Dois artistas portugueses

13-10-1999
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Portas e Guterres envolveram-se em elogios mútuos no debate da SIC

Dois Artistas Portugueses

Por EUNICE LOURENÇO

Terça-feira, 21 de Setembro de 1999 Guterres elogiou-lhe o sentido de Estado. Portas agradeceu. Portas elogiou-lhe a seriedade e a honradez. Guterres sorriu. Foram muitos sorrisos, muitos elogios, salamaleques mútuos. Foi assim um debate que, de novo, só teve as duas batatas que Portas tirou do bolso. Só José Alberto Carvalho discutiu no debate de ontem entre o presidente do PP, Paulo Portas, e o secretário-geral do PS, António Guterres. O pivot da SIC e suposto moderador do frente-a-frente acabou mesmo o debate a discutir com Portas. Os dois líderes optaram pelos elogios mútuos, pelas expressões faciais em que são especialistas e o debate, se não teve discussão, pelo menos teve alguma graça. Tanta que momentos houve em que Portas e Guterres pareciam na iminência de desatar a rir na cara um do outro. Tudo se passou como se fosse uma peça em que cada um sabia muito bem não só o seu papel como também o papel do outro. Aliás, ainda antes do debate começar o bom entendimento já se fazia sentir. Portas chegou primeiro. Foi à caracterização e depois levaram-no para uma sala. Seguiu-se Guterres, mas quando o estavam a levar para a sua sala, quis ir cumprimentar Portas. Foi tão rasgado o aperto de mãos que o primeiro-ministro não via necessidade de ficar sozinho numa sala. Por que é que não podia ficar já ali, por que é que tinham que ficar separados, nem sequer estavam zangados, perguntava Guterres. E foi o líder do PP que ainda guardou alguma reserva, fazendo sentir ao secretário-geral do PS que precisava de algum tempo a sós para continuar a estudar os seus papéis. "Mas isso são muitos papéis", ironizou o socialista. Chegando ao debate propriamente dito, como o dia impunha, começaram por Timor. Guterres falou da emoção que sentiu ao ver entrar as tropas internacionais no território e aproveitou para fazer uma "homenagem à verdade", elogiando o PP que nesta "causa nacional" tem "mantido uma solidariedade institucional notável". Sorrisos. Portas agradece. Diz que gostaria de ver lá tropas portuguesas, mas até compreende a decisão do Governo. Mais sorrisos. Acabada a introdução dedicada à "causa nacional", podia ser que começasse a haver debate. José Alberto Carvalho introduz o primeiro tema: a maioria absoluta. Por que é que Guterres não a pede, por que é que Portas se diz capaz de a evitar? O secretário-geral do PS responde que não a pede por uma questão de "humildade". Diz que é tão humilde que até admite ser oposição, mas lá vai prometendo: "Não abusarei do poder mesmo que tenha maioria absoluta". E Portas até confia no primeiro-ministro, riposta-lhe com um elogio: "Ninguém duvida da sua rectidão e da sua honradez, mas os partidos são o que são e o engenheiro Guterres será a primeira vítima da maioria absoluta." Foi nesta parte do frente-a-frente que Portas mais assumiu o seu papel de líder da oposição. Solene, disse que sentia uma dupla responsabilidade, porque estava ali a lutar contra a maioria absoluta do PS e a "proteger o eleitorado do centro e da direita que tem sofrido muito". É que um partido ter poder sem precisar dos votos da oposição é um perigo enorme. "Quando se tem maioria absoluta deixa-se de falar com as pessoas e passa-se a falar com as paredes", explica o líder popular, "é all jobs for all the boys". Por isso, apela ao voto porque "o PP é o partido que evita a maioria absoluta", é "a salvaguarda para quem não quer o poder total". Guterres ouve. Sorri. Diz que essa discussão de quem evita o quê é entre Portas e Durão. Afirma que já deu mostras no seu próprio partido que respeita o diálogo e a liberdade, apesar de ter sido eleito com 96 por cento, enquanto que no partido de Portas "tem havido um conjunto de confrontos". E estava para ir mais longe, mas quando viu que Portas não estava a gostar suavizou a linguagem. Segue-se a Europa e a agricultura. Fala-se de vacas loucas, de porcos, das pescas, dos agricultores. É, então, que Portas tirou do bolso a única surpresa da noite: duas batatas, uma portuguesa e uma espanhola. Isto para explicar como são diferentes os apoios aos agricultores dos dois lados da fronteira e para defender que "uma coisa é não termos fronteiras, outra coisa é serem um passe-vite". As batatas ficaram em cima da mesa até ao fim. Foi neste capítulo que José Alberto Carvalho começou a irritar-se. Acusa Portas de não estar a respeitar as regras do debate e, insatisfeito com o tempo que estão a dedicar à agricultura, diz que agora são eles que moderam o debate. Mesmo assim ainda volta a moderar, para falar de computadores. Os dois líderes partidários ainda escrevem à mão, mas Guterres considera a sociedade da informação "uma questão decisiva" e debita o programa do Governo nessa área. Portas, que nem e-mail tem, promete que vai reciclar-se. E chegou-se assim à parte final, em que cada um pode fazer uma pergunta ao outro. O presidente do PP pergunta porque é que o Governo não impôs o uso de medicamentos genéricos. Guterres responde que primeiro é preciso convencer os médicos e pergunta-lhe se votará um orçamento do seu Governo, caso o PSD vote contra. "O CDS não elegerá nenhum governo de esquerda. O CDS não falhará nenhuma reforma de fundo", é a resposta vaga. Portas prefere continuar a fazer propaganda dizendo que é ele "o depositário da esperança de que o PS não terá maioria absoluta". José Alberto fica furioso por ele não responder e o debate acaba com uma discussão entre o pivot e o líder do PP. OUTROS TÍTULOS EM POLÍTICA Dois artistas portugueses

"Guterres vai saber quem é o líder da oposição..."

