Redescobrir o barroco

02-09-1999
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IRENE LIMA, MANUEL PÓVOA, ANA MAFALDA CASTRO Vivaldi, Bréval e Boccherini Numérica

Irene Lima, Manuel Póvoa e Ana Mafalda Castro

Acerca desta transformação, a própria violoncelista comenta que «andava há imenso tempo com vontade de abordar repertório barroco. Mas tinha um certo receio, porque estava habituada a fazer outro tipo de coisas, e de há uns anos a esta parte, com o advento dos músicos barrocos e da utilização de instrumentos da época, eu considerava quase uma ousadia pegar nestas mesmas obras que ultimamente só são tocadas por músicos especialistas. Mas depois cheguei à conclusão de que estava a fazer o contrário daquilo que a própria música é. A música, quando é boa, não é de uma época mas de todas. E cada músico no seu tempo tem que fazer a sua leitura».

A configuração do repertório deste disco nasceu de um recital ao vivo: «Este projecto surgiu a partir de um recital que fizemos no Palácio de Queluz, uma homenagem à marquesa do Cadaval, pouco tempo antes da sua morte. No final, muito simpaticamente dirigiu-se a nós e perguntou-nos: ?Vocês estariam interessados em gravar isto?? Ficámos a olhar uns para os outros e antes de podermos dizer qualquer coisa já ela estava a falar com o dr. Manuel Frexes, então secretário de Estado da Cultura.»

O disco começa pela Sonata em Lá Menor de Vivaldi, uma obra em que quase todo o trabalho emotivo é deixado praticamente nas mãos dos músicos, em especial do violoncelo, transmitindo uma condensação de imagens construídas com base numa desconcertante simplicidade.

Na Sonata Op. 40 em Dó Maior de Jean Baptiste Bréval, o violoncelo apresenta uma sonoridade mais áspera, os ataques tornam-se mais bruscos; o carácter extrovertido, a energia e o dinamismo que percorrem toda a obra contrastam com alguns momentos introspectivos - são os «silêncios» do barroco, isolados, efémeros, mas extremamente expressivos.

Por fim temos Boccherini, com duas sonatas - em Sol Maior e em Lá Maior -, em que o violoncelo assume o papel principal, tendo de enfrentar momentos de grande dificuldade técnica e «uma escrita difícil que revela um conhecimento muito profundo do instrumento» - ou não fosse Boccherini também um violoncelista!

Irene Lima tira partido de cada nota e constrói uma interpretação sólida, enérgica e emotiva, enquanto o cravo e o contrabaixo tecem um acompanhamento seguro e flexível, dando ao instrumento solista liberdade de acção.

L.L.

IRENE LIMA, MANUEL PÓVOA, ANA MAFALDA CASTRO Vivaldi, Bréval e Boccherini Numérica

Irene Lima, Manuel Póvoa e Ana Mafalda Castro

Acerca desta transformação, a própria violoncelista comenta que «andava há imenso tempo com vontade de abordar repertório barroco. Mas tinha um certo receio, porque estava habituada a fazer outro tipo de coisas, e de há uns anos a esta parte, com o advento dos músicos barrocos e da utilização de instrumentos da época, eu considerava quase uma ousadia pegar nestas mesmas obras que ultimamente só são tocadas por músicos especialistas. Mas depois cheguei à conclusão de que estava a fazer o contrário daquilo que a própria música é. A música, quando é boa, não é de uma época mas de todas. E cada músico no seu tempo tem que fazer a sua leitura».

A configuração do repertório deste disco nasceu de um recital ao vivo: «Este projecto surgiu a partir de um recital que fizemos no Palácio de Queluz, uma homenagem à marquesa do Cadaval, pouco tempo antes da sua morte. No final, muito simpaticamente dirigiu-se a nós e perguntou-nos: ?Vocês estariam interessados em gravar isto?? Ficámos a olhar uns para os outros e antes de podermos dizer qualquer coisa já ela estava a falar com o dr. Manuel Frexes, então secretário de Estado da Cultura.»

O disco começa pela Sonata em Lá Menor de Vivaldi, uma obra em que quase todo o trabalho emotivo é deixado praticamente nas mãos dos músicos, em especial do violoncelo, transmitindo uma condensação de imagens construídas com base numa desconcertante simplicidade.

Na Sonata Op. 40 em Dó Maior de Jean Baptiste Bréval, o violoncelo apresenta uma sonoridade mais áspera, os ataques tornam-se mais bruscos; o carácter extrovertido, a energia e o dinamismo que percorrem toda a obra contrastam com alguns momentos introspectivos - são os «silêncios» do barroco, isolados, efémeros, mas extremamente expressivos.

Por fim temos Boccherini, com duas sonatas - em Sol Maior e em Lá Maior -, em que o violoncelo assume o papel principal, tendo de enfrentar momentos de grande dificuldade técnica e «uma escrita difícil que revela um conhecimento muito profundo do instrumento» - ou não fosse Boccherini também um violoncelista!

Irene Lima tira partido de cada nota e constrói uma interpretação sólida, enérgica e emotiva, enquanto o cravo e o contrabaixo tecem um acompanhamento seguro e flexível, dando ao instrumento solista liberdade de acção.

L.L.

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