JORNAL PUBLICO: Monteiro perde "guerra" com o Porto

03-10-1999
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02/07/95

PP aprovou listas, mas Aveiro continua em aberto

Monteiro perde "guerra" com o Porto

São José Almeida

Foram nove horas a partir pedra, mas as listas do PP estão quase prontas. Falta Viana, Fora da Europa e Aveiro - que agora espera uma "mais-valia". Nicolau Breyner regressa em Beja. Mas o "frisson" da noite foi a longa Comissão Política onde Monteiro não conseguiu que o líder da JC entrasse pelo Porto. Correia da Silva respondeu no Conselho Nacional, onde mesmo as críticas da distrital de Lisboa não chegaram a empolgar a reunião.

O culminar da "guerra" que opôs a direcção do Partido Popular à distrital portuense, terminou com a derrota formal de Manuel Monteiro, durante a reunião da Comissão Política que precedeu o Conselho Nacional. Foi o facto mais relevante da maratona de sexta-feira para aprovar as listas do CDS-PP às legislativas. Contrariando a vontade do líder, o presidente da JC-Gerações Populares, Nuno Correia da Silva, entrou em sexto por Lisboa e não como quarto pelo Porto.

As questões polémicas foram resolvidas durante as cinco horas de Comissão Política. Como resultado a direcção do PP conseguiu pacificar o Conselho Nacional, ficando, contudo, em aberto as listas de Aveiro, Viana do Castelo e da Europa.

Na sessão plenária apenas se repercutiu o descontentamento da distrital de Lisboa face ao processo de elaboração da lista da capital. Oficializadas por uma reunião na quarta-feira à noite, as críticas não chegaram para dividir os conselheiros que se mantiveram na sede Caldas, em Lisboa, até às três da manhã.

Conduzida por Manuel Monteiro, a Comissão Política destinava-se a finalizar as listas que seriam sufragadas em seguida. O líder apresentou as propostas da Directiva, sabendo-se à partida que os "casos difíceis" seriam a distribuição de algumas figuras do núcleo dirigente. Na véspera, a Comissão Directiva resolvera uma questão: o secretário-geral, Gonçalo Ribeiro da Costa, passa a cabeça de lista em Leiria, no lugar recusado por Narana Coissoró - deputado e líder parlamentar cessante que ontem fez questão de ir ao Caldas para reafirmar as razões da sua recusa, perante a Comissão Política.

Quem também saiu cedo foi Luís Nobre Guedes. Ilibado do processo na Direcção de Investigação e Acção Criminal, por alegada evasão fiscal. Depois de justificar longamente por que adiara a aceitação do primeiro lugar em Lisboa, este vogal da Comissão Política declarou-se disponível. Sob condição. É e quer continuar a ser advogado. Está pronto para se sentar em São Bento, mas não pretende dedicar-se à política a cem por cento. Aceites as condições, Nobre Guedes deve estrear-se hoje como candidato, num almoço da concelhia alfacinha, na FIL.

Onde vai o Nuno?

Para Lisboa, Monteiro levava um lote de nomes para os lugares de cima, de potencial eleição ou substituição. À cabeça, Luís Nobre Guedes, seguido de Maria José Nogueira Pinto, Manuela Moura Guedes, Jorge Ferreira, Luís Queiró, Pedro Feist e Telmo Correia. Explicou que Luís Queiró lhe manifestara a sua indisponibilidade, por razões "pessoais e profissionais", para ser o seu número dois em Braga (onde aparece o líder distrital, António Pedras). Por isso, este vogal da Directiva iria na capital, ocupando um lugar que chegou a estar destinado a Ribeiro da Costa.

No Porto, o presidente dos populares propôs uma alteração: Nuno Correia da Silva iria em quarto, depois de António Lobo Xavier, Cavaleiro Brandão e Silva Carvalho, no lugar de um outro jovem popular Sílvio Cervan, que desceria ou sairia da lista. Foi o reacender da "guerra" iniciada, há semanas, com a hipótese de este círculo servir para "arrumar" Ribeiro da Costa, ideia que pôs a distrital em pé de guerra e levou a demissões.

Assumindo um papel misto de "pai" do PP portuense e de vice-presidente nacional, Lobo Xavier transmitiu aos seus pares que Cervan lhe manifestara o desejo de ser candidato, mas só se isso não fosse afectar a "paz" interna. Mais directo, o presidente da distrital, Silva Carvalho, frisa que apenas aceita ser terceiro se o quarto for Cervan.

