Moções do PP convertem-se à Europa

03-09-1999
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UMA alteração clara do discurso sobre a Europa e a aceitação geral - apenas com uma excepção - da possibilidade de um entendimento eleitoral com o PSD nas eleições legislativas caracterizam as oito moções mais representativas que vão ser discutidas e votadas no Congresso do PP. No que toca a uma eventual aliança com o partido liderado por Marcelo Rebelo de Sousa, a moção de estratégia apresentada por Luís Nobre Guedes e Paulo Portas afirma que o «princípio do diálogo entre as duas oposições à direita do PS é válido». Princípio semelhante subscrevem as moções de Celeste Cardona, Luís Queiró, Manuel Calejo Pires e João Mota Campos; a de Sílvio Cervan, Álvaro Braga Júnior, Álvaro Castelo Branco e Diogo Feyo; a de Telmo Correia e a da JC-Gerações Populares. Todas consideram que para o eleitorado do PP «os nossos vizinhos não são um inimigo mas uma opção a considerar», como se diz no documento de Celeste Cardona. Ou, como escreve a JC, que «seria um grande erro estratégico da parte (do PP) fechar a porta a um entendimento de direita com o PSD». Mais moderada é a moção de Maria José Nogueira Pinto que, apesar de não excluir a possibilidade de uma «nova AD», considera que a referência a este tema, «é prematura e deslocada». Opinião semelhante à defendida pela Federação dos Trabalhadores Democrata-Cristãos (FTDC) - cuja maioria de delegados é apoiante de uma candidatura de Nogueira Pinto -, para quem «falar de uma nova AD é neste momento despropositado e redutor». O único documento que não refere expressamente a possibilidade de entendimentos eleitorais nas eleições legislativas é o do Grupo da Lousã - «herdeiro» do Grupo das Bases e liderado por Diogo Pacheco de Amorim, António Pedras e Ismael Pimentel, entre outros - para quem há a esperança de que o «o ciclo de referendos possa galvanizar o partido» dando-lhe, assim, a possibilidade de poder participar nos próximos actos eleitorais «em pé de igualdade». Pró Europa, em força... Já na questão europeia é clara a alteração do discurso que tem caracterizado o PP nos últimos tempos. Todas as moções aceitam como um facto a integração europeia. A de Portas e Nobre Guedes é das que leva mais longe este discurso «na certeza (...) de um facto: o PP, o PSD e o PS constituem, em Portugal, o leque de partidos europeístas». Mas no conjunto das moções é patente uma preocupação, no que toca à Europa. A grande questão é que «a decisão política soberana sobre Portugal» continue «no Estado português e nas mãos dos portugueses», como se lê no documento de Nogueira Pinto. E em mais do que uma moção de estratégia aparece reflectida outra das preocupações dos populares: que o referendo sobre a Europa sirva «para confrontar os portugueses com o modelo de construção pretendido», como pretende Telmo Correia. O Grupo da Lousã entende que o PP se deverá bater para que a pergunta «seja do género 'concordam ou não que se desenvolvam políticas tendentes a um progressivo caminhar das nações europeias para um Estado Europeu Federal?'». E, neste caso, o PP «deverá mobilizar-se pelo 'não'». ... e contra as regiões Também no campo da regionalização é quase unânime a posição destas oito moções, todas defensoras do «não», exceptuando a de Sílvio Cervan e outros elementos da distrital do Porto. Os documentos de Paulo Portas e Luís Nobre Guedes, bem como o de Celeste Cardona, não se pronunciam. Sobre o assunto, só Cervan defende que «a regionalização é uma das formas de proceder à reforma de natureza administrativa de que Portugal necessita». No campo oposto, Maria José Nogueira Pinto defende claramente que o «reforço do municipalismo (...) corresponde ao melhor caminho para um desenvolvimento equilibrado, harmonioso e solidário». Os FTDC, estão entre os dois pólos, afirmando que o PP «deve aceitar a diferença interna», mas que, em referendo, «deve continuar pelo não». O aborto é outro dos temas que reúnem consenso, com a maioria das moções a pugnar pela campanha do «não» em caso de referendo. Algumas, como as dos FTDC ou a de Celeste Cardona, propõem mesmo medidas para «relançar a questão do reforço da estrutura familiar». Outro dos pontos sobre o qual se debruçam várias moções, como a de Cervan, Telmo Correia, Cardona e a de Portas e Nobre Guedes, é a da «reconciliação» dentro do PP. Dizem estes últimos: «O novo rumo do PP há-de passar (...) por uma reconciliação natural com os seus vários passados». A «contagem de espingardas» Entretanto, continuaram a decorrer esta semana, e terminam amanhã, as eleições para os delegados ao Congresso de Braga, sendo as mais importantes as que se realizaram ontem no Porto e hoje em Gaia e Coimbra. Eleições na concelhia do Porto que, entretanto, ainda ontem foram alvo de polémica, com ameaças de impugnação. Apesar de o processo eleitoral ainda não estar concluído já se procede à «contagem de espingardas». Os números avançados são, evidentemente, díspares. Os apoiantes de Portas e Nobre Guedes reclamam o apoio de cerca de «62 por cento dos delegados já eleitos», sendo este número de «27 por cento» para os adeptos de uma candidatura de Nogueira Pinto. Ainda de acordo com os mesmos elementos, «há cerca de 13 por cento de indecisos». Os apoiantes de Maria José Nogueira Pinto têm outros números. Dizem que a sua candidata tem «54 por cento dos delegados eleitos», enquanto que os simpatizantes da causa de Nobre Guedes e Portas «rondam os 34 por cento». Uma coincidência: o número de indecisos, que são também «cerca de 13 por cento». Hoje, Nobre Guedes estará em «campanha» em Viseu e, na próxima semana, passará em Aveiro, Viana do Castelo e Sintra. Portas também irá estar em Aveiro num dos próximos dias. Maria José Nogueira Pinto, que esta semana esteve ausente do país, terá, até ao dia 20 - data do Congresso -, tempos agitados na Assembleia da República: a 19, a elevação de Vizela a concelho e, antes, uma interpelação ao Governo sobre política de combate à droga e um debate de urgência sobre a saúde. Teresa Oliveira

