25 de Abril comemorado em todo o país
Liberdade em festa!
De Vila Real de Santo António a Cabeceiras de Basto, de Alpiarça ao Funchal, de Porto a Lisboa, muitas e muitas dezenas de iniciativas - colóquios e convívios, almoços e jantares de confraternização, corridas de atletismo - comemoraram em todo o País o 25 de Abril.
Particular destaque teve, porém, o desfile que em Lisboa, como habitualmente, desceu a Avenida da Liberdade. Milhares de pessoas que a seguir ao almoço se haviam concentrado nas avenidas que vão dar ao Marquês de Pombal aguardavam sem pressa que a «cabeça» da manifestação desse início ao desfile. Era a hora dos encontros, dos abraços.
Mas como é também habitual nas manifestações do 25 de Abril, ainda o desfile não tinha arrancado do Marquês, já uma autêntica manifestação subia a avenida, vinda dos Restauradores. Ambas ladeadas de outros tantos milhares de pessoas que de forma algo desorganizada sempre preferem subir e descer a avenida ao sabor da festa.
Cerca das 16 horas, finalmente, a comissão promotora dava início ao desfile cuja «cabeça» integrava, para além de alguns de militares do MFA, representantes dos principais partidos democráticos e da CGTP-IN. Assim, ao lado de Vasco Gonçalves, Vítor Alves, Vasco Lourenço ou de Vítor Crespo, podiam ver-se, entre outros, pelo PCP Carlos Carvalhas, Rosa Rabiais e Octávio Teixeira, os vereadores da CML António Abreu e Rui Godinho, os socialistas Gualter Basílio, Helena Roseta, Edmundo Pedro e a jovem Ana Catarina, o Major Tomé da UDP, Manuel Carvalho da Silva e Manuel Lopes da CGTP.
Atrás, seguido dos Pioneiros, vinha o tradicional chaimite, pronto a disparar cravos e carregando em cima o futuro do país - um monte de crianças que aqui e ali cantavam a «Gaivota», num apelo à paz e à liberdade.
Entretanto, a primar pelo número e pela alegria, um enorme grupo de jovens da JCP, segurando panos, agitavam as suas bandeiras vermelhas, cantavam a Internacional, exigiam «o direito de optar» e gritavam palavras de ordem que claramente indicavam a sua disposição de não mais deixar ressurgir um passado de obscurantismo e repressão, de lutar por uma sociedade de justiça, progresso e bem-estar.
Seguia-se-lhes um pequeno grupo de jovens socialistas empunhando bandeiras amarelas e que, animando de vez em quando, gritava «25 de Abril, sempre! Fascismo nunca mais!».
Por fim vinham os vários grupos sociais e sectores profissionais que nunca faltam à festa da liberdade. De entre eles destacavam-se as mulheres que, a par de reivindicações específicas, como o «Sim à despenalização do aborto», dançavam e cantavam «os parabéns» ao 25 de Abril.
O comício começou quando o desfile chegou aos Restauradores. Chamados ao palco os representantes da Comissão Promotora da manifestação e lido o «Apelo à participação» subscrito por cerca de 500 personalidades, intervieram então a jovem Lúcia Moniz e, a encerrar, o almirante Vítor Crespo.
A festa não terminou, porém, aqui, apesar das canções que se ouviram. Prosseguiu no Martim Moniz, com comes, bebes e «animação de rua» promovida pela Câmara Municipal de Lisboa e a Associação 25 de Abril.
Ao fim da tarde, começaram as despedidas. «Até ao 1º de Maio!» era a frase que mais se podia ouvir.
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Jovens defendem valores de Abril
No comício, coube a Lia Gama e a João Mota lerem alternadamente excertos do Apelo da Comissão Promotora.
Entre várias preocupações, o Apelo referia particularmente as que se prendem com a moeda única e as suas repercursões para o nosso País. E exigia que, quando da discussão da Agenda 2000, fossem contempladas as questões sociais, neste momento a gerar uma «onda de angústia colectiva».
Na verdade, a reflectir «a crise do sistema» adensam-se os fenómenos de insegurança, droga, marginalização e fractura social», pelo que importa «encontrar respostas duradouras capazes de corrigir as patologias de fundo que o país apresenta».
Por outro lado, a «flexibilização terá avançado já mais do que seria prudente», o que desde logo exige vontade política para, entre outras medidas, estimular «um desenvolvimento regional equilibrado», promover «a criação de postos de trabalho duráveis» e assegurar «um carácter mais redistrtibutivo da fiscalidade».
A situação na saúde e no ensino e regionalização foram outros temas sobre os quais o «Apelo» manifestou as suas preocupações.
