JORNAL PUBLICO: "Quem não estiver com Jardim é contra"

03-10-1999
marcar artigo

02/07/95

No dia da região Autónoma, PSD-Madeira desafia Nogueira

"Quem não estiver com Jardim é contra"

O PSD-Madeira aproveitou as celebrações do Dia da Região para reafirmar que não abdica da autonomia estatutária a nível partidário, nem está disposto a aceitar "artifícios de bom comportamento" nas suas relações com a direcção nacional. Mais uma vez, Jaime Ramos, o líder da bancada maioritária, foi incumbido de, com os aplausos do presidente do Governo Regional, transmitir o recado a Lisboa.

De gerbera laranja ao peito - em homenagem a um qualquer botânico nazi Gerber, que deu nome a esta flor, importada, para ontem ser ostentada, em contraponto aos cravos vermelhos usados nas sessões comemorativas do 25 de Abril? - os deputados da maioria, através do seu porta-voz, advertiram que "é bom que Fernando Nogueira, tal como aconteceu com Cavaco Silva, entenda que o PSD-Madeira está, sim, com Alberto João Jardim, e que estará com Fernando Nogueira na medida em que este estiver com Alberto João Jardim".

Se o Governo da República voltar a ser social-democrata, avisou já Ramos, "não pode viver distante do partido que o mantém, nem pode ter um comportamento mais hostil com instituições e órgãos da responsabilidade de sociais-democratas", para, em contrapartida, "pactuar e ceder ante posturas e jogos adversários". É que, deixou desde já bem claro o deputado insular, o PSD-Madeira não mais tolerará "subsistentes manifestações de desconfiança" - caso do manutenção do ministro da República, como exemplificou -, "desconfiança que alguns alimentam em relação aos madeirenses e aos açorianos, incluindo no meu partido". Por isso, Ramos promete cerrar fileiras para "combater aqueles que, contrariando os ideais e interesses da Madeira, continuam a pautar o seu comportamento pelo distanciamento desconfiado, próprio de quem não compreende a essência" da "luta autonómica", optando antes "pela defesa da manutenção de um "status quo" bem ao estilo do imperialismo colonialista".

Ramos queixou-se de "campanhas sujas" para "denegrir a imagem dos dirigentes insulares", anteviu na vitória socialista uma "perigosa e descontrolada sede de vingança" e (tema obrigatório dos seus discursos) voltou a atacar Mário Soares. O Presidente da República - "ferido no seu orgulho porque nunca conseguiu vir ao Funchal nas suas excursões pomposamente denominadas Presidências Abertas" - "hipotecou a sua independência" e revelou-se, "escandalosamente, um adversário do PSD-Madeira" ao condecorar o padre Martins Júnior, forma encontrada "para atacar aquele que foi sempre o seu principal adversário político, Alberto João Jardim".

O deputado (de gerbera) laranja também não se coibiu de, numa reprimenda aos deputados do PSD-Madeira em São Bento, os "não residentes", incitá-los a reafirmarem "o seu direito à diferença, em vez de se diluírem no seu grupo parlamentar, preocupados apenas com a sua imagem, com o ""show off" para consumo mediático" - especialmente quando de passagem por cá, participam em programas televisivos ou escrevem artigos de jornais", diria ainda Jaime Ramos. Visivelmente incomodados ficaram, na tribuna, os quatro deputados à Assembleia da República, sobretudo por ser tal crítica formulada na véspera de a comissão política regional tomar uma decisão sobre a próxima candidatura, com a previsível ultrapassagem de Guilherme Silva a Correia de Jesus e a exclusão de Carlos Lélis e Cecília Catarino.

Com este impetuoso discurso, Ramos conseguiu remeter para segundo plano o seu arqui-rival de bancada Miguel de Sousa, que ontem, sem gerbera na lapela, presidiu à sessão solene, em substituição de Miguel Mendonça - a participar no estrangeiro, com outros membros do governo, em actos comemorativos do Dia da Madeira junto de núcleos de emigrantes. O presidente em exercício reclamou alterações constitucionais no respeitante à autonomia, designadamente, os mais amplos poderes legislativos, a definição do regime das relações financeiras entre o Estado e a Região, a criação de um círculo eleitoral da Madeira para o Parlamento Europeu, a não proibição de partidos regionais e, numa insistente referência ao ministro da República - novamente não convidado para a celebração - a eliminação de "cargos que não são mais do que resquícios de mentalidades centralizadoras de todo intoleráveis".

Com muito menos tempo de antena, também a oposição botou discurso. Mário Albuquerque (PSN) lamentou que "enquanto o dr. Jardim dança na Roleta Russa", os madeirenses vivem sérias dificuldades. Mário Tavares (CDU) proclamou que "já é tempo" de libertar a "autonomia da farda laranja e garantir a liberdade". Mota Torres (PS) frisou que a Madeira merecia "mais e melhor de quem a governa". E Ricardo Vieira (PP) concluiu que "os sinais dos tempos que passam são indícios claros da necessidade de uma nova Autonomia".

