JORNAL PUBLICO: À pesca dos indecisos

09-10-1999
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27/08/95

Maré cheia do PSD recebeu Nogueira na Póvoa de Varzim

À pesca dos indecisos

Filomena Fontes

Fernando Nogueira foi à Póvoa de Varzim lançar a rede aos indecisos. Remando contra a abstenção, apelou ao voto no PSD como valor seguro na estabilidade. Contra "a aventura fatal para o futuro do país" que seria um governo PS. Ignorou Guterres, que esteve apenas na mira de Menezes, que piscou também o olho ao eleitorado do CDS-PP. Depois do Pontal, Nogueira saiu revigorado com o banho de multidão e juventude que o acolheu. A presença de Eurico de Melo também ajudou.

Ainda não foi desta vez que Fernando Nogueira decidiu revelar as propostas eleitorais do PSD. O tempo é ainda da pesca à linha dos votos dos indecisos e só depois de 4 de Setembro, data em que o programa deverá ser formalmente apresentado no Porto, se prevêem inflexões no seu discurso. Anteontem à noite, na Póvoa de Varzim, onde uma multidão de apoiantes deixava para trás o revés do Pontal e Eurico de Melo marcava presença entre anónimos militantes, o líder social-democrata não se desviou do rumo da dramatização para tentar contrariar a abstenção.

Acenando com a ameaça da instabilidade - "Alguns pensam que está tudo adquirido, que o desenvolvimento é irreversível; nada de mais errado. Entrar numa aventura podia ser fatal" -, Fernando Nogueira dirigiu todas as suas baterias para a conquista do voto dos indecisos.

Sem a presença tutelar de Cavaco a seu lado, o número um do PSD esforçou-se por transmitir uma imagem de afectiva tolerância: "Compreendo os portugueses que ainda estão hesitantes. A crise económica trouxe sofrimento a alguns. Sofro com esses portugueses que querem casa e não têm, que querem emprego e não têm, que gostariam de dar mais aos seus filhos e não podem dar."

E o tom intimista que usou serviu de pretexto para jogar com os medos da insegurança de uma "aventura" socialista. "Comparem as equipas de uns e de outros, os candidatos, a experiência e a coerência. As provas dadas por uns e as palavras fáceis de outros", desafiou, para concluir que está "confiante no bom senso dos portugueses". Ao lado do palco, Valentim Loureiro sussurrava baixinho, numa indecifrável lengalenga que parecia servir de "ponto" ao líder. Incitada pelas centenas de "laranjinhas" que responderam à chamada, a multidão rebentava em aplausos.

Foi, todavia, quando Nogueira avançou para "o taco a taco" às "críticas dos adversários" que conseguiu empolgar a assistência. De novo para demonstrar o orgulho pela obra feita. "Não foi um erro a obra que fizemos e valeu a pena construir estradas, hospitais, escolas." Tal como "não foi um erro", em sua opinião, a política do escudo forte. "Se tivéssemos uma moeda fraca, a inflação não parava de subir. Subiriam os transportes, a electricidade, os produtos alimentares... E diminuía o dinheiro disponível dos trabalhadores, dos reformados e dos pensionistas", sustentou. Por isso, garantiu: "É a política que prosseguirei no futuro."

Mendo cai, Menezes tropeça

Os acidentes de percurso que marcaram o início do comício faziam adivinhar o pior. Depois da actuação dos Celtiberos - já o largo onde iria ter lugar a função se transformara num mar de gente que invadia a Avenida dos Banhos, para irritação da polícia que orientava o trânsito -, o apresentador de serviço começou por chamar os candidatos a deputados ao palco. Em vão. À terceira ausência, num reparo de gosto duvidoso, desabafava: "Os nosso candidatos devem estar seguramente a tratar de coisas mais importantes para as próximas eleições." O povo não entendeu. E mais atónito ficou quando o mesmo apresentador de serviço insistiu: "O povo já cá está. Onde estão os candidatos?"