Em nome da juventude falou a seguir Lúcia Moniz. Falou das preocupações dos jovens em relação às consequências da política neoliberal sobre o emprego, a educação, a qualidade de vida e a exclusão social. Uma política «que quer destruir o Estado Providência e com ele o serviço público».
Os jovens são defensores dos valores de Abril, assegurou, afirmando que a juventude sempre se tem destacado na luta pela defesa dos direitos inalienáveis dos povos e manifestando a sua solidariedade designadamente ao povo de Timor-Leste e ao Movimento dos Sem Terra.
Democracia mantém potencialidades
O almirante Vítor Crespo encerrou o comício com uma intervenção que começou por lembrar ter o 25 de Abril permitido, com o «rompimento de cadeias e tutelas humilhantes», que a alegria e a esperança «galvanizassem todo um povo».
«Nós todos, os que tivemos as vidas marcadas pelo passado retrógrado e perverso não nos calaremos», garantiu, prometendo que tudo contarão aos mais jovens «para que os perigos do obscurantismo e da opressão estejam na consciência de todos».
Para Vítor Crespo não é também possível esquecer os povos que então «tomaram em mãos os seus destinos» e para quem «o 25 de Abril foi também a libertação» e o renascimento da esperança. E para aqueles a quem «ainda não chegou a liberdade», como o povo de Timor-Leste, deixou uma mensagem de esperança e solidariedade.
Portugal mudou muito, disse. O regime democrático consolidou-se mas mercê da actuação das forças de direita, «ficou aquém do que muitos pretendíamos». A democracia está, contudo, longe de ter «esgotado as suas potencialidades».
Também o mundo sindical mudou muito, fruto das lutas concretas dos trabalhadores por regalias sociais, pela melhoria dos salários e das condições de trabalho, pela diminuição do horário de trabalho, ainda que hoje se esperem tentativas para a sua secundarização.
Vítor Crespo manifestou ainda as suas preocupações face à globalização, à liberalização dos mercados, à livre circulação de capitais, à flexibilização e às graves condições de exploração do trabalho que são seu reflexo.
Os novos métodos de acumulação de capital, o aumento das manchas de pobreza, a violência estimulada pelos «media», a existência afinal de um mundo de progresso apenas para alguns - os muito ricos -, foram outras questões sobre as quais este militar de Abril mostrou estar preocupado.
«Avante!» Nº 1274 - 30.Abril.98
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25 de Abril comemorado em todo o país
Liberdade em festa!
De Vila Real de Santo António a Cabeceiras de Basto, de Alpiarça ao Funchal, de Porto a Lisboa, muitas e muitas dezenas de iniciativas - colóquios e convívios, almoços e jantares de confraternização, corridas de atletismo - comemoraram em todo o País o 25 de Abril.
Particular destaque teve, porém, o desfile que em Lisboa, como habitualmente, desceu a Avenida da Liberdade. Milhares de pessoas que a seguir ao almoço se haviam concentrado nas avenidas que vão dar ao Marquês de Pombal aguardavam sem pressa que a «cabeça» da manifestação desse início ao desfile. Era a hora dos encontros, dos abraços.
Mas como é também habitual nas manifestações do 25 de Abril, ainda o desfile não tinha arrancado do Marquês, já uma autêntica manifestação subia a avenida, vinda dos Restauradores. Ambas ladeadas de outros tantos milhares de pessoas que de forma algo desorganizada sempre preferem subir e descer a avenida ao sabor da festa.
Cerca das 16 horas, finalmente, a comissão promotora dava início ao desfile cuja «cabeça» integrava, para além de alguns de militares do MFA, representantes dos principais partidos democráticos e da CGTP-IN. Assim, ao lado de Vasco Gonçalves, Vítor Alves, Vasco Lourenço ou de Vítor Crespo, podiam ver-se, entre outros, pelo PCP Carlos Carvalhas, Rosa Rabiais e Octávio Teixeira, os vereadores da CML António Abreu e Rui Godinho, os socialistas Gualter Basílio, Helena Roseta, Edmundo Pedro e a jovem Ana Catarina, o Major Tomé da UDP, Manuel Carvalho da Silva e Manuel Lopes da CGTP.
Atrás, seguido dos Pioneiros, vinha o tradicional chaimite, pronto a disparar cravos e carregando em cima o futuro do país - um monte de crianças que aqui e ali cantavam a «Gaivota», num apelo à paz e à liberdade.
Entretanto, a primar pelo número e pela alegria, um enorme grupo de jovens da JCP, segurando panos, agitavam as suas bandeiras vermelhas, cantavam a Internacional, exigiam «o direito de optar» e gritavam palavras de ordem que claramente indicavam a sua disposição de não mais deixar ressurgir um passado de obscurantismo e repressão, de lutar por uma sociedade de justiça, progresso e bem-estar.