"Governo instrumentaliza Timor"

A "desordem internacional"

"Perseguição" aos comunistas

Combater a "realidade cruel das escolas"

Na rua

Agenda

Comunistas e insubmissos

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Aliás, ainda antes do debate começar o bom entendimento já se fazia sentir. Portas chegou primeiro. Foi à caracterização e depois levaram-no para uma sala. Seguiu-se Guterres, mas quando o estavam a levar para a sua sala, quis ir cumprimentar Portas. Foi tão rasgado o aperto de mãos que o primeiro-ministro não via necessidade de ficar sozinho numa sala. Por que é que não podia ficar já ali, por que é que tinham que ficar separados, nem sequer estavam zangados, perguntava Guterres. E foi o líder do PP que ainda guardou alguma reserva, fazendo sentir ao secretário-geral do PS que precisava de algum tempo a sós para continuar a estudar os seus papéis. "Mas isso são muitos papéis", ironizou o socialista. Chegando ao debate propriamente dito, como o dia impunha, começaram por Timor. Guterres falou da emoção que sentiu ao ver entrar as tropas internacionais no território e aproveitou para fazer uma "homenagem à verdade", elogiando o PP que nesta "causa nacional" tem "mantido uma solidariedade institucional notável". Sorrisos. Portas agradece. Diz que gostaria de ver lá tropas portuguesas, mas até compreende a decisão do Governo. Mais sorrisos. Acabada a introdução dedicada à "causa nacional", podia ser que começasse a haver debate. José Alberto Carvalho introduz o primeiro tema: a maioria absoluta. Por que é que Guterres não a pede, por que é que Portas se diz capaz de a evitar? O secretário-geral do PS responde que não a pede por uma questão de "humildade". Diz que é tão humilde que até admite ser oposição, mas lá vai prometendo: "Não abusarei do poder mesmo que tenha maioria absoluta". E Portas até confia no primeiro-ministro, riposta-lhe com um elogio: "Ninguém duvida da sua rectidão e da sua honradez, mas os partidos são o que são e o engenheiro Guterres será a primeira vítima da maioria absoluta." Foi nesta parte do frente-a-frente que Portas mais assumiu o seu papel de líder da oposição. Solene, disse que sentia uma dupla responsabilidade, porque estava ali a lutar contra a maioria absoluta do PS e a "proteger o eleitorado do centro e da direita que tem sofrido muito". É que um partido ter poder sem precisar dos votos da oposição é um perigo enorme. "Quando se tem maioria absoluta deixa-se de falar com as pessoas e passa-se a falar com as paredes", explica o líder popular, "é all jobs for all the boys". Por isso, apela ao voto porque "o PP é o partido que evita a maioria absoluta", é "a salvaguarda para quem não quer o poder total". Guterres ouve. Sorri. Diz que essa discussão de quem evita o quê é entre Portas e Durão. Afirma que já deu mostras no seu próprio partido que respeita o diálogo e a liberdade, apesar de ter sido eleito com 96 por cento, enquanto que no partido de Portas "tem havido um conjunto de confrontos". E estava para ir mais longe, mas quando viu que Portas não estava a gostar suavizou a linguagem. Segue-se a Europa e a agricultura. Fala-se de vacas loucas, de porcos, das pescas, dos agricultores. É, então, que Portas tirou do bolso a única surpresa da noite: duas batatas, uma portuguesa e uma espanhola. Isto para explicar como são diferentes os apoios aos agricultores dos dois lados da fronteira e para defender que "uma coisa é não termos fronteiras, outra coisa é serem um passe-vite". As batatas ficaram em cima da mesa até ao fim. Foi neste capítulo que José Alberto Carvalho começou a irritar-se. Acusa Portas de não estar a respeitar as regras do debate e, insatisfeito com o tempo que estão a dedicar à agricultura, diz que agora são eles que moderam o debate. Mesmo assim ainda volta a moderar, para falar de computadores. Os dois líderes partidários ainda escrevem à mão, mas Guterres considera a sociedade da informação "uma questão decisiva" e debita o programa do Governo nessa área. Portas, que nem e-mail tem, promete que vai reciclar-se. E chegou-se assim à parte final, em que cada um pode fazer uma pergunta ao outro. O presidente do PP pergunta porque é que o Governo não impôs o uso de medicamentos genéricos. Guterres responde que primeiro é preciso convencer os médicos e pergunta-lhe se votará um orçamento do seu Governo, caso o PSD vote contra. "O CDS não elegerá nenhum governo de esquerda. O CDS não falhará nenhuma reforma de fundo", é a resposta vaga. Portas prefere continuar a fazer propaganda dizendo que é ele "o depositário da esperança de que o PS não terá maioria absoluta". José Alberto fica furioso por ele não responder e o debate acaba com uma discussão entre o pivot e o líder do PP. 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