JORNAL PUBLICO: Nós ou o caos

04-10-1999
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10/07/95

Monteiro lança candidatos do PP em Setúbal com discurso radical contra PSD e PS

Nós ou o caos

Ângela Silva

O PSD e o PS são o "tachismo". Mais quatro anos da mesma política "arrasarão o país que somos". O PP é a diferença: "está na política para servir"; para "dar lugar a Portugal". Abecasis e Monteiro não fizeram a coisa por menos: uma espécie de "nós ou o caos", versão 95. Foi em Setúbal, no lançamento dos candidatos PP. Com indirectas ao "sistema que escreve".

A saída de Cavaco Silva da próxima campanha para as legislativas pode não ter comprometido de vez a presença em cena do estilo "homem providencial". Manuel Monteiro e Nuno Abecasis radicalizaram ontem, em Setúbal, o discurso do PP, numa sessão de lançamento dos cabeças de lista em que falaram do seu partido como o único que "está na política para servir", o único que pode evitar "o arraso do país que somos", o único que "é alternativa credível aos partidos do sistema: PS e PSD".

Em pano de fundo, o novo slogan do PP: "Vamos dar lugar a Portugal". Uma frase medida ao milímetro para cavar o fosso entre os populares e os outros, os que, segundo Monteiro, "estão preocupados, porque ainda têm a colher no tacho e ainda não raparam tudo"; os que em vez de discutirem o futuro de Portugal "discutem o seu futuro e o dos seus amigos".

Mas o sistema que irrita Monteiro não morre aqui. É também "o sistema que escreve, que é um sistema comprado, que só sabe fazer política de acordo com o que o PS e o PSD dizem que está certo". O líder do PP explica de quem fala: "Dos articulistas que já não conseguem pensar à margem do sistema instalado". Monteiro está crispado com os jornais.

Com a postura de quem incendeia um comício, o presidente dos populares desdenha as meias palavras: "Nós somos diferentes. Estamos na política para servir". A sala, repleta de candidatos a deputados e com os cabeças de lista em destaque (faltou António Lobo Xavier, do Porto, que tem primado pela preservação do seu espaço próprio e que ontem enviou um fax alegando problemas numa perna), entusiasma-se com o líder. E parece gostar particularmente do ataque cerrado que Monteiro moveu aos socialistas, acusados de terem pactuado no essencial com o partido de Cavaco.

"Eu faço uma pergunta: seria possível o PSD aprovar Maastricht, ou a PAC, ou o abate da nossa frota pesqueira, sem o consentimento do PS? Com que direito é que o engenheiro Guterres pede o voto em si, quando de forma mais ou menos passiva permitiu que o PSD fizesse o que não podia fazer sem o seu apoio?". A estratégia lembra, ironicamente, o slogan da UDP: "Não basta mudar as moscas". E as frases arrasadoras para os dois maiores adversários não têm fim: "Guterres e Nogueira são homens de ontem. Nós somos pessoas do amanhã. É o passado e o futuro que estarão em confronto nas próximas eleições. Com o PS e o PSD é ter mais ou menos a mesma coisa. O PP é uma coisa completamente diferente".

Comícios na praia

Ontem, o anfitrião chamava-se Nuno Abecasis, cabeça de lista por Setúbal, e a sua ajuda foi preciosa para abrir o caminho à dramatização do discurso. "Esta será uma campanha eleitoral como nunca fiz nenhuma. É a última hora de esperança. Porque mais quatro anos da política que nos tem dirigido arrasará o país que somos".

O apelo ao "orgulho de ser português" voltou a ser uma constante. Com Abecasis a incentivar que "se seja capaz de falar em Portugal sem complexos, porque um país onde o nacionalismo é símbolo de opróbio é um país que já não é"; e Monteiro a pedir ajuda à JC para "transmitir ao povo o orgulho na Pátria a que pertence".

Um a um, os cabeças de lista do PP nos vários círculos eleitorais, falaram do que os preocupa. E a todos Monteiro pediu atenção às especificidades dos seus distritos, alertando para um dos vectores que quer ver a nortear a campanha: "apostar na diversidade regional, porque isso reforça a identidade nacional".

Antes, numa reunião à porta fechada, todos tinham articulado estratégias para a campanha. Que antes de Setembro levará Manuel Monteiro a percorrer todo o interior do país. Com uma grande incidência no litoral durante o mês de Agosto. Na calha estão dez espectáculos da cantora Dina - autora do novo hino do PP -, por praias do país, que contarão com a presença do líder. Uma espécie de "comícios não tradicionais".

Quanto à rentrée, que tradicionalmente tem acontecido em Viana do Castelo e que no ano passado coincidiu com a do PSD no Pontal, se há certezas estão ainda guardadas. Certo é que, de 1 a 30 de Setembro a campanha será diária em todos os distritos. No capítulo das surpresas, há ainda um cabeça de lista: o de Aveiro. E Viana do Castelo tem um problema: Daniel Campelo, o presidente da câmara de Ponte de Lima, que a nova lei das incompatibilidades pode impedir de ser candidato a deputado.

Luís Nobre Guedes, cabeça de lista por Lisboa, avançou apesar da lei que limita o campo aos advogados. E a direcção do partido nega os rumores de uma pré-determinação de Guedes para suspender o mandato parlamentar depois de eleito.

