JORNAL PUBLICO: O candidato Independente

09-10-1999
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27/07/95

Paulo Portas confirmado como cabeça de lista do PP em Aveiro

O candidato Independente

São José Almeida

Monteiro, Portas, Girão e Marques foram ontem almoçar ao "Vela Latina". O Tejo serviu de cenário a mais uma produção PP. A encenação da candidatura do cabeça de lista do Partido Popular em Aveiro: Paulo Portas, director de "O Independente", cujo substituto à frente do jornal será conhecido para a semana. À entrada o líder dos populares continuou a jurar que ignorava a resposta. O óbvio foi assumido logo que o candidato chegou. No fim, houve direito a profissões de fé anti-federalistas. Até porque Aveiro é o "símbolo" dos males de Maastricht.

O local foi o "Vela Latina", restaurante que integra os roteiros do "jet-set" cavaquista e fica ao pé do triângulo místico que tanto entusiasmou Fernando Pessoa: o perímetro entre o a Torre de Belém, os Jerónimos e a capela de São Jerónimo, onde Vasco da Gama ouviu missa antes de se aventurar para as Índias.

Não se sabe se para atacar logo de início nos terrenos do cavaquismo, se por Pessoa e pela memória do Império, foi este o local escolhido para palco formal da estreia na política activa de Paulo Portas, como cabeça de lista do Partido Popular e até agora fazedor de opinião e director de "O Independente". Uma cerimónia a que se seguirá o baptismo oficial, sábado, no Centro Cultural e Congressos de Aveiro, de princípio ao meio-dia, hora estrategicamente escolhida para que a praia não roube audiência.

Com o almoço marcado para as duas da tarde, era 1h30 já o anfitrião e presidente do PP, Manuel Monteiro, chegava acompanhado pelo líder histórico do partido em Aveiro e actual eurodeputado, Girão Pereira. O sorriso de felicidade na cara de ambos denunciava quanto o almoço não passava de mero pró-forma para chamar as câmaras. Afinal, não falta muito tempo até 1 de Outubro e não se podem perder todas as oportunidades de rentabilização de imagem.

Mesmo assim Monteiro, para estrangeiro ver, manteve a tese oficial de que ainda não sabia a resposta de Paulo Portas ao convite para liderar a campanha dos populares em Aveiro, como independente, e enfrentar o social-democrata, Pacheco Pereira, o socialista, Carlos Candal, e a comunista, Manuela da Silva.

À hora marcada o ainda director de "O Independente" aparece à porta do restaurante que fica junto ao monumento de homenagem à primeira travessia aérea Portugal-Brasil, feita por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, este último tio avô de Paulo Portas. Barrado por uma parede de jornalistas, assume o óbvio: a resposta é "sim". Depois pede desculpa e explica que só falará à comunicação social, após apresentar as suas razões aos seus companheiros de mesa.

Uma argumentação desenvolvida durante quase duas horas de conversa pelos quatro convivas, a quem se juntaria, já perto do fim, o vice-presidente dos populares, Galvão Lucas, cabeça-de-lista por Viseu - que não quis deixar de felicitar o seu eventual futuro colega de bancada.

A hora do salto

Estômagos reconfortados, com coelho, filetes e pato, ao som da concertação de estratégias sobre o que dizer dos percalços e hesitações desta novela PP, os cinco saem da sala e, no "hall" do restaurante, voltam a posar para as câmaras.

O presidente do PP reafirma que esta foi a sua primeira escolha, que insiste com Paulo Portas desde que subiu à presidência do então CDS, que tudo foi gerido no máximo sigilo (para que o PP não ficasse descalço em Aveiro e fosse assegurada uma alternativa), e que só esta semana o seu "amigo" começou a ceder. Uma resposta que o deixou "feliz" e "mais acompanhado". Tese confirmada por Girão Pereira, outro dos obreiros desta candidatura. Garantindo que já há mais de um ano lhe pedira "para entrar na vida política", salientou o "prestígio" que é para Aveiro ter este candidato

A rematar, manifestamente nervoso, Paulo Portas avança: "Decidi alistar-me no combate." E garante que a sua "única arma" será as suas "convicções". Uma decisão "difícil" e "ponderada", que implica "perdas e sacrifícios".