Nessa altura já se dera pela falta de alguns bem conhecidos, como António Taveira, Rui Rio, Domingos Gomes, Adriano Pinto ou Vieira de Carvalho, que acabaria por chegar mais tarde. Foi então que o animador chamou com pompa duas grandes estrelas ao palco, "as duas grandes personagens do distrito". Foi o desastre. Ao subir, Paulo Mendo estatelou-se na "passerelle". "Não faz mal, é o ministro da Saúde...", ironizava o apresentador, já Mendo recolhia ao bolso o telemóvel que caíra ao chão. Logo a seguir, foi a vez de Luís Filipe Menezes tropeçar, conseguindo evitar por um triz aterrar de borco no chão. Temia-se já pela segurança do líder, cuja entrada foi anunciada e subitamente adiada para uns minutos depois...

Mas Menezes depressa galvanizou as hostes. "Está aqui a resposta à Pontinha do PS", disparou, ironizando de seguida com "o socialista escondido na escada" que o fez tropeçar. Para o líder distrital portuense, estava, aliás, reservado o papel da resposta à letra ao discurso de Guterres no comício algarvio. Falou das profundas reformas dos governos do PSD para acusar Guterres de ter "liderado uma ala de socialistas que se opôs a todas essas reformas". E não desperdiçou também a oportunidade de trazer à liça as declarações de Narciso Miranda sobre um eventual acordo pós-eleitoral com o PP.

"Metade do PS veio a público defender um acordo com o PC. Outra metade defende uma coligação à direita. A primeira coisa que iria acontecer se os socialistas ganhassem as eleições era a instabilidade política. Iam-se guerrear para saber se o casamento era à direita ou à esquerda", vaticinou Menezes a propósito. Daí o piscar de olhos que fez ao eleitorado de Manuel Monteiro, num tradicional bastião dos populares. "Apelo aos quatro ou cinco por cento de portugueses que votam no CDS para não inutilizarem o voto. Porque estão a votar indirectamente no engenheiro Guterres", disse ele numa directa alusão às declarações de António Lobo Xavier.

Não houve, porém, tempo para Luís Filipe Menezes explicar mais nada. O incontornável apresentador de serviço decidiu retirar-lhe a palavra, para anunciar a entrada em palco de Fernando Nogueira. Decididamente, a inatacável "máquina laranja" do Pontal encravou na Póvoa de Varzim...

27/08/95

Maré cheia do PSD recebeu Nogueira na Póvoa de Varzim

À pesca dos indecisos

Filomena Fontes

Fernando Nogueira foi à Póvoa de Varzim lançar a rede aos indecisos. Remando contra a abstenção, apelou ao voto no PSD como valor seguro na estabilidade. Contra "a aventura fatal para o futuro do país" que seria um governo PS. Ignorou Guterres, que esteve apenas na mira de Menezes, que piscou também o olho ao eleitorado do CDS-PP. Depois do Pontal, Nogueira saiu revigorado com o banho de multidão e juventude que o acolheu. A presença de Eurico de Melo também ajudou.

Ainda não foi desta vez que Fernando Nogueira decidiu revelar as propostas eleitorais do PSD. O tempo é ainda da pesca à linha dos votos dos indecisos e só depois de 4 de Setembro, data em que o programa deverá ser formalmente apresentado no Porto, se prevêem inflexões no seu discurso. Anteontem à noite, na Póvoa de Varzim, onde uma multidão de apoiantes deixava para trás o revés do Pontal e Eurico de Melo marcava presença entre anónimos militantes, o líder social-democrata não se desviou do rumo da dramatização para tentar contrariar a abstenção.

Acenando com a ameaça da instabilidade - "Alguns pensam que está tudo adquirido, que o desenvolvimento é irreversível; nada de mais errado. Entrar numa aventura podia ser fatal" -, Fernando Nogueira dirigiu todas as suas baterias para a conquista do voto dos indecisos.

Sem a presença tutelar de Cavaco a seu lado, o número um do PSD esforçou-se por transmitir uma imagem de afectiva tolerância: "Compreendo os portugueses que ainda estão hesitantes. A crise económica trouxe sofrimento a alguns. Sofro com esses portugueses que querem casa e não têm, que querem emprego e não têm, que gostariam de dar mais aos seus filhos e não podem dar."

