JORNAL PUBLICO: Chegar ao Governo já é objectivo claro

09-09-1999
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22/09/95

Noite de festa em Évora para Carvalhas

Chegar ao Governo já é objectivo claro

ÉVORA proporcionou à CDU a sua grande noite. Havia unanimidade, mesmo nos desafectos à coligação que esta conseguiu levar mais gente à Praça do Giraldo. O cabeça de lista, Lino de Carvalho, no final da festa dizia que Nogueira "não conseguiu metade". E Guterres, "no Templo de Diana" também não. E foi nessa noite de festa alentejana, na quarta-feira, que se ouviu, pela primeira vez, de forma clara, Carvalhas dizer que a CDU ambiciona participar no Governo com o PS.

O tom do discurso de Carvalhas foi muito apontado para as camadas mais jovens, desta vez largamente representadas. Quando o líder comunista afirmava que Nogueira e o PSD "chegam ao Alentejo para fazer promessas eleitorais" que depois não cumprem, o coro de animação da JPC cantava "é mentiroso, é mentiroso". Carvalhas fez uma pausa e preferiu: "Vamos antes chamar-lhe Pinóquio, é mais engraçado". Mas logo a seguir, a pauta de Carvalhas dirigiu-se para António Guterres, por causa de Alqueva. Falava-se da alegada ambiguidade de Guterres, primeiro quando afirmou que estava disposto a "fazer novos estudos" sobre o projecto. E também a sua posição e do PS é equívoca relativamente às propinas. Ouviu-se de imediato o coro: "Ele é Pinóquio, ele é Pinóquio".

E, para "encurtar os narizes aos dois Pinóquios", Carvalhas propunha como única maneira a votação na CDU. É quando diz que a CDU está preparada para participar num Governo de esquerda. Um objectivo que parece agora mais evidente na linha discursiva dos principais dirigentes comunistas.

"É preciso dizer não aos que vierem aqui fazer promessas que não estão dispostos a cumprir". E a claque juvenil agitou-se empolgada quando Carvalhas fez a solene promessa de se bater "contra as propinas" e a favor da "opção institucional do ensino público", comprometendo-se igualmente a combater os entraves no acesso ao ensino superior, propondo-se anular o conceito de "numerus clausus".

Lino de Carvalho foi igualmente generoso no tempo que dedicou às questões da educação. A linha de combate foi dirigida contra Fernando Nogueira e Manuela Ferreira Leite. "Estiveram aqui sem gente, sem força e sem esperança. Só mostraram a derrota anunciada. Hoje, com a CDU, temos a praça cheia, como sinal da vitória anunciada". Tinha chegado a altura do ataque a Manuela Ferreira Leite, a candidata número um do PSD por Évora. "Não trouxe aqui uma única ideia", gritava Lino de Carvalho. Relatou a insatisfação de alunos e professores, lembrando, como exemplo, que Manuela Ferreira Leite afirmou recentemente que os professores devem ser recompensados em função da qualificação e do mérito. "Se esta orientação for cumprida Manuela Ferreira Leite corre ela própria o risco de ficar sem salário, dado que não é possível reconhecer-lhe qualquer mérito".

Alqueva, sempre

O desanimador panorama da agricultura alentejana voltou a estar em destaque. Alqueva serve de pedra de toque. Até porque "em vésperas de eleições todos falam de Alqueva", como repetem insistentemente os candidatos da CDU. Em Évora o tema não podia ficar esquecido, tal como não ficou em Beja, ontem de manhã, no decorrer de uma reunião com o Núcleo Empresarial de Beja, que integra as associações Comercial, da Indústria e dos Agricultores e Criadores de Gado.

No entender de Carvalhas, a única força política que "se tem batido seriamente pela concretização do projecto Alqueva tem sido o PCP e a CDU".

Pergunta o que fizeram até agora o PSD. "Nogueira declara que com ele em primeiro-ministro o projecto vai para a frente. Com que garantias?", interrogava Carvalhas. Usou até algum do humor negro que por vezes passa pela gente local ao dizer: "Em calhando, quando houver água no Alqueva já não há cá alentejanos".

A par deste desabafo estão as afirmações da representante do partido "Os Verdes", que acusa o Governo de fraqueza e de negligência nas negociações com a Espanha, em matéria de recursos hidricos. E quando se fala em falta de água e na desgraça que isso representa para as poucas culturas que ainda sobrevivem nesta região, não há alentejano que não aplauda as palavras de esperança e a promessa de soluções a curto prazo. Mas a CDU adverte que "uma coisa são as promessas e outra, bem diferente, os factos". É que, na constante leitura feita pela CDU "o Governo está longe de ter vontade política que se afirme no desenvolvimento integrado do Alentejo".

Desenvolvimento integrado era, de resto, o tema forma na reunião de ontem de manhã com os empresários da região. Um deles, Manuel Figueira, presidente da Associação Comercial, fez um rápido quadro, negro, por sinal, da actual situação da actividade comercial no distrito de Beja. Citou como exemplo de agravamento dessa situação, que já era péssima, a opção pela implantação de grandes superfícies. "Já há uma em Beja, vai ser instalada outra em Castro Verde e a Câmara de Serpa já alienou terreno para ter também a sua".

Para Manuel Figueira é uma má decisão. "Aos mais pequenos só lhes restará fechar as portas, gradualmente". Depois diz a Carvalhas que em 20 anos, estes últimos quatro saldam-se como os piores. Diz mais, se essas "grandes superfícies continuam a proliferar vai tornar-se inútil ter um Ministério do Comércio. O ministro pode mudar de vida ou ir para casa porque quem passa a ditar as leis serão esses donos das grandes superfícies".

