JORNAL PUBLICO: "É tudo o mesmo!"

08-10-1999
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24/07/95

Carlos Carvalhas e João Amaral apontam "coincidências" entre PS e PSD

"É tudo o mesmo!"

Filipe Santos Costa e Nuno Corvacho

Os dirigentes comunistas concertaram estratégias e ontem Carlos Carvalhas, em Sesimbra, e João Amaral, no Porto, dispararam nas mesmas direcções: PSD, pelas políticas desastrosas de uma década de Governo, e PS, porque ameaça prosseguir essas mesmas políticas. É o ataque às "duas comadres" a dar o tom à pré-campanha da CDU. Com passeios de barco, sardinhadas e sintetizadores de fancaria à mistura...

Ainda os convivas das mesas mais distantes engoliam as últimas sardinhas e bebericavam qualquer coisinha, e já Carlos Carvalhas avançava para a sobremesa: o discurso da praxe em tempo de pré-campanha. O cenário foi uma sardinhada promovida pela CDU de Setúbal que levou à Prainha, em Sesimbra, o secretário-geral do PCP e alguns candidatos da CDU por aquele círculo, como Octávio Teixeira e Augusto Pólvora. Os apoiantes da coligação, muitos transportados em autocarros, agruparam-se debaixo de um toldo, atacaram as sardinhas e os carapaus, e ouviram Carlos Carvalhas zurzir PS e PSD pela mesma medida.

O PCP não se conforma com a hipótese de os debates televisivos na próxima campanha eleitoral se restringirem a António Guterres e Fernando Nogueira e ontem Carvalhas repetiu uma teoria antiga: "O que eles querem é o bailinho do agora-mando-eu, agora-mandas-tu", acusou. Porque se socialistas e sociais-democratas quisessem realmente discutir os problemas do país, então, convidavam "também o PCP. Mas eles não querem, têm medo", sentenciou o líder comunista.

"Não vale a pena fazer de conta que não há coincidência" entre PSD e PS, disse Carvalhas, que na véspera já tinha comparado os líderes dos dois partidos a "comadres" que só discutem ninharias. Guterres reagiu e acusou o líder comunista de estar a desiludir as espectativas dos seus apoiantes, não contribuindo para a derrota do PSD. A resposta de Carvalhas não tardou: "O eleitorado do PS e o eleitorado do PCP querem, não só derrotar o PSD, como derrotar a política da direita. Nós contamos sempre para derrotar o PSD, mas o nosso reforço é fundamental para derrotar a política da direita, para que ela depois não recupere através do PS", afirmou ao PÚBLICO.

Mas o dia não primou pela riqueza política. Sesimbra estava cheia, mas de banhistas, mais interessados em investir em gelados e garrafinhas de água que em pagar um conto de reis por uma sardinhada. Os termómetros subiam a uns desencorajantes trinta e muitos graus e a primeira parte do programa de Carlos Carvalhas acabou por se revelar perfeita para um domingo de Verão. Um passeio de barco ao largo da vila que tinha sido anunciado como "convívio com pescadores". Pescadores, em boa verdade, não abundavam, mas nem por isso Carvalhas deixou de aproveitar a oportunidade para criticar a "grave crise" a que a política do Governo conduziu as pescas.

Mais a norte...

Na Quinta das Freiras, em Rio Tinto, foi um João Amaral duro e incisivo que falou ontem a cerca de centena e meia de militantes e simpatizantes comunistas, em outra iniciativa da pré-campanha da CDU. O cabeça-de-lista da coligação pelo círculo do Porto estabeleceu assim o contraste numa festa que, até então, decorrera em toada preguiçosa.

O duo Paulo Pereira & Dino Balola (émulos plastificados de Leandro & Leonardo...), a quem fora incumbida a tarefa de entreter o público antes da parte estritamente política, não conseguira, com os seus sintetizadores de fancaria, pôr a malta a dançar, apesar dos veementes apelos de um comunista gondomarense: "Cheguem-se mais para o palco, camaradas, que este conjunto precisa do vosso aconchego!". Mas a canção (aquelas canções...) esteve longe de ser uma arma naquela tarde. A canícula que se fazia sentir empurrava teimosamente os presentes para a área arborizada, longe do palco.

