JORNAL PUBLICO: Lisboa suspensa em Nobre Guedes

01-10-1999
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27/05/95

Partido Popular aprova hoje cabeças de lista às legislativas

Lisboa suspensa em Nobre Guedes

Se Luís Nobre Guedes aceitar ser cabeça de lista do Partido Popular na capital o seu nome será facilmente aprovado pelo Conselho Nacional que hoje se reúne na sede do partido, em Lisboa. Mas, ontem ao princípio da noite, antes de começar a Comissão Política que preparou a reunião de hoje, era grande a expectativa dos populares.

Nobre Guedes passou a semana em Londres, mas, em Lisboa, constava que este membro da Comissão Política antes de sair do país já tinha respondido ao convite que Monteiro lhe fizera, há quinze dias, para que assegurasse, em seu lugar, a liderança da lista do PP na capital (antes de anunciar que era cabeça de lista por Braga e depois de dar conhecimento à presidente da distrital, Celeste Cardona). Uma resposta que o presidente dos populares fez questão de manter em total sigilo.

O sim de Nobre Guedes era desejado por muitos dos dirigentes concelhios e distritais. E havia quem considerasse que este seria um "excelente" número um, argumentando a "boa figura" e o "prestígio" deste advogado, bem como o facto de ele estar "profundamente ligado à construção do novo PP".

Mas as dúvidas eram grandes e alguns dirigentes lembravam que Nobre Guedes poderia preferir integrar a lista num lugar secundário, já que está a ser investigado pelo Departamento de Investigação de Acção Penal (DIAP) por alegada evasão fiscal. Outro motivo aduzido para o não de Nobre Guedes era as novas regras a aprovar pela comissão parlamentar de transparência e a proposta de que seja incompatível o cargo de deputado com o exercício de advocacia representando o Estado ou empresas envolvidas em concursos públicos.

Nogueira Pinto em Lisboa

Na reunião de ontem, participou a independente Maria José Nogueira Pinto, que à entrada assumiu estar disponível para ser candidata em Lisboa, mas não querer encabeçar a lista, por achar não ser esse o papel dos independentes. A ex-sub-secretária de Estado deverá assim surgir em segundo na capital. Uma posição que acalma os ânimos da distrital e das concelhias que temiam que Nobre Guedes não aceitasse liderar a lista e esta acabasse por ser encabeçada por Maria José Nogueira Pinto. Como argumento avançam que a nível distrital foi colocado como "critério fundamental" para a escolha do cabeça de lista o "ser militante". Mas não se opõem à sua inclusão em lugar elegível.

Já quanto à integração de Manuela Moura Guedes, as estruturas concelhias são radicalmente contra. Como argumento, afirma que querem "políticos em São Bento e não locutoras". Todavia, quando começou a Comissão Política de ontem, ainda não sabia se Manuela Moura Guedes aceita ou não integrar a lista da capital, onde lhe está reservado o terceiro ou quarto lugar.

É a revolta das estruturas partidárias que insistiram com Monteiro, mesmo depois do presidente dos populares ter avançado com a sua candidatura por Braga, e que ficaram descontentes com a apresentação pública da candidatura de Nuno Kruz Abecasis em Setúbal antes do Conselho Nacional de hoje, até porque era uma hipótese que admitiam como cabeça de lista alternativo.

Contestação no Porto

Outra lista que tem levantado problemas é a do Porto e a sua ratificação hoje poderá aquecer o Concelho Nacional. Encabeçada pelo vice-presidente António Lobo Xavier a lista deverá ter como segundo candidato o responsável pela distrital Silva Carvalho. Mas, esta semana, a polémica estalou na estrutura portuense e os dirigentes locais, Nuno Morgado e Vítor Ávila, demitiram-se. Foi a resposta a Lobo Xavier e o culminar do processo iniciado com o ultimato a Manuel Cavaleiro Brandão para que aceitasse ser segundo candidato por aquele círculo.

Xavier não gostou e assumiu publicamente caber a si a condução das negociações com Cavaleiro Brandão, que tem insistido na rejeição do convite, alegando razões profissionais (integra o Comité Económico e Social). Embora sem esconder divergências políticas com Monteiro, que o levaram, aliás, a pedir para transitar da Comissão Política para o Conselho Nacional no Congresso de Fevereiro. Apesar disso, a direcção dos populares não desiste e ainda ontem Monteiro tentou através do telefone convencer Cavaleiro Brandão a dizer sim.

Pacífica será a aprovação dos vice-presidentes Nuno Krus Abecasis e Galvão Lucas, como cabeças de lista em Setúbal e Viseu, e a de Helena Santo, da Comissão Directiva, como número um em Santarém. Tal como de Francisco Sampaio Soares, secretário-geral da Associação de Agricultores de Portalegre, à frente da lista por aquele distrito.