E o tom intimista que usou serviu de pretexto para jogar com os medos da insegurança de uma "aventura" socialista. "Comparem as equipas de uns e de outros, os candidatos, a experiência e a coerência. As provas dadas por uns e as palavras fáceis de outros", desafiou, para concluir que está "confiante no bom senso dos portugueses". Ao lado do palco, Valentim Loureiro sussurrava baixinho, numa indecifrável lengalenga que parecia servir de "ponto" ao líder. Incitada pelas centenas de "laranjinhas" que responderam à chamada, a multidão rebentava em aplausos.

Foi, todavia, quando Nogueira avançou para "o taco a taco" às "críticas dos adversários" que conseguiu empolgar a assistência. De novo para demonstrar o orgulho pela obra feita. "Não foi um erro a obra que fizemos e valeu a pena construir estradas, hospitais, escolas." Tal como "não foi um erro", em sua opinião, a política do escudo forte. "Se tivéssemos uma moeda fraca, a inflação não parava de subir. Subiriam os transportes, a electricidade, os produtos alimentares... E diminuía o dinheiro disponível dos trabalhadores, dos reformados e dos pensionistas", sustentou. Por isso, garantiu: "É a política que prosseguirei no futuro."

Mendo cai, Menezes tropeça

Os acidentes de percurso que marcaram o início do comício faziam adivinhar o pior. Depois da actuação dos Celtiberos - já o largo onde iria ter lugar a função se transformara num mar de gente que invadia a Avenida dos Banhos, para irritação da polícia que orientava o trânsito -, o apresentador de serviço começou por chamar os candidatos a deputados ao palco. Em vão. À terceira ausência, num reparo de gosto duvidoso, desabafava: "Os nosso candidatos devem estar seguramente a tratar de coisas mais importantes para as próximas eleições." O povo não entendeu. E mais atónito ficou quando o mesmo apresentador de serviço insistiu: "O povo já cá está. Onde estão os candidatos?"

Nessa altura já se dera pela falta de alguns bem conhecidos, como António Taveira, Rui Rio, Domingos Gomes, Adriano Pinto ou Vieira de Carvalho, que acabaria por chegar mais tarde. Foi então que o animador chamou com pompa duas grandes estrelas ao palco, "as duas grandes personagens do distrito". Foi o desastre. Ao subir, Paulo Mendo estatelou-se na "passerelle". "Não faz mal, é o ministro da Saúde...", ironizava o apresentador, já Mendo recolhia ao bolso o telemóvel que caíra ao chão. Logo a seguir, foi a vez de Luís Filipe Menezes tropeçar, conseguindo evitar por um triz aterrar de borco no chão. Temia-se já pela segurança do líder, cuja entrada foi anunciada e subitamente adiada para uns minutos depois...

Mas Menezes depressa galvanizou as hostes. "Está aqui a resposta à Pontinha do PS", disparou, ironizando de seguida com "o socialista escondido na escada" que o fez tropeçar. Para o líder distrital portuense, estava, aliás, reservado o papel da resposta à letra ao discurso de Guterres no comício algarvio. Falou das profundas reformas dos governos do PSD para acusar Guterres de ter "liderado uma ala de socialistas que se opôs a todas essas reformas". E não desperdiçou também a oportunidade de trazer à liça as declarações de Narciso Miranda sobre um eventual acordo pós-eleitoral com o PP.

"Metade do PS veio a público defender um acordo com o PC. Outra metade defende uma coligação à direita. A primeira coisa que iria acontecer se os socialistas ganhassem as eleições era a instabilidade política. Iam-se guerrear para saber se o casamento era à direita ou à esquerda", vaticinou Menezes a propósito. Daí o piscar de olhos que fez ao eleitorado de Manuel Monteiro, num tradicional bastião dos populares. "Apelo aos quatro ou cinco por cento de portugueses que votam no CDS para não inutilizarem o voto. Porque estão a votar indirectamente no engenheiro Guterres", disse ele numa directa alusão às declarações de António Lobo Xavier.

Não houve, porém, tempo para Luís Filipe Menezes explicar mais nada. O incontornável apresentador de serviço decidiu retirar-lhe a palavra, para anunciar a entrada em palco de Fernando Nogueira. Decididamente, a inatacável "máquina laranja" do Pontal encravou na Póvoa de Varzim...

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