Fundação afasta viúva do fundador

28-08-1999
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Teresa e Vasco Vill'Alva, no Convento da Cartuxa (Évora), em 1948. Fonte: «Vasco Vill'Alva, uma Presença no Alenetjo»)

Sabe-se no entanto que a condessa de Vill'Alva, Maria Teresa d'Almeida, foi sempre um elemento perturbador no seio da Fundação. Os seus conflitos com o prelado eborense D. Maurílio de Gouveia são por demais conhecidos na cidade. Só pelo facto de ser viúva do instituidor a condessa quis ter sempre a última palavra na orientação dos destinos da Fundação, cujos fins são os de beneficência e visam ainda a elevação do nível religioso, cultural e técnico da região de Évora.

Segundo fontes próximas da Fundação, todos os outros administradores há muito que manifestavam o desejo de afastar a viúva do benemérito, mas acabavam sempre por cooptá-la para um dos dois lugares em aberto. O que não aconteceu desta feita. Segundo o EXPRESSO apurou, o argumento para o afastamento de Maria Teresa d'Almeida é dado pelo próprio tempo: a condessa tem agora 78 anos e a duração dos mandatos do conselho de administração é de cinco anos.

Críticas ao arcebispo

Ao ter conhecimento da sua não recondução, a condessa encarregou José Krohn, presidente do Instituto de Cultura Vasco Vill'Alva, de contestar a atitude do conselho de administração. Para Krohn, «estamos em presença de um despudorado ultraje à memória do fundador. A arquidiocese só pensa em dominar totalmente a Fundação, não se preocupando em respeitar princípios pelos quais devia ser a primeira a zelar». Segundo Maria do Céu Ramos, o lugar de Teresa d'Almeida será ocupado pelo juiz-conselheiro José Sampaio da Silva, de 65 anos, jubilado do Supremo Tribunal de Justiça. O outro vogal continua a ser Henrique Granadeiro.

O EXPRESSO tentou contactar a condessa de Vill'Alva e a arquidiocese de Évora, mas não obteve qualquer comentário.

A Fundação Eugénio de Almeida é considerada a mais poderosa instituição do seu género (de base agrícola) no país. Entre os numerosos bens de que o conde a dotou contam-se oito herdades que se distribuem por mais de sete mil hectares. A sua actividade correu sobre rodas até à morte do conde, em 1975. Escassos dois meses depois, as terras da Fundação foram ocupadas por trabalhadores, no âmbito da Reforma Agrária. O processo encheu de revolta as gentes de Évora, sabedoras de que os trabalhadores sempre tinham recebido salários que triplicavam os normais e estavam abrangidos por um sistema de reforma próprio, criado pelo conde.

Sem meios para subsistir, a Fundação enfrentou o espectro da extinção. O arcebispo de então, D. David de Sousa, era de formação monástica e mais preocupado com as coisas do espírito que com os bens terrenos, não tendo esboçado qualquer reacção. Comprometido com as ocupações, o executivo saído das eleições autárquicas de 1976 e chefiado pelo comunista Abílio Fernandes - que se mantém na presidência da câmara - nunca quis ocupar o lugar a que tinha direito. O desinteresse pela sorte da Fundação era total.

Um novo fôlego

Este estado de coisas só sofreu alteração quando D. Maurílio de Gouveia entrou na diocese. O novo prelado, apoiado em homens da sua confiança, deu início ao processo de recuperação das terras e ao relançamento da actividade económica. E em 1982, por sua iniciativa, a Universidade de Évora substituiu a Câmara no conselho de administração. Recomposta e a dar lucros, a Fundação passou a ser palco de lutas intestinas com a condessa a desejar assumir o controlo, apoiando-se no então reitor da Universidade, Santos Júnior.

O arcebispo, porém, conseguiu sempre resistir a todos os ataques e em 1994 provocou nova mudança na administração, fazendo substituir o delegado da Companhia de Jesus, cujo Instituto de Estudos Superiores fora entretanto extinto, pelo representante do novel Instituto Superior de Teologia. Foi com base nestas alterações que Teresa d'Almeida apresentou queixa contra irregularidades cometidas na instituição ao Ministério da Solidariedade e Segurança Social.

O ministro Ferro Rodrigues ordenou uma auditoria à instituição que durou dois anos e meio. Aproveitando a circunstância, a Câmara de Évora contactou a tutela, e depois de considerar igualmente que «a vontade do fundador fora desvirtuada», mostrou-se disposta a ocupar o lugar a que ainda se julga com direito.

O resultado da inspecção, que terminou em Junho de 98, ficou-se pela recomendação de que o conselho de administração deveria abrir «um processo de reflexão sobre a composição deste órgão directivo». Segundo Céu Ramos, o relatório do processo de reflexão foi remetido à tutela alguns dias antes do final do prazo (30 de Abril) para sua entrega. Nele «é proposta a manutenção do actual figurino embora com o aperfeiçoamento de alguns aspectos técnico-jurídicos».

