Pão Nosso

27-08-1999
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Eminência,

Milagre q fez António Teixeira em Paris provando q os portuguezes tb sabem fazer u pan do cacete, soi-disant, une baguette bonne comme le maïs. (Ex-voto: tábua votiva com imagem do evento).

Até que ele apareceu, na semana passada, em Paris. António Teixeira, 31 anos, português radicado em França, deu ao mundo o seu Milagre do Pão.

Vencedor absoluto de um concurso para a confecção da melhor «baguette», o beguino António amassou mais de uma centena de padeiros que também aspiravam ao título.

Mas os milagres, mesmo os mais corriqueiros, só são simples nos relatos bíblicos.

Um pescador que tenha testemunhado os feitos de Jesus não reclama que o pão multiplicado está duro e insonso.

Nem um milagrado das bodas de Canã se queixa de que o vinho sabe a água.

Hoje, as pessoas são mais retorcidas.

Mesmo tratando-se de uma mera «baguette», querem que o padeiro prove a sua origem divina.

Não lhes basta que o júri tenha comido uma côdea e exclamado «É pão celestial». Mesmo assim, exigem do beato outras maravilhas.

E acenam com exemplos antigos.

A seu tempo, garante António, também ele multiplicará as «baguettes». Depende das encomendas.

Por ter vencido o certame, o bem-aventurado será padeiro do Eliseu durante dois anos.

A honra maior virá no próximo mês, quando se apresentar no palácio com a cestinha dos papos-secos: Jacques Chirac, «lui-même», virá ao portão. É da tradição que o Presidente receba em mão o premiado cacete.

E, como se trata de um português, está previsto apertar-lhe o bacalhau.

Por ter ocorrido na capital francesa, o fenómeno tem para nós o gostinho especial da quebra de um enguiço.

É que Paris sempre foi um destino português.

Muito antes de Artur Jorge, e de Linda de Suza, quando futebol e cantigas ainda não davam «status» de VIP aos seus «performers», já lá andavam os mais prestigiados opositores à ditadura.

E não nos chegou eco de que alguma vez tivessem tido o Presidente da França à sua espera, com o saquinho do pão.

«Révanche» ou coincidência, Belém sempre pagou na mesma moeda.

Não há notícia de Américo Thomaz ter descido ao Pátio dos Bichos para receber os adversários do regime francês.

E, mesmo com o advento da democracia, não consta que Sampaio, ou o próprio Soares, tenham alguma vez visto o padeiro em Belém. Nem por trás do portão.

Mas os tempos mudam. Com o milagre que fez, o «boulanger» António Teixeira revelou-nos o código de acesso ao poder: o segredo está na massa.

A Bem da Canonização

Mário Lindolfo

P.S. - Faço notar a V. Eminência que o ex-presidente da Câmara de Miranda do Douro, deputado Júlio Meirinhos, deixou milagre feito.

Só na área da cultura, investiu 24 mil contos do Município em manifestações artísticas de garfo e faca.

E, como muitos dos repastos foram mandados servir em casa do beato, a Câmara ainda poupou nas gorjetas.

Eminência,

Milagre q fez António Teixeira em Paris provando q os portuguezes tb sabem fazer u pan do cacete, soi-disant, une baguette bonne comme le maïs. (Ex-voto: tábua votiva com imagem do evento).

Até que ele apareceu, na semana passada, em Paris. António Teixeira, 31 anos, português radicado em França, deu ao mundo o seu Milagre do Pão.

Vencedor absoluto de um concurso para a confecção da melhor «baguette», o beguino António amassou mais de uma centena de padeiros que também aspiravam ao título.

Mas os milagres, mesmo os mais corriqueiros, só são simples nos relatos bíblicos.

Um pescador que tenha testemunhado os feitos de Jesus não reclama que o pão multiplicado está duro e insonso.

Nem um milagrado das bodas de Canã se queixa de que o vinho sabe a água.

Hoje, as pessoas são mais retorcidas.

Mesmo tratando-se de uma mera «baguette», querem que o padeiro prove a sua origem divina.

Não lhes basta que o júri tenha comido uma côdea e exclamado «É pão celestial». Mesmo assim, exigem do beato outras maravilhas.

E acenam com exemplos antigos.

A seu tempo, garante António, também ele multiplicará as «baguettes». Depende das encomendas.

Por ter vencido o certame, o bem-aventurado será padeiro do Eliseu durante dois anos.

A honra maior virá no próximo mês, quando se apresentar no palácio com a cestinha dos papos-secos: Jacques Chirac, «lui-même», virá ao portão. É da tradição que o Presidente receba em mão o premiado cacete.

E, como se trata de um português, está previsto apertar-lhe o bacalhau.

Por ter ocorrido na capital francesa, o fenómeno tem para nós o gostinho especial da quebra de um enguiço.

É que Paris sempre foi um destino português.

Muito antes de Artur Jorge, e de Linda de Suza, quando futebol e cantigas ainda não davam «status» de VIP aos seus «performers», já lá andavam os mais prestigiados opositores à ditadura.

E não nos chegou eco de que alguma vez tivessem tido o Presidente da França à sua espera, com o saquinho do pão.

«Révanche» ou coincidência, Belém sempre pagou na mesma moeda.

Não há notícia de Américo Thomaz ter descido ao Pátio dos Bichos para receber os adversários do regime francês.

E, mesmo com o advento da democracia, não consta que Sampaio, ou o próprio Soares, tenham alguma vez visto o padeiro em Belém. Nem por trás do portão.

Mas os tempos mudam. Com o milagre que fez, o «boulanger» António Teixeira revelou-nos o código de acesso ao poder: o segredo está na massa.

A Bem da Canonização

Mário Lindolfo

P.S. - Faço notar a V. Eminência que o ex-presidente da Câmara de Miranda do Douro, deputado Júlio Meirinhos, deixou milagre feito.

Só na área da cultura, investiu 24 mil contos do Município em manifestações artísticas de garfo e faca.

E, como muitos dos repastos foram mandados servir em casa do beato, a Câmara ainda poupou nas gorjetas.

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