A incógnita de Aveiro

O cabeça de lista do Partido Popular pelo círculo de Aveiro não deverá ser hoje aprovado pelo Conselho Nacional dos populares que se reune na sede nacional em Lisboa. Em princípio o nome mistério será divulgado no almoço que levará Manuel Monteiro àquele distrito no próximo dia 4. Uma cerimónia que estava agendada à um mês e que veio cair como ouro sobre azul perante o problema com que a direcção dos populares de debate: arranjar um cabeça de lista para aquele distrito.

Este adiamento do anúncio do nome do número um por Aveiro prende-se, assim, com as dificuldades que a direcção do CDS-PP tem encontrado em arranjar uma figura de prestígio e com impacto local que herde a missão de Girão Pereira. Este actual eurodeputado não se tem poupado a esforços para conseguir um candidato.

Depois de insistir, sem êxito, com Pedro França, presidente da Associação de Armadores de Pesca Industrial (ADAPI), para que este se encarrega-se da tarefa, Girão Pereira viu Monteiro anunciar a sua candidatura pelo círculo de Braga, quando o presidente dos populares se havia comprometido a assegurar qualquer precalço em Aveiro.Um compromisso que não pode cumprir face a situação de falta de cabeça de lista em Braga, surgida com a recusa em recandidatar-se do candidato histórico daquele círculo, Nogueira de Brito e após ter sido levantada a hipótese de Maria José Nogueira Pinto concorrer por Braga, missão que esta independente rejeitou.

Na tentativa de resolver o problema Girão Pereira jantou no passado dia 19 em casa de Maria José Nogueira Pinto, com Monteiro, tentando convencê-la a avançar em Aveiro. A resposta foi negativa e Nogueira Pinto deu a entender aos seus convidados que só aceitava ser candidata em Lisboa, com o argumento de que esta é a sua cidade. Recorde-se que o nome de Maria José Nogueira Pinto chegou a ser dado como certo para a Câmara de Lisboa nas últimas autárquicas, tendo a antiga sub-secretária de Estado então recusado o convite. O CDS-PP tem agora oito dias para encontrar um cabeça de lista por Aveiro, distrito onde desde há vinte anos consegue eleger.

São José Almeida

27/05/95

Partido Popular aprova hoje cabeças de lista às legislativas

Lisboa suspensa em Nobre Guedes

Se Luís Nobre Guedes aceitar ser cabeça de lista do Partido Popular na capital o seu nome será facilmente aprovado pelo Conselho Nacional que hoje se reúne na sede do partido, em Lisboa. Mas, ontem ao princípio da noite, antes de começar a Comissão Política que preparou a reunião de hoje, era grande a expectativa dos populares.

Nobre Guedes passou a semana em Londres, mas, em Lisboa, constava que este membro da Comissão Política antes de sair do país já tinha respondido ao convite que Monteiro lhe fizera, há quinze dias, para que assegurasse, em seu lugar, a liderança da lista do PP na capital (antes de anunciar que era cabeça de lista por Braga e depois de dar conhecimento à presidente da distrital, Celeste Cardona). Uma resposta que o presidente dos populares fez questão de manter em total sigilo.

O sim de Nobre Guedes era desejado por muitos dos dirigentes concelhios e distritais. E havia quem considerasse que este seria um "excelente" número um, argumentando a "boa figura" e o "prestígio" deste advogado, bem como o facto de ele estar "profundamente ligado à construção do novo PP".

Mas as dúvidas eram grandes e alguns dirigentes lembravam que Nobre Guedes poderia preferir integrar a lista num lugar secundário, já que está a ser investigado pelo Departamento de Investigação de Acção Penal (DIAP) por alegada evasão fiscal. Outro motivo aduzido para o não de Nobre Guedes era as novas regras a aprovar pela comissão parlamentar de transparência e a proposta de que seja incompatível o cargo de deputado com o exercício de advocacia representando o Estado ou empresas envolvidas em concursos públicos.

Nogueira Pinto em Lisboa

Na reunião de ontem, participou a independente Maria José Nogueira Pinto, que à entrada assumiu estar disponível para ser candidata em Lisboa, mas não querer encabeçar a lista, por achar não ser esse o papel dos independentes. A ex-sub-secretária de Estado deverá assim surgir em segundo na capital. Uma posição que acalma os ânimos da distrital e das concelhias que temiam que Nobre Guedes não aceitasse liderar a lista e esta acabasse por ser encabeçada por Maria José Nogueira Pinto. Como argumento avançam que a nível distrital foi colocado como "critério fundamental" para a escolha do cabeça de lista o "ser militante". Mas não se opõem à sua inclusão em lugar elegível.

