JORNAL PUBLICO: Partido da Gente à conquista da AR

11-10-1999
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10/08/95

Com candidatos que já assumiram ligação à IURD

Partido da Gente à conquista da AR

São José Almeida

O Partido da Gente tem apenas cinco meses mas vai concorrer às legislativas em oito círculos, entre estes os que elegem mais deputados. Rejeitaram, ao apresentarem-se em Março, qualquer ligação orgânica com a IURD, mas nas listas aparecem frequentadores dos seus templos, como a primeira candidata no Porto e o terceiro em Lisboa, onde o presidente Luís Farinha, redactor da "Tribuna de Deus", é cabeça de lista.

O ex-director e actual redactor da "Tribuna Universal", órgão oficial da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é o cabeça de lista às legislativas pelo círculo de Lisboa do Partido da Gente (PG), a que preside. Luís Farinha, antigo proprietário da Rádio Miramar (actualmente na posse da Universal), assumiu a 16 de Março passado, em Lisboa, ser frequentador dos templos da IURD, apesar de ter negado qualquer ligação orgânica entre o PG e esta Igreja (ver PÚBLICO 17/3/95).

A lista em Lisboa apresenta como terceiro candidato o secretário-geral, José Rodrigues Branco, empregado de escritório com 29 anos, que admitiu igualmente ser frequentador da IURD, quando o partido foi apresentado em conferência de imprensa de 16 de Março - momento em que expressaram a intenção de se sentar em São Bento e "levar ao centro do poder a mensagem de Cristo". Como segundo surge o presidente da comissão política, o engenheiro mecânico Manuel Cortez Lobão, o único membro da direcção do PG que na apresentação pública não afirmou frequentar a IURD, mas se classificou como "cristão" e seguidor do "evangelho".

Pelo círculo do Porto, em cuja capital de distrito a eventual compra do Coliseu pela IURD tem provocado a indignação dos portuenses, o nome que encabeça a lista é o da vogal da comissão política do PG, a professora Dália Costa, de 31 anos, que também reconheceu a 16 de Março ser frequentadora dos templos da IURD. Seguem-se-lhe Hilário Ramos Costa, professor de 32 anos, e Fernando Duarte, electricista de 47 anos.

O PG concorre ainda pelos círculos eleitorais de Aveiro, Braga, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu. Em Aveiro a lista é encabeçada por um vendedor de 47 anos, Manuel Oliveira e Silva, a que se segue o industrial José Oliveira Ferreira (mandatário distrital) e a costureira Conceição Brandão. Em Braga a número um é a recepcionista Maria Manuela Rodrigues Tavares, o número dois o reformado Joaquim Seborro (mandatário distrital), e o terceiro o motorista de 31 anos, Manuel Barroso Fernandes.

No círculo de Setúbal o PG apresenta à cabeça o portuário Manuel Dias Martins (mandatário nacional), seguido pelo técnico de contas Guilherme Domingas Vaz e pela empregada de escritório Maria da Luz dos Santos. Em Viana do Castelo como primeiro candidato mais um motorista, Artur Paiva Dias; depois aparecem Maria da Glória Ferreira Pacheco, encarregada geral (mandatária distrital), e Maria do Céu do Vale Dias, comerciante.

Por Vila Real o primeiro nome é o do empresário Adriano Esteves, o segundo o da doméstica Albertina dos Santos Matos (mandatária nacional); segue-se a estudante Natalina Matos e Esteves. Por fim, em Viseu a lista do PG é encabeçada pelo empresário Alair da Fonseca Lopes, seguido da empresária Ana Soares Lopes (mandatária distrital) e de Carla Oliveira Silva, que como profissão refere cartonagem.

Do peixe à vassoura

O PG concorre assim a oito círculos eleitorais, o que lhe dá direito a ter tempos de antena televisivos e radiofónicos, após o Tribunal Constitucional ter emitido o acórdão 118/95 em que aceitou a legalização deste partido a 8 de Março passado (ver PÚBLICO de 9/3/95). Um sim que pôs termo a uma complicada novela de legalização de um partido político, desde o início conotado com a IURD, que começou legalmente a 14 de Fevereiro, com a entrada no Tribunal Constitucional (TC) do primeiro pedido de registo.

Uma história que, de acordo com informações divulgadas por diversos órgãos de comunicação social, teve uma primeira fase com a tentativa de eleger deputados através das listas do PSN. Tese sempre negada pelos responsáveis do actual PG e da IURD.

O que é facto é que em Janeiro passado, na revista "Visão", o padre católico Humberto Gama, à época dirigente do PSN, afirmava ter sido convidado pelo padre Silvério, adjunto de João Luís Urbaneja, responsável máximo pela IURD em Portugal, para redigir os estatutos de um novo partido político - o que foi veementemente negado pelos promotores do partido.

