Pavilhão de Leonel Moura não conquista todos os portugueses Território ainda pouco interactivo Fernanda Ribeiro O Pavilhão do Território foi ontem mostrado a vários ministros e a deputados que se deslocaram à Expo a convite de João Cravinho. E se o recheio deste pavilhão, onde ontem ainda faltava instalar toda a interactividade, agradou mesmo assim ao ministro do Equipamento, já vários dos convidados acharam-no pobre e conservador. Era suposto que João Cravinho chegasse ontem à Expo pela Gare do Oriente, a bordo de um comboio saído de Santa Apolónia fretado com vista ao transporte dos muitos convidados. Mas, afinal, o anfitrião é que faltou ao encontro marcado por ter ficado retido num compromisso em Bicesse, razão que o levou a optar pelo automóvel para chegar à Expo. Mas os convidados lá seguiram, de comboio, rumo à Gare do Oriente, ainda em obras, e ao Pavilhão do Território, que ontem foi pela primeira vez mostrado ao público, embora a sua principal atracção - a interactividade prometida nos vários equipamentos - não estivesse ainda a funcionar. Para toda a equipa de trabalho do Pavilhão do Território, a visita do ministro ao pavilhão que tutela na Expo representou uma grande maratona noite fora, de forma a transformar num espaço visitável o que até horas antes era ainda um imenso estaleiro de obras e instalações, como assinalou o próprio comissário Torres Campos. E quando João Cravinho lá chegou, tal como o ministro António Costa, que detém a tutela da Expo e apareceu sem se fazer anunciar, era ainda intenso o cheiro a tinta acabada de aplicar. Fosse na imensa nave, pintada de dourado, fosse na maioria das restantes salas, que foram imaginadas para retratar de uma forma híbrida as zonas do país e suas realizações, evitando que tal remetesse directamente fosse para a ainda polémica regionalização, fosse para a divisão actualmente reinante, distrito a distrito. Dada a localização do pavilhão, situado na zona das organizações internacionais, foi encontrada uma maneira de o assinalar como parte integrante do terrirório português. A inscrição no pavimento da palavara Portugal, escrita em pedra, com a grafia de Fernando Pessoa. O resultado ontem visível ainda não era porém deslumbrante, pois o pavimento fora pisado por camiões momentos antes e o brilho não era o desejável. Mas a organização garante que isso será melhorado e polido nos próximos dias, até à abertura da Expo. Nessa altura, o acesso far-se-á pela sala Afirmar, que é dedicada à Área Metropolitana do Porto, e que ontem foi aquela em que os ministros e os seus convidados permaneceram durante mais tempo, observando o vídeo feito por Leonel Moura para ilustrar esta zona do país. Nele aparecem, além de paisagens da AMP, oito figuras ligadas à região: os empresários Artur Santos Silva e Belmiro de Azevedo, o músico Pedro Burmester, a atleta Rosa Mota, o arquitecto Siza Vieira, o artista plástico Júlio Resende, e o realizador de cinema Manoel de Oliveira. Uma seleccção que na maioria dos casos coube a Leonel Moura, que por via destas escolhas chegou a envolver-se numa polémica com Vieira de Carvalho, presidente da Junta Metropolitana do Porto, cujas recomendações o director do pavilhão acabou não ter parcialmente em conta no vídeo. A sala seguinte, a Comunicar, dedicada aos transportes, e a mais institucional, é porventura aquela que menos interesse suscitará aos visitantes da Expo, pouco interessados em saber em quanto tempo foi reduzida nos últimos anos a distância entre Lisboa e o Porto, actualmente contabilizada em três horas, um número que na realidade nem sempre bate certo. Na sala seguinte, a Navegar, ainda que já lá estivesse o joy-stick com o qual se poderá viajar através do Portugal Digital - um projecto do Centro Nacional de Informação Geográfica - faltava activar o sistema, razão que levou os visitantes a passar lestos nesse espaço, tal como sucedeu na sala Conservar, onde constam em néons coloridos e sobrepostos as gravuras de Foz Côa, mas onde falta ainda activar o projecto relativo à Ria de Aveiro, que a partir de dia 21 estará "on-line" no recinto. Ontem também ainda não foi possível "falar" com o golfinho virtual, mas nenhuma destas impossibilidades levaram João Cravinho a descrer nas capacidades a explorar no Pavilhão do Território, para o qual, disse, "há já manifestações de interesse de várias instituições, no pós-Expo", além das publicamente anunciadas pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, que queria todo o pavilhão para a sua cidade. Coimbra e o Alentejo são algumas das zonas do país que pretendem herdar parte dos conteúdos do pavilhão. O mesmo agrado não foi sentido por alguns dos convidados do ministro, para os quais o Pavilhão do Território está "pobre demais" já que "esperavam melhor". Essa foi a sensação de vários deputados social-democratas, entre os quais Artur Torres Pereira. Questionado pelo PÚBLICO considerou que a abordagem do território é ali feita "numa perspectiva conservadora" do país. "Mostra-se o que existe, do passado e do presente, e não o Portugal do futuro, para o qual estão já a trabalhar várias instituições, cujos projectos não vejo aqui serem mostrados". (c) Copyright PÚBLICO Comunicação Social, SA Email: publico@publico.pt