Só quando João Amaral tomou a palavra os rostos se começaram a animar. O deputado começou por enunciar o rol das desgraças do cavaquismo, salientando o aumento do desemprego, a generalização do trabalho precário e a decadência do sistema de segurança social. Mas, segundo Amaral, houve quem, neste período tão criticado, tivesse razões para esfregar as mãos de contente: "Esse punhado de grandes senhores que enriqueceu à custa dos monumentais cambalachos das privatizações". "Quem são eles para criticarem os políticos", acrescentou Amaral, indignado, "se são eles próprios que os corrompem?".

O PS de Guterres também não foi poupado. Para João Amaral, o os socialistas vão prosseguir, no essencial, a política do PSD. As frases cândidas de Daniel Bessa, porta-voz do PS para as questões económicas, foram mais uma vez utilizadas como "boomerang". "É ele que diz que vamos manter a mesma distância em relação aos parceiros comunitários, que não vão ser criados postos de trabalho, que o máximo permitido para a função pública era não baixar os actuais salários. Então é isto que o PS nos promete?", insistia o número um pelo Porto. Alguém, na assistência, entendeu o alcance da mensagem e comentou: "Guterres e Cavaco... é tudo o mesmo!".

Reclamando uma intervenção da CDU na formação do próximo Governo ("Queremos deixar lá a nossa marca!"), João Amaral exigiu a renegociação do Tratado de Maastricht e a revogação dos critérios de convergência das economias europeias, os quais "foram feitos para satisfazer os interesses dos países mais fortes". Depois de se congratular com os 15 por cento de jovens com idade inferior a 25 anos que integram a lista do Porto, Amaral explicou a sua ideia de serviço público, concluindo: "Os nossos deputados não irão para a Assembleia tratar da vidinha e dos negócios. Vai haver uma dedicação exclusiva porque esse é o nosso sentido ético da política!".

24/07/95

Carlos Carvalhas e João Amaral apontam "coincidências" entre PS e PSD

"É tudo o mesmo!"

Filipe Santos Costa e Nuno Corvacho

Os dirigentes comunistas concertaram estratégias e ontem Carlos Carvalhas, em Sesimbra, e João Amaral, no Porto, dispararam nas mesmas direcções: PSD, pelas políticas desastrosas de uma década de Governo, e PS, porque ameaça prosseguir essas mesmas políticas. É o ataque às "duas comadres" a dar o tom à pré-campanha da CDU. Com passeios de barco, sardinhadas e sintetizadores de fancaria à mistura...

Ainda os convivas das mesas mais distantes engoliam as últimas sardinhas e bebericavam qualquer coisinha, e já Carlos Carvalhas avançava para a sobremesa: o discurso da praxe em tempo de pré-campanha. O cenário foi uma sardinhada promovida pela CDU de Setúbal que levou à Prainha, em Sesimbra, o secretário-geral do PCP e alguns candidatos da CDU por aquele círculo, como Octávio Teixeira e Augusto Pólvora. Os apoiantes da coligação, muitos transportados em autocarros, agruparam-se debaixo de um toldo, atacaram as sardinhas e os carapaus, e ouviram Carlos Carvalhas zurzir PS e PSD pela mesma medida.

O PCP não se conforma com a hipótese de os debates televisivos na próxima campanha eleitoral se restringirem a António Guterres e Fernando Nogueira e ontem Carvalhas repetiu uma teoria antiga: "O que eles querem é o bailinho do agora-mando-eu, agora-mandas-tu", acusou. Porque se socialistas e sociais-democratas quisessem realmente discutir os problemas do país, então, convidavam "também o PCP. Mas eles não querem, têm medo", sentenciou o líder comunista.