Tolentino de Nóbrega

02/07/95

No dia da região Autónoma, PSD-Madeira desafia Nogueira

"Quem não estiver com Jardim é contra"

O PSD-Madeira aproveitou as celebrações do Dia da Região para reafirmar que não abdica da autonomia estatutária a nível partidário, nem está disposto a aceitar "artifícios de bom comportamento" nas suas relações com a direcção nacional. Mais uma vez, Jaime Ramos, o líder da bancada maioritária, foi incumbido de, com os aplausos do presidente do Governo Regional, transmitir o recado a Lisboa.

De gerbera laranja ao peito - em homenagem a um qualquer botânico nazi Gerber, que deu nome a esta flor, importada, para ontem ser ostentada, em contraponto aos cravos vermelhos usados nas sessões comemorativas do 25 de Abril? - os deputados da maioria, através do seu porta-voz, advertiram que "é bom que Fernando Nogueira, tal como aconteceu com Cavaco Silva, entenda que o PSD-Madeira está, sim, com Alberto João Jardim, e que estará com Fernando Nogueira na medida em que este estiver com Alberto João Jardim".

Se o Governo da República voltar a ser social-democrata, avisou já Ramos, "não pode viver distante do partido que o mantém, nem pode ter um comportamento mais hostil com instituições e órgãos da responsabilidade de sociais-democratas", para, em contrapartida, "pactuar e ceder ante posturas e jogos adversários". É que, deixou desde já bem claro o deputado insular, o PSD-Madeira não mais tolerará "subsistentes manifestações de desconfiança" - caso do manutenção do ministro da República, como exemplificou -, "desconfiança que alguns alimentam em relação aos madeirenses e aos açorianos, incluindo no meu partido". Por isso, Ramos promete cerrar fileiras para "combater aqueles que, contrariando os ideais e interesses da Madeira, continuam a pautar o seu comportamento pelo distanciamento desconfiado, próprio de quem não compreende a essência" da "luta autonómica", optando antes "pela defesa da manutenção de um "status quo" bem ao estilo do imperialismo colonialista".

Ramos queixou-se de "campanhas sujas" para "denegrir a imagem dos dirigentes insulares", anteviu na vitória socialista uma "perigosa e descontrolada sede de vingança" e (tema obrigatório dos seus discursos) voltou a atacar Mário Soares. O Presidente da República - "ferido no seu orgulho porque nunca conseguiu vir ao Funchal nas suas excursões pomposamente denominadas Presidências Abertas" - "hipotecou a sua independência" e revelou-se, "escandalosamente, um adversário do PSD-Madeira" ao condecorar o padre Martins Júnior, forma encontrada "para atacar aquele que foi sempre o seu principal adversário político, Alberto João Jardim".

O deputado (de gerbera) laranja também não se coibiu de, numa reprimenda aos deputados do PSD-Madeira em São Bento, os "não residentes", incitá-los a reafirmarem "o seu direito à diferença, em vez de se diluírem no seu grupo parlamentar, preocupados apenas com a sua imagem, com o ""show off" para consumo mediático" - especialmente quando de passagem por cá, participam em programas televisivos ou escrevem artigos de jornais", diria ainda Jaime Ramos. Visivelmente incomodados ficaram, na tribuna, os quatro deputados à Assembleia da República, sobretudo por ser tal crítica formulada na véspera de a comissão política regional tomar uma decisão sobre a próxima candidatura, com a previsível ultrapassagem de Guilherme Silva a Correia de Jesus e a exclusão de Carlos Lélis e Cecília Catarino.

Com este impetuoso discurso, Ramos conseguiu remeter para segundo plano o seu arqui-rival de bancada Miguel de Sousa, que ontem, sem gerbera na lapela, presidiu à sessão solene, em substituição de Miguel Mendonça - a participar no estrangeiro, com outros membros do governo, em actos comemorativos do Dia da Madeira junto de núcleos de emigrantes. O presidente em exercício reclamou alterações constitucionais no respeitante à autonomia, designadamente, os mais amplos poderes legislativos, a definição do regime das relações financeiras entre o Estado e a Região, a criação de um círculo eleitoral da Madeira para o Parlamento Europeu, a não proibição de partidos regionais e, numa insistente referência ao ministro da República - novamente não convidado para a celebração - a eliminação de "cargos que não são mais do que resquícios de mentalidades centralizadoras de todo intoleráveis".

Com muito menos tempo de antena, também a oposição botou discurso. Mário Albuquerque (PSN) lamentou que "enquanto o dr. Jardim dança na Roleta Russa", os madeirenses vivem sérias dificuldades. Mário Tavares (CDU) proclamou que "já é tempo" de libertar a "autonomia da farda laranja e garantir a liberdade". Mota Torres (PS) frisou que a Madeira merecia "mais e melhor de quem a governa". E Ricardo Vieira (PP) concluiu que "os sinais dos tempos que passam são indícios claros da necessidade de uma nova Autonomia".

Tolentino de Nóbrega

marcar artigo