Se um toca, o outro dança

26-08-1999
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Um jogo de máscaras: a ilustração da inversão de posições do PS, em S. Bento, segundo Eurico de Figueiredo

Tratou-se, então, de uma barragem genérica de artilharia, sobre o PS e o Governo, a pretexto da velha história das promessas, putativamente, não cumpridas. E, preparado assim o terreno, o tiro do principal partido da oposição passou a visar dois alvos precisos: o Tribunal Constitucional e o referendo.

À conta, o primeiro, de Barbosa de Melo e às mãos de Marques Guedes, o segundo, o PSD tentou provar que as juras de ontem e as declarações de irredutibilidade dos parlamentares socialistas não passam, hoje, de bolas de sabão, para os sociais-democratas desfazerem a sopro.

Para agravar a incomodidade socialista, também o PP e o PCP se associaram, a gosto, ao massacre, nomeadamente pelas vozes de Luís Queiró e João Amaral. Este último, deputado comunista e vice-presidente da Assembleia, fez a síntese adequada ao caso, ao dizer da tribuna, citando Vital Moreira, que «o PSD toca a música que o PS dança».

Não foram só as ajudas comunista e popular que dispensaram o PSD de exaurir o «stock» das suas munições: deputados do PS também lhe pouparam trabalho.

Aos tiros no pé, para Guterres ouvir

Helena Roseta até caprichou na arte de dar tiros no próprio pé: intrometeu-se, abruptamente, no debate para exigir, ao que disse, «rigor semântico». Ou seja, para manifestar o óbvio: que «o PS não é de António Guterres, mas dos seus militantes» e que Guterres «é que é do PS». Sendo óbvio, não havia necessidade de sublinhar a evidência, a não ser para o primeiro-ministro a ouvir.

Tenha Guterres «ouvido» ou não, dado não estar directamente em cena, o mais que Roseta conseguiu foi facilitar a exposição do alvo à artilharia inimiga e prestar-se a lembrarem-lhe que, também ela, não foi eleita por si própria mas como elemento do PS.

Já a Luís Filipe Madeira e Acácio Barreiros, «vices» de serviço na primeira linha da bancada, pediu o PS uma tarefa bem delicada: a de justificarem o que não tem justificação, para muitos dos seus camaradas. Isto é: o referendo a uma lei por eles aprovada e a eleição dos juízes do Tribunal Constitucional em lista fechada, um método que o PS combatia.

A incomodidade deles foi o espelho da incomodidade do seu partido. Menos para Madeira, é certo, que tem razões pessoais para divergir das teses partidárias: é que ele não foi eleito para o Conselho Superior da Magistratura, porque a eleição era, ainda, nominal. Tantas vezes o PSD riscou o seu nome que desistiu.

O mesmo aconteceu a Krus Abecasis, que sofreu o vexame de não ser eleito para a vice-presidência parlamentar, como Luís Filipe Madeira agora lamentou.

Daniel Reis

Um jogo de máscaras: a ilustração da inversão de posições do PS, em S. Bento, segundo Eurico de Figueiredo

Tratou-se, então, de uma barragem genérica de artilharia, sobre o PS e o Governo, a pretexto da velha história das promessas, putativamente, não cumpridas. E, preparado assim o terreno, o tiro do principal partido da oposição passou a visar dois alvos precisos: o Tribunal Constitucional e o referendo.

À conta, o primeiro, de Barbosa de Melo e às mãos de Marques Guedes, o segundo, o PSD tentou provar que as juras de ontem e as declarações de irredutibilidade dos parlamentares socialistas não passam, hoje, de bolas de sabão, para os sociais-democratas desfazerem a sopro.

Para agravar a incomodidade socialista, também o PP e o PCP se associaram, a gosto, ao massacre, nomeadamente pelas vozes de Luís Queiró e João Amaral. Este último, deputado comunista e vice-presidente da Assembleia, fez a síntese adequada ao caso, ao dizer da tribuna, citando Vital Moreira, que «o PSD toca a música que o PS dança».

Não foram só as ajudas comunista e popular que dispensaram o PSD de exaurir o «stock» das suas munições: deputados do PS também lhe pouparam trabalho.

Aos tiros no pé, para Guterres ouvir

Helena Roseta até caprichou na arte de dar tiros no próprio pé: intrometeu-se, abruptamente, no debate para exigir, ao que disse, «rigor semântico». Ou seja, para manifestar o óbvio: que «o PS não é de António Guterres, mas dos seus militantes» e que Guterres «é que é do PS». Sendo óbvio, não havia necessidade de sublinhar a evidência, a não ser para o primeiro-ministro a ouvir.

Tenha Guterres «ouvido» ou não, dado não estar directamente em cena, o mais que Roseta conseguiu foi facilitar a exposição do alvo à artilharia inimiga e prestar-se a lembrarem-lhe que, também ela, não foi eleita por si própria mas como elemento do PS.

Já a Luís Filipe Madeira e Acácio Barreiros, «vices» de serviço na primeira linha da bancada, pediu o PS uma tarefa bem delicada: a de justificarem o que não tem justificação, para muitos dos seus camaradas. Isto é: o referendo a uma lei por eles aprovada e a eleição dos juízes do Tribunal Constitucional em lista fechada, um método que o PS combatia.

A incomodidade deles foi o espelho da incomodidade do seu partido. Menos para Madeira, é certo, que tem razões pessoais para divergir das teses partidárias: é que ele não foi eleito para o Conselho Superior da Magistratura, porque a eleição era, ainda, nominal. Tantas vezes o PSD riscou o seu nome que desistiu.

O mesmo aconteceu a Krus Abecasis, que sofreu o vexame de não ser eleito para a vice-presidência parlamentar, como Luís Filipe Madeira agora lamentou.

Daniel Reis

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