Europeias impulsionam democracia electrónica

11-10-1999
marcar artigo

O deputado José Magalhães considera que «é impossível pensar na democracia no século XXI sem o recurso às novas tecnologias»

DE TEMAS periféricos nas últimas eleições realizadas em Portugal, as legislativas das quais saiu o actual Governo, a democracia electrónica e a cidadania digital ganharam importância e assumem um papel destacado nas presentes europeias. José Magalhães, deputado do Partido Socialista à Assembleia da República e reconhecido arauto das novas tecnologias de informação, sintetizou nesta ideia o passado e o presente da relação entre a democracia e a Internet para iniciar o debate sobre «Cidadania, democracia e o futuro da Internet», que decorreu terça-feira passada na livraria FNAC, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa. Magalhães frisou que este é «um debate que faz falta em Portugal», salientando porém que muito mudou desde que «o tabu foi quebrado em 1994», referindo-se ao silêncio total do Governo de Cavaco Silva nestes domínios. De facto o mapa digital alterou-se radicalmente nos últimos quatro anos. Até na política: dos tempos heróicos da BBS da Assembleia da República passámos a dispor hoje, via Internet, de contactos directos com os grandes partidos e instituições administrativas, todos eles com «sites» na Web. O Governo levou a cabo diversas iniciativas, desde o Livro Verde para a Sociedade da Informação até à instalação de acesso à rede em todas as escolas do país.

Apesar dos passos em frente, ficou claro no debate da FNAC - que contou ainda com a participação do EXPRESSO (pelo autor destas linhas), de Francisco Godinho, mentor da «Petição da Acessibilidade», e de Libório Silva pela organização do Centro Atlântico - que a Administração Pública tem falhado em algumas áreas. «Há um hiato - que considero perigoso - entre a disponibilização das tecnologias e a sua utilização pelo público», declarou José Magalhães. Seja como for, a Internet já mexeu com o palco das campanhas eleitorais. Continuam muito longe no horizonte as promessas da democracia virtual, como o sonhado voto electrónico, e do referendo em tempo real, mas hoje o cidadão interessado pode seguir a campanha através dos «sites» específicos que os quatro principais partidos ergueram a pensar nas várias centenas de milhares de eleitores cibernautas.

O destaque vai para as páginas do PS. Em www.pseuropeias99.pt está um «site» moderno, a fazer lembrar a forma norte-americana de fazer campanhas na Web (só falta a angariação de fundos, que por cá não se usa), com o luxo de uma zona própria de «chat», ou discussão «on-line». Único senão: não estão previstas conversas em directo com candidatos. A contrastar com o evidente carinho com que o PS trata uma cultura que não lhe é desconhecida, os partidos da oposição continuam a não saber comunicar com os cibernautas. O PCP tem a melhor apresentação, em www.pcp.pt/pe/fr-pe.html, traída pelo cinzentismo estático do seu «site». Igualmente estáticos e mais descuidados ainda são os locais do PSD, em www.psd.pt/pe99, e do PP, em www.partido-popular.pt. Presidenciais dos EUA serão fulcrais

Mais ou menos cativantes, o facto é que os «sites» estão no ar e José Magalhães lembra isso mesmo para vincar como «é impossível pensarmos numa democracia do século XXI sem o recurso às novas tecnologias». Estas eleições europeias «já vão ser engraçadas, mas as presidenciais norte-americanas do próximo ano serão fulcrais; a competição entre o 'on-line' e a campanha televisiva será extremamente interessante de seguir». Já que se fala em Europa diga-se que «é importante para nós, cidadãos europeus que somos, termos acesso às instituições políticas», o que é cada vez mais fácil através da rede.

A campanha para as europeias ficará como um marco na caminhada da política rumo à democracia electrónica. Do exemplar «site» do PS (com «chat» e tudo) aos menos cuidados da oposição, todos os partidos aderiram

Mas até as rosas virtuais têm espinhos. Como lembrou um membro da assistência, nem a força da lei conseguiu que os «sites» públicos cumpram as regras de acessibilidade para os cidadãos com necessidades especiais. «Tentem usar a Internet com o ecrã do computador desligado e verão como não é fácil», exemplificou um invisual da assistência. Francisco Godinho recordou que a petição electrónica para a acessibilidade, ainda que subscrita «on-line» por nove mil cidadãos e entregue em formato digital na AR através da Internet, não teve resultados práticos (mais em www.acessibilidade.net). E-mail: pquerido@ctotal.pt PAULO QUERIDO

