Xanana quer transição rápida

12-10-1999
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Segundo dia de intensa diplomacia de Xanana Gusmão em Nova Iorque

Xanana Quer Transição Rápida

Por BÁRBARA REIS, em Nova Iorque

Terça-feira, 28 de Setembro de 1999 Oficialmente reconhecido pela ONU e pela comunidade internacional como o líder e representante de Timor-Leste, Xanana Gusmão mostra-se emocionado com a recepção e as promessas de apoio que está a receber nos EUA. Ontem apresentou à ONU uma lista de pedidos: que o CNRT seja reconhecido como único interlocutor, que a transição se inicie o mais depressa possível e que Portugal ocupe postos-chave na futura Operação de Manutenção de Paz. Xanana Gusmão disse ontem ao presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas que até à independência o Conselho Nacional de Resistência Timorense tem que ser o "único interlocutor" da ONU e que os postos-chave da futura força de capacetes azuis devem ser entregues a Portugal. Depois do encontro, no domingo, com a secretária de Estado americana, Madeleine Albright, Xanana Gusmão teve ontem o primeiro dia intenso de reuniões na sede da ONU, em Nova Iorque, onde foi recebido "como um chefe de Estado", segundo o embaixador António Monteiro, chefe da missão portuguesa. Xanana está acompanhado por uma delegação conjunta do Conselho Nacional de Resistência Timorense (CNRT), entre os quais José Ramos-Horta, Mário Carrascalão, ex-governador de Timor-Leste e ex-embaixador da Indonésia na Roménia, Gil Alves, um integracionista moderado, e Constâncio Pinto, representante do CNRT na ONU. Nas reuniões com o secretariado e com o embaixador da Holanda, Peter van Walsum, que tem a presidência do Conselho de Segurança até ao fim do mês, e com Richard Holbrooke, o embaixador americano, Xanana Gusmão analisou a violência, a crise humanitária nos campos em Timor Ocidental e a administração de Timor durante a fase transitória até à independência. Publicamente, o líder timorense disse apenas que, na fase de transição - que pode durar um, dois ou mais anos -, será apenas "um timorense que quer a independência". E ontem, diplomata, descreveu as reuniões como "contactos para delinear o quadro do processo de transição" e uma "troca de opiniões" sobre "quem deve ter obrigações sobre que áreas". Mas uma fonte da ONU disse ao PÚBLICO que, nas reuniões à porta fechada com o secretariado da ONU e o Conselho de Segurança, o líder timorense apresentou alguns pedidos e formulou várias opiniões. Além de o CNRT ser reconhecido como o "único interlocutor" e de Portugal ocupar "postos-chave" (mas não necessariamente o comando) na futura operação da ONU de manutenção de paz em Timor, o líder timorense defendeu também que as Nações Unidas têm que manter o apoio até ao fim do processo, têm que garantir que as tropas indonésias que saíram não regressam a Timor e defendeu que a transição da Interfet para operação de paz deve acontecer o mais depressa possível. Na reunião com o presidente do Conselho de Segurança, ontem à tarde, Xanana Gusmão disse também que as Falintil estão prontas a colaborar com a Interfet "em tudo o que for necessário" e sublinhou a necessidade de a comunidade internacional apoiar a reconstrução do país. Xanana disse ao embaixador Peter van Walsum que o CNRT tem que ser o único interlocutor da ONU porque o "voto da independência foi um voto do CNRT", disse a mesma fonte. Mais tarde, Ramos-Horta disse que "foi sob a bandeira do CNRT que o povo votou" no referendo de 30 de Agosto. Ontem, o papel do CNRT como interlocutor ficou na prática reconhecido com uma maratona de reuniões ao mais alto nível. Depois de se encontrar com congressistas americanos e com Holbrooke, Xanana e a sua delegação reuniram-se durante mais de três horas com 13 altos responsáveis das Nações Unidas, entre os quais os subsecretários-gerais dos Departamentos das Operações de Manutenção de Paz, de Assuntos Políticos, Assuntos Humanitários e Assuntos Legais, os quatro mais importantes do Secretariado da ONU. Ian Martin, coordenador da UNAMET em Timor-Leste, também esteve presente nesta reunião e numa segunda, à tarde, entre Xanana e a vice-secretária-geral da ONU, a canadiana Louise Frechette. A seguir ao encontro com o actual presidente do Conselho de Segurança, houve a primeira "tripartida" com timorenses, uma reunião oficialmente descrita como "tripartida entre Timor-Leste, Portugal e as Nações Unidas". Segundo uma fonte da ONU directamente envolvida no planeamento da futura missão da ONU em Timor-Leste, a série de reuniões teve como principal objectivo "ouvir os timorenses". "Estamos a começar tudo e por isso temos que conhecer o ponto de vista timorense." Para os timorenses, a transferência da Interfet, uma força de "imposição da paz", para uma operação de "manutenção de paz" é essencial, porque significa que a situação de segurança está sob controlo, mas também porque só aí é que a força toma um carácter multidisciplinar (criação e gestão de instituições e serviços públicos). A ONU anunciou na semana passada que não vai esperar pela ratificação do resultado do referendo na Assembleia Consultiva do Povo, o parlamento indonésio, considerada uma "questão interna indonésia". Hoje, os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e da Indonésia, Jaime Gama e Ali Alatas, vão encontrar-se com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que também se vai reunir, à parte, com Xanana Gusmão e a sua delegação. Gusmão disse no domingo que, "se fosse possível" encontrar-se com Alatas, "seria muito bom". "Teríamos muitos assuntos a tratar, um dos mais importantes negociar o regresso dos polícias timorenses a servir na Polícia indonésia e dos soldados timorenses no TNI". "[Com] toda esta saída, todo o vácuo de lei e ordem em Timor", explicou, "estamos a necessitar de timorenses para participar na garantia de uma certa segurança pública." Ontem, Ramos-Horta esclareceu que, "naturalmente", isso não incluirá os que participaram em actos de violência. "Defender a integração e autonomia na Indonésia não constitui um crime", disse Ramos-Horta. Serão bem-vindos todos os que "aceitem o resultado do referendo e renunciem a todo e qualquer tipo de violência". "Mas os que cometeram actos de barbaridade, violência e destruição terão que enfrentar a Justiça." OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Xanana quer transição rápida

