DN

24-06-1998
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Infelizmente, estamos mais uma vez perante o massacre dos inocentes que jogam ao futebol sem precauções de maior. São especialmente as equipas da periferia futebolística que assim procedem para empolgamento dos que verdadeiramente gostam que as coisas cheguem ao fim, ou seja, ao golo. A Coreia do Sul, os Camarões, a Jamaica e a Arábia Saudita podem não passar à fase seguinte, mas já permitiram que os nossos olhos se regalassem.

O pior é que, passada esta fase, voltam a encontrar-se os campeões do cálculo e das tácticas que reduzem os resultados às combinações primárias do 1-0, ou do 2-1, já que uma das equipas terá de ganhar na fase seguinte, que é a das eliminatórias. Caso contrário, tudo acabaria a zero-zero.

Aqui reside o maior paradoxo deste Campeonato do Mundo: as equipas que agora ganham por muitos, graças ao gosto pela bola-em-si dos adversários, são aquelas que, na fase seguinte, serão supercautelosas, eliminando os primeiros 45 minutos em estudo recíproco a meio campo para uma delas se remeter à defensiva mais áspera desde que marque um só golo. Por isso acho que o futebol devia aprender com o voleibol, onde, para vencer, é preciso uma diferença mínima de dois pontos! O castigo que não seria obrigar uma equipa de futebol que conseguir marcar um golo a ter de marcar outro para ganhar o desafio do espectáculo!

Esta fase do Campeonato do Mundo é, pois, aquela que cumpre a suprema função de obrigar ao encontro de selecções de países desiguais no modo de encarar o espectáculo futebolístico. É a única altura em que a difusão do futebol pela superfície da terra encontra pontos de apoio em todos os continentes. Por isso, os meus olhos estão centrados nas jogadas desses países que vão desaparecer do mundo desportivo globalizado nos próximos quatro anos. Dos seus torneios regionais teremos poucas notícias e apenas aquelas que se refiram a um treinador ou a qualquer jogador português perdidos naquelas paragens.

Na fase seguinte deste campeonato, lá teremos de novo a concentração de riqueza na Europa e na América Latina. E, no entanto, o futebol só terá a ganhar quando a África, a Ásia e a América do Norte obrigarem o campeonato a ser mesmo mundial. O que, pelos vistos, não está para já.

José Medeiros Ferreira, professor universitário, é um dos "Sete Violinos" e escreve neste espaço durante o Mundial 98

Infelizmente, estamos mais uma vez perante o massacre dos inocentes que jogam ao futebol sem precauções de maior. São especialmente as equipas da periferia futebolística que assim procedem para empolgamento dos que verdadeiramente gostam que as coisas cheguem ao fim, ou seja, ao golo. A Coreia do Sul, os Camarões, a Jamaica e a Arábia Saudita podem não passar à fase seguinte, mas já permitiram que os nossos olhos se regalassem.

O pior é que, passada esta fase, voltam a encontrar-se os campeões do cálculo e das tácticas que reduzem os resultados às combinações primárias do 1-0, ou do 2-1, já que uma das equipas terá de ganhar na fase seguinte, que é a das eliminatórias. Caso contrário, tudo acabaria a zero-zero.

Aqui reside o maior paradoxo deste Campeonato do Mundo: as equipas que agora ganham por muitos, graças ao gosto pela bola-em-si dos adversários, são aquelas que, na fase seguinte, serão supercautelosas, eliminando os primeiros 45 minutos em estudo recíproco a meio campo para uma delas se remeter à defensiva mais áspera desde que marque um só golo. Por isso acho que o futebol devia aprender com o voleibol, onde, para vencer, é preciso uma diferença mínima de dois pontos! O castigo que não seria obrigar uma equipa de futebol que conseguir marcar um golo a ter de marcar outro para ganhar o desafio do espectáculo!

Esta fase do Campeonato do Mundo é, pois, aquela que cumpre a suprema função de obrigar ao encontro de selecções de países desiguais no modo de encarar o espectáculo futebolístico. É a única altura em que a difusão do futebol pela superfície da terra encontra pontos de apoio em todos os continentes. Por isso, os meus olhos estão centrados nas jogadas desses países que vão desaparecer do mundo desportivo globalizado nos próximos quatro anos. Dos seus torneios regionais teremos poucas notícias e apenas aquelas que se refiram a um treinador ou a qualquer jogador português perdidos naquelas paragens.

Na fase seguinte deste campeonato, lá teremos de novo a concentração de riqueza na Europa e na América Latina. E, no entanto, o futebol só terá a ganhar quando a África, a Ásia e a América do Norte obrigarem o campeonato a ser mesmo mundial. O que, pelos vistos, não está para já.

José Medeiros Ferreira, professor universitário, é um dos "Sete Violinos" e escreve neste espaço durante o Mundial 98

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