JORNAL PUBLICO: Guterres faz avisos à navegação

03-10-1999
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06/07/95

PS aprova em Setúbal critérios das listas de deputados

Guterres faz avisos à navegação

Jerónimo Pimentel

Correu tudo muito calmo mas, mesmo assim, Guterres fez uns avisos: lista que dê polémica pode não ser aceite e todas deverão ser organizadas na base do diálogo. Foi assim a reunião da Comissão Política que reuniu na terça-feira em Setúbal, onde as mulheres se bateram pelo direito a mais lugares. Não chegou a ser polémico, tão só encalorado.

Apesar da acalmia que tem reinado no PS durante o processo de escolha de candidatos a deputados, António Guterres não deixou de, na reunião da Comissão Política, colocar um aviso à navegação e também um apelo para que este ambiente seja garantido até ao fim. O líder socialista não deixou que os membros da comissão abandonassem a sala de um hotel de Setúbal, estrategicamente recatada da curiosidade dos órgãos da comunicação social, sem afirmar claramente que qualquer lista que venha a ser alvo de polémica pública poderá ter como resultado a sua não aceitação por parte do secretário-geral.

"Ninguém me obriga a pôr a assinatura numa lista que der confusão", afirmou o líder socialista, em jeito de aviso aos conflitos que tradicionalmente abalam o partido quando é de lugares nas listas de que trata a discussão. Por outras palavras, Guterres foi claro na ameaça de inviabilização de propostas cuja polémica salte para além dos muros do PS - uma cautela numa semana que poderá gerar fricções entre os socialistas das estruturas intermédias do PS e que apenas terminará quando, no próximo dia 14, a Comissão Política voltar a reunir, desta vez em Coimbra, para dar o seu aval aos nomes propostos.

Se aquele foi o aviso, o líder socialista lançou ainda um apelo para que a elaboração das listas a cargo das federações não marginalize as tendências distritais - alerta que tem particular razão de ser em Setúbal, onde a distrital quase funciona em regime de partilha de poder, mas para que também seja respeitado o diálogo como método para a escolha dos nomes.

Guterres pretende que este processo decorra com o mínimo de incidentes possíveis, mas, para quem já foi responsável pelo aparelho do PS, o mais natural será estar de sobreaviso para a eventualidade de alguns conflitos. Todavia, Guterres sabe que a expectativa quanto ao provável crescimento eleitoral do PS e também quanto à possibilidade de vir a formar governo deixam uma margem confortável para a inclusão de muitos nomes, que, por estas duas razões, poderão aceder ao lugar de deputados. É tudo isto que explica a calma reinante até agora.

A divulgação dos critérios pelo líder socialista surge após a esmagadora maioria dos cabeças-de-lista estar já escolhida, graças a um aturado trabalho de Jorge Coelho, que, nestas últimas semanas, pouco mais fez que reunir com os "homens fortes" e os líderes das federações socialistas. A estes critérios, que a Comissão Política acolheu, juntaram-se todos os outros, entre os quais o da necessidade de mais jovens bem como o de aumentar o número de mulheres candidatas.

Se o primeiro ponto foi pacífico, o segundo deu azo a algumas intervenções mais encaloradas da parte de Carolina Tito de Morais e de Maria do Carmo Romão. Ambas usaram de todos os argumentos em defesa da rápida aproximação da quota de 25 por cento de participações femininas, não só nas listas mas em todos os órgãos partidários - regra já adoptada pelo PS mas que nunca chegou a ser posta em prática. Não houve propriamente contestação aos argumentos aduzidos por aquelas duas militantes, à excepção de Sérgio Sousa Pinto, líder da JS, que discordou da existência de quotas femininas, defendendo antes critérios de qualidade. No final, ficou decidido que, em cada seis nomes, um será de uma mulher, mas que, tendencialmente, esta regra deverá apontar para em cada quatro nomes existir uma candidata feminina. Do mesmo modo, ficou também assente que, em princípio, os lugares ocupados nas listas de 1991 por mulheres deverão ser agora reservados para uma candidata.