Sondagem Expresso-Euroexpansão sobre os referendos mais polémicos

PSD recupera votos ao PS

'Sim' à lei do aborto e 'Não' à regionalização

Portas à frente de Maria José

Moções do PP convertem-se à Europa

UMA alteração clara do discurso sobre a Europa e a aceitação geral - apenas com uma excepção - da possibilidade de um entendimento eleitoral com o PSD nas eleições legislativas caracterizam as oito moções mais representativas que vão ser discutidas e votadas no Congresso do PP. No que toca a uma eventual aliança com o partido liderado por Marcelo Rebelo de Sousa, a moção de estratégia apresentada por Luís Nobre Guedes e Paulo Portas afirma que o «princípio do diálogo entre as duas oposições à direita do PS é válido». Princípio semelhante subscrevem as moções de Celeste Cardona, Luís Queiró, Manuel Calejo Pires e João Mota Campos; a de Sílvio Cervan, Álvaro Braga Júnior, Álvaro Castelo Branco e Diogo Feyo; a de Telmo Correia e a da JC-Gerações Populares. Todas consideram que para o eleitorado do PP «os nossos vizinhos não são um inimigo mas uma opção a considerar», como se diz no documento de Celeste Cardona. Ou, como escreve a JC, que «seria um grande erro estratégico da parte (do PP) fechar a porta a um entendimento de direita com o PSD». Mais moderada é a moção de Maria José Nogueira Pinto que, apesar de não excluir a possibilidade de uma «nova AD», considera que a referência a este tema, «é prematura e deslocada». Opinião semelhante à defendida pela Federação dos Trabalhadores Democrata-Cristãos (FTDC) - cuja maioria de delegados é apoiante de uma candidatura de Nogueira Pinto -, para quem «falar de uma nova AD é neste momento despropositado e redutor». O único documento que não refere expressamente a possibilidade de entendimentos eleitorais nas eleições legislativas é o do Grupo da Lousã - «herdeiro» do Grupo das Bases e liderado por Diogo Pacheco de Amorim, António Pedras e Ismael Pimentel, entre outros - para quem há a esperança de que o «o ciclo de referendos possa galvanizar o partido» dando-lhe, assim, a possibilidade de poder participar nos próximos actos eleitorais «em pé de igualdade». Pró Europa, em força... Já na questão europeia é clara a alteração do discurso que tem caracterizado o PP nos últimos tempos. Todas as moções aceitam como um facto a integração europeia. A de Portas e Nobre Guedes é das que leva mais longe este discurso «na certeza (...) de um facto: o PP, o PSD e o PS constituem, em Portugal, o leque de partidos europeístas». Mas no conjunto das moções é patente uma preocupação, no que toca à Europa. A grande questão é que «a decisão política soberana sobre Portugal» continue «no Estado português e nas mãos dos portugueses», como se lê no documento de Nogueira Pinto. E em mais do que uma moção de estratégia aparece reflectida outra das preocupações dos populares: que o referendo sobre a Europa sirva «para confrontar os portugueses com o modelo de construção pretendido», como pretende Telmo Correia. O Grupo da Lousã entende que o PP se deverá bater para que a pergunta «seja do género 'concordam ou não que se desenvolvam políticas tendentes a um progressivo caminhar das nações europeias para um Estado