Perante o impasse, Manuel Queiró (que recusou a ideia de regressar à AR) avança com uma proposta alternativa. Correia da Silva pode ser o sexto na capital. Argumentos: as possibilidades de eleição são idênticas num ou noutro caso; a distrital de Lisboa indicou o seu nome para quarto; e na capital elegem-se mais deputados, o que facilita uma substituição quando a JC precisar de aparecer em São Bento.

Monteiro põe as propostas à votação. A primeira é a de Queiró, que obtém 11 votos a favor. O presidente do PP manifesta a sua discordância, mas acata a derrota e nem leva outra proposta à consideração dos cerca de 20 presentes. E o Porto canta vitória. Correia da Silva sente-se traído - Monteiro afirmara em público, oito dias antes, que o terceiro lugar do Porto era seu.

A lista do Porto teve ainda outro contra-tempo. A Federação dos Trabalhadores Democratas-Cristãos queria que o seu dirigente, Moura e Silva, fosse quinto e não sexto, passando para a frente de Augusto Boucinha. Não conseguiu, por um voto.

Quanto a Lisboa, depois de introduzido o nome de Correia da Silva, ainda houve ajustamentos. Pedro Feist passou para sétimo -lugar que aceitou mediante a garantia de que o seu nome era do agrado da distrital - e Telmo Correia pediu para não ser candidato, mesmo depois de Monteiro insistir com ele durante a reunião. O oitavo será indicado pela concelhia da Amadora, e o nono pela da Lourinhã. Seguem-se um lote de notáveis: Nogueira Simões, João Dotti, José Filipe Nobre Guedes, Nuno Fernandes Tomás, regressando-se depois à rotatividade das concelhias. Uma derrota da distrital de Lisboa, cuja presidente ainda pediu para que os "notáveis" fossem distribuídos pelo país.

Nicolau e a "mais-valia"

Sem história foi a aprovação das restantes listas: Nuno Abecasis é cabeça de lista em Setúbal (seguido do ex-PCP António Pombeiro), Galvão Lucas, em Viseu, Salvador Correia de Sá, por Fora da Europa, José Manuel Rodrigues na Madeira, José António Monjardino, nos Açores, Vítor Vagarouso, em Vila Real, Celeste Capelo, em Castelo Branco, José Mesquita, em Bragança, Adelaide Freixinho, em Coimbra, Sousa Otto, em Faro, Pereira da Silva, na Guarda, Sampaio Soares, em Portalegre, Calejo Pires, em Évora. Para Beja insistem em Nicolau Breyner. Um regresso do auto-demitido vereador dos populares depois de, segundo Monteiro, ter sido "alvo de perseguição política", por faltar às reuniões da assembleia municipal de Serpa.

Em aberto ficaram as listas de Aveiro, Viana do Castelo e Fora da Europa. Para Aveiro, estão à espera de "um candidato surpresa que representa uma importante mais-valia política para o PP", jurou Jorge Ferreira. Mas Girão Pereira, o "pai" do PP aveirense, mantém o presidente da Câmara de Albergaria-a-Velha, Rui Marques, na retaguarda, apesar da lei das incompatibilidades poder ser um impedimento à acumulação de cargos autárquicos com a AR. Em Viana o problema é também as incompatibilidades e para a lista por Fora da Europa aguardam a resposta a outro convite.

Por sua vez, o Conselho Nacional foi, na prática, uma reunião sem história. Registe-se a intervenção de Correia da Silva, visivelmente agastado, que garantiu estar disposto a ir em qualquer posição e a fazer campanha para que todos os lugares sejam elegíveis. Já perante os jornalistas, não deixou de se mostrar "desiludido" e criticar a recompensa de "algumas distritais" que "ameaçam com a demissão" para assegurar lugares.

De salientar também o pequeno desaguisado com Lisboa. João Vieira reiterou, a título pessoal, as críticas à forma como foi conduzido o processo da lista lisboeta e à introdução de independentes. Monteiro não gostou e considerou-se injustiçado. Coube a Celeste Cardona e a Mota Campos cortar a polémica. Não deixando de reafirmar as divergências, a presidente da distrital enterrou o machado de guerra. Afastou qualquer hipótese de demissão e assumiu a lista do partido como sua. Estavam feitas as demarcações tácticas em relação às "exigências portuenses". A lista de Lisboa foi, contudo, uma das menos votadas, tal como as do Porto e Leiria.