EDITORIAL À espera de quê?

Crimes em Timor-Leste vão ser investigados

"É melhor do que nada"

Crónica de uma cidade sem lei

Diário de um jornalista

Massacre na região de Baucau

Quem manda?

Ambiguidade preocupante

Cercados em Díli

Igreja Católica alemã garante apoio a Timor

Interfet conduz operação em Liquiçá

Na imprensa internacional

Breves

Segundo dia de intensa diplomacia de Xanana Gusmão em Nova Iorque

Xanana Quer Transição Rápida

Por BÁRBARA REIS, em Nova Iorque

Terça-feira, 28 de Setembro de 1999 Oficialmente reconhecido pela ONU e pela comunidade internacional como o líder e representante de Timor-Leste, Xanana Gusmão mostra-se emocionado com a recepção e as promessas de apoio que está a receber nos EUA. Ontem apresentou à ONU uma lista de pedidos: que o CNRT seja reconhecido como único interlocutor, que a transição se inicie o mais depressa possível e que Portugal ocupe postos-chave na futura Operação de Manutenção de Paz. Xanana Gusmão disse ontem ao presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas que até à independência o Conselho Nacional de Resistência Timorense tem que ser o "único interlocutor" da ONU e que os postos-chave da futura força de capacetes azuis devem ser entregues a Portugal. Depois do encontro, no domingo, com a secretária de Estado americana, Madeleine Albright, Xanana Gusmão teve ontem o primeiro dia intenso de reuniões na sede da ONU, em Nova Iorque, onde foi recebido "como um chefe de Estado", segundo o embaixador António Monteiro, chefe da missão portuguesa. Xanana está acompanhado por uma delegação conjunta do Conselho Nacional de Resistência Timorense (CNRT), entre os quais José Ramos-Horta, Mário Carrascalão, ex-governador de Timor-Leste e ex-embaixador da Indonésia na Roménia, Gil Alves, um integracionista moderado, e Constâncio Pinto, representante do CNRT na ONU. Nas reuniões com o secretariado e com o embaixador da Holanda, Peter van Walsum, que tem a presidência do Conselho de Segurança até ao fim do mês, e com Richard Holbrooke, o embaixador americano, Xanana Gusmão analisou a violência, a crise humanitária nos campos em Timor Ocidental e a administração de Timor durante a fase transitória até à independência. Publicamente, o líder timorense disse apenas que, na fase de transição - que pode durar um, dois ou mais anos -, será apenas "um timorense que quer a independência". E ontem, diplomata, descreveu as reuniões como "contactos para delinear o quadro do processo de transição" e uma "troca de opiniões" sobre "quem deve ter obrigações sobre que áreas". Mas uma fonte da ONU disse ao PÚBLICO que, nas reuniões à porta fechada com o secretariado da ONU e o Conselho de Segurança, o líder timorense apresentou alguns pedidos e formulou várias opiniões. Além de o CNRT ser reconhecido como o "único interlocutor" e de Portugal ocupar "postos-chave" (mas não necessariamente o comando) na futura operação da ONU de manutenção de paz em Timor, o líder timorense defendeu também que as Nações Unidas têm que manter o apoio até ao fim do processo, têm que garantir que as tropas indonésias que saíram não regressam a Timor e defendeu que a transição da Interfet para operação de paz deve acontecer o mais depressa possível. Na reunião com o presidente do Conselho de Segurança, ontem à tarde, Xanana Gusmão disse também que as Falintil estão prontas a colaborar com a Interfet "em tudo o que for necessário" e