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Pavilhão de Leonel Moura não conquista todos os portugueses Território ainda pouco interactivo Fernanda Ribeiro O Pavilhão do Território foi ontem mostrado a vários ministros e a deputados que se deslocaram à Expo a convite de João Cravinho. E se o recheio deste pavilhão, onde ontem ainda faltava instalar toda a interactividade, agradou mesmo assim ao ministro do Equipamento, já vários dos convidados acharam-no pobre e conservador. Era suposto que João Cravinho chegasse ontem à Expo pela Gare do Oriente, a bordo de um comboio saído de Santa Apolónia fretado com vista ao transporte dos muitos convidados. Mas, afinal, o anfitrião é que faltou ao encontro marcado por ter ficado retido num compromisso em Bicesse, razão que o levou a optar pelo automóvel para chegar à Expo. Mas os convidados lá seguiram, de comboio, rumo à Gare do Oriente, ainda em obras, e ao Pavilhão do Território, que ontem foi pela primeira vez mostrado ao público, embora a sua principal atracção - a interactividade prometida nos vários equipamentos - não estivesse ainda a funcionar. Para toda a equipa de trabalho do Pavilhão do Território, a visita do ministro ao pavilhão que tutela na Expo representou uma grande maratona noite fora, de forma a transformar num espaço visitável o que até horas antes era ainda um imenso estaleiro de obras e instalações, como assinalou o próprio comissário Torres Campos. E quando João Cravinho lá chegou, tal como o ministro António Costa, que detém a tutela da Expo e apareceu sem se fazer anunciar, era ainda intenso o cheiro a tinta acabada de aplicar. Fosse na imensa nave, pintada de dourado, fosse na maioria das restantes salas, que foram imaginadas para retratar de uma forma híbrida as zonas do país e suas realizações, evitando que tal remetesse directamente fosse para a ainda polémica regionalização, fosse para a divisão actualmente reinante, distrito a distrito. Dada a localização do pavilhão, situado na zona das organizações internacionais, foi encontrada uma maneira de o assinalar como parte integrante do terrirório português. A inscrição no pavimento da palavara Portugal, escrita em pedra, com a grafia de Fernando Pessoa. O resultado ontem visível ainda não era porém deslumbrante, pois o pavimento fora pisado por camiões momentos antes e o brilho não era o desejável. Mas a organização garante que isso será melhorado e polido nos próximos dias, até à abertura da Expo. Nessa altura, o acesso far-se-á pela sala Afirmar, que é dedicada à Área Metropolitana do Porto, e que ontem foi aquela em que os ministros e os seus convidados permaneceram durante mais tempo, observando o vídeo feito por Leonel Moura para ilustrar esta zona do país. Nele aparecem, além de paisagens da AMP, oito figuras ligadas à região: os empresários Artur Santos Silva e Belmiro de Azevedo, o músico Pedro Burmester, a atleta Rosa Mota, o arquitecto Siza Vieira, o artista plástico Júlio Resende, e o realizador de cinema Manoel de Oliveira. Uma seleccção que na maioria dos casos coube a Leonel Moura, que por via destas escolhas chegou a envolver-se numa polémica com Vieira de Carvalho, presidente da Junta Metropolitana do Porto, cujas recomendações o director do pavilhão acabou não ter parcialmente em conta no vídeo. A sala seguinte, a Comunicar, dedicada aos transportes, e a mais institucional, é porventura aquela que menos interesse suscitará aos visitantes da Expo, pouco interessados em saber em quanto tempo foi reduzida nos últimos anos a distância entre Lisboa e o Porto, actualmente contabilizada em três horas, um número que na realidade nem sempre bate certo. Na sala seguinte, a Navegar, ainda que já lá estivesse o joy-stick com o qual se poderá viajar através do Portugal Digital - um projecto do Centro Nacional de Informação Geográfica - faltava activar o sistema, razão que levou os visitantes a passar lestos nesse espaço, tal como sucedeu na sala Conservar, onde constam em néons coloridos e sobrepostos as gravuras de Foz Côa, mas onde falta ainda activar o projecto relativo à Ria de Aveiro, que a partir de dia 21 estará "on-line" no recinto. Ontem também ainda não foi possível "falar" com o golfinho virtual, mas nenhuma destas impossibilidades levaram João Cravinho a descrer nas capacidades a explorar no Pavilhão do Território, para o qual, disse, "há já manifestações de interesse de várias instituições, no pós-Expo", além das publicamente anunciadas pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, que queria todo o pavilhão para a sua cidade. Coimbra e o Alentejo são algumas das zonas do país que pretendem herdar parte dos conteúdos do pavilhão. O mesmo agrado não foi sentido por alguns dos convidados do ministro, para os quais o Pavilhão do Território está "pobre demais" já que "esperavam melhor". Essa foi a sensação de vários deputados social-democratas, entre os quais Artur Torres Pereira. Questionado pelo PÚBLICO considerou que a abordagem do território é ali feita "numa perspectiva conservadora" do país. "Mostra-se o que existe, do passado e do presente, e não o Portugal do futuro, para o qual estão já a trabalhar várias instituições, cujos projectos não vejo aqui serem mostrados". (c) Copyright PÚBLICO Comunicação Social, SA Email: publico@publico.pt