02/07/95

PP aprovou listas, mas Aveiro continua em aberto

Monteiro perde "guerra" com o Porto

São José Almeida

Foram nove horas a partir pedra, mas as listas do PP estão quase prontas. Falta Viana, Fora da Europa e Aveiro - que agora espera uma "mais-valia". Nicolau Breyner regressa em Beja. Mas o "frisson" da noite foi a longa Comissão Política onde Monteiro não conseguiu que o líder da JC entrasse pelo Porto. Correia da Silva respondeu no Conselho Nacional, onde mesmo as críticas da distrital de Lisboa não chegaram a empolgar a reunião.

O culminar da "guerra" que opôs a direcção do Partido Popular à distrital portuense, terminou com a derrota formal de Manuel Monteiro, durante a reunião da Comissão Política que precedeu o Conselho Nacional. Foi o facto mais relevante da maratona de sexta-feira para aprovar as listas do CDS-PP às legislativas. Contrariando a vontade do líder, o presidente da JC-Gerações Populares, Nuno Correia da Silva, entrou em sexto por Lisboa e não como quarto pelo Porto.

As questões polémicas foram resolvidas durante as cinco horas de Comissão Política. Como resultado a direcção do PP conseguiu pacificar o Conselho Nacional, ficando, contudo, em aberto as listas de Aveiro, Viana do Castelo e da Europa.

Na sessão plenária apenas se repercutiu o descontentamento da distrital de Lisboa face ao processo de elaboração da lista da capital. Oficializadas por uma reunião na quarta-feira à noite, as críticas não chegaram para dividir os conselheiros que se mantiveram na sede Caldas, em Lisboa, até às três da manhã.

Conduzida por Manuel Monteiro, a Comissão Política destinava-se a finalizar as listas que seriam sufragadas em seguida. O líder apresentou as propostas da Directiva, sabendo-se à partida que os "casos difíceis" seriam a distribuição de algumas figuras do núcleo dirigente. Na véspera, a Comissão Directiva resolvera uma questão: o secretário-geral, Gonçalo Ribeiro da Costa, passa a cabeça de lista em Leiria, no lugar recusado por Narana Coissoró - deputado e líder parlamentar cessante que ontem fez questão de ir ao Caldas para reafirmar as razões da sua recusa, perante a Comissão Política.

Quem também saiu cedo foi Luís Nobre Guedes. Ilibado do processo na Direcção de Investigação e Acção Criminal, por alegada evasão fiscal. Depois de justificar longamente por que adiara a aceitação do primeiro lugar em Lisboa, este vogal da Comissão Política declarou-se disponível. Sob condição. É e quer continuar a ser advogado. Está pronto para se sentar em São Bento, mas não pretende dedicar-se à política a cem por cento. Aceites as condições, Nobre Guedes deve estrear-se hoje como candidato, num almoço da concelhia alfacinha, na FIL.

Onde vai o Nuno?

Para Lisboa, Monteiro levava um lote de nomes para os lugares de cima, de potencial eleição ou substituição. À cabeça, Luís Nobre Guedes, seguido de Maria José Nogueira Pinto, Manuela Moura Guedes, Jorge Ferreira, Luís Queiró, Pedro Feist e Telmo Correia. Explicou que Luís Queiró lhe manifestara a sua indisponibilidade, por razões "pessoais e profissionais", para ser o seu número dois em Braga (onde aparece o líder distrital, António Pedras). Por isso, este vogal da Directiva iria na capital, ocupando um lugar que chegou a estar destinado a Ribeiro da Costa.

No Porto, o presidente dos populares propôs uma alteração: Nuno Correia da Silva iria em quarto, depois de António Lobo Xavier, Cavaleiro Brandão e Silva Carvalho, no lugar de um outro jovem popular Sílvio Cervan, que desceria ou sairia da lista. Foi o reacender da "guerra" iniciada, há semanas, com a hipótese de este círculo servir para "arrumar" Ribeiro da Costa, ideia que pôs a distrital em pé de guerra e levou a demissões.

Assumindo um papel misto de "pai" do PP portuense e de vice-presidente nacional, Lobo Xavier transmitiu aos seus pares que Cervan lhe manifestara o desejo de ser candidato, mas só se isso não fosse afectar a "paz" interna. Mais directo, o presidente da distrital, Silva Carvalho, frisa que apenas aceita ser terceiro se o quarto for Cervan.