sublinhou a necessidade de a comunidade internacional apoiar a reconstrução do país. Xanana disse ao embaixador Peter van Walsum que o CNRT tem que ser o único interlocutor da ONU porque o "voto da independência foi um voto do CNRT", disse a mesma fonte. Mais tarde, Ramos-Horta disse que "foi sob a bandeira do CNRT que o povo votou" no referendo de 30 de Agosto. Ontem, o papel do CNRT como interlocutor ficou na prática reconhecido com uma maratona de reuniões ao mais alto nível. Depois de se encontrar com congressistas americanos e com Holbrooke, Xanana e a sua delegação reuniram-se durante mais de três horas com 13 altos responsáveis das Nações Unidas, entre os quais os subsecretários-gerais dos Departamentos das Operações de Manutenção de Paz, de Assuntos Políticos, Assuntos Humanitários e Assuntos Legais, os quatro mais importantes do Secretariado da ONU. Ian Martin, coordenador da UNAMET em Timor-Leste, também esteve presente nesta reunião e numa segunda, à tarde, entre Xanana e a vice-secretária-geral da ONU, a canadiana Louise Frechette. A seguir ao encontro com o actual presidente do Conselho de Segurança, houve a primeira "tripartida" com timorenses, uma reunião oficialmente descrita como "tripartida entre Timor-Leste, Portugal e as Nações Unidas". Segundo uma fonte da ONU directamente envolvida no planeamento da futura missão da ONU em Timor-Leste, a série de reuniões teve como principal objectivo "ouvir os timorenses". "Estamos a começar tudo e por isso temos que conhecer o ponto de vista timorense." Para os timorenses, a transferência da Interfet, uma força de "imposição da paz", para uma operação de "manutenção de paz" é essencial, porque significa que a situação de segurança está sob controlo, mas também porque só aí é que a força toma um carácter multidisciplinar (criação e gestão de instituições e serviços públicos). A ONU anunciou na semana passada que não vai esperar pela ratificação do resultado do referendo na Assembleia Consultiva do Povo, o parlamento indonésio, considerada uma "questão interna indonésia". Hoje, os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e da Indonésia, Jaime Gama e Ali Alatas, vão encontrar-se com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que também se vai reunir, à parte, com Xanana Gusmão e a sua delegação. Gusmão disse no domingo que, "se fosse possível" encontrar-se com Alatas, "seria muito bom". "Teríamos muitos assuntos a tratar, um dos mais importantes negociar o regresso dos polícias timorenses a servir na Polícia indonésia e dos soldados timorenses no TNI". "[Com] toda esta saída, todo o vácuo de lei e ordem em Timor", explicou, "estamos a necessitar de timorenses para participar na garantia de uma certa segurança pública." Ontem, Ramos-Horta esclareceu que, "naturalmente", isso não incluirá os que participaram em actos de violência. "Defender a integração e autonomia na Indonésia não constitui um crime", disse Ramos-Horta. Serão bem-vindos todos os que "aceitem o resultado do referendo e renunciem a todo e qualquer tipo de violência". "Mas os que cometeram actos de barbaridade, violência e destruição terão que enfrentar a Justiça." OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Xanana quer transição rápida

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Crimes em Timor-Leste vão ser investigados

"É melhor do que nada"

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