A inclusão de independentes nas listas também não foi alvo de qualquer resistência, a não ser de Carlos Candal, que, sem se comprometer, fez votos para uma abertura das listas a personalidades exteriores ao partido mas alertou contra os entusiasmos: abertura sim, mas não uma devassa.

PS à frente em Lisboa

Hoje reúne-se a comissão política da FAUL e ali é divulgada uma sondagem do PS nos oito concelhos da área urbana de Lisboa. Os resultados apontam para uma preferência pelo PS de 36,8 por cento dos inquiridos, contra 25, 3 por cento a favor do PSD. A CDU regista 9,1 por cento e o CDS-PP apenas 4,7 por cento.

Segundo a sondagem - cujos trabalhos de campo decorreram entre os dias 26 de Maio e 23 de Junho abrangendo um universo de 1474 inquiridos -, para 62,9 das respostas o desemprego é a questão mais preocupante, a que se segue a droga, a saúde, a habitação e a educação. O rendimento mínimo, uma das medidas-chave do discurso de Guterres, é apoiado por 82,4 dos inquiridos e o aumento do orçamento para a educação é tido por 92,9 por cento como uma medida positiva. O mercado social de emprego regista 95 por cento de apoios. As polícias municipais registam ainda a adesão de 73,2 por cento das respostas e a regionalização é a proposta com que apenas 56,6 por cento afirma estar de acordo.

Guterres é considerado, na sondagem, o candidato mais competente para ocupar o cargo de primeiro-ministro - 26,7 por cento, contra 13,9 por cento registados por Fernando Nogueira. Na comparação de perfis entre Guterres e Nogueira, o líder socialista bate o seu rival nos itens relativos ao interesse pelos cidadãos, combate à corrupção, vontade de mudar e melhores soluções. O PS é considerado o partido capaz de criar mais emprego e de aumentar as pensões de reforma (50,4 por cento contra 16,5 por cento a favor do PSD) - um dado que foi particularmente bem acolhido na FAUL, por se tratar de uma faixa do eleitorado em que o PS reconhece ter grandes dificuldades em penetrar.

06/07/95

PS aprova em Setúbal critérios das listas de deputados

Guterres faz avisos à navegação

Jerónimo Pimentel

Correu tudo muito calmo mas, mesmo assim, Guterres fez uns avisos: lista que dê polémica pode não ser aceite e todas deverão ser organizadas na base do diálogo. Foi assim a reunião da Comissão Política que reuniu na terça-feira em Setúbal, onde as mulheres se bateram pelo direito a mais lugares. Não chegou a ser polémico, tão só encalorado.

Apesar da acalmia que tem reinado no PS durante o processo de escolha de candidatos a deputados, António Guterres não deixou de, na reunião da Comissão Política, colocar um aviso à navegação e também um apelo para que este ambiente seja garantido até ao fim. O líder socialista não deixou que os membros da comissão abandonassem a sala de um hotel de Setúbal, estrategicamente recatada da curiosidade dos órgãos da comunicação social, sem afirmar claramente que qualquer lista que venha a ser alvo de polémica pública poderá ter como resultado a sua não aceitação por parte do secretário-geral.

"Ninguém me obriga a pôr a assinatura numa lista que der confusão", afirmou o líder socialista, em jeito de aviso aos conflitos que tradicionalmente abalam o partido quando é de lugares nas listas de que trata a discussão. Por outras palavras, Guterres foi claro na ameaça de inviabilização de propostas cuja polémica salte para além dos muros do PS - uma cautela numa semana que poderá gerar fricções entre os socialistas das estruturas intermédias do PS e que apenas terminará quando, no próximo dia 14, a Comissão Política voltar a reunir, desta vez em Coimbra, para dar o seu aval aos nomes propostos.

Se aquele foi o aviso, o líder socialista lançou ainda um apelo para que a elaboração das listas a cargo das federações não marginalize as tendências distritais - alerta que tem particular razão de ser em Setúbal, onde a distrital quase funciona em regime de partilha de poder, mas para que também seja respeitado o diálogo como método para a escolha dos nomes.

