DN Presidenciais 96

13-06-1997
marcar artigo

CAVACO SILVA APLAUDIDO E APUPADO NA MARINHA GRANDE Marinha Grande dividida

Campanha à chuva com entusiasmo, mas menos gente no distrito de Leiria à espera de Cavaco. Na Marinha Grande tudo estava preparado. Contestatários queriam evitar a violência e cavaquistas organizaram recepção. À noite, no comício de Leiria, Cavaco explorou a desistência de Jerónimo.

«Agora as coisas estão mais claras.» Foi este o mote de Cavaco Silva,ontem à noite, no comício de de Leiria. Agora, após a desistência de Jerónimo de Sousa, «é preciso que todos votem. Não deixem que escolham por vós.» No comício, Cavaco retomou a tese defendida logo após ser conhecida a desistência do candidato comunista, ou seja, acusou Sampaio de cumplicidade.

Maria José Nogueira Pinto foi a estrela da noite. A deputada popular foi a Leiria apoiar Cavaco e denunciar «o frentismo de esquerda radical» que anda à volta de Sampaio.

Sociais-democratas presentes eram muitos - Dias Loureiro, Leonor Beleza, Teresa Gouveia e Vasco Graça Moura - mas coube a Laborinho Lúcio falar em nome do PSD. O mote foi a transformação da onda cavaquista em «esmagadora maioria».

O comício culminou um dia em que a caravana «Em nome de Portugal» apanhou mais banhos de chuva do que de multidão. Duas centenas na Batalha, mais três centenas em Pombal ou nas Caldas. Quanto ao entusiasmo, a história é outra. Nesta segunda semana de campanha, as enchentes do Norte contagiaram os apoiantes de Cavaco com um optimismo, nem sempre real, no terreno.

A Marinha Grande, por razões históricas, era um dos pontos altos. Os tempos não são favoráveis ao candidato, os vidreiros da Pereira Roldão ainda têm fresca na memória a carga policial ordenada pelo então ministro Dias Loureiro.

Nada como uma boa mobilização com gente de todo o distrito para a Marinha Grande para pôr os contestatários em minoria. E meia dúzia de perguntas aos mais acérrimos acompanhantes de Cavaco na cidade confirmariam as acusações dos comerciantes, que garantiam «nunca ter visto aquelas caras». Mais pacato - é que ele era da Marinha Grande -, um apoiante do candidato afirmou ao DN: «A maioria são pessoas de fora. Era bom que fossem daqui, era sinal de que tinha uma boa recepção...» Os mais acérrimos defensores do candidato colocaram-se em frente aos contestatários para ver no que dava. Mas aqueles que aos berros, «para não o deixar falar», gritavam «terrorismo oficial» e insultos de vária ordem estavam dispostos a evitar o confronto directo a todo o custo. «Isso era o que ele queria», afirmou uma mulher, que vociferava: «Vão apoiá-lo, vão. Depois das eleições morrem à fome.» Nestas eleições, a Marinha Grande fica marcada pela encenação. Uns a conterem a vontade de cobrar a factura das bastonadas policiais, outros a tentar transformar uma pequena multidão em manifestações genuínas. Os resultados só serão avaliados no domingo.

Na Nazaré, a história foi outra. As nazarenas não arredaram pé, apesar da chuva intensa. E, quando viram Cavaco, gritaram a plenos pulmões pelo seu nome. A recepção não tem comparação com outros tempos. Uma realidade admitida por gente da terra. A desculpa era a chuva. Não para os fiéis que aguardavam Cavaco. As três centenas de nazarenas acreditam que «ele vai inchar com a chuva».

No mesmo barco

O anfitrião, Laborinho Lúcio, recebeu uma ovação tão entusiástica como Cavaco e agradeceu à Nazaré «por, nos momentos decisivos em que estava em causa o interesse nacional, ter feito a escolha certa» e passou a palavra «ao futuro presidente».

Em terra de pescadores, Cavaco desenvolveu uma nova tese - ou ele ou o naufrágio. Um discurso ensaiado em Peniche num almoço com 150 convivas e repetido perante uma audiência maior e mais entusiasta. «Imaginem que num barco vão só duas pessoas conhecedoras dos oceanos, das marés e das dificuldades do mar. Imaginem que saem os dois. Por maior que seja a boa vontade dos tripulantes, o risco é muito grande.» Os dois homens detentores dos segredos das marés eram o próprio orador e Mário Soares, como confirmou ao sublinhar que «o que está em causa é escolher o sucessor de Mário Soares. Vão ter de pensar bem em quem desejam para sucessor neste tempo que não é de mar calmo e será necessária muita experiência para manter o rumo que queremos para Portugal».

É Cavaco na versão de marinheiro, ou melhor, de timoreiro do actual Governo.

