DN

24-06-1998
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"Não estou disposto a que os meus impostos, da minha mulher e das minhas filhas sirvam para financiar o aborto livre nos hospitais", disse, levantando a questão da possibilidade de essa despesa ser dedutível no IRS, quando o aborto for realizado numa clínica privada.

Depois da reflexão de alguns membros da Solidariedade e Vida, a decisão está tomada e o desafio lançado. Se o "sim" ganhar no domingo, Bagão Felix e outros partidários do "não" vão continuar em campanha. Mas nessa altura pela objecção do contribuinte. Ou, por outras palavras, pela recusa de pagamento de impostos para um fim com o qual não estão de acordo.

Ladeado por Leonor Beleza, Luís Nobre Guedes e Gonçalo Ribeiro Teles, o dirigente popular deu a entender que os partidários do "não" vão agora concentrar os seus esforços nos indecisos para contrariar a direcção das sondagens, que, para já, apontam para uma vitória folgada do "sim" à despenalização do aborto nas primeiras dez semanas. "Numa situação de dúvida, as pessoas devem votar não, devem optar pela vida", disse ontem Bagão Félix numa conferência de imprensa de balanço da campanha para o referendo de domingo.

A pergunta do referendo continua a ser o alvo das principais críticas dos partidários do "não". Bagão Félix diz mesmo que a questão tem "alçapões técnicos" que induzem as pessoas a votar "sim". E citou a resposta de uma leitora do DN ao inquérito "como vai votar no referendo". A leitora dizia que vai votar favoravelmente mas que discorda com a possibilidade de "abortar por abortar". Para Félix, esta inquirida do DN responderia "não" se a pergunta estivesse elaborada de outra forma e se houvesse consciência de que já existe uma lei que despenaliza o aborto. Sem querer avançar com uma formulação ideal, este dirigente do CDS/PP disse apenas que se se perguntasse aos eleitores se "concordam com a supressão de uma vida humana por opção da mulher até às dez semanas", a resposta seria outra. De qualquer forma, acrescentou, e apesar do "excesso de tácticas", este debate já teve "o indiscutível mérito de aumentar a consciencialização" e de contribuir para "clarificar" a pergunta. "Debaixo do nevoeiro, as questões fundamentais começam a vir ao de cima." As pessoas perceberam "que se trata de legalizar o aborto sem qualquer razão até às dez semanas. O que está em causa não é uma questão de direito penal, mas uma hierarquia de valores".

O arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles saiu também em defesa do "não" ao aborto, confessando-se "surpreso" com o rumo da campanha. "Nunca ouvi nada com uma baralhação tão grande", disse. "Até já ouvi dizer coisas como "vamos votar sim pelo amor que temos aos nossos filhos"... Deu-me vontade de rir." E Ribeiro Teles lançou uma dúvida: "Que esquerda é esta que defende estes valores [o individualismo, o egoísmo, a falta de solidariedade]? Onde está a esquerda?"

A ex-ministra da Saúde do PSD, Leonor Beleza, defendeu que esta nova lei não resolve o problema do aborto clandestino e que, se a lei de 1984 não é aplicada, o que é preciso é "fazê-la aplicar". A aposta de Beleza é "na informação e no esclarecimento". Até porque, acrescentou a antiga ministra, "a nova lei será muito mais difícil de aplicar".

A campanha do "não" (de todos os movimentos) vai acabar no Pavilhão Carlos Lopes, sexta-feira, com a projecção de um filme em que o protagonista é um bebé.

"Não estou disposto a que os meus impostos, da minha mulher e das minhas filhas sirvam para financiar o aborto livre nos hospitais", disse, levantando a questão da possibilidade de essa despesa ser dedutível no IRS, quando o aborto for realizado numa clínica privada.

Depois da reflexão de alguns membros da Solidariedade e Vida, a decisão está tomada e o desafio lançado. Se o "sim" ganhar no domingo, Bagão Felix e outros partidários do "não" vão continuar em campanha. Mas nessa altura pela objecção do contribuinte. Ou, por outras palavras, pela recusa de pagamento de impostos para um fim com o qual não estão de acordo.

Ladeado por Leonor Beleza, Luís Nobre Guedes e Gonçalo Ribeiro Teles, o dirigente popular deu a entender que os partidários do "não" vão agora concentrar os seus esforços nos indecisos para contrariar a direcção das sondagens, que, para já, apontam para uma vitória folgada do "sim" à despenalização do aborto nas primeiras dez semanas. "Numa situação de dúvida, as pessoas devem votar não, devem optar pela vida", disse ontem Bagão Félix numa conferência de imprensa de balanço da campanha para o referendo de domingo.

A pergunta do referendo continua a ser o alvo das principais críticas dos partidários do "não". Bagão Félix diz mesmo que a questão tem "alçapões técnicos" que induzem as pessoas a votar "sim". E citou a resposta de uma leitora do DN ao inquérito "como vai votar no referendo". A leitora dizia que vai votar favoravelmente mas que discorda com a possibilidade de "abortar por abortar". Para Félix, esta inquirida do DN responderia "não" se a pergunta estivesse elaborada de outra forma e se houvesse consciência de que já existe uma lei que despenaliza o aborto. Sem querer avançar com uma formulação ideal, este dirigente do CDS/PP disse apenas que se se perguntasse aos eleitores se "concordam com a supressão de uma vida humana por opção da mulher até às dez semanas", a resposta seria outra. De qualquer forma, acrescentou, e apesar do "excesso de tácticas", este debate já teve "o indiscutível mérito de aumentar a consciencialização" e de contribuir para "clarificar" a pergunta. "Debaixo do nevoeiro, as questões fundamentais começam a vir ao de cima." As pessoas perceberam "que se trata de legalizar o aborto sem qualquer razão até às dez semanas. O que está em causa não é uma questão de direito penal, mas uma hierarquia de valores".

O arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles saiu também em defesa do "não" ao aborto, confessando-se "surpreso" com o rumo da campanha. "Nunca ouvi nada com uma baralhação tão grande", disse. "Até já ouvi dizer coisas como "vamos votar sim pelo amor que temos aos nossos filhos"... Deu-me vontade de rir." E Ribeiro Teles lançou uma dúvida: "Que esquerda é esta que defende estes valores [o individualismo, o egoísmo, a falta de solidariedade]? Onde está a esquerda?"

A ex-ministra da Saúde do PSD, Leonor Beleza, defendeu que esta nova lei não resolve o problema do aborto clandestino e que, se a lei de 1984 não é aplicada, o que é preciso é "fazê-la aplicar". A aposta de Beleza é "na informação e no esclarecimento". Até porque, acrescentou a antiga ministra, "a nova lei será muito mais difícil de aplicar".

A campanha do "não" (de todos os movimentos) vai acabar no Pavilhão Carlos Lopes, sexta-feira, com a projecção de um filme em que o protagonista é um bebé.

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