O deputado José Magalhães considera que «é impossível pensar na democracia no século XXI sem o recurso às novas tecnologias»

DE TEMAS periféricos nas últimas eleições realizadas em Portugal, as legislativas das quais saiu o actual Governo, a democracia electrónica e a cidadania digital ganharam importância e assumem um papel destacado nas presentes europeias. José Magalhães, deputado do Partido Socialista à Assembleia da República e reconhecido arauto das novas tecnologias de informação, sintetizou nesta ideia o passado e o presente da relação entre a democracia e a Internet para iniciar o debate sobre «Cidadania, democracia e o futuro da Internet», que decorreu terça-feira passada na livraria FNAC, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa. Magalhães frisou que este é «um debate que faz falta em Portugal», salientando porém que muito mudou desde que «o tabu foi quebrado em 1994», referindo-se ao silêncio total do Governo de Cavaco Silva nestes domínios. De facto o mapa digital alterou-se radicalmente nos últimos quatro anos. Até na política: dos tempos heróicos da BBS da Assembleia da República passámos a dispor hoje, via Internet, de contactos directos com os grandes partidos e instituições administrativas, todos eles com «sites» na Web. O Governo levou a cabo diversas iniciativas, desde o Livro Verde para a Sociedade da Informação até à instalação de acesso à rede em todas as escolas do país.

Apesar dos passos em frente, ficou claro no debate da FNAC - que contou ainda com a participação do EXPRESSO (pelo autor destas linhas), de Francisco Godinho, mentor da «Petição da Acessibilidade», e de Libório Silva pela organização do Centro Atlântico - que a Administração Pública tem falhado em algumas áreas. «Há um hiato - que considero perigoso - entre a disponibilização das tecnologias e a sua utilização pelo público», declarou José Magalhães. Seja como for, a Internet já mexeu com o palco das campanhas eleitorais. Continuam muito longe no horizonte as promessas da democracia virtual, como o sonhado voto electrónico, e do referendo em tempo real, mas hoje o cidadão interessado pode seguir a campanha através dos «sites» específicos que os quatro principais partidos ergueram a pensar nas várias centenas de milhares de eleitores cibernautas.

O destaque vai para as páginas do PS. Em www.pseuropeias99.pt está um «site» moderno, a fazer lembrar a forma norte-americana de fazer campanhas na Web (só falta a angariação de fundos, que por cá não se usa), com o luxo de uma zona própria de «chat», ou discussão «on-line». Único senão: não estão previstas conversas em directo com candidatos. A contrastar com o evidente carinho com que o PS trata uma cultura que não lhe é desconhecida, os partidos da oposição continuam a não saber comunicar com os cibernautas. O PCP tem a melhor apresentação, em www.pcp.pt/pe/fr-pe.html, traída pelo cinzentismo estático do seu «site». Igualmente estáticos e mais descuidados ainda são os locais do PSD, em www.psd.pt/pe99, e do PP, em www.partido-popular.pt. Presidenciais dos EUA serão fulcrais

Mais ou menos cativantes, o facto é que os «sites» estão no ar e José Magalhães lembra isso mesmo para vincar como «é impossível pensarmos numa democracia do século XXI sem o recurso às novas tecnologias». Estas eleições europeias «já vão ser engraçadas, mas as presidenciais norte-americanas do próximo ano serão fulcrais; a competição entre o 'on-line' e a campanha televisiva será extremamente interessante de seguir». Já que se fala em Europa diga-se que «é importante para nós, cidadãos europeus que somos, termos acesso às instituições políticas», o que é cada vez mais fácil através da rede.

A campanha para as europeias ficará como um marco na caminhada da política rumo à democracia electrónica. Do exemplar «site» do PS (com «chat» e tudo) aos menos cuidados da oposição, todos os partidos aderiram

Mas até as rosas virtuais têm espinhos. Como lembrou um membro da assistência, nem a força da lei conseguiu que os «sites» públicos cumpram as regras de acessibilidade para os cidadãos com necessidades especiais. «Tentem usar a Internet com o ecrã do computador desligado e verão como não é fácil», exemplificou um invisual da assistência. Francisco Godinho recordou que a petição electrónica para a acessibilidade, ainda que subscrita «on-line» por nove mil cidadãos e entregue em formato digital na AR através da Internet, não teve resultados práticos (mais em www.acessibilidade.net). E-mail: pquerido@ctotal.pt PAULO QUERIDO

marcar artigo