JORNAL PUBLICO: Em Miranda, fala mirandês

06-05-1999
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26/05/95

Guterres ganha título de presidente honorário da câmara

Em Miranda, fala mirandês

João Queirós

Recebeu em Macedo de Cavaleiros presidentes de junta do PSD, que se queixam das câmaras do PS. Viajou outra vez no Douro, desta vez na fronteira entre Portugal e Espanha. Mas a festa grande de mais uma jornada da caravana socialista foi Miranda do Douro. Guterres é agora "presidente honorário" da Câmara.

"Quierobos dezir quel desenvolvimento e bien estar de Portugal que iau quiero tem que passar por Miranda do Douro. Miranda puede estar a léguas daculhouca, de Lisboa, puede estar en el olvido del Guberno del PSD... de la bielha maioria mas estará siempre cerca del curaçon del Guberno de la nuba maioria del PS". Em Roma, sê romano. Em Miranda do Douro, fala mirandês. Guterres fê-lo ontem na sua intervenção nos Paços do Concelho. Pelo menos, esforçou-se por render essa homenagem aos esforços dos mirandeses para preservar o seu idioma.

Um discurso de circunstância, centrado na devolução da esperança ao povo de Miranda, e no termo de uma cerimónia oficial, durante a qual esteve ladeado pelos vereadores da câmara, estes envergando o típico capote da região. O secretário-geral do PS foi recebido a título oficial na Câmara de Miranda, presidida pelo socialista Júlio Meirinhos. O seu mirandês pode não estar apurado, mas não leva razões de queixa de Miranda. Júlio Meirinhos não só lhe ofereceu, em representação do município, duas navalhas artesanais para que o líder socialista venha a "cortar" a política de isolamento que tem vitimado a região, como lhe entregou as chaves da cidade e - e isso sim, é inédito - lhe concedeu o título de presidente honorário de Miranda do Douro! Uma decisão que se traduziu ontem na entrega a Guterres de um cartão, com a respectiva fotografia, que o identifica como membro único (salvo erro) dessa nova confraria dos autarcas honorários.

Júlio Meirinhos, um dos principais protagonistas do terramoto "rosa" que varreu o distrito de Bragança nas últimas autárquicas, proferiu um discurso no qual aludiu às raízes beirãs de Guterres, considerando-o um interlocutor que dispensa dicionário para falar dos custos da desertificação e da interioridade. Abordou a urgência do repovoamento, lembrou as experiâncias históricas de D. Dinis e D. João III, quando criminosos e foragidos se fixaram em terras isoladas. Os tempos mudam e Meirinhos não se fica por menos: sonha agora com um repovoamento sustentado, também, por empresários de Hong Kong e de Macau, que agora demandam os Estados Unidos e o Canadá...

Presentes na cerimónia, também, autarcas do lado espanhol da raia, bem como o governador civil de Zamora, com quem Guterres depois almoçou e o acompanharam num percurso de barco pelo Douro Internacional. Uma águia boneli ou um abutre do Egipto recortados no céu, ninhos de cegonha preta, tudo concorria para emprestar significado ao grito de alarme contra a extinção das espécies lançado por um biólogo espanhol - o passeio foi organizado por uma empresa do país vizinho que coopera com a câmara mirandesa neste tipo de iniciativas - e por Alberto Vilanova, encarregado da área do ambiente no âmbito do programa de governo socialista. Guterres mais uma vez deu largas ao seu entusiasmo pela beleza natural da região e, a meio caminho, fez o transbordo para uma lancha, para navegar um pouco mais do que os nove quilómetros programados.

O secretário-geral do PS, recebido em Miranda em clima festivo -, tal como antes o foi em Vimioso, outra autarquia socialista (se bem que aqui, a pequena multidão era, em parte apreciável, constituída por crianças da escola) - despediu-se dos mirandeses, vestindo o típico capote de honra, após ter assistido à exibição de um grupo de pauliteiros. Disse adeus "em palavra de beirão, que vale tanto como a de trasmontano: Podem contar comigo como eu conto convosco".

Anteontem, em Vila Real Guterres foi brindado com um jantar surpreendentemente participado, ensaiou uns passos de dança com um grupo folclórico - revelando menor desenvoltura que o mais jovem António José Seguro - teve foguetes, associou-se em bom estilo à esta que tem dominado este raid "trasmontano" da caravana da nova maioria.

Torneou bem a situação criada em Macedo de Cavaleiros por presidentes de junta do PSD, que se queixam da discriminação das câmaras socialistas do distrito. Recebeu-os no hotel, conversou com eles cordialmente, desafiou-os a pressionarem o PSD para obter um mehor estatuto para as juntas, que ele, por sua parte, embora confiado na isenção dos autarcas do PS, recebeu o recado.