Implícito ficava que, para o até agora jornalista, este salto surgia por que era esta a hora certa para concretizar o desejo de fazer política activa. Aproveitando, deste modo, a boleia da ruptura que representará a futura bancada dos populares com o antigo grupo parlamentar centrista, fruto da transformação do CDS em PP. Na qual Paulo Portas teve um papel importante, ainda que sem ser militante e mantendo-se na sombra como amigo pessoal de Manuel Monteiro.

Para mais, quando a próxima legislatura vai ser marcada pela posição de Portugal na Conferência Intergovernamental, agendada para 1996, em que serão revistos aspectos do Tratado de Maastricht. Um texto que, manifestamente, dá a volta ao fígado de Paulo Portas, para quem Maastricht se assemelha a um cavaleiro-fantasma que lhe vem roubar a sua dama, a "soberania nacional".

Fazendo o gosto ao intelecto, Paulo Portas não deixou de aproveitar para ensaiar o discurso anti-federalista ao distrito pelo qual se candidata. "Aveiro é um símbolo", pois representa os malefícios vindos de Bruxelas. Um distrito cuja indústria, agricultura e pescas passam por "dificuldades" ou estão a ser "destruídas".

Quem é o director?

Por saber ficou quem vai ser o próximo director de "O Independente". Paulo Portas apenas adiantou que o seu nome ainda aparecerá na edição de amanhã e que depois da sua candidatura formalizada deixará a direcção do semanário por si fundado. Ou seja, a candidatura é oficializada sábado e para a semana o nome de Paulo Portas será substituído no cabeçalho, ainda que o agora candidato mantenha aí a sua página de opinião.

Ao que o PÚBLICO apurou, a escolha de um novo director está pendente do regresso do presidente do Conselho de Administração de "O Independente", que deverá chegar hoje dos Estados Unidos. Só depois a questão será discutida e sairá fumo branco.

27/07/95

Paulo Portas confirmado como cabeça de lista do PP em Aveiro

O candidato Independente

São José Almeida

Monteiro, Portas, Girão e Marques foram ontem almoçar ao "Vela Latina". O Tejo serviu de cenário a mais uma produção PP. A encenação da candidatura do cabeça de lista do Partido Popular em Aveiro: Paulo Portas, director de "O Independente", cujo substituto à frente do jornal será conhecido para a semana. À entrada o líder dos populares continuou a jurar que ignorava a resposta. O óbvio foi assumido logo que o candidato chegou. No fim, houve direito a profissões de fé anti-federalistas. Até porque Aveiro é o "símbolo" dos males de Maastricht.

O local foi o "Vela Latina", restaurante que integra os roteiros do "jet-set" cavaquista e fica ao pé do triângulo místico que tanto entusiasmou Fernando Pessoa: o perímetro entre o a Torre de Belém, os Jerónimos e a capela de São Jerónimo, onde Vasco da Gama ouviu missa antes de se aventurar para as Índias.

Não se sabe se para atacar logo de início nos terrenos do cavaquismo, se por Pessoa e pela memória do Império, foi este o local escolhido para palco formal da estreia na política activa de Paulo Portas, como cabeça de lista do Partido Popular e até agora fazedor de opinião e director de "O Independente". Uma cerimónia a que se seguirá o baptismo oficial, sábado, no Centro Cultural e Congressos de Aveiro, de princípio ao meio-dia, hora estrategicamente escolhida para que a praia não roube audiência.

Com o almoço marcado para as duas da tarde, era 1h30 já o anfitrião e presidente do PP, Manuel Monteiro, chegava acompanhado pelo líder histórico do partido em Aveiro e actual eurodeputado, Girão Pereira. O sorriso de felicidade na cara de ambos denunciava quanto o almoço não passava de mero pró-forma para chamar as câmaras. Afinal, não falta muito tempo até 1 de Outubro e não se podem perder todas as oportunidades de rentabilização de imagem.