CAVACO SILVA APLAUDIDO E APUPADO NA MARINHA GRANDE Marinha Grande dividida

Campanha à chuva com entusiasmo, mas menos gente no distrito de Leiria à espera de Cavaco. Na Marinha Grande tudo estava preparado. Contestatários queriam evitar a violência e cavaquistas organizaram recepção. À noite, no comício de Leiria, Cavaco explorou a desistência de Jerónimo.

«Agora as coisas estão mais claras.» Foi este o mote de Cavaco Silva,ontem à noite, no comício de de Leiria. Agora, após a desistência de Jerónimo de Sousa, «é preciso que todos votem. Não deixem que escolham por vós.» No comício, Cavaco retomou a tese defendida logo após ser conhecida a desistência do candidato comunista, ou seja, acusou Sampaio de cumplicidade.

Maria José Nogueira Pinto foi a estrela da noite. A deputada popular foi a Leiria apoiar Cavaco e denunciar «o frentismo de esquerda radical» que anda à volta de Sampaio.

Sociais-democratas presentes eram muitos - Dias Loureiro, Leonor Beleza, Teresa Gouveia e Vasco Graça Moura - mas coube a Laborinho Lúcio falar em nome do PSD. O mote foi a transformação da onda cavaquista em «esmagadora maioria».

O comício culminou um dia em que a caravana «Em nome de Portugal» apanhou mais banhos de chuva do que de multidão. Duas centenas na Batalha, mais três centenas em Pombal ou nas Caldas. Quanto ao entusiasmo, a história é outra. Nesta segunda semana de campanha, as enchentes do Norte contagiaram os apoiantes de Cavaco com um optimismo, nem sempre real, no terreno.

A Marinha Grande, por razões históricas, era um dos pontos altos. Os tempos não são favoráveis ao candidato, os vidreiros da Pereira Roldão ainda têm fresca na memória a carga policial ordenada pelo então ministro Dias Loureiro.

Nada como uma boa mobilização com gente de todo o distrito para a Marinha Grande para pôr os contestatários em minoria. E meia dúzia de perguntas aos mais acérrimos acompanhantes de Cavaco na cidade confirmariam as acusações dos comerciantes, que garantiam «nunca ter visto aquelas caras». Mais pacato - é que ele era da Marinha Grande -, um apoiante do candidato afirmou ao DN: «A maioria são pessoas de fora. Era bom que fossem daqui, era sinal de que tinha uma boa recepção...» Os mais acérrimos defensores do candidato colocaram-se em frente aos contestatários para ver no que dava. Mas aqueles que aos berros, «para não o deixar falar», gritavam «terrorismo oficial» e insultos de vária ordem estavam dispostos a evitar o confronto directo a todo o custo. «Isso era o que ele queria», afirmou uma mulher, que vociferava: «Vão apoiá-lo, vão. Depois das eleições morrem à fome.» Nestas eleições, a Marinha Grande fica marcada pela encenação. Uns a conterem a vontade de cobrar a factura das bastonadas policiais, outros a tentar transformar uma pequena multidão em manifestações genuínas. Os resultados só serão avaliados no domingo.

Na Nazaré, a história foi outra. As nazarenas não arredaram pé, apesar da chuva intensa. E, quando viram Cavaco, gritaram a plenos pulmões pelo seu nome. A recepção não tem comparação com outros tempos. Uma realidade admitida por gente da terra. A desculpa era a chuva. Não para os fiéis que aguardavam Cavaco. As três centenas de nazarenas acreditam que «ele vai inchar com a chuva».

No mesmo barco

O anfitrião, Laborinho Lúcio, recebeu uma ovação tão entusiástica como Cavaco e agradeceu à Nazaré «por, nos momentos decisivos em que estava em causa o interesse nacional, ter feito a escolha certa» e passou a palavra «ao futuro presidente».

Em terra de pescadores, Cavaco desenvolveu uma nova tese - ou ele ou o naufrágio. Um discurso ensaiado em Peniche num almoço com 150 convivas e repetido perante uma audiência maior e mais entusiasta. «Imaginem que num barco vão só duas pessoas conhecedoras dos oceanos, das marés e das dificuldades do mar. Imaginem que saem os dois. Por maior que seja a boa vontade dos tripulantes, o risco é muito grande.» Os dois homens detentores dos segredos das marés eram o próprio orador e Mário Soares, como confirmou ao sublinhar que «o que está em causa é escolher o sucessor de Mário Soares. Vão ter de pensar bem em quem desejam para sucessor neste tempo que não é de mar calmo e será necessária muita experiência para manter o rumo que queremos para Portugal».

É Cavaco na versão de marinheiro, ou melhor, de timoreiro do actual Governo.

marcar artigo