Já quanto à integração de Manuela Moura Guedes, as estruturas concelhias são radicalmente contra. Como argumento, afirma que querem "políticos em São Bento e não locutoras". Todavia, quando começou a Comissão Política de ontem, ainda não sabia se Manuela Moura Guedes aceita ou não integrar a lista da capital, onde lhe está reservado o terceiro ou quarto lugar.

É a revolta das estruturas partidárias que insistiram com Monteiro, mesmo depois do presidente dos populares ter avançado com a sua candidatura por Braga, e que ficaram descontentes com a apresentação pública da candidatura de Nuno Kruz Abecasis em Setúbal antes do Conselho Nacional de hoje, até porque era uma hipótese que admitiam como cabeça de lista alternativo.

Contestação no Porto

Outra lista que tem levantado problemas é a do Porto e a sua ratificação hoje poderá aquecer o Concelho Nacional. Encabeçada pelo vice-presidente António Lobo Xavier a lista deverá ter como segundo candidato o responsável pela distrital Silva Carvalho. Mas, esta semana, a polémica estalou na estrutura portuense e os dirigentes locais, Nuno Morgado e Vítor Ávila, demitiram-se. Foi a resposta a Lobo Xavier e o culminar do processo iniciado com o ultimato a Manuel Cavaleiro Brandão para que aceitasse ser segundo candidato por aquele círculo.

Xavier não gostou e assumiu publicamente caber a si a condução das negociações com Cavaleiro Brandão, que tem insistido na rejeição do convite, alegando razões profissionais (integra o Comité Económico e Social). Embora sem esconder divergências políticas com Monteiro, que o levaram, aliás, a pedir para transitar da Comissão Política para o Conselho Nacional no Congresso de Fevereiro. Apesar disso, a direcção dos populares não desiste e ainda ontem Monteiro tentou através do telefone convencer Cavaleiro Brandão a dizer sim.

Pacífica será a aprovação dos vice-presidentes Nuno Krus Abecasis e Galvão Lucas, como cabeças de lista em Setúbal e Viseu, e a de Helena Santo, da Comissão Directiva, como número um em Santarém. Tal como de Francisco Sampaio Soares, secretário-geral da Associação de Agricultores de Portalegre, à frente da lista por aquele distrito.

A incógnita de Aveiro

O cabeça de lista do Partido Popular pelo círculo de Aveiro não deverá ser hoje aprovado pelo Conselho Nacional dos populares que se reune na sede nacional em Lisboa. Em princípio o nome mistério será divulgado no almoço que levará Manuel Monteiro àquele distrito no próximo dia 4. Uma cerimónia que estava agendada à um mês e que veio cair como ouro sobre azul perante o problema com que a direcção dos populares de debate: arranjar um cabeça de lista para aquele distrito.

Este adiamento do anúncio do nome do número um por Aveiro prende-se, assim, com as dificuldades que a direcção do CDS-PP tem encontrado em arranjar uma figura de prestígio e com impacto local que herde a missão de Girão Pereira. Este actual eurodeputado não se tem poupado a esforços para conseguir um candidato.

Depois de insistir, sem êxito, com Pedro França, presidente da Associação de Armadores de Pesca Industrial (ADAPI), para que este se encarrega-se da tarefa, Girão Pereira viu Monteiro anunciar a sua candidatura pelo círculo de Braga, quando o presidente dos populares se havia comprometido a assegurar qualquer precalço em Aveiro.Um compromisso que não pode cumprir face a situação de falta de cabeça de lista em Braga, surgida com a recusa em recandidatar-se do candidato histórico daquele círculo, Nogueira de Brito e após ter sido levantada a hipótese de Maria José Nogueira Pinto concorrer por Braga, missão que esta independente rejeitou.

Na tentativa de resolver o problema Girão Pereira jantou no passado dia 19 em casa de Maria José Nogueira Pinto, com Monteiro, tentando convencê-la a avançar em Aveiro. A resposta foi negativa e Nogueira Pinto deu a entender aos seus convidados que só aceitava ser candidata em Lisboa, com o argumento de que esta é a sua cidade. Recorde-se que o nome de Maria José Nogueira Pinto chegou a ser dado como certo para a Câmara de Lisboa nas últimas autárquicas, tendo a antiga sub-secretária de Estado então recusado o convite. O CDS-PP tem agora oito dias para encontrar um cabeça de lista por Aveiro, distrito onde desde há vinte anos consegue eleger.

São José Almeida

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