Mesmo assim Monteiro, para estrangeiro ver, manteve a tese oficial de que ainda não sabia a resposta de Paulo Portas ao convite para liderar a campanha dos populares em Aveiro, como independente, e enfrentar o social-democrata, Pacheco Pereira, o socialista, Carlos Candal, e a comunista, Manuela da Silva.

À hora marcada o ainda director de "O Independente" aparece à porta do restaurante que fica junto ao monumento de homenagem à primeira travessia aérea Portugal-Brasil, feita por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, este último tio avô de Paulo Portas. Barrado por uma parede de jornalistas, assume o óbvio: a resposta é "sim". Depois pede desculpa e explica que só falará à comunicação social, após apresentar as suas razões aos seus companheiros de mesa.

Uma argumentação desenvolvida durante quase duas horas de conversa pelos quatro convivas, a quem se juntaria, já perto do fim, o vice-presidente dos populares, Galvão Lucas, cabeça-de-lista por Viseu - que não quis deixar de felicitar o seu eventual futuro colega de bancada.

A hora do salto

Estômagos reconfortados, com coelho, filetes e pato, ao som da concertação de estratégias sobre o que dizer dos percalços e hesitações desta novela PP, os cinco saem da sala e, no "hall" do restaurante, voltam a posar para as câmaras.

O presidente do PP reafirma que esta foi a sua primeira escolha, que insiste com Paulo Portas desde que subiu à presidência do então CDS, que tudo foi gerido no máximo sigilo (para que o PP não ficasse descalço em Aveiro e fosse assegurada uma alternativa), e que só esta semana o seu "amigo" começou a ceder. Uma resposta que o deixou "feliz" e "mais acompanhado". Tese confirmada por Girão Pereira, outro dos obreiros desta candidatura. Garantindo que já há mais de um ano lhe pedira "para entrar na vida política", salientou o "prestígio" que é para Aveiro ter este candidato

A rematar, manifestamente nervoso, Paulo Portas avança: "Decidi alistar-me no combate." E garante que a sua "única arma" será as suas "convicções". Uma decisão "difícil" e "ponderada", que implica "perdas e sacrifícios".

Implícito ficava que, para o até agora jornalista, este salto surgia por que era esta a hora certa para concretizar o desejo de fazer política activa. Aproveitando, deste modo, a boleia da ruptura que representará a futura bancada dos populares com o antigo grupo parlamentar centrista, fruto da transformação do CDS em PP. Na qual Paulo Portas teve um papel importante, ainda que sem ser militante e mantendo-se na sombra como amigo pessoal de Manuel Monteiro.

Para mais, quando a próxima legislatura vai ser marcada pela posição de Portugal na Conferência Intergovernamental, agendada para 1996, em que serão revistos aspectos do Tratado de Maastricht. Um texto que, manifestamente, dá a volta ao fígado de Paulo Portas, para quem Maastricht se assemelha a um cavaleiro-fantasma que lhe vem roubar a sua dama, a "soberania nacional".

Fazendo o gosto ao intelecto, Paulo Portas não deixou de aproveitar para ensaiar o discurso anti-federalista ao distrito pelo qual se candidata. "Aveiro é um símbolo", pois representa os malefícios vindos de Bruxelas. Um distrito cuja indústria, agricultura e pescas passam por "dificuldades" ou estão a ser "destruídas".

Quem é o director?

Por saber ficou quem vai ser o próximo director de "O Independente". Paulo Portas apenas adiantou que o seu nome ainda aparecerá na edição de amanhã e que depois da sua candidatura formalizada deixará a direcção do semanário por si fundado. Ou seja, a candidatura é oficializada sábado e para a semana o nome de Paulo Portas será substituído no cabeçalho, ainda que o agora candidato mantenha aí a sua página de opinião.

Ao que o PÚBLICO apurou, a escolha de um novo director está pendente do regresso do presidente do Conselho de Administração de "O Independente", que deverá chegar hoje dos Estados Unidos. Só depois a questão será discutida e sairá fumo branco.

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