da produção multimédia interactiva.

RUI MARQUES - A ideia do estudo nasceu da plena consciência de que este movimento do multimédia interactivo, congregando, no âmbito da nossa associação, empresas, instituições de investigação e escolas de formação, tem como fulcro essencial de intervenção o mercado. Nesta perspectiva, o estudo resulta do interesse que todos os membros da associação têm em conhecer a fundo o mercado não só nas vertentes quantitativas mas também em aspectos qualitativos: o que é que os consumidores pensam sobre os serviços de multimédia que têm disponíveis, o que é que gostariam de ter, etc. Em relação às conclusões, há no estudo sinais de optimismo que sustentam claramente uma dinâmica de confiança. Para referir apenas dois exemplos, os indicadores de opinião dos consumidores sobre a qualidade dos produtos existentes, por um lado, e os índices de crescimento que se verificam nas audiências da Internet, por outro, dão-nos alguma razão de optimismo. Outro dado optimista são as várias iniciativas que estão a decorrer no sentido da criação de um mercado, nomeadamente através do universo das escolas.

EXP. - Foram identificados alguns pontos de debilidade no mercado?

R.M. - Sim, em particular no que diz respeito ao sector da distribuição. É onde existem maiores dificuldades. Primeiro, porque os canais existentes não são estáveis, nem se percebeu bem ainda quais os canais mais eficazes. Depois, os distribuidores não estão suficientemente profissionalizados: começam a aparecer agora as primeiras empresas com algum grau de especialização na distribuição de produtos multimédia. E, quando falamos no «on-line», todos nós conhecemos bem as dificuldades que existem em termos de acesso e de distribuição, por razões que se prendem, entre outras coisas, com os custos das telecomunicações. Portanto, a distribuição é ainda o elo mais fraco desta cadeia. A produção e a edição estão um passo à frente.

EXP. - Tendo em atenção as conclusões do estudo, que iniciativas a associação pretende tomar?

R.M. - O estudo deu-nos um conjunto de pistas em que pegámos para, por exemplo, melhor definir o projecto do Ano Nacional de Multimédia, que irá decorrer em 1998. Assim, um dos eixos essenciais desta iniciativa será a divulgação e a promoção do multimédia interactivo, porque o que fica claro no estudo é que as pessoas ainda não conhecem suficientemente a existência destes produtos. O ponto mais importante terá a ver, portanto, com a necessidade de aumentar a exposição pública do multimédia interactivo, intensificando a divulgação do conceito e fazendo realçar a sua importância enquanto elemento estratégico para a nossa cultura, para a nossa identidade futura.

EXP. - Já existe um programa concreto para o Ano Nacional Multimédia?

R.M. - Já. Vamos desenvolver um conjunto de acções de promoção e de divulgação. Assim, teremos campanhas promocionais do multimédia nacional - um pouco na linha das campanhas do livro, da cultura, etc; vamos criar um selo próprio do Ano Nacional do Multimédia, destinado aos produtos portugueses, para os «sites» e para os CD-ROM; está prevista também uma grande campanha de publicidade e contamos organizar uma exposição itinerante - um «road-show» que deverá ir a cerca de 25 a 30 concelhos - para apresentação do multimédia interactivo. E será ainda editada, semestralmente, uma revista de apresentação do multimédia interactivo, em português, com as empresas que queiram aderir, onde apresentam os seus produtos e as suas propostas. Estamos ainda a desenvolver todos os esforços para que no Dia Nacional do Multimédia, a 25 de Junho, se realize um congresso internacional cujo tema será: «As novas navegações». Além destas ideias, está em andamento outro projecto, mais arrojado, o MMPack, que testámos no ano passado, no Dia Nacional de Multimédia. É um pacotão com todos os produtos multimédia «off-line» e com referências a «sites» «on-line». Em 1997, a ideia foi fazer uma oferta simbólica destes pacotões aos principais líderes de opinião nacional. A experiência resultou bem e, por isso, pensámos, para o próximo ano, num modelo no qual o MMPack possa ser, simultaneamente, uma operação promocional e comercial. Ou seja, iremos vender, a um preço bastante mais reduzido, os produtos incluídos nestes pacotões e esperamos poder sensibilizar quer as empresas quer o Estado para aquisições substanciais dos MMPack. Estamos a pensar que, em termos de Estado, poderá ser ideal para equipar espaços públicos comunitários - bibliotecas, centros de atendimento da juventude, escolas etc., e para as empresas poderá ser uma opção, por exemplo, para oferta aos seus altos funcionários no Natal. É importante aproveitarmos 1998, que é um ano de grande relevo nacional, nomeadamente na perspectiva de uma abertura ao mundo (com a Expo-98), para darmos maior visibilidade ao multimédia interactivo. O objectivo essencial resume-se na aposta em tornar o multimédia interactivo uma realidade comum para a maioria dos empresários, dos decisores e do público em geral. Queremos transferir, de certa maneira, a familiaridade que todas as pessoas revelam com a Internet - mesmo que nunca tenham navegado, já toda a gente ouviu falar - para a realidade do multimédia interactivo português.

EXP. - Nesta perspectiva, 1998 é o ano da afirmação desta indústria?

R.M. - Exactamente. Para existir uma indústria é fundamental que exista um mercado. A novidade maior do discurso da nossa associação em relação a outras perspectivas mais antigas é considerarmos que o ponto de intervenção fulcral não se deve situar no apoio à indústria ou à produção, mas sim no apoio ao mercado. Desenvolva-se o mercado, criem-se oportunidades, que a indústria terá, obviamente, condições para vingar.

EXP. - Sabemos que a associação vai ser, no próximo ano, a organizadora da representação portuguesa ao MILIA, o principal certame europeu na área do multimédia. Como é que avalia as perspectivas de internacionalização da nossa indústria?

R.M. - Foi muito importante ter havido uma presença portuguesa no MILIA em 1997, e, em 1998, seria impensável que ela não se repetisse. Tratou-se de uma presença dignificante para Portugal e, para as empresas que estiveram presentes, foi muito importante, porque se passou a constar do mapa e porque permitiu aos empresários nacionais perceber a dinâmica deste mercado em termos globais e posicionarem-se para poderem vir a ser competitivos em termos internacionais.

EXP. - É possível ter já perspectivas concretas do modo como essa internacionalização se pode vir a dar?

R.M. - Sim. Há uma percepção de que há mercados nos quais podemos ter um papel, quer pela vertente da língua, como no caso brasileiro, quer pela proximidade existente, como no contexto europeu. Existem, por exemplo, empresas portuguesas a negociar a localização de produtos em Espanha e no Brasil. São apenas os primeiros passos, evidentemente, mas há outros sinais que apontam no sentido de se poder vir a fazer a deslocalização para Portugal de áreas significativas da produção multimédia interactiva.

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