"Não vale a pena fazer de conta que não há coincidência" entre PSD e PS, disse Carvalhas, que na véspera já tinha comparado os líderes dos dois partidos a "comadres" que só discutem ninharias. Guterres reagiu e acusou o líder comunista de estar a desiludir as espectativas dos seus apoiantes, não contribuindo para a derrota do PSD. A resposta de Carvalhas não tardou: "O eleitorado do PS e o eleitorado do PCP querem, não só derrotar o PSD, como derrotar a política da direita. Nós contamos sempre para derrotar o PSD, mas o nosso reforço é fundamental para derrotar a política da direita, para que ela depois não recupere através do PS", afirmou ao PÚBLICO.

Mas o dia não primou pela riqueza política. Sesimbra estava cheia, mas de banhistas, mais interessados em investir em gelados e garrafinhas de água que em pagar um conto de reis por uma sardinhada. Os termómetros subiam a uns desencorajantes trinta e muitos graus e a primeira parte do programa de Carlos Carvalhas acabou por se revelar perfeita para um domingo de Verão. Um passeio de barco ao largo da vila que tinha sido anunciado como "convívio com pescadores". Pescadores, em boa verdade, não abundavam, mas nem por isso Carvalhas deixou de aproveitar a oportunidade para criticar a "grave crise" a que a política do Governo conduziu as pescas.

Mais a norte...

Na Quinta das Freiras, em Rio Tinto, foi um João Amaral duro e incisivo que falou ontem a cerca de centena e meia de militantes e simpatizantes comunistas, em outra iniciativa da pré-campanha da CDU. O cabeça-de-lista da coligação pelo círculo do Porto estabeleceu assim o contraste numa festa que, até então, decorrera em toada preguiçosa.

O duo Paulo Pereira & Dino Balola (émulos plastificados de Leandro & Leonardo...), a quem fora incumbida a tarefa de entreter o público antes da parte estritamente política, não conseguira, com os seus sintetizadores de fancaria, pôr a malta a dançar, apesar dos veementes apelos de um comunista gondomarense: "Cheguem-se mais para o palco, camaradas, que este conjunto precisa do vosso aconchego!". Mas a canção (aquelas canções...) esteve longe de ser uma arma naquela tarde. A canícula que se fazia sentir empurrava teimosamente os presentes para a área arborizada, longe do palco.

Só quando João Amaral tomou a palavra os rostos se começaram a animar. O deputado começou por enunciar o rol das desgraças do cavaquismo, salientando o aumento do desemprego, a generalização do trabalho precário e a decadência do sistema de segurança social. Mas, segundo Amaral, houve quem, neste período tão criticado, tivesse razões para esfregar as mãos de contente: "Esse punhado de grandes senhores que enriqueceu à custa dos monumentais cambalachos das privatizações". "Quem são eles para criticarem os políticos", acrescentou Amaral, indignado, "se são eles próprios que os corrompem?".

O PS de Guterres também não foi poupado. Para João Amaral, o os socialistas vão prosseguir, no essencial, a política do PSD. As frases cândidas de Daniel Bessa, porta-voz do PS para as questões económicas, foram mais uma vez utilizadas como "boomerang". "É ele que diz que vamos manter a mesma distância em relação aos parceiros comunitários, que não vão ser criados postos de trabalho, que o máximo permitido para a função pública era não baixar os actuais salários. Então é isto que o PS nos promete?", insistia o número um pelo Porto. Alguém, na assistência, entendeu o alcance da mensagem e comentou: "Guterres e Cavaco... é tudo o mesmo!".

Reclamando uma intervenção da CDU na formação do próximo Governo ("Queremos deixar lá a nossa marca!"), João Amaral exigiu a renegociação do Tratado de Maastricht e a revogação dos critérios de convergência das economias europeias, os quais "foram feitos para satisfazer os interesses dos países mais fortes". Depois de se congratular com os 15 por cento de jovens com idade inferior a 25 anos que integram a lista do Porto, Amaral explicou a sua ideia de serviço público, concluindo: "Os nossos deputados não irão para a Assembleia tratar da vidinha e dos negócios. Vai haver uma dedicação exclusiva porque esse é o nosso sentido ético da política!".

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