Europeu Federal?'». E, neste caso, o PP «deverá mobilizar-se pelo 'não'». ... e contra as regiões Também no campo da regionalização é quase unânime a posição destas oito moções, todas defensoras do «não», exceptuando a de Sílvio Cervan e outros elementos da distrital do Porto. Os documentos de Paulo Portas e Luís Nobre Guedes, bem como o de Celeste Cardona, não se pronunciam. Sobre o assunto, só Cervan defende que «a regionalização é uma das formas de proceder à reforma de natureza administrativa de que Portugal necessita». No campo oposto, Maria José Nogueira Pinto defende claramente que o «reforço do municipalismo (...) corresponde ao melhor caminho para um desenvolvimento equilibrado, harmonioso e solidário». Os FTDC, estão entre os dois pólos, afirmando que o PP «deve aceitar a diferença interna», mas que, em referendo, «deve continuar pelo não». O aborto é outro dos temas que reúnem consenso, com a maioria das moções a pugnar pela campanha do «não» em caso de referendo. Algumas, como as dos FTDC ou a de Celeste Cardona, propõem mesmo medidas para «relançar a questão do reforço da estrutura familiar». Outro dos pontos sobre o qual se debruçam várias moções, como a de Cervan, Telmo Correia, Cardona e a de Portas e Nobre Guedes, é a da «reconciliação» dentro do PP. Dizem estes últimos: «O novo rumo do PP há-de passar (...) por uma reconciliação natural com os seus vários passados». A «contagem de espingardas» Entretanto, continuaram a decorrer esta semana, e terminam amanhã, as eleições para os delegados ao Congresso de Braga, sendo as mais importantes as que se realizaram ontem no Porto e hoje em Gaia e Coimbra. Eleições na concelhia do Porto que, entretanto, ainda ontem foram alvo de polémica, com ameaças de impugnação. Apesar de o processo eleitoral ainda não estar concluído já se procede à «contagem de espingardas». Os números avançados são, evidentemente, díspares. Os apoiantes de Portas e Nobre Guedes reclamam o apoio de cerca de «62 por cento dos delegados já eleitos», sendo este número de «27 por cento» para os adeptos de uma candidatura de Nogueira Pinto. Ainda de acordo com os mesmos elementos, «há cerca de 13 por cento de indecisos». Os apoiantes de Maria José Nogueira Pinto têm outros números. Dizem que a sua candidata tem «54 por cento dos delegados eleitos», enquanto que os simpatizantes da causa de Nobre Guedes e Portas «rondam os 34 por cento». Uma coincidência: o número de indecisos, que são também «cerca de 13 por cento». Hoje, Nobre Guedes estará em «campanha» em Viseu e, na próxima semana, passará em Aveiro, Viana do Castelo e Sintra. Portas também irá estar em Aveiro num dos próximos dias. Maria José Nogueira Pinto, que esta semana esteve ausente do país, terá, até ao dia 20 - data do Congresso -, tempos agitados na Assembleia da República: a 19, a elevação de Vizela a concelho e, antes, uma interpelação ao Governo sobre política de combate à droga e um debate de urgência sobre a saúde. Teresa Oliveira

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PSD recupera votos ao PS

'Sim' à lei do aborto e 'Não' à regionalização

Portas à frente de Maria José

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