Guterres pretende que este processo decorra com o mínimo de incidentes possíveis, mas, para quem já foi responsável pelo aparelho do PS, o mais natural será estar de sobreaviso para a eventualidade de alguns conflitos. Todavia, Guterres sabe que a expectativa quanto ao provável crescimento eleitoral do PS e também quanto à possibilidade de vir a formar governo deixam uma margem confortável para a inclusão de muitos nomes, que, por estas duas razões, poderão aceder ao lugar de deputados. É tudo isto que explica a calma reinante até agora.

A divulgação dos critérios pelo líder socialista surge após a esmagadora maioria dos cabeças-de-lista estar já escolhida, graças a um aturado trabalho de Jorge Coelho, que, nestas últimas semanas, pouco mais fez que reunir com os "homens fortes" e os líderes das federações socialistas. A estes critérios, que a Comissão Política acolheu, juntaram-se todos os outros, entre os quais o da necessidade de mais jovens bem como o de aumentar o número de mulheres candidatas.

Se o primeiro ponto foi pacífico, o segundo deu azo a algumas intervenções mais encaloradas da parte de Carolina Tito de Morais e de Maria do Carmo Romão. Ambas usaram de todos os argumentos em defesa da rápida aproximação da quota de 25 por cento de participações femininas, não só nas listas mas em todos os órgãos partidários - regra já adoptada pelo PS mas que nunca chegou a ser posta em prática. Não houve propriamente contestação aos argumentos aduzidos por aquelas duas militantes, à excepção de Sérgio Sousa Pinto, líder da JS, que discordou da existência de quotas femininas, defendendo antes critérios de qualidade. No final, ficou decidido que, em cada seis nomes, um será de uma mulher, mas que, tendencialmente, esta regra deverá apontar para em cada quatro nomes existir uma candidata feminina. Do mesmo modo, ficou também assente que, em princípio, os lugares ocupados nas listas de 1991 por mulheres deverão ser agora reservados para uma candidata.

A inclusão de independentes nas listas também não foi alvo de qualquer resistência, a não ser de Carlos Candal, que, sem se comprometer, fez votos para uma abertura das listas a personalidades exteriores ao partido mas alertou contra os entusiasmos: abertura sim, mas não uma devassa.

PS à frente em Lisboa

Hoje reúne-se a comissão política da FAUL e ali é divulgada uma sondagem do PS nos oito concelhos da área urbana de Lisboa. Os resultados apontam para uma preferência pelo PS de 36,8 por cento dos inquiridos, contra 25, 3 por cento a favor do PSD. A CDU regista 9,1 por cento e o CDS-PP apenas 4,7 por cento.

Segundo a sondagem - cujos trabalhos de campo decorreram entre os dias 26 de Maio e 23 de Junho abrangendo um universo de 1474 inquiridos -, para 62,9 das respostas o desemprego é a questão mais preocupante, a que se segue a droga, a saúde, a habitação e a educação. O rendimento mínimo, uma das medidas-chave do discurso de Guterres, é apoiado por 82,4 dos inquiridos e o aumento do orçamento para a educação é tido por 92,9 por cento como uma medida positiva. O mercado social de emprego regista 95 por cento de apoios. As polícias municipais registam ainda a adesão de 73,2 por cento das respostas e a regionalização é a proposta com que apenas 56,6 por cento afirma estar de acordo.

Guterres é considerado, na sondagem, o candidato mais competente para ocupar o cargo de primeiro-ministro - 26,7 por cento, contra 13,9 por cento registados por Fernando Nogueira. Na comparação de perfis entre Guterres e Nogueira, o líder socialista bate o seu rival nos itens relativos ao interesse pelos cidadãos, combate à corrupção, vontade de mudar e melhores soluções. O PS é considerado o partido capaz de criar mais emprego e de aumentar as pensões de reforma (50,4 por cento contra 16,5 por cento a favor do PSD) - um dado que foi particularmente bem acolhido na FAUL, por se tratar de uma faixa do eleitorado em que o PS reconhece ter grandes dificuldades em penetrar.

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