Perante o impasse, Manuel Queiró (que recusou a ideia de regressar à AR) avança com uma proposta alternativa. Correia da Silva pode ser o sexto na capital. Argumentos: as possibilidades de eleição são idênticas num ou noutro caso; a distrital de Lisboa indicou o seu nome para quarto; e na capital elegem-se mais deputados, o que facilita uma substituição quando a JC precisar de aparecer em São Bento.

Monteiro põe as propostas à votação. A primeira é a de Queiró, que obtém 11 votos a favor. O presidente do PP manifesta a sua discordância, mas acata a derrota e nem leva outra proposta à consideração dos cerca de 20 presentes. E o Porto canta vitória. Correia da Silva sente-se traído - Monteiro afirmara em público, oito dias antes, que o terceiro lugar do Porto era seu.

A lista do Porto teve ainda outro contra-tempo. A Federação dos Trabalhadores Democratas-Cristãos queria que o seu dirigente, Moura e Silva, fosse quinto e não sexto, passando para a frente de Augusto Boucinha. Não conseguiu, por um voto.

Quanto a Lisboa, depois de introduzido o nome de Correia da Silva, ainda houve ajustamentos. Pedro Feist passou para sétimo -lugar que aceitou mediante a garantia de que o seu nome era do agrado da distrital - e Telmo Correia pediu para não ser candidato, mesmo depois de Monteiro insistir com ele durante a reunião. O oitavo será indicado pela concelhia da Amadora, e o nono pela da Lourinhã. Seguem-se um lote de notáveis: Nogueira Simões, João Dotti, José Filipe Nobre Guedes, Nuno Fernandes Tomás, regressando-se depois à rotatividade das concelhias. Uma derrota da distrital de Lisboa, cuja presidente ainda pediu para que os "notáveis" fossem distribuídos pelo país.

Nicolau e a "mais-valia"

Sem história foi a aprovação das restantes listas: Nuno Abecasis é cabeça de lista em Setúbal (seguido do ex-PCP António Pombeiro), Galvão Lucas, em Viseu, Salvador Correia de Sá, por Fora da Europa, José Manuel Rodrigues na Madeira, José António Monjardino, nos Açores, Vítor Vagarouso, em Vila Real, Celeste Capelo, em Castelo Branco, José Mesquita, em Bragança, Adelaide Freixinho, em Coimbra, Sousa Otto, em Faro, Pereira da Silva, na Guarda, Sampaio Soares, em Portalegre, Calejo Pires, em Évora. Para Beja insistem em Nicolau Breyner. Um regresso do auto-demitido vereador dos populares depois de, segundo Monteiro, ter sido "alvo de perseguição política", por faltar às reuniões da assembleia municipal de Serpa.

Em aberto ficaram as listas de Aveiro, Viana do Castelo e Fora da Europa. Para Aveiro, estão à espera de "um candidato surpresa que representa uma importante mais-valia política para o PP", jurou Jorge Ferreira. Mas Girão Pereira, o "pai" do PP aveirense, mantém o presidente da Câmara de Albergaria-a-Velha, Rui Marques, na retaguarda, apesar da lei das incompatibilidades poder ser um impedimento à acumulação de cargos autárquicos com a AR. Em Viana o problema é também as incompatibilidades e para a lista por Fora da Europa aguardam a resposta a outro convite.

Por sua vez, o Conselho Nacional foi, na prática, uma reunião sem história. Registe-se a intervenção de Correia da Silva, visivelmente agastado, que garantiu estar disposto a ir em qualquer posição e a fazer campanha para que todos os lugares sejam elegíveis. Já perante os jornalistas, não deixou de se mostrar "desiludido" e criticar a recompensa de "algumas distritais" que "ameaçam com a demissão" para assegurar lugares.

De salientar também o pequeno desaguisado com Lisboa. João Vieira reiterou, a título pessoal, as críticas à forma como foi conduzido o processo da lista lisboeta e à introdução de independentes. Monteiro não gostou e considerou-se injustiçado. Coube a Celeste Cardona e a Mota Campos cortar a polémica. Não deixando de reafirmar as divergências, a presidente da distrital enterrou o machado de guerra. Afastou qualquer hipótese de demissão e assumiu a lista do partido como sua. Estavam feitas as demarcações tácticas em relação às "exigências portuenses". A lista de Lisboa foi, contudo, uma das menos votadas, tal como as do Porto e Leiria.

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