JOSÉ FROTA

Teresa e Vasco Vill'Alva, no Convento da Cartuxa (Évora), em 1948. Fonte: «Vasco Vill'Alva, uma Presença no Alenetjo»)

Sabe-se no entanto que a condessa de Vill'Alva, Maria Teresa d'Almeida, foi sempre um elemento perturbador no seio da Fundação. Os seus conflitos com o prelado eborense D. Maurílio de Gouveia são por demais conhecidos na cidade. Só pelo facto de ser viúva do instituidor a condessa quis ter sempre a última palavra na orientação dos destinos da Fundação, cujos fins são os de beneficência e visam ainda a elevação do nível religioso, cultural e técnico da região de Évora.

Segundo fontes próximas da Fundação, todos os outros administradores há muito que manifestavam o desejo de afastar a viúva do benemérito, mas acabavam sempre por cooptá-la para um dos dois lugares em aberto. O que não aconteceu desta feita. Segundo o EXPRESSO apurou, o argumento para o afastamento de Maria Teresa d'Almeida é dado pelo próprio tempo: a condessa tem agora 78 anos e a duração dos mandatos do conselho de administração é de cinco anos.

Críticas ao arcebispo

Ao ter conhecimento da sua não recondução, a condessa encarregou José Krohn, presidente do Instituto de Cultura Vasco Vill'Alva, de contestar a atitude do conselho de administração. Para Krohn, «estamos em presença de um despudorado ultraje à memória do fundador. A arquidiocese só pensa em dominar totalmente a Fundação, não se preocupando em respeitar princípios pelos quais devia ser a primeira a zelar». Segundo Maria do Céu Ramos, o lugar de Teresa d'Almeida será ocupado pelo juiz-conselheiro José Sampaio da Silva, de 65 anos, jubilado do Supremo Tribunal de Justiça. O outro vogal continua a ser Henrique Granadeiro.

O EXPRESSO tentou contactar a condessa de Vill'Alva e a arquidiocese de Évora, mas não obteve qualquer comentário.

A Fundação Eugénio de Almeida é considerada a mais poderosa instituição do seu género (de base agrícola) no país. Entre os numerosos bens de que o conde a dotou contam-se oito herdades que se distribuem por mais de sete mil hectares. A sua actividade correu sobre rodas até à morte do conde, em 1975. Escassos dois meses depois, as terras da Fundação foram ocupadas por trabalhadores, no âmbito da Reforma Agrária. O processo encheu de revolta as gentes de Évora, sabedoras de que os trabalhadores sempre tinham recebido salários que triplicavam os normais e estavam abrangidos por um sistema de reforma próprio, criado pelo conde.

Sem meios para subsistir, a Fundação enfrentou o espectro da extinção. O arcebispo de então, D. David de Sousa, era de formação monástica e mais preocupado com as coisas do espírito que com os bens terrenos, não tendo esboçado qualquer reacção. Comprometido com as ocupações, o executivo saído das eleições autárquicas de 1976 e chefiado pelo comunista Abílio Fernandes - que se mantém na presidência da câmara - nunca quis ocupar o lugar a que tinha direito. O desinteresse pela sorte da Fundação era total.

Um novo fôlego

Este estado de coisas só sofreu alteração quando D. Maurílio de Gouveia entrou na diocese. O novo prelado, apoiado em homens da sua confiança, deu início ao processo de recuperação das terras e ao relançamento da actividade económica. E em 1982, por sua iniciativa, a Universidade de Évora substituiu a Câmara no conselho de administração. Recomposta e a dar lucros, a Fundação passou a ser palco de lutas intestinas com a condessa a desejar assumir o controlo, apoiando-se no então reitor da Universidade, Santos Júnior.

O arcebispo, porém, conseguiu sempre resistir a todos os ataques e em 1994 provocou nova mudança na administração, fazendo substituir o delegado da Companhia de Jesus, cujo Instituto de Estudos Superiores fora entretanto extinto, pelo representante do novel Instituto Superior de Teologia. Foi com base nestas alterações que Teresa d'Almeida apresentou queixa contra irregularidades cometidas na instituição ao Ministério da Solidariedade e Segurança Social.

O ministro Ferro Rodrigues ordenou uma auditoria à instituição que durou dois anos e meio. Aproveitando a circunstância, a Câmara de Évora contactou a tutela, e depois de considerar igualmente que «a vontade do fundador fora desvirtuada», mostrou-se disposta a ocupar o lugar a que ainda se julga com direito.

O resultado da inspecção, que terminou em Junho de 98, ficou-se pela recomendação de que o conselho de administração deveria abrir «um processo de reflexão sobre a composição deste órgão directivo». Segundo Céu Ramos, o relatório do processo de reflexão foi remetido à tutela alguns dias antes do final do prazo (30 de Abril) para sua entrega. Nele «é proposta a manutenção do actual figurino embora com o aperfeiçoamento de alguns aspectos técnico-jurídicos».

JOSÉ FROTA

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