César Camacho

22/09/95

Noite de festa em Évora para Carvalhas

Chegar ao Governo já é objectivo claro

ÉVORA proporcionou à CDU a sua grande noite. Havia unanimidade, mesmo nos desafectos à coligação que esta conseguiu levar mais gente à Praça do Giraldo. O cabeça de lista, Lino de Carvalho, no final da festa dizia que Nogueira "não conseguiu metade". E Guterres, "no Templo de Diana" também não. E foi nessa noite de festa alentejana, na quarta-feira, que se ouviu, pela primeira vez, de forma clara, Carvalhas dizer que a CDU ambiciona participar no Governo com o PS.

O tom do discurso de Carvalhas foi muito apontado para as camadas mais jovens, desta vez largamente representadas. Quando o líder comunista afirmava que Nogueira e o PSD "chegam ao Alentejo para fazer promessas eleitorais" que depois não cumprem, o coro de animação da JPC cantava "é mentiroso, é mentiroso". Carvalhas fez uma pausa e preferiu: "Vamos antes chamar-lhe Pinóquio, é mais engraçado". Mas logo a seguir, a pauta de Carvalhas dirigiu-se para António Guterres, por causa de Alqueva. Falava-se da alegada ambiguidade de Guterres, primeiro quando afirmou que estava disposto a "fazer novos estudos" sobre o projecto. E também a sua posição e do PS é equívoca relativamente às propinas. Ouviu-se de imediato o coro: "Ele é Pinóquio, ele é Pinóquio".

E, para "encurtar os narizes aos dois Pinóquios", Carvalhas propunha como única maneira a votação na CDU. É quando diz que a CDU está preparada para participar num Governo de esquerda. Um objectivo que parece agora mais evidente na linha discursiva dos principais dirigentes comunistas.

"É preciso dizer não aos que vierem aqui fazer promessas que não estão dispostos a cumprir". E a claque juvenil agitou-se empolgada quando Carvalhas fez a solene promessa de se bater "contra as propinas" e a favor da "opção institucional do ensino público", comprometendo-se igualmente a combater os entraves no acesso ao ensino superior, propondo-se anular o conceito de "numerus clausus".

Lino de Carvalho foi igualmente generoso no tempo que dedicou às questões da educação. A linha de combate foi dirigida contra Fernando Nogueira e Manuela Ferreira Leite. "Estiveram aqui sem gente, sem força e sem esperança. Só mostraram a derrota anunciada. Hoje, com a CDU, temos a praça cheia, como sinal da vitória anunciada". Tinha chegado a altura do ataque a Manuela Ferreira Leite, a candidata número um do PSD por Évora. "Não trouxe aqui uma única ideia", gritava Lino de Carvalho. Relatou a insatisfação de alunos e professores, lembrando, como exemplo, que Manuela Ferreira Leite afirmou recentemente que os professores devem ser recompensados em função da qualificação e do mérito. "Se esta orientação for cumprida Manuela Ferreira Leite corre ela própria o risco de ficar sem salário, dado que não é possível reconhecer-lhe qualquer mérito".

Alqueva, sempre

O desanimador panorama da agricultura alentejana voltou a estar em destaque. Alqueva serve de pedra de toque. Até porque "em vésperas de eleições todos falam de Alqueva", como repetem insistentemente os candidatos da CDU. Em Évora o tema não podia ficar esquecido, tal como não ficou em Beja, ontem de manhã, no decorrer de uma reunião com o Núcleo Empresarial de Beja, que integra as associações Comercial, da Indústria e dos Agricultores e Criadores de Gado.

No entender de Carvalhas, a única força política que "se tem batido seriamente pela concretização do projecto Alqueva tem sido o PCP e a CDU".

Pergunta o que fizeram até agora o PSD. "Nogueira declara que com ele em primeiro-ministro o projecto vai para a frente. Com que garantias?", interrogava Carvalhas. Usou até algum do humor negro que por vezes passa pela gente local ao dizer: "Em calhando, quando houver água no Alqueva já não há cá alentejanos".

A par deste desabafo estão as afirmações da representante do partido "Os Verdes", que acusa o Governo de fraqueza e de negligência nas negociações com a Espanha, em matéria de recursos hidricos. E quando se fala em falta de água e na desgraça que isso representa para as poucas culturas que ainda sobrevivem nesta região, não há alentejano que não aplauda as palavras de esperança e a promessa de soluções a curto prazo. Mas a CDU adverte que "uma coisa são as promessas e outra, bem diferente, os factos". É que, na constante leitura feita pela CDU "o Governo está longe de ter vontade política que se afirme no desenvolvimento integrado do Alentejo".

Desenvolvimento integrado era, de resto, o tema forma na reunião de ontem de manhã com os empresários da região. Um deles, Manuel Figueira, presidente da Associação Comercial, fez um rápido quadro, negro, por sinal, da actual situação da actividade comercial no distrito de Beja. Citou como exemplo de agravamento dessa situação, que já era péssima, a opção pela implantação de grandes superfícies. "Já há uma em Beja, vai ser instalada outra em Castro Verde e a Câmara de Serpa já alienou terreno para ter também a sua".

Para Manuel Figueira é uma má decisão. "Aos mais pequenos só lhes restará fechar as portas, gradualmente". Depois diz a Carvalhas que em 20 anos, estes últimos quatro saldam-se como os piores. Diz mais, se essas "grandes superfícies continuam a proliferar vai tornar-se inútil ter um Ministério do Comércio. O ministro pode mudar de vida ou ir para casa porque quem passa a ditar as leis serão esses donos das grandes superfícies".

César Camacho

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