Seguia-se-lhes um pequeno grupo de jovens socialistas empunhando bandeiras amarelas e que, animando de vez em quando, gritava «25 de Abril, sempre! Fascismo nunca mais!».
Por fim vinham os vários grupos sociais e sectores profissionais que nunca faltam à festa da liberdade. De entre eles destacavam-se as mulheres que, a par de reivindicações específicas, como o «Sim à despenalização do aborto», dançavam e cantavam «os parabéns» ao 25 de Abril.
O comício começou quando o desfile chegou aos Restauradores. Chamados ao palco os representantes da Comissão Promotora da manifestação e lido o «Apelo à participação» subscrito por cerca de 500 personalidades, intervieram então a jovem Lúcia Moniz e, a encerrar, o almirante Vítor Crespo.
A festa não terminou, porém, aqui, apesar das canções que se ouviram. Prosseguiu no Martim Moniz, com comes, bebes e «animação de rua» promovida pela Câmara Municipal de Lisboa e a Associação 25 de Abril.
Ao fim da tarde, começaram as despedidas. «Até ao 1º de Maio!» era a frase que mais se podia ouvir.
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Jovens defendem valores de Abril
No comício, coube a Lia Gama e a João Mota lerem alternadamente excertos do Apelo da Comissão Promotora.
Entre várias preocupações, o Apelo referia particularmente as que se prendem com a moeda única e as suas repercursões para o nosso País. E exigia que, quando da discussão da Agenda 2000, fossem contempladas as questões sociais, neste momento a gerar uma «onda de angústia colectiva».
Na verdade, a reflectir «a crise do sistema» adensam-se os fenómenos de insegurança, droga, marginalização e fractura social», pelo que importa «encontrar respostas duradouras capazes de corrigir as patologias de fundo que o país apresenta».
Por outro lado, a «flexibilização terá avançado já mais do que seria prudente», o que desde logo exige vontade política para, entre outras medidas, estimular «um desenvolvimento regional equilibrado», promover «a criação de postos de trabalho duráveis» e assegurar «um carácter mais redistrtibutivo da fiscalidade».
A situação na saúde e no ensino e regionalização foram outros temas sobre os quais o «Apelo» manifestou as suas preocupações.
Em nome da juventude falou a seguir Lúcia Moniz. Falou das preocupações dos jovens em relação às consequências da política neoliberal sobre o emprego, a educação, a qualidade de vida e a exclusão social. Uma política «que quer destruir o Estado Providência e com ele o serviço público».
Os jovens são defensores dos valores de Abril, assegurou, afirmando que a juventude sempre se tem destacado na luta pela defesa dos direitos inalienáveis dos povos e manifestando a sua solidariedade designadamente ao povo de Timor-Leste e ao Movimento dos Sem Terra.
Democracia mantém potencialidades
O almirante Vítor Crespo encerrou o comício com uma intervenção que começou por lembrar ter o 25 de Abril permitido, com o «rompimento de cadeias e tutelas humilhantes», que a alegria e a esperança «galvanizassem todo um povo».
«Nós todos, os que tivemos as vidas marcadas pelo passado retrógrado e perverso não nos calaremos», garantiu, prometendo que tudo contarão aos mais jovens «para que os perigos do obscurantismo e da opressão estejam na consciência de todos».
Para Vítor Crespo não é também possível esquecer os povos que então «tomaram em mãos os seus destinos» e para quem «o 25 de Abril foi também a libertação» e o renascimento da esperança. E para aqueles a quem «ainda não chegou a liberdade», como o povo de Timor-Leste, deixou uma mensagem de esperança e solidariedade.
Portugal mudou muito, disse. O regime democrático consolidou-se mas mercê da actuação das forças de direita, «ficou aquém do que muitos pretendíamos». A democracia está, contudo, longe de ter «esgotado as suas potencialidades».
Também o mundo sindical mudou muito, fruto das lutas concretas dos trabalhadores por regalias sociais, pela melhoria dos salários e das condições de trabalho, pela diminuição do horário de trabalho, ainda que hoje se esperem tentativas para a sua secundarização.
Vítor Crespo manifestou ainda as suas preocupações face à globalização, à liberalização dos mercados, à livre circulação de capitais, à flexibilização e às graves condições de exploração do trabalho que são seu reflexo.
Os novos métodos de acumulação de capital, o aumento das manchas de pobreza, a violência estimulada pelos «media», a existência afinal de um mundo de progresso apenas para alguns - os muito ricos -, foram outras questões sobre as quais este militar de Abril mostrou estar preocupado.
«Avante!» Nº 1274 - 30.Abril.98