Os estatutos do, então, Partido Social Cristão entram no TC a 14 de Fevereiro deste ano. À frente de uma lista de quase seis mil promotores, José Rodrigues Branco (agora secretário-geral do PG e terceiro candidato por Lisboa) pedia a inscrição do novo partido, com sede na Rua da Andrada, 40, 2º esq, e em anexo ao texto estatutário apresentava o símbolo: sobre fundo azul surgia a branco um peixe em tudo idêntico ao utilizado pelos primitivos cristãos como código de identificação sob o Império Romano. Ao peixe das catacumbas, onde os primeiros cristãos se esconderam da espada de Roma, era apenas acrescentado, também em branco, um olho e dois riscos ondulados, um no canto superior direito e outro no canto inferior esquerdo. Por baixo o nome Partido Social Cristão.

A 23 de Fevereiro o plenário do TC rejeita a inscrição através do acórdão 107/95. Argumentos: a documentação não estava conforme as exigências do ponto 3 do artigo 51 da Constituição da República. "Os partidos políticos não podem, sem prejuízo da filosofia ou ideologia inspiradora do seu programa, usar denominação que contenha expressões directamente relacionadas com quaisquer religiões ou igrejas, bem como emblemas confundíveis com símbolos nacionais ou religiosos."

Programa secreto

Face ao chumbo, os proponentes do novo partido tinham 48 horas para alterar o símbolo e o nome. Fizeram mais. Avisado a 27 de Fevereiro da decisão do TC, José Rodrigues Branco entrega a 1 de Março, além de outro nome e outro símbolo, uma nova proposta de estatutos do agora denominado Partido da Gente.

Além das alterações óbvias - mudança de nome, sigla e símbolo (pontos 1 a 3 do artigo 1º e artigo 4º) -, do novo texto é retirada qualquer hipótese de conotação religiosa: no ponto 2 do artigo 5º os candidatos a militantes continuam a ter de ser propostos por cinco "membros efectivos", mas deixam de ter de "manifestar, no momento da adesão, a sua identificação com os princípios da doutrina cristã". Como símbolo recorrem a um G a branco atravessado por uma vassoura vermelha, sobre fundo azul. A vassoura foi a imagem utilizada por Jânio Quadros quando se candidatou a Presidente do Brasil, em 1960.

Pelo caminho fizeram um congresso fundador "fechado" e não anunciado à comunicação social, a 11, 12 e 18 de Fevereiro, com cerca de 200 delegados, representando os 5900 promotores. Aí dizem ter aprovado uma moção de estratégia (que divulgaram na conferência de imprensa de 16 de Março) e o programa partidário (documento que nunca foi apresentado à opinião pública) e elegeram uma direcção, que na sua maioria continua a ser desconhecida.

10/08/95

Com candidatos que já assumiram ligação à IURD

Partido da Gente à conquista da AR

São José Almeida

O Partido da Gente tem apenas cinco meses mas vai concorrer às legislativas em oito círculos, entre estes os que elegem mais deputados. Rejeitaram, ao apresentarem-se em Março, qualquer ligação orgânica com a IURD, mas nas listas aparecem frequentadores dos seus templos, como a primeira candidata no Porto e o terceiro em Lisboa, onde o presidente Luís Farinha, redactor da "Tribuna de Deus", é cabeça de lista.

O ex-director e actual redactor da "Tribuna Universal", órgão oficial da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é o cabeça de lista às legislativas pelo círculo de Lisboa do Partido da Gente (PG), a que preside. Luís Farinha, antigo proprietário da Rádio Miramar (actualmente na posse da Universal), assumiu a 16 de Março passado, em Lisboa, ser frequentador dos templos da IURD, apesar de ter negado qualquer ligação orgânica entre o PG e esta Igreja (ver PÚBLICO 17/3/95).

A lista em Lisboa apresenta como terceiro candidato o secretário-geral, José Rodrigues Branco, empregado de escritório com 29 anos, que admitiu igualmente ser frequentador da IURD, quando o partido foi apresentado em conferência de imprensa de 16 de Março - momento em que expressaram a intenção de se sentar em São Bento e "levar ao centro do poder a mensagem de Cristo". Como segundo surge o presidente da comissão política, o engenheiro mecânico Manuel Cortez Lobão, o único membro da direcção do PG que na apresentação pública não afirmou frequentar a IURD, mas se classificou como "cristão" e seguidor do "evangelho".

Pelo círculo do Porto, em cuja capital de distrito a eventual compra do Coliseu pela IURD tem provocado a indignação dos portuenses, o nome que encabeça a lista é o da vogal da comissão política do PG, a professora Dália Costa, de 31 anos, que também reconheceu a 16 de Março ser frequentadora dos templos da IURD. Seguem-se-lhe Hilário Ramos Costa, professor de 32 anos, e Fernando Duarte, electricista de 47 anos.

O PG concorre ainda pelos círculos eleitorais de Aveiro, Braga, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu. Em Aveiro a lista é encabeçada por um vendedor de 47 anos, Manuel Oliveira e Silva, a que se segue o industrial José Oliveira Ferreira (mandatário distrital) e a costureira Conceição Brandão. Em Braga a número um é a recepcionista Maria Manuela Rodrigues Tavares, o número dois o reformado Joaquim Seborro (mandatário distrital), e o terceiro o motorista de 31 anos, Manuel Barroso Fernandes.