Tudo sobre rodas, aparentemente. Mas a viagem termina em Outubro.

26/05/95

Guterres ganha título de presidente honorário da câmara

Em Miranda, fala mirandês

João Queirós

Recebeu em Macedo de Cavaleiros presidentes de junta do PSD, que se queixam das câmaras do PS. Viajou outra vez no Douro, desta vez na fronteira entre Portugal e Espanha. Mas a festa grande de mais uma jornada da caravana socialista foi Miranda do Douro. Guterres é agora "presidente honorário" da Câmara.

"Quierobos dezir quel desenvolvimento e bien estar de Portugal que iau quiero tem que passar por Miranda do Douro. Miranda puede estar a léguas daculhouca, de Lisboa, puede estar en el olvido del Guberno del PSD... de la bielha maioria mas estará siempre cerca del curaçon del Guberno de la nuba maioria del PS". Em Roma, sê romano. Em Miranda do Douro, fala mirandês. Guterres fê-lo ontem na sua intervenção nos Paços do Concelho. Pelo menos, esforçou-se por render essa homenagem aos esforços dos mirandeses para preservar o seu idioma.

Um discurso de circunstância, centrado na devolução da esperança ao povo de Miranda, e no termo de uma cerimónia oficial, durante a qual esteve ladeado pelos vereadores da câmara, estes envergando o típico capote da região. O secretário-geral do PS foi recebido a título oficial na Câmara de Miranda, presidida pelo socialista Júlio Meirinhos. O seu mirandês pode não estar apurado, mas não leva razões de queixa de Miranda. Júlio Meirinhos não só lhe ofereceu, em representação do município, duas navalhas artesanais para que o líder socialista venha a "cortar" a política de isolamento que tem vitimado a região, como lhe entregou as chaves da cidade e - e isso sim, é inédito - lhe concedeu o título de presidente honorário de Miranda do Douro! Uma decisão que se traduziu ontem na entrega a Guterres de um cartão, com a respectiva fotografia, que o identifica como membro único (salvo erro) dessa nova confraria dos autarcas honorários.

Júlio Meirinhos, um dos principais protagonistas do terramoto "rosa" que varreu o distrito de Bragança nas últimas autárquicas, proferiu um discurso no qual aludiu às raízes beirãs de Guterres, considerando-o um interlocutor que dispensa dicionário para falar dos custos da desertificação e da interioridade. Abordou a urgência do repovoamento, lembrou as experiâncias históricas de D. Dinis e D. João III, quando criminosos e foragidos se fixaram em terras isoladas. Os tempos mudam e Meirinhos não se fica por menos: sonha agora com um repovoamento sustentado, também, por empresários de Hong Kong e de Macau, que agora demandam os Estados Unidos e o Canadá...

Presentes na cerimónia, também, autarcas do lado espanhol da raia, bem como o governador civil de Zamora, com quem Guterres depois almoçou e o acompanharam num percurso de barco pelo Douro Internacional. Uma águia boneli ou um abutre do Egipto recortados no céu, ninhos de cegonha preta, tudo concorria para emprestar significado ao grito de alarme contra a extinção das espécies lançado por um biólogo espanhol - o passeio foi organizado por uma empresa do país vizinho que coopera com a câmara mirandesa neste tipo de iniciativas - e por Alberto Vilanova, encarregado da área do ambiente no âmbito do programa de governo socialista. Guterres mais uma vez deu largas ao seu entusiasmo pela beleza natural da região e, a meio caminho, fez o transbordo para uma lancha, para navegar um pouco mais do que os nove quilómetros programados.

O secretário-geral do PS, recebido em Miranda em clima festivo -, tal como antes o foi em Vimioso, outra autarquia socialista (se bem que aqui, a pequena multidão era, em parte apreciável, constituída por crianças da escola) - despediu-se dos mirandeses, vestindo o típico capote de honra, após ter assistido à exibição de um grupo de pauliteiros. Disse adeus "em palavra de beirão, que vale tanto como a de trasmontano: Podem contar comigo como eu conto convosco".

Anteontem, em Vila Real Guterres foi brindado com um jantar surpreendentemente participado, ensaiou uns passos de dança com um grupo folclórico - revelando menor desenvoltura que o mais jovem António José Seguro - teve foguetes, associou-se em bom estilo à esta que tem dominado este raid "trasmontano" da caravana da nova maioria.

Torneou bem a situação criada em Macedo de Cavaleiros por presidentes de junta do PSD, que se queixam da discriminação das câmaras socialistas do distrito. Recebeu-os no hotel, conversou com eles cordialmente, desafiou-os a pressionarem o PSD para obter um mehor estatuto para as juntas, que ele, por sua parte, embora confiado na isenção dos autarcas do PS, recebeu o recado.

Tudo sobre rodas, aparentemente. Mas a viagem termina em Outubro.

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