10/07/95

Monteiro lança candidatos do PP em Setúbal com discurso radical contra PSD e PS

Nós ou o caos

Ângela Silva

O PSD e o PS são o "tachismo". Mais quatro anos da mesma política "arrasarão o país que somos". O PP é a diferença: "está na política para servir"; para "dar lugar a Portugal". Abecasis e Monteiro não fizeram a coisa por menos: uma espécie de "nós ou o caos", versão 95. Foi em Setúbal, no lançamento dos candidatos PP. Com indirectas ao "sistema que escreve".

A saída de Cavaco Silva da próxima campanha para as legislativas pode não ter comprometido de vez a presença em cena do estilo "homem providencial". Manuel Monteiro e Nuno Abecasis radicalizaram ontem, em Setúbal, o discurso do PP, numa sessão de lançamento dos cabeças de lista em que falaram do seu partido como o único que "está na política para servir", o único que pode evitar "o arraso do país que somos", o único que "é alternativa credível aos partidos do sistema: PS e PSD".

Em pano de fundo, o novo slogan do PP: "Vamos dar lugar a Portugal". Uma frase medida ao milímetro para cavar o fosso entre os populares e os outros, os que, segundo Monteiro, "estão preocupados, porque ainda têm a colher no tacho e ainda não raparam tudo"; os que em vez de discutirem o futuro de Portugal "discutem o seu futuro e o dos seus amigos".

Mas o sistema que irrita Monteiro não morre aqui. É também "o sistema que escreve, que é um sistema comprado, que só sabe fazer política de acordo com o que o PS e o PSD dizem que está certo". O líder do PP explica de quem fala: "Dos articulistas que já não conseguem pensar à margem do sistema instalado". Monteiro está crispado com os jornais.

Com a postura de quem incendeia um comício, o presidente dos populares desdenha as meias palavras: "Nós somos diferentes. Estamos na política para servir". A sala, repleta de candidatos a deputados e com os cabeças de lista em destaque (faltou António Lobo Xavier, do Porto, que tem primado pela preservação do seu espaço próprio e que ontem enviou um fax alegando problemas numa perna), entusiasma-se com o líder. E parece gostar particularmente do ataque cerrado que Monteiro moveu aos socialistas, acusados de terem pactuado no essencial com o partido de Cavaco.

"Eu faço uma pergunta: seria possível o PSD aprovar Maastricht, ou a PAC, ou o abate da nossa frota pesqueira, sem o consentimento do PS? Com que direito é que o engenheiro Guterres pede o voto em si, quando de forma mais ou menos passiva permitiu que o PSD fizesse o que não podia fazer sem o seu apoio?". A estratégia lembra, ironicamente, o slogan da UDP: "Não basta mudar as moscas". E as frases arrasadoras para os dois maiores adversários não têm fim: "Guterres e Nogueira são homens de ontem. Nós somos pessoas do amanhã. É o passado e o futuro que estarão em confronto nas próximas eleições. Com o PS e o PSD é ter mais ou menos a mesma coisa. O PP é uma coisa completamente diferente".

Comícios na praia

Ontem, o anfitrião chamava-se Nuno Abecasis, cabeça de lista por Setúbal, e a sua ajuda foi preciosa para abrir o caminho à dramatização do discurso. "Esta será uma campanha eleitoral como nunca fiz nenhuma. É a última hora de esperança. Porque mais quatro anos da política que nos tem dirigido arrasará o país que somos".

O apelo ao "orgulho de ser português" voltou a ser uma constante. Com Abecasis a incentivar que "se seja capaz de falar em Portugal sem complexos, porque um país onde o nacionalismo é símbolo de opróbio é um país que já não é"; e Monteiro a pedir ajuda à JC para "transmitir ao povo o orgulho na Pátria a que pertence".

Um a um, os cabeças de lista do PP nos vários círculos eleitorais, falaram do que os preocupa. E a todos Monteiro pediu atenção às especificidades dos seus distritos, alertando para um dos vectores que quer ver a nortear a campanha: "apostar na diversidade regional, porque isso reforça a identidade nacional".

Antes, numa reunião à porta fechada, todos tinham articulado estratégias para a campanha. Que antes de Setembro levará Manuel Monteiro a percorrer todo o interior do país. Com uma grande incidência no litoral durante o mês de Agosto. Na calha estão dez espectáculos da cantora Dina - autora do novo hino do PP -, por praias do país, que contarão com a presença do líder. Uma espécie de "comícios não tradicionais".

Quanto à rentrée, que tradicionalmente tem acontecido em Viana do Castelo e que no ano passado coincidiu com a do PSD no Pontal, se há certezas estão ainda guardadas. Certo é que, de 1 a 30 de Setembro a campanha será diária em todos os distritos. No capítulo das surpresas, há ainda um cabeça de lista: o de Aveiro. E Viana do Castelo tem um problema: Daniel Campelo, o presidente da câmara de Ponte de Lima, que a nova lei das incompatibilidades pode impedir de ser candidato a deputado.

Luís Nobre Guedes, cabeça de lista por Lisboa, avançou apesar da lei que limita o campo aos advogados. E a direcção do partido nega os rumores de uma pré-determinação de Guedes para suspender o mandato parlamentar depois de eleito.

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