No círculo de Setúbal o PG apresenta à cabeça o portuário Manuel Dias Martins (mandatário nacional), seguido pelo técnico de contas Guilherme Domingas Vaz e pela empregada de escritório Maria da Luz dos Santos. Em Viana do Castelo como primeiro candidato mais um motorista, Artur Paiva Dias; depois aparecem Maria da Glória Ferreira Pacheco, encarregada geral (mandatária distrital), e Maria do Céu do Vale Dias, comerciante.

Por Vila Real o primeiro nome é o do empresário Adriano Esteves, o segundo o da doméstica Albertina dos Santos Matos (mandatária nacional); segue-se a estudante Natalina Matos e Esteves. Por fim, em Viseu a lista do PG é encabeçada pelo empresário Alair da Fonseca Lopes, seguido da empresária Ana Soares Lopes (mandatária distrital) e de Carla Oliveira Silva, que como profissão refere cartonagem.

Do peixe à vassoura

O PG concorre assim a oito círculos eleitorais, o que lhe dá direito a ter tempos de antena televisivos e radiofónicos, após o Tribunal Constitucional ter emitido o acórdão 118/95 em que aceitou a legalização deste partido a 8 de Março passado (ver PÚBLICO de 9/3/95). Um sim que pôs termo a uma complicada novela de legalização de um partido político, desde o início conotado com a IURD, que começou legalmente a 14 de Fevereiro, com a entrada no Tribunal Constitucional (TC) do primeiro pedido de registo.

Uma história que, de acordo com informações divulgadas por diversos órgãos de comunicação social, teve uma primeira fase com a tentativa de eleger deputados através das listas do PSN. Tese sempre negada pelos responsáveis do actual PG e da IURD.

O que é facto é que em Janeiro passado, na revista "Visão", o padre católico Humberto Gama, à época dirigente do PSN, afirmava ter sido convidado pelo padre Silvério, adjunto de João Luís Urbaneja, responsável máximo pela IURD em Portugal, para redigir os estatutos de um novo partido político - o que foi veementemente negado pelos promotores do partido.

Os estatutos do, então, Partido Social Cristão entram no TC a 14 de Fevereiro deste ano. À frente de uma lista de quase seis mil promotores, José Rodrigues Branco (agora secretário-geral do PG e terceiro candidato por Lisboa) pedia a inscrição do novo partido, com sede na Rua da Andrada, 40, 2º esq, e em anexo ao texto estatutário apresentava o símbolo: sobre fundo azul surgia a branco um peixe em tudo idêntico ao utilizado pelos primitivos cristãos como código de identificação sob o Império Romano. Ao peixe das catacumbas, onde os primeiros cristãos se esconderam da espada de Roma, era apenas acrescentado, também em branco, um olho e dois riscos ondulados, um no canto superior direito e outro no canto inferior esquerdo. Por baixo o nome Partido Social Cristão.

A 23 de Fevereiro o plenário do TC rejeita a inscrição através do acórdão 107/95. Argumentos: a documentação não estava conforme as exigências do ponto 3 do artigo 51 da Constituição da República. "Os partidos políticos não podem, sem prejuízo da filosofia ou ideologia inspiradora do seu programa, usar denominação que contenha expressões directamente relacionadas com quaisquer religiões ou igrejas, bem como emblemas confundíveis com símbolos nacionais ou religiosos."

Programa secreto

Face ao chumbo, os proponentes do novo partido tinham 48 horas para alterar o símbolo e o nome. Fizeram mais. Avisado a 27 de Fevereiro da decisão do TC, José Rodrigues Branco entrega a 1 de Março, além de outro nome e outro símbolo, uma nova proposta de estatutos do agora denominado Partido da Gente.

Além das alterações óbvias - mudança de nome, sigla e símbolo (pontos 1 a 3 do artigo 1º e artigo 4º) -, do novo texto é retirada qualquer hipótese de conotação religiosa: no ponto 2 do artigo 5º os candidatos a militantes continuam a ter de ser propostos por cinco "membros efectivos", mas deixam de ter de "manifestar, no momento da adesão, a sua identificação com os princípios da doutrina cristã". Como símbolo recorrem a um G a branco atravessado por uma vassoura vermelha, sobre fundo azul. A vassoura foi a imagem utilizada por Jânio Quadros quando se candidatou a Presidente do Brasil, em 1960.

Pelo caminho fizeram um congresso fundador "fechado" e não anunciado à comunicação social, a 11, 12 e 18 de Fevereiro, com cerca de 200 delegados, representando os 5900 promotores. Aí dizem ter aprovado uma moção de estratégia (que divulgaram na conferência de imprensa de 16 de Março) e o programa partidário (documento que nunca foi apresentado à opinião pública) e elegeram uma direcção, que na